Tesourinhos deprimentes da Meteorologia e Clima



Zerrui

Cirrus
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9 Jul 2010
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belas
(...)
Ontem dei comigo a pensar. "Tenho alguns conhecimentos de meteorologia e estes jornalistas são uns incompetentes. E se eles fizerem uma reportagem sobre outra área técnica, será que estou a ouvir a verdade?". Pois...

Olá Hotspot:

O seu ponto de vista é curioso e coincide com o meu, ex-meteorologista do IM, que costumava dizer, quando deparava com um comentário de qualidade técnica duvidosa proferido por um especialista: quem não sabe alemão, não consegue apontar um erro num texto escrito nessa língua! Mesmo na casa-mãe da Meteorologia deixou de haver unanimidade no léxico técnico... No léxico e na interpretação.
Hoje vi referências a um "tornado de fogo" no Brasil e a um asiático "tornado num campo de futebol". Ocorre-me dizer que não o são. Os tornados são trombas nebulosas (estão ligadas a uma nuvem convectiva), constituídas por gotas de água (são considerados hidrometeoros) que arrastam detritos desde a superfície. Nos dois vídeos, existe um claro movimento de rotação do ar que arrasta fogo e fumo de um incêndio num deles e muito pó e alguns objectos no outro, enquanto se joga à bola. No entanto, nenhum deles está ligado a uma nuvem. Serão litometeoros. São torvelinhos, remoinhos, colunas rodopiantes e ascendentes de ar, como os que frequentemente se vêem nos campos, em dias calmos de calor, designados por demónios de poeira. É o ar que sobe turbulentamente num local a isso propício e leva à convergência violenta junto ao solo.
Zerrui
 

Mário Barros

Furacão
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18 Nov 2006
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Maçores (Torre de Moncorvo) / Algueirão (Sintra)
Noites de bater o dente

Ventos gélidos provenientes do Centro da Europa são responsáveis pela primeira vaga de frio deste Outono, que, na próxima madrugada, levará os termómetros a descerem aos três graus em Bragança e na Guarda.

Noites frias de bater o dente serão sentidas em todo o Interior do País. Em Beja, a temperatura mínima será, amanhã, de seis graus, tal como em Castelo Branco e Viseu. No Litoral, as noites permanecem mais amenas a Sul, com 11 graus em Lisboa e 14 em Faro. Contudo, a Norte do Cabo da Roca, o frio também será sentido: Leiria irá registar 4 graus, Braga, 5, e o Porto atinge os oito graus.

Segundo as previsões do Instituto de Meteorologia, os próximos dias reúnem "condições favoráveis para a formação de geada nas regiões do Interior" a Norte e Centro. O céu irá "permanecer pouco nublado ou limpo", pelo que a presença do sol ditará a manutenção de temperaturas máximas agradáveis em todo o território continental.

As previsões indicam que Santarém será a capital de distrito mais quente, com máxima de 24 graus, seguida de Setúbal (23 graus) e Lisboa, Leiria, Beja e Évora, com 22 graus. Temperaturas máximas inferiores a 20 graus só se irão registar em Trás-os-Montes e na Beira Alta, com 13 graus na Serra da Estrela e 14 em Bragança.

A descida de temperatura resulta da predominância de ventos de Leste, que, na sua passagem pelo interior da Península Ibérica, farão com que as temperaturas atinjam mesmo valores negativos em Segóvia, Salamanca e Soria (Espanha), com um grau negativo.

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/portugal/noites-de-bater-o-dente

Versão papel.

