Bolívia: Morales pede trégua para enfrentar desastres naturais
O presidente Evo Morales pediu hoje uma trégua política para enfrentar os desastres naturais na Bolívia e anunciou uma campanha internacional para estabelecer as causas que os provocam, as quais considera "fatores externos". Ao mesmo tempo, o governante convocou os cidadãos a serem solidários para alimentar os mais de 100 mil prejudicados pelas inundações na região amazônica, consideradas as maiores da história do país.
O pedido de Morales coincidiu com a decisão de governadores e dirigentes cívicos de seis dos nove departamentos de postergar a medidas de pressão que deveriam começar hoje, ao terminar o prazo dado ao governo para atender a suas demandas políticas. Os dirigentes desses departamentos exigem a revisão do projeto oficial da nova Constituição, a aprovação dos estatutos autonômicos de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija e a devolução de um imposto sobre hidrocarbonetos que o governo cortou das regiões para a criar um plano de previdência para os idosos.
O fenômeno La Niña provocou neste ano grandes inundações no norte do país e na Amazônia, geadas no altiplano sul e seca no sudeste, causando a morte de 52 pessoas e deixando 200 mil desabrigadas. "La Ninã é muito agressiva, mas não apenas nos faz chorar, também nos une", disse o presidente, ao recordar "a obrigação que temos todos, o governo, os governadores, os dirigentes cívicos, de ajudar nossos irmãos".
Em função desta trégua , Morales convocou nesta quinta-feira os governadores opositores de Santa Cruz e Beni, as regiões mais afetadas pelas inundações, a se reunir para começar a "planificar a reestruturação". O centro de Trinidad, capital do departamento de Beni, a 600 quilômetros de La Paz, continua ilhado pelo transbordamento dos rios Mamoré e Ibare, cujas águas inundaram os bairros periféricos na terça-feira. Ainda que o aumento do volume dos rios pareça ter sido contido hoje, grupos de voluntários seguiram acumulando bolsões de terra nas estradas que envolvem a cidade, como anel de proteção.
"Temos debilidades em alimentação. Há milhares de pessoas para alimentar todos os dias, agora conseguimos garantir isso, mas não será suficiente. Quero pedir a solidariedade do povo boliviano e dos meios de comunicação, para que comecem uma campanha para juntar alimentos e medicamentos", disse Morales. Apenas em Beni foram perdidos 30 mil hectares de produção agrícola, 7.600 propriedades pecuaristas, mais de 450 comunidade rurais estão completamente alagadas e se prevê a perda de mais de 100 mil cabeças de gado, depois que quase um milhão foi transladado a terras altas. Nesse departamento amazônico, 80% da população rural vive às margens dos rios que se alimentam das águas das cordilheiras dos Andes e desembocam no rio Amazonas.
O presidente boliviano expressou sua convicção de que o aumento do volume dos rios se deve a "fatores externos" e declarou que "vamos iniciar uma campanha internacional". Para ele, "é importante juntarmos todos os movimentos indígenas, os que estamos acostumados a viver em harmonia com a natureza, para ver qual a origem desses problemas, mudar modelos e políticas de desenvolvimento".
Em contraste com a situação amazônica, a região do Gran Chaco, ao sul do país, sofre uma intensa seca. O governo de Chuquisaca informou que está enviando caminhões pipa para atender as necessidades de água em Huacaya e Macharetti. O deputado Wilman Cardozo anunciou que prepara uma lei para que o Tesouro Geral libere recursos financeiros para resolver para resolver o problema "que está matando de sede milhares de cabeças de gado".
No sul do altiplano andino os campesinos de Potosi perderam seus cultivos devido à gelada que seguiu as intensas chuvas de granizo de época que caíram nas últimas semanas.
Ansalatina