Árvores e Florestas de Portugal

Mammatus

Nimbostratus
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27 Dez 2019
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É conhecido por vários nomes . Carvalho Quercus , Carvalho Alvarinho ou Carvalho do Minho . É o Carvalho predominante no Entre Douro e Minho , tipicamente de bosques atlânticos . Estes bosques têm uma magia única , principalmente no outono .
Ainda se encontram , felizmente , amplos bosques no Parque Nacional da Peneda- Gerês , Área de Paisagem Protegida do Corno do Bico e na região Serra da Cabreira / Serra da Lameira .

Indubitavelmente é a região de Portugal com melhores condições para a existência dos típicos bosques nemorais caducifólios europeus, reflexo da menor influência mediterrânica no clima.
 


frederico

Furacão
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9 Jan 2009
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Atencao pois as distribuicoes do Quercus robur em Portugal sao mal ensinadas. Antigamente dizia-se que a especie surgia nos distritos de Aveiro, Porto, Braga e Viana do Castelo, mas na realidade a distribuicao original da especie em Portugal era muito mais extensa no passado.

- No distrito de Vila Real a especie era abundante na metade ocidental do distrito.

- No distrito de Viseu o Quercus robur era a especie dominante na floresta em boa parte do distrito, nas zonas mais ocidentais e menos frias. Ainda hoje em Viseu num dos parques da cidade se podem encontrar excelentes robles. Sensivelmente a meio caminho entre Aveiro e Vilar Formoso o Quercus robur da lugar ao Quercus pyrenaica. Se em Viseu a arvore dominante seria o roble, na Guarda ja seria o Quercus pyrenaica.

- A sul de Aveiro o Quercus robur comeca a aparecer mais para o interior. Mas a especie extende-se mais para o interior do que muita gente julga, e tem a sua fronteira de distribuicao sudeste na serra da Gardunha e na zona do Fundao. O roble seria a especie dominante nas serras da Lousa, Acor, Gardunha, parte substancial do Vale do Zezere... na regiao do actual Pinhal Interior, seria a especie dominante em associacao com o castanheiro e o sobreiro. Depois, a medida que a altitude desce e nos aproximamos do Tejo, o roble desparece para dar lugar ao sobreiro e mais para o interior, no distrito de Castelo Branco, ao Quercus pyrenaica e tambem a azinheira. O roble aparece pontualmente nas serras da Cordilheira Central ja em Espanha em bosques reliquia, numa zona onde ja domina o Quercus pyrenaica.

- Na Estremadura teriamos uma subespecie adaptada ao clima do Sul, o Quercus robur estremadurensis. Ocorria especialmente em vales de cursos de agua, em todo o distrito de Leiria e tambem no de Lisboa, a norte da capital, especialmente a Norte da serra de Sintra.

- O roble surgia nas vertentes mais humidas da serra de Sao Mamede onde constituia bosques, e ainda restam alguns exemplares escondidos. Ha uma referencia a sua presenca na serra da Ossa. Ainda hoje ha exemplares na serra de Espinhaco Cao,e ocorria em vales humidos na serra de Monchique, no concelho de Odemira, nas bacias do Arade e do Odelouca. Em Espanha a especie surgia nas serras a Sul de Badajoz e na serra de Aracena.

Portanto no Sul o roble surge em areas com precipitacao media anual acima dos 600/700 mm e Veroes frescos, temperados pela accao maritima, ou em zonas que apesar de terem Veroes mais quentes tem precipitacao media anual acima dos 1000 mm. Na Estremadura, na Costa Vicentina e no litoral alentejano os nevoeiros estivais sao comuns, o que atenua a ausencia de chuvas durante 3 a 4 meses. As temperaturas maximas medias tambem nao vao alem dos 25 a 28 graus Celsius. No caso da serra de Sao Mamede estamos perante uma regiao com altos valores de precipitacao media anual.

A distribuicao original dos carvalhos em Portugal esta profundamente alterada por seculos e seculos de pastoricia, agricultura, e seleccao positiva de sobreiro e azinheira.
 
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frederico

Furacão
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9 Jan 2009
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Encontrei um documento do Ministerio do Ambiente espanhol muito interessante que refere que o Quercus faginea pode ser mais resistente a seca que o sobreiro. Para mim isto nao e novidade, pois eu conheco a sua presenca no sapal de Castro Marim. Portanto em zonas com 300 a 500 mm de precipitacao a variedade Quercus faginea alpestris pode aguentar-se se os solos forem profundos e houver alguma moderacao estival nas temperaturas. Ora qual e o local de Portugal com estas condicoes onde o Quercus faginea e rarissimo? As campinas agricolas do Algarve e o barrocal! Os solos das campinas litorais e do barrocal tem uma alteracao profunda que vem do tempo dos contactos com os mercadores fenicios, em que comecou a agricultura de sequeiro. A vegetacao original foi arrasada para dar lugar ao pomar de sequeiro, dominado pela figueira, amendoeira, oliveira e alfarrobeira, e ao pomar de regadio, dominado por citrinos e outras especies de arvores de fruto. A regiao que no tempo dos romanos era mais povoada era a metade oriental do Algarve, de Vilamoura ao Guadiana. No entanto os romanos evitaram a serra. Foram os arabes que comecaram a povoar com maior intensidade a serra do Caldeirao. A regiao oriental do Algarve sofreu uma razia na Reconquista, com terras inteiras a ter a populacao deportada ou assassinada. Esta regiao ficou muito despovoada, e por isso nos concelhos de Monchique, Aljezur ou Odemira, subsistiram mais especies. O clima mais fresco tambem ajudou. Ora e altamente provavel que o Quercus faginea, muitos seculos atras, fosse uma especie abundante nas campinas do litoral algarvio e no Barrocal, onde os solos sao profundos. Diz-se por exemplo que a floresta do barrocal seria dominada pela azinheira, zambujeiro e alfarrobeira, mas eu acrescentaria o pinheiro-manso e o Quercus faginea! E tambem o Quercus canariensis e o Quercus marianica nos vales do barrocal, mais a Norte, onde a precipitacao e mais alta.

As descobertas e os estudos dos ultimos anos demonstram que a nossa floresta era mais rica e diversificada do que se pensava decadas atras, e que muitas especies afinal tinham uma distribuicao muito mais ampla.
 

belem

Cumulonimbus
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10 Out 2007
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Valença iniciou classificação do perico, fruto característico local e “único” no mundo


A Câmara de Valença iniciou a classificação do perico, fruto característico daquele concelho, como produto endógeno ao abrigo do projeto “Minho Região Europeia da Gastronomia”, foi hoje divulgado.
Em comunicado publicado hoje na página oficial da autarquia na Internet, o município adiantou que o objetivo é “estudar, qualificar e promover o perico enquanto produto local com potencialidades para a capacitação da economia da região”.

“Característico do concelho, de formato pequeno arredondado, cor acastanhada clara e sabor agridoce é um fruto único, sem paralelo à escala mundial, que ao longo dos séculos se foi adaptando à região e perpetuado pelos agricultores valencianos”, sustenta a nota.

Para a autarquia, “o valor e as potencialidades do fruto têm sido estudadas nos últimos anos e ganharam relevo e projeção com a sua utilização em licores e num gin produzido e lançado em 2015 por uma empresa local, considerado o primeiro gin tinto do mundo”.

Segundo o município, “está em curso o levantamento gastronómico do receituário típico e local que utiliza o perico, bem como a elaboração de uma carta gastronómica a que se associe, também, o receituário inovador”.

De acordo com o Base, portal da contratação pública, hoje consultado pela Lusa, o processo de classificação foi atribuída à Turismo e Lazer do Prazo, Lda, por 19.500 euros, com o prazo de execução 200 dias.

O ajuste direto tem a designação “Valorização de produtos endógenos – estudo, qualificação e promoção do perico enquanto produto endógeno e de capacitação da economia e cultura local”.

O “periqueiro é uma árvore de fruto, da família das rosaceaes, do género pyrus, com características únicas que não são confundíveis com o pyrus cordata ou o pyrus bourgaeana, bem como com os escambroeiros ou os pilriteiros, tão presentes na região”.

A época de consumo coincide com fins de outubro e princípios de novembro.

O facto de o outono coincidir com uma época do ano em que existia pouca oferta de fruta, o perico foi ganhando o seu espaço a par das castanhas, das nozes e das maças tardias.

Hoje, já é possível encontrar esta árvore à venda nos hortos da região.

Os pericos são tradicionalmente vendidos na Feira dos Santos, em Cerdal, que este ano não se realizou devido à pandemia de covid-19.

Os pericos, “semelhantes a uma pequena pera, são endógenos de Valença e têm no concelho, além da sua origem, as maiores áreas de produção”.

https://ominho.pt/valenca-iniciou-c...enEFoOj8Pq-BHVPrUfq1WTc4TUuBt86mzv_VxRDO6DK-8
 

frederico

Furacão
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9 Jan 2009
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@frederico não conhecia essa subespécie Quercus faginea alpestris, a única que conhecia era a broteroi, o carvalho cerquinho, típico da Estremadura.

O tema e polemico, se ha ou nao subespecies de Quercus faginea. Mas de facto existe sim uma variedade deste carvalho que tem porte quase arbustivo, e tolera bem a seca estival, se os solos forem profundos. Em Portugal essa variedade ocorre no Algarve, embora esteja quase extinta.

O Quercus faginea parece contudo nao gostar de solos esqueleticos de xisto-grauvaque. Por isso surge em solos calcareos do barrocal, e surgiria em Campinas Agricolas do litoral algarvio num passado distante.

Originalmente o Quercus faginea era Uma das arvores dominantes no Litoral alentejano, Arrabida, Ribatejo, parte Ocidental do Distrito de Evora. Nao e apenas uma arvore da Estremadura, mas a accao humana alterou profundamente a distribuicao da arvore, que hoje e rarissima em areas onde foi dominante. Boa parte do Alentejo e parte do Algarve eram terras de carvalhal marcescente.

O Quercus faginea tambem ocorre no Douro e Beira Baixa.
 
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bandevelugo

Cumulus
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3 Jan 2008
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Valença iniciou classificação do perico, fruto característico local e “único” no mundo


A Câmara de Valença iniciou a classificação do perico, fruto característico daquele concelho, como produto endógeno ao abrigo do projeto “Minho Região Europeia da Gastronomia”, foi hoje divulgado.
Em comunicado publicado hoje na página oficial da autarquia na Internet, o município adiantou que o objetivo é “estudar, qualificar e promover o perico enquanto produto local com potencialidades para a capacitação da economia da região”.

“Característico do concelho, de formato pequeno arredondado, cor acastanhada clara e sabor agridoce é um fruto único, sem paralelo à escala mundial, que ao longo dos séculos se foi adaptando à região e perpetuado pelos agricultores valencianos”, sustenta a nota.

Para a autarquia, “o valor e as potencialidades do fruto têm sido estudadas nos últimos anos e ganharam relevo e projeção com a sua utilização em licores e num gin produzido e lançado em 2015 por uma empresa local, considerado o primeiro gin tinto do mundo”.

Segundo o município, “está em curso o levantamento gastronómico do receituário típico e local que utiliza o perico, bem como a elaboração de uma carta gastronómica a que se associe, também, o receituário inovador”.

De acordo com o Base, portal da contratação pública, hoje consultado pela Lusa, o processo de classificação foi atribuída à Turismo e Lazer do Prazo, Lda, por 19.500 euros, com o prazo de execução 200 dias.

O ajuste direto tem a designação “Valorização de produtos endógenos – estudo, qualificação e promoção do perico enquanto produto endógeno e de capacitação da economia e cultura local”.

O “periqueiro é uma árvore de fruto, da família das rosaceaes, do género pyrus, com características únicas que não são confundíveis com o pyrus cordata ou o pyrus bourgaeana, bem como com os escambroeiros ou os pilriteiros, tão presentes na região”.

A época de consumo coincide com fins de outubro e princípios de novembro.

O facto de o outono coincidir com uma época do ano em que existia pouca oferta de fruta, o perico foi ganhando o seu espaço a par das castanhas, das nozes e das maças tardias.

