Resumo
A moderna topoclimatologia ajuda a reconhecer algumas das limitações climáticas
locais e a resolver problemas que hoje se colocam ao planeamento urbano e ao ordenamento bio-
fisico do território. Com o recurso a um SIG, este trabalho pretendeu reconhecer alguns dos
padrões térmicos nocturnos do sul da península de Lisboa. O arrefecimento radiativo em áreas
topograficamente deprimidas pode ocasionar episódios de frio que levam ao desconforto térmico
dos indivíduos e a um excessivo consumo de energia para aquecimento. Estimou-se que 35% das
áreas urbanas estão no fundo dos vales, onde há forte probabilidade de ocorrência de lagos de ar
frió, e que as temperaturas são, em média, 1°C mais baixas do que ñas urbanizações que se
encontram noutras posições topográficas
Introdução
Através de vários estudos efectuados em áreas urbanas e suburbanas, tem-se pro-
curado identificar algumas limitações climáticas que afectam os indivíduos e que o pla-
neamento urbano e o ordenamento biofísicp do território não devem ignorar. Em tra-
balhos anteriores, procurou-se reconhecer alguns fenómenos atmosféricos locáis, como
os ventos induzidos termicamente e o sistema de drenagem e acumulação de ar frío no
fundo dos vales (LOPES, 1994b e 1995).
Em primeiro lugar, o arrefecimento nas noites anticiclónicas de inverno pode oca-
sionar episódios de frio, nas áreas topograficamente deprimidas, que levam ao descon-
forto térmico dos indivíduos (sobretudo daqueles que habitam em casas que nâo estäo
preparadas para o frió) ou a um excessivo consumo de energia para aquecimento.
Por outro lado, as noites anticiclónicas, calmas, sem nebulosidade e com urna forte
estabilidade atmosférica, são propicias ao aparecimento de ventos fracos (inferiores a
3m/s), que podem transportar gases extremamente nocivos para áreas ocupadas pelo
homem (BLUMEN, 1990, p. 2).
Os vales situados a oeste da cidade de Lisboa merecem urna atