Climatologia dos fenomenos convectivos em Portugal

Chingula

Cumulus
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Eu não tenho dados climatológicos para dizer com confiança muita coisa sobre isto, é uma coisa que procuro há muitos anos, e sei que actualmente há alguns estudos em progresso sobre climatologia de trovoadas (há um tópico que tem alguma coisa mas infelizmente pouca). Pode ser que nos próximos anos tenhamos mais dados.

Leio sempre com atenção o que escreve no forum, gostei do que li aqui, no entanto penso que a orientação do eixo que refere "de SE para NE" deverá ser de SW para NE...
Cumpts
 


Lousano

Cumulonimbus
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Quanto ao IM....sinceramente não sei se há sequer estudos sobre este padrão estatistico, muito menos acerca da dinamica mesoescalar dessas regiões ( não estou a ser critico....a culpa muitas vezes nada tem a ver com o IM mas sim com a falta de investimento por parte das autoridades superiores ao instituto).


Não sou muito critico em relação ao IM, mas uma situação que não acontece é irem ao terreno avaliar situações para as confrontarem com o dados que têm. E isso não é algo muito dispendioso... apenas requer dedicação e interesse pelo trabalho. (algo que não é relevante no momento poderá ser um grande ingrediente de trabalho no futuro).
 

Vince

Furacão
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23 Jan 2007
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Leio sempre com atenção o que escreve no forum, gostei do que li aqui, no entanto penso que a orientação do eixo que refere "de SE para NE" deverá ser de SW para NE...
Cumpts

Sim, foi lapso, obviamente SW-NE, volta e meia troco-me todo :)
Vou editar a mensagem.


Alguns exemplos:


Tornado em Alcanena/Amiais/Torres Novas 9 Abril 2008


sat-1.png




Tornado Castelo de Vide 9 Abril 2008 (mesmo dia que o anterior)

celula.gif





Tornado em Ferreira do Zêzere - 7 de Outubro 2009

satl.gif





Tornado em Tomar/Ferreira do Zêzere/Sertã - 7 Dezembro 2010

satp.gif
 

stormy

Super Célula
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Para mim é "apenas" o mais relevante de tudo, porque é que numa região se forma um mesociclone e noutras zonas não. Compreender as causas e o mecanismo é a única forma de no futuro sabermos que existe uma situação potencialmente de risco com bastante antecedência.

Repara...tu tens um mesociclone prévio, ou uma célula comum....se ao passar num lugar esses sistemas compulsivamente tendem a adquirir vigor é exatamente porque esse local tem caracteristicas que podem facilitar o desenvolvimento desses sistemas.

Quando há tornados o ambiente sinoptico é razoavelmente favoravel numa area vasta...agora...o que faz com que um meso pré-existente ( basta um shear unidireccional forte para teres um MCS) se transforme num sistema tornadogenico ( para o qual as condições ideais de dinamica são diferentes), num local especifico é que é interessante...entendes o que quero dizer?

Não interessa se a celula nasceu ou não ali...interessa é que, tenha ou não nascido ali, foi ao passar naquela zona que encontrou mecanismos mesoescalares que lhe premitiram a evolução...;)

E dai a questão. " Que mecanismos exatamente são responsaveis, e o que é que os induz...será mesmo aquele perfil topografico ?"
 

Vince

Furacão
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Repara...tu tens um mesociclone prévio, ou uma célula comum....se ao passar num lugar esses sistemas compulsivamente tendem a adquirir vigor é exatamente porque esse local tem caracteristicas que podem facilitar o desenvolvimento desses sistemas.

Quando há tornados o ambiente sinoptico é razoavelmente favoravel numa area vasta...agora...o que faz com que um meso pré-existente ( basta um shear unidireccional forte para teres um MCS) se transforme num sistema tornadogenico ( para o qual as condições ideais de dinamica são diferentes), num local especifico é que é interessante...entendes o que quero dizer?