Hoje, já é possível encontrar esta árvore à venda nos hortos da região.

Os pericos são tradicionalmente vendidos na Feira dos Santos, em Cerdal, que este ano não se realizou devido à pandemia de covid-19.

Os pericos, “semelhantes a uma pequena pera, são endógenos de Valença e têm no concelho, além da sua origem, as maiores áreas de produção”.

https://ominho.pt/valenca-iniciou-c...enEFoOj8Pq-BHVPrUfq1WTc4TUuBt86mzv_VxRDO6DK-8

Muito interessante! Na minha zona há bastantes pereiras selvagens, chamam-lhe aqui "catapereiros", mas não tem um fruto igual - é mais pequeno, arredondado e áspero no sabor.

Que espécie é esta?
 

Aristocrata

Super Célula
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28 Dez 2008
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Interessante olharem para espécies de fruto típicas, únicas na sub-região do Noroeste da Península.
A partilha de um clima semelhante vai a par de muitas variedades e espécies de fruto, em que a Galiza e o Norte de Portugal tem em comum.
Há uns anos li sobre um estudo que estava a ser feito por uma universidade galega. Visava o levantamento de todas as variedades de maçã autóctones (não sei se é o termo mais correcto) existentes por lá.
Encontraram cerca de 150 variedades. O estudo não estava concluído mas passava também por identificar as variedades para o consumo humano, procurando as melhores para utilização comercial, sub dividindo-as para consumo directo, conservas, doces, etc.
Muito interessante. Até do ponto de vista ecológico, procurando salvar as mais ameaçadas de extinção.
O mesmo acredito que se possa aplicar a variedades de fruta únicas em cada uma das regiões de Portugal. Isso é um tesouro à espera de ser encontrado.
Apresentar\encontrar produtos únicos na gastronomia é uma riqueza também cultural.

Lembro de na infância comer maçãs e pêras que nunca mais comi, variedades que só se encontravam nesta região de Entre-Douro e Minho.
 

Mammatus

Nimbostratus
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guimeixen

Cumulonimbus
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5 Jun 2013
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Obrigado Guilherme! Só o tinha ido ver uma vez, há uns bons 10 anos se calhar, estava na altura de lhe prestar outra homenagem :)
Pois não reparei se tinha bolotas, como tem aquele cercado em volta dele não andei mesmo por baixo da copa. Estive a ver o resto das fotos e não dá para perceber muito bem, apesar de num sítio ou outro se ver algo que desconfio serem bolotas. Bugalhos tem! :D No chão também parece ter alguma coisa mais do que folhas. Tens que lá dar um salto, é tão perto de Braga :)

Obrigado! Está muito bem ainda, para os seus mais de 500 anos está muito bem mesmo :D

Mais uma foto:

Já fui lá e quase não tinha nada, apenas algumas bolotas, muitas que não pareciam recentes e que tinham furos. Ainda trouxe algumas que pareciam estar melhores, mas quando as coloquei num copo com água flutuaram todas menos uma, mesmo assim não sei se essa estará boa. Também não vi quase nenhumas bolotas nos outros carvalhos que estavam lá.
Daí fui até à margem do rio Cávado já em Navarra onde apanhei umas sementes de amieiro. Agora falta-me adicionar mais algumas espécies que gostava de ter, como uma faia, um pilriteiro, um carvalho dos pântanos, pois vejo aqui alguns em Braga muito bonitos e com uma cor vermelha fantástica no outono, um liquidâmbar e também gostaria de um choupo-negro só que pelo li têm umas raízes agressivas o que poderá fazer com que seja difícil de o manter num vaso. Podia continuar a lista com ainda mais espécies, só que o espaço é pouco. :D

rlhqkMF.jpg
 

João Pedro

Super Célula
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14 Jun 2009
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Porto, Campo Alegre (50 m) | Samora Correia (10 m)
Já fui lá e quase não tinha nada, apenas algumas bolotas, muitas que não pareciam recentes e que tinham furos. Ainda trouxe algumas que pareciam estar melhores, mas quando as coloquei num copo com água flutuaram todas menos uma, mesmo assim não sei se essa estará boa. Também não vi quase nenhumas bolotas nos outros carvalhos que estavam lá.
Daí fui até à margem do rio Cávado já em Navarra onde apanhei umas sementes de amieiro. Agora falta-me adicionar mais algumas espécies que gostava de ter, como uma faia, um pilriteiro, um carvalho dos pântanos, pois vejo aqui alguns em Braga muito bonitos e com uma cor vermelha fantástica no outono, um liquidâmbar e também gostaria de um choupo-negro só que pelo li têm umas raízes agressivas o que poderá fazer com que seja difícil de o manter num vaso. Podia continuar a lista com ainda mais espécies, só que o espaço é pouco. :D

rlhqkMF.jpg
Parecem-me todas boas opções, mas sim, o choupo tem raízes um pouco agressivas. Podes juntar um carvalho-escarlate (Quercus coccinea) ao carvalho-dos-pântanos (Quercus palustris) e divertires-te a descobrir as diferenças entre ambos... :D

E um tulipeiro-da-Virgínia (Liriodendron tulipifera)? :D
 

belem

Cumulonimbus
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10 Out 2007
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Muito interessante este artigo sobre o aproveitamento de algumas plantas ao longo dos milénios na Europa: https://www.shelterwoodforestfarm.c...qCoUkW9o7E9g6IYxBVmTicNIzxRA9QBnWYNrrC1CjSkYY
Eu já sabia que alguns caçadores mesolíticos do sudoeste europeu, muito provavelmente criavam caracóis, mas a «domesticação» de animais e plantas, antes da Revolução Neolítica, tem sido um tema algo esquecido.
Este artigo fala da importância da avelã para algumas culturas antigas (talvez na P. Ibérica também tivesse particular importância a bolota proveniente de diferentes espécies de carvalho), e no incentivo deliberado dos caçadores da pré-história em favorecer o crescimento de certas plantas (eu ainda tenho que tentar perceber, quais as linhas de evidência utilizadas para determinar esse aspeto).
É um artigo também importante para ajudar a destruição de certos mitos e preconceitos.
As linhas de sebes, por exemplo, são resquícios de um aproveitamento ancestral com muita importância na preservação da riqueza dos solos e da biodversidade, constituindo também uma fonte de alimento alternativa com grande valor e originalidade.
Os montados, quando convenientemmente geridos (em modo semi-selvagem e sem as destruições excessivas da vegetação arbustiva), são muito provavelmente também uma continuação de um passado longínquo e não uma invenção recente. Eventualmente os montados antigos, tinham uma maior diversidade do que hoje.
O touro bravo (e várias outras raças bovinas ibéricas antigas) resulta da hibridização com o auroque e o porco preto, resulta da hibridização com o javali, e ambos fazem parte deste complexo mosaico ancestral.
O favorecimento de um sistema policultural (com o aproveitamento de várias plantas, inclusive as silvestres) é também uma continuação do Mesolítico. É um aproveitamento sustentável dos recursos, em que um ano mau para uma certa cultura, pode ser um bom ano para outra.
A junção entre Mesolítico e Neolítico, constituiu um legado cultural de grande valor, pois integrava saberes ancestrais locais e novidades úteis vindas do exterior.
Penso que li algures, que as gentes rurais da P. Ibérica, utilizam pelo menos cerca de 180 espécies de plantas silvestres para vários fins. Este saber ancestral, com origens na pré-história, deveria ser melhor estudado e preservado.
Neste trabalho, também é lançada a hipótese de que as pessoas tinham uma dieta mais diversificada no passado do que se pensa, e que grande parte da agricultura moderna, é na verdade pobre.
Interessante, que certos autores, como o Gonçalo Ribeiro Telles, sempre favoreceram este «modelo da agricultura pré-histórica», sobretudo por ser o mais rico, saudável e sustentável.
 
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Pedro1993

Super Célula
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7 Jan 2014
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Muito interessante este artigo sobre o aproveitamento de algumas plantas ao longo dos milénios na Europa: https://www.shelterwoodforestfarm.c...qCoUkW9o7E9g6IYxBVmTicNIzxRA9QBnWYNrrC1CjSkYY
Eu já sabia que alguns caçadores mesolíticos do sudoeste europeu, muito provavelmente criavam caracóis, mas a «domesticação» de animais e plantas, antes da Revolução Neolítica, tem sido um tema algo esquecido.
Este artigo fala da importância da avelã para algumas culturas antigas (talvez na P. Ibérica também tivesse particular importância a bolota proveniente de diferentes espécies de carvalho), e no incentivo deliberado dos caçadores da pré-história em favorecer o crescimento de certas plantas (eu ainda tenho que tentar perceber, quais as linhas de evidência utilizadas para determinar esse aspeto).
É um artigo também importante para ajudar a destruição de certos mitos e preconceitos.
As linhas de sebes, por exemplo, são resquícios de um aproveitamento ancestral com muita importância na preservação da riqueza dos solos e da biodversidade, constituindo também uma fonte de alimento alternativa com grande valor e originalidade.
Os montados, quando convenientemmente geridos (em modo semi-selvagem e sem as destruições excessivas da vegetação arbustiva), são muito provavelmente também uma continuação de um passado longínquo e não uma invenção recente. Eventualmente os montados antigos, tinham uma maior diversidade do que hoje.
O touro bravo (e várias outras raças bovinas ibéricas antigas) resulta da hibridização com o auroque e o porco preto, resulta da hibridização com o javali, e ambos fazem parte deste complexo mosaico ancestral.
O favorecimento de um sistema policultural (com o aproveitamento de várias plantas, inclusive as silvestres) é também uma continuação do Mesolítico. É um aproveitamento sustentável dos recursos, em que um ano mau para uma certa cultura, pode ser um bom ano para outra.
A junção entre Mesolítico e Neolítico, constituiu um legado cultural de grande valor, pois integrava saberes ancestrais locais e novidades úteis vindas do exterior.
Penso que li algures, que as gentes rurais da P. Ibérica, utilizam pelo menos cerca de 180 espécies de plantas silvestres para vários fins. Este saber ancestral, com origens na pré-história, deveria ser melhor estudado e preservado.
Neste trabalho, também é lançada a hipótese de que as pessoas tinham uma dieta mais diversificada no passado do que se pensa, e que grande parte da agricultura moderna, é na verdade pobre.
Interessante, que certos autores, como o Gonçalo Ribeiro Telles, sempre favoreceram este «modelo da agricultura pré-histórica», sobretudo por ser o mais rico, saudável e sustentável.

Obrigado, pela tua partilha, e pela explicação tão detalhada, eu ultimamente tenho frequentado aqui alguma manchas de bosque, muitos dos quais em zonas de encosta, inacessívies, e fui por isso mesmo, que eles ainda hoje permanecem quase intactos, mas são bosques, em que pelo tamanho dos pinheiros, que mais sobressaem na paisagem, consegue-se afirmar, que as suas idades devem rondar os 100 a 150 anos, no máximo, e antes disso ainda todas essas encostas muitas delas eram cultivas, com figueiras e oliveiras, que muitas delas ainda hoje lá permancem dentro do mato.
 

frederico

Furacão
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9 Jan 2009
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Tenho lido textos espanhois sobre os carvalhos.

Uma das novidades e a grande capacidade de resistencia a secura de variedades do Quercus faginea, quando os solos nao sao esqueleticos. Dai a especie se aguentar em locais com 300 a 500 mm. Recordo que o sobreiro em locais com menos de 500 mm ja esta no seu limite.

Outro dado e a incapacidade do Quercus marianica ou do Quercus canariensis regenerar apos incendios e grandes abates, o que contrasta com uma resistencia muito superior da azinheira ou do sobreiro. As arvores jovens so sobrevivem a sombra de uma arvore velha, pois o Verao e longo e seco no seu habitat. Sendo assim para recuperar a especie nas serras algarvias e do Litoral alentejano e necessario dar uma maozinha a Natureza.

Tudo indicia que a presenca de carvalhos no Sul em tempos historicos foi largamente superior ao que possamos sequer imaginar. So estariam ausentes no Nordeste algarvio, Baixo Guadiana ou zonas quentes, mais planas e secas de parte do Interior alentejano.