Clima do Algarve, que futuro ?



frederico

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Comprei em Inglaterra um livro de um Prof. de Cambridge, fala sobre a evolução climática, a vegetação e os solos no Mediterrâneo.

Tem algumas páginas dedicadas a Portugal e Espanha. Em Gibraltar há medição da pluviosidade há cerca de 200 anos. O autor descobriu que Gibraltar no século XIX era muito mais húmido, com precipitação média em torno dos 1000 mm, e tem vindo a cair com altos e baixos até hoje. O mês de Março no passado era o mais chuvoso, a tendência para ficar seco pelos vistos já é antiga. O autor refere que a partir dos anos 40 até ao final dos 70 o clima arrefeceu e a precipitação recuperou um pouco, mas depois mal começou a década de 80 voltou a tendência para a seca. Considera e bem, na minha opinião, que estes padrões de Gibraltar podem ser extrapolados para todo o sudoeste da Península Ibérica, e para isso analisou algumas estações portuguesas e espanholas. Portanto se Gibraltar perdeu mais de 300 mm é provável que o Sul de Portugal também tenha perdido 100 a 200 mm. Já tinha aqui colocado essa hipótese, depois de ler sobre a produção de castanha na serra de Tavira. Muito provavelmente estas são consequências do fim gradual da pequena Idade do Gelo. Existem ainda indícios de que no tempo dos romanos o Sul da Península era mais árido e seco, e de que o Norte de Portugal já teve azinheiras em vez de carvalhos há 5000 anos. Provavelmente a Península fica mais árida quando o clima aquece e mais húmida quando arrefece. Curiosamente outras regiões do Mediterrâneo não acompanham este padrão, caso da Península Itálica. Portanto o aquecimento «mexe» com o Atlântico, com as altas pressões que se acomodam a sudoeste de São Vicente e a oeste da costa portuguesa. Sendo assim, se o aquecimento estabilizar ou continuar, o litoral algarvio poderá ver a precipitação média anual cair para valores abaixo dos 400 mm, o mesmo sucederá também no Baixo Alentejo, já o Alto Alentejo cairá genericamente para valores inferiores a 500 mm.
 

james

Cumulonimbus
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16 Set 2011
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Comprei em Inglaterra um livro de um Prof. de Cambridge, fala sobre a evolução climática, a vegetação e os solos no Mediterrâneo.

Tem algumas páginas dedicadas a Portugal e Espanha. Em Gibraltar há medição da pluviosidade há cerca de 200 anos. O autor descobriu que Gibraltar no século XIX era muito mais húmido, com precipitação média em torno dos 1000 mm, e tem vindo a cair com altos e baixos até hoje. O mês de Março no passado era o mais chuvoso, a tendência para ficar seco pelos vistos já é antiga. O autor refere que a partir dos anos 40 até ao final dos 70 o clima arrefeceu e a precipitação recuperou um pouco, mas depois mal começou a década de 80 voltou a tendência para a seca. Considera e bem, na minha opinião, que estes padrões de Gibraltar podem ser extrapolados para todo o sudoeste da Península Ibérica, e para isso analisou algumas estações portuguesas e espanholas. Portanto se Gibraltar perdeu mais de 300 mm é provável que o Sul de Portugal também tenha perdido 100 a 200 mm. Já tinha aqui colocado essa hipótese, depois de ler sobre a produção de castanha na serra de Tavira. Muito provavelmente estas são consequências do fim gradual da pequena Idade do Gelo. Existem ainda indícios de que no tempo dos romanos o Sul da Península era mais árido e seco, e de que o Norte de Portugal já teve azinheiras em vez de carvalhos há 5000 anos. Provavelmente a Península fica mais árida quando o clima aquece e mais húmida quando arrefece. Curiosamente outras regiões do Mediterrâneo não acompanham este padrão, caso da Península Itálica. Portanto o aquecimento «mexe» com o Atlântico, com as altas pressões que se acomodam a sudoeste de São Vicente e a oeste da costa portuguesa. Sendo assim, se o aquecimento estabilizar ou continuar, o litoral algarvio poderá ver a precipitação média anual cair para valores abaixo dos 400 mm, o mesmo sucederá também no Baixo Alentejo, já o Alto Alentejo cairá genericamente para valores inferiores a 500 mm.


Em relação à temperatura, eu penso que a sua subida nas últimas décadas é geral e ocorre em praticamente toda a Europa.

