Este texto é de de 2006, do Diário de Notícias acerca do esquilo-vermelho e do corço.
Esquilo-vermelho e corço estão de regresso à serra da Malcata
Há boas notícias na serra da Malcata. Depois de ausências muito prolongadas, duas novas espécies emblemáticas regressaram àquelas paragens e parece que estão para ficar. São o corço e o esquilo, que agora voltam a fazer parte da fauna selvagem local. "É um importante enriquecimento para a biodiversidade nesta zona", diz satisfeito Pedro Sarmento, biólogo e director da Reserva Natural da Serra da Malcata.
O primeiro a aparecer por aquelas paragens, há cerca de ano e meio, foi o esquilo. Mais exactamente o esquilo-vermelho. Hoje tornou-se já um animal comum na região. "Esta era uma situação esperada há algum tempo", explica o director da reserva, sublinhando que havia já sinais nesse sentido. "É agora normal encontrarmos pinhas roídas e outros indícios da sua presença, o que mostra que há uma população fixada", conta Pedro Sarmento.
Durante a última campanha de monitorização de mamíferos, há alguns meses, o esquilo também foi fotografado, como aqui se mostra.
É preciso dizer que o esquilo- -vermelho tinha sido dado como extinto em Portugal em meados do século XVI, ou seja, há quase 500 anos.
Não admira por isso que, em 1992, quando voltou a ser avistado (e fotografado) na serra do Gerês, isso tenha sido motivo de festa, sobretudo para os biólogos. "Houve reportagens na televisão e nos jornais", recorda Pedro Sarmento. Desde então, a espécie expandiu-se e progrediu para sul no território continental, adaptando-se bem à floresta, e estabelecendo-se de forma estável.
Em 1998, o director da reserva da Malcata chegou a considerar a hipótese de fazer ali a reintrodução do esquilo. "Na altura, um especialista inglês com quem falei do assunto tinha a opinião que provavelmente não seria necessário. Tinha razão".
Foi há sete anos que se percebeu que já havia populações de esquilo na Beira Interior. "Agora devemos estar no limite sul da sua fixação populacional, aqui na reserva", admite o biólogo, prevendo que a espécie possa continuar ainda a expandir-se mais para sul, apesar de a floresta se tornar aí mais esparsa. "Historicamente, o esquilo também existia a sul da Malcata."
Além do enriquecimento da região do ponto de vista da biodiversidade, o facto de este roedor ser agora residente cria também condições para a fixação de outras espécies suas predadoras, como algumas rapinas raras.
É o que Pedro Sarmento espera que aconteça igualmente com o regresso do corço à região. "É possível que isso favoreça também a fixação de populações de lobo".
Depois de ter desaparecido da região na década de 20 do século passado, o corço tem vindo progressivamente a regressar à reserva. Produto da reintrodução na Beira Interior, conduzida há uma década pelos Serviços Florestais, ou colonização natural oriunda de Espanha, "ainda não conseguimos perceber bem", confessa o director da reserva, o certo é que o corço está também para ficar. "Inclusivamente, sabemos que já se reproduzem, porque já fotografámos as mães com as crias", conclui.