Não interessa se a celula nasceu ou não ali...interessa é que, tenha ou não nascido ali, foi ao passar naquela zona que encontrou mecanismos mesoescalares que lhe premitiram a evolução...;)


Vamos esclarecer umas coisas, referes muitas vezes a tornadogénese, ora a tornadogénese do tipo supercelular está intimamente associada à formação do mesociclone. Não podes separar uma coisa da outra.


39215140.gif


Numa célula normal, se esta se estiver a deslocar por exemplo no sentido SW-NE, o windshear em altura for moderado a forte, empurra por exemplo as nuvens para NE, pelo que o downdraft está localizado no quadrante NE da célula.

Numa supercelula há dois downdrafts principais, o primeiro chamado FFD (front flank downdraft) cuja localização é a normal como em qualquer trovoada com bom shear.
Quando se forma um mesociclone (o updraft adquire rotação, devido à ingestão de vorticidade horizontal criada pelo shear) esse mesociclone forma-se nos níveis médios, rotação facilitada pelo windshear direccional, etc, a certa altura o downdraft/chuva que cai começa a rodear por oeste/sudoeste o mesociclone (se considerarmos as direcções que dei de exemplo e no hemisfério norte claro) criando um segundo downdraft chamado RFD (rear flank downdraft). A assinatura do hook echo no radar, é precisamente essa chuva a rodear o mesociclone/corrente ascendente criando aquele gancho típico. O ar do RFD é mais seco e menos frio que o do FFD. Ou seja, sem a formação do mesociclone, esta etapa simplesmente não ocorre, não há RFD, que há décadas se sabe que é fundamental na tornadogénese do tipo supercelular.

rfd.gif




Estrutura típica de uma supercelula clássica (as HP e outras, são um pouco diferentes)

81194565.gif


A Tornadogénese (do tipo supercelular) ocorre precisamente nessa altura, quando o ar descendente desse downdraft (RFD) começa a ser parcialmente sugado pelo updraft (numa coisa que Fujita chamou reciclagem) mas não apenas isto, também parece estar envolvida vorticidade horizontal, etc. Nos últimos anos também tem havido estudos da influência do outflow do FFD também. Há imensas hipóteses/teorias diferentes sobre esta fase complexa que ainda não compreendemos bem, há vários modelos conceptuais um pouco diferentes entre si, ainda hoje é alvo de imensos estudos, nos últimos 2 anos nos EUA até tem estado em campo a iniciativa Vortex2 precisamente para compreender melhor esta última fase, do porquê de alguns mesociclones gerarem tornados (20-30% nos EUA) e outros não. As maiores dúvidas que existem nesta área, como é referido na primeira imagem que coloquei, tem a ver com o mesociclone nos níveis baixos.


Portanto neste tipo de eventos, é fundamental perceber aonde e porque razão se forma um mesociclone, disso percebemos alguma coisa, pelo menos a sua formação nos niveis médios, e isso conseguimos nalguns casos detectar em radar pois um mesociclone dos níveis médios ainda tem um tamanho razoável, 2-10km de largura, ao contrário dum Tornado, que é normalmente muito pequeno. Mas como referi anteriormente, mesmo os mesociclones em Portugal, a maioria das vezes são pequenos e difíceis de detectar.

Temos portanto que trabalhar com o que temos, e perceber porque se forma nalgumas zonas um mesociclone, ou se existem zonas onde isso possa ocorrer com mais facilidade, já seria um bom avanço nesta matéria. Era aí que queria chegar, eu suspeito que neste eixo referido haja alguma coisa diferente de outras zonas que favoreça alguma ou algumas destas fases, e a minha suspeita é que tenha a ver com a formação do mesociclone, e se for tem a ver provavelmente com o shear, mas obviamente é apenas um palpite/especulação da minha parte.
 

stormy

Super Célula
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Bom...a hipotese que coloquei de o mesociclone se desenvolver ao interagir com uma zona favoravel, gerando-se assim um sistema capaz de formar tornados é ou não viavel?

O que disse é que o sistema prévio pode ter uma genese diferente de um sistema que desde o inicio se formou num ambiente propicio á tornadogenese, mas que ao entrar numa zona favoravel, podem-se dar fenomenos que o levem a adquirir caracteristicas de um sistema tornadogenico..;)