Em relação à precipitacao, eu penso que o Algarve beneficia classicamente das cut - offs que se formam a SO no Atlântico.

Tendo relação ou não com a subida das temperaturas, tenho a ideia que o número de cut - offs tem baixado drasticamente.

Pode estar aí parte da explicação da diminuição da precipitação.

Por outro lado, também me parece que a circulação atlântica também baixa cada vez menos em latitude. Outrora era frequente a NAO baixar no inverno até à Latitude de 30 graus, que beneficiava o Algarve. Parece - me que isso se tem tornado mais raro.

E ainda para mais, o Algarve nos últimos anos não tem beneficiado muito das depressões que se formam no Mediterrâneo...

Mas isso pode ser uma situação meramente conjuntural e no futuro poder haver uma reversão dessa situação.
 
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frederico

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9 Jan 2009
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A chave está no triângulo Açores-Canárias-Gibraltar. Sem instabilidade aí não chove como deve ser no Sudoeste da Península e no Noroeste de Marrocos. E a instabilidade nessa zona tem diminuído gradualmente Por outro lado o Anticiclone marcha cada vez menos para o Reino Unido, a Escandinávia e a Islândia. Por que motivo sucede isto? Não sei mas poderá estar relacionado com o aumento da temperatura.
 

trovoadas

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3 Out 2009
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loule-caldeirao
Pelo que vejo temos de nos preparar seriamente para um futuro próximo. Eu falo por mim que já não reconheço o nosso clima principalmente nestes últimos 3 anos. Já são 3 anos consecutivos mais ou menos com o mesmo padrão. Até a data ainda não houve nenhuma compensação, continuamos em fase decrescente, ou seja, temos os aquíferos muito fracos e agora também as barragens. A mim parece-me que a obra "Odelouca" está a mascarar o grave problema hídrico que atravessamos. Estes últimos 2 anos passaram-se bem mas este ano não me parece que será o caso.

Como já se referiu aqui o principal problema são as depressões Atlânticas que simplesmente não baixam em latitude. As frentes chegam todas debilitadas ao Sul. As cut-offs até tem existido e fazem o seu trabalho mas por si só não contribuem para a normalidade do nosso clima.
Jã nem me recordo de quando foi o último pós-frontal a atingir forte o Algarve...algo que a meu ver até era recorrente em anos normais.
 

camrov8

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14 Set 2008
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por amor de Deus parecem as velhinhas nas cheias, há vivo aqui a 50 anos e nunca vi nada igual, acho que por aqui o gosto pelo clima devia evitar isso, o que são 3 anos no clima uma foto num filme bem maior
 

algarvio1980

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21 Mai 2007
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Olhão (24 m)
Águas do Algarve está a implementar medidas de gestão adicionais para salvaguardar o abastecimento público no Verão

Em nota à imprensa a Águas do Algarve S.A., informa que “apesar de grande parte do território Português ter registado, no mês de janeiro, valores de quantidade de precipitação superiores aos valores médios, sendo inclusive o valor médio nacional de janeiro o maior dos últimos 15 anos (189,0 mm) o que o caracteriza como um mês muito chuvoso, na região do Algarve a situação em termos de precipitação tem sido distinta do restante território. “

De acordo com informação do IPMA, em janeiro de 2016, o valor mensal mais baixo de quantidade de precipitação a nível nacional foi registado no Algarve, no concelho de Castro Marim, e a nível nacional, apenas na região do sotavento Algarvio ocorreram valores inferiores ao normal, panorama que se tem vindo a manter durante o mês de fevereiro.

A Águas do Algarve S.A. salienta que “o presente período húmido de 2015-2016, e salvo um episódio registado no início de novembro de 2015, tem sido caracterizado por baixos valores de quantidade de precipitação e consequentemente baixas afluências de água às albufeiras que constituem origens de água para o abastecimento público ao Algarve. Com a agravante de o ano hidrológico anterior (2014-2015) ter sido igualmente caracterizado como seco, partindo já as albufeiras de uma situação de disponibilidade baixa, em termos de armazenamento de água.“ (ver mapa em anexo)

Neste cenário de baixas precipitações e da análise dos volumes e disponibilidades hídricas das 4 albufeiras que constituem origens de água do Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água do Algarve, albufeiras de Odelouca, Bravura, Odeleite e Beliche, “verifica-se que no período húmido deste ano hidrológico de 2015-2016, e face ao período homólogo do ano anterior, os caudais de regularização das albufeiras não foram suficientes para suprir as necessidades registadas, não permitindo assim incrementos em termos de percentagem de armazenamento de água.”