A vermelho "Vaga de frio".

vagadefrio.png


:maluco::maluco::maluco::maluco::maluco::maluco: :facepalm:
 

stormy

Super Célula
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7 Ago 2008
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Acerca do episódio de baixas temperaturas minimas que tivemos ( e antevendo uma proxima semana com noites bem frias e fortes inversões, apesar dos dias amenos), acho que os jornalistas fizeram bem em adverter as populações...é uma noticia que faz sentido pois adverte as pessoas acerca do facto e tambem lançam uma especie de curiosidade tipo.."ah e tal, as temperaturas vão baixar de um modo relativamente rapido.."bom..vocês precebem a ideia;)
Acho muito mais util ter reportagens sobre os primeiros dias frescos de outono do que ter programas onde se perde tempo e dinheiro em discussões do arco da velha....
Apesar disto, esta reacção das entidades de comunicação social, demonstra ( não só o sensasionalismo absurdo de quem quer ganhar dinheiro á conta das mais infimas tretas) como tambem alguma falta de conhecimento, ou vontde de fazer as coisas bem fundamentadas;)

Quem me surpreendeu há uns tempos, por ter o assunto bem estudado, foi o Ricardo Araujo Pereira, que fez uma crónica muito gira sobre a "Meteoingenuidade" do pais em que vivemos:

Nobody expects the portuguese winter

Todos os anos, Portugal é surpreendido duas vezes: uma vez pelo Verão e outra pelo Inverno. Nunca estamos à espera deles. Para o resto do mundo, a natureza é cíclica, monótona e repetitiva. Para nós, é uma caixinha de surpresas. «Olha, lá vem o Verão outra vez. E não é que traz novamente muito calor, este bandido? Se calhar devíamos ter feito uma limpeza às matas.

Ops!, tarde de mais, já está tudo a arder.» No Inverno, a mesma coisa.

«Olha, lá vem o Inverno outra vez. E não é que traz novamente muita chuva, este bandido? Se calhar devíamos ter feito uma limpeza às sarjetas. Ops!, tarde de mais, já está tudo alagado.» E assim sucessivamente.

Nunca cansa. E, no entanto, imagino que os jornalistas usem sempre a mesma notícia. Há dois ou três pormenores que mudam, como a marca dos helicópteros que combatem o fogo ou o número de viaturas que são arrastadas pela enxurrada, mas o resto é igual: «Violento incêndio ali», «Fortes chuvas acolá». Até os adjectivos que qualificam as catástrofes são previsíveis: os incêndios são quase todos violentos e é raro as chuvas serem outra coisa que não fortes. Não há memória de fortes incêndios e violentas chuvas, por exemplo. Mas não é por isso que deixamos de receber as notícias com renovada surpresa. Temos dificuldade em acreditar que ainda não foi desta que a chuva deixou de causar os estragos próprios da chuva. É verdade que, este ano, a chuva deu novamente cabo das estradas e voltou a fazer vítimas, mas pode ser que, para o ano, chova mais civilizadamente. Todos os anos damos uma oportunidade à chuva. E, por um lado, ainda bem.

Não sei se consigo imaginar Portugal sem as calamidades. As calamidades ajudam-nos a organizar a vida. São pontos de referência. «Quando é que mudámos de casa? Foi depois dos incêndios de 91, porque eu já tinha o Citroën que foi levado pelas cheias de 94, mas ainda não tinha ficado sem a perna esquerda, que foi ao ar nos incêndios de 92.» Se as autoridades competentes começam a varrer as matas e a limpar as sarjetas, deixamos de ter a noção da passagem do tempo. Ainda vamos ter de comprar uma agenda. Com as calamidades, é dinheiro que se poupa.

E não só. Há gente cuja vida tem sido salva pelas calamidades. Gente que sobreviveu às cheias de 87 porque ainda estava no hospital a recuperar dos incêndios de 86. Gente que se salvou dos incêndios de 99 porque ainda tinha a casa alagada pelas cheias de 98 e usou a água para combater as chamas.

Enfim, gosto da esfera armilar, na nossa bandeira. Mas uma sarjeta entupida, entre o vermelho e o verde, também não ficava mal.


Boca do Inferno – Ricardo Araújo Pereira

In, http://my-nepenthe.blogspot.com

:p:D
 

Mário Barros

Furacão
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Maçores (Torre de Moncorvo) / Algueirão (Sintra)
Quem me surpreendeu há uns tempos, por ter o assunto bem estudado, foi o Ricardo Araujo Pereira, que fez uma crónica muito gira sobre a "Meteoingenuidade" do pais em que vivemos:

Nobody expects the portuguese winter

Todos os anos, Portugal é surpreendido duas vezes: uma vez pelo Verão e outra pelo Inverno. Nunca estamos à espera deles. Para o resto do mundo, a natureza é cíclica, monótona e repetitiva. Para nós, é uma caixinha de surpresas. «Olha, lá vem o Verão outra vez. E não é que traz novamente muito calor, este bandido? Se calhar devíamos ter feito uma limpeza às matas.

Ops!, tarde de mais, já está tudo a arder.» No Inverno, a mesma coisa.

«Olha, lá vem o Inverno outra vez. E não é que traz novamente muita chuva, este bandido? Se calhar devíamos ter feito uma limpeza às sarjetas. Ops!, tarde de mais, já está tudo alagado.» E assim sucessivamente.

Nunca cansa. E, no entanto, imagino que os jornalistas usem sempre a mesma notícia. Há dois ou três pormenores que mudam, como a marca dos helicópteros que combatem o fogo ou o número de viaturas que são arrastadas pela enxurrada, mas o resto é igual: «Violento incêndio ali», «Fortes chuvas acolá». Até os adjectivos que qualificam as catástrofes são previsíveis: os incêndios são quase todos violentos e é raro as chuvas serem outra coisa que não fortes. Não há memória de fortes incêndios e violentas chuvas, por exemplo. Mas não é por isso que deixamos de receber as notícias com renovada surpresa. Temos dificuldade em acreditar que ainda não foi desta que a chuva deixou de causar os estragos próprios da chuva. É verdade que, este ano, a chuva deu novamente cabo das estradas e voltou a fazer vítimas, mas pode ser que, para o ano, chova mais civilizadamente. Todos os anos damos uma oportunidade à chuva. E, por um lado, ainda bem.

Não sei se consigo imaginar Portugal sem as calamidades. As calamidades ajudam-nos a organizar a vida. São pontos de referência. «Quando é que mudámos de casa? Foi depois dos incêndios de 91, porque eu já tinha o Citroën que foi levado pelas cheias de 94, mas ainda não tinha ficado sem a perna esquerda, que foi ao ar nos incêndios de 92.» Se as autoridades competentes começam a varrer as matas e a limpar as sarjetas, deixamos de ter a noção da passagem do tempo. Ainda vamos ter de comprar uma agenda. Com as calamidades, é dinheiro que se poupa.

E não só. Há gente cuja vida tem sido salva pelas calamidades. Gente que sobreviveu às cheias de 87 porque ainda estava no hospital a recuperar dos incêndios de 86. Gente que se salvou dos incêndios de 99 porque ainda tinha a casa alagada pelas cheias de 98 e usou a água para combater as chamas.

Enfim, gosto da esfera armilar, na nossa bandeira. Mas uma sarjeta entupida, entre o vermelho e o verde, também não ficava mal.


Boca do Inferno – Ricardo Araújo Pereira

In, http://my-nepenthe.blogspot.com

Esse texto está aqui representado. Embora um pouco diferente, mas muito engraçado.

[ame="http://www.youtube.com/watch?v=8mbppLt-TLw&feature=related"]YouTube - Broadcast Yourself.[/ame]
 

Paulo H

Cumulonimbus
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2 Jan 2008
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Castelo Branco 386m(489/366m)
No jornal correio da manhã de hoje, um meteorologista refere que os tornados em portugal, não têm a mesma natureza daqueles que ocorrem nos E.U.A.! Ok, até podem ser diferentes, ser possível fazer storm tracking e com sorte apanhar um tornado em formação. Mas duvido muito que na américa não ocorram tornados como o que ocorreu ontem, após desenvolvimento de uma supercélula com passagem a tornado a 100km da costa. O que mais não falta nos estados unidos é linha costeira onde supercélulas possam entrar continente adentro! À semelhança de portugal, têm também linha costeira a oeste, à nossa latitude.
 

Pixie

Cumulus
Registo
15 Abr 2010
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Lisboa
Hoje na Sic falavam no "mini-tornado" do ano passado, e do "grande-tornado" deste feriado!!!!
É uma nova escala... mini e grande... lol!