Ainda segundo o IPMA a 31 de janeiro de 2016, a quase totalidade da região do algarve encontrava-se em situação de seca fraca, com exceção da área em que se insere a bacia da albufeira da Bravura, sendo que a região do Sotavento Algarvio encontra-se já em situação de seca moderada.

Em balanço a situação em termos de disponibilidades de água superficial para o abastecimento público é menos desfavorável na região de barlavento Algarvio, sobretudo pela disponibilidade de uma nova origem de água superficial, a Albufeira da barragem de Odelouca, associada a uma estratégia da Águas do Algarve, S.A. de gestão plurianual e integrada das Origens de Água do Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água do Algarve, superficiais e subterrâneas. No entanto, face à situação mais desfavorável registada a sotavento, que merece acompanhamento extraordinário, a Aguas do Algarve S.A. “encontra-se já a implementar medidas de gestão adicionais para salvaguardar as necessidades do abastecimento público à região na época alta que se avizinha.”

Fonte: Região Sul

Começa a tocar o alarme face á aproximação da época alta e ao baixo nível nas Albufeiras do Sotavento. :unsure:

Se não existisse Odelouca, já haveria racionamento de água no próximo Verão. Uns com tanta água e outros quase sem nenhuma. Fevereiro é mais um mês seco, por estas bandas. Talvez Março e Abril reponham algo mas não deve ser nada de extraordinário.
 

algarvio1980

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Olhão (24 m)

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Olhão (24 m)
Média na precipitação ocorrida em Olhão entre Outubro de 2007 a Setembro de 2016

Outubro: 64.9 mm (9 anos)
Novembro: 79.2 mm (9 anos)
Dezembro: 67.1 mm (9 anos)
Janeiro: 39.8 mm (9 anos)
Fevereiro: 44.0 mm (9 anos)
Março: 58.7 mm (9 anos)
Abril: 50.4 mm (9 anos)
Maio: 28.0 mm (9 anos)
Junho: 1.3 mm (9 anos)
Julho: 0.4 mm (9 anos)
Agosto: 0.4 mm (9 anos)
Setembro: 23.6 mm (9 anos)

Média anual dos últimos 9 anos: 457.8 mm

Em comparação com a média em Faro (Aeroporto) de 1971- 2000, o pior mês é, sem dúvida, o de Dezembro com quase metade da média e Janeiro. Os meses acima são claramente, Março, Abril, Maio e Setembro, sendo Outubro normal e Novembro ligeiramente abaixo.

Neste momento, já tenho uma década de registos, lá mais para o final do ano, é que devo ter as contas feitas.
 

frederico

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A quantos quilometros da costa e a que altitude tens a estacao? 10 anos nao chega mas e um valor algo baixo. Dezembro e Janeiro estao com valores baixos...
 

algarvio1980

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Olhão (24 m)
A quantos quilometros da costa e a que altitude tens a estacao? 10 anos nao chega mas e um valor algo baixo. Dezembro e Janeiro estao com valores baixos...

Em linha recta, diria que estou a 1.5 km do porto de pesca, a altitude é de 24 mts. Estás a ver, o Pingo Doce e o Aldi à entrada de Olhão, moro por detrás na urbanização para norte, no Pingo Doce vês um prédio com a construção parada é por detrás.

Não esqueças, que Olhão é mais seco que Faro ou Tavira, normalmente passa tudo ao lado, só em situações de sueste é que apanho bons temporais e sudoeste alguns, mas nem todos depende se entrar pelo Cabo de Santa Maria levo com um bom temporal, se entrar mais para Oeste, fico no meio Faro leva com mais e dado o desenho da costa não se passa nada e depois da Fuzeta até VRSA apanha também um bom temporal.
 
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frederico

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9 Jan 2009
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Sim entao faz sentido, a Ria Formosa tem clima de estuario ou de cabo, mais seco portanto...

Ainda assim acho que no futuro os valores medios que tens para Dezembro e Janeiro deverao subir, e Abril e Marco deverao ter uma ligeira descida. Dezembro devera subir para cerca de 80 mm e Janeiro para 60 mm. Deves ficar no final perto dos 500 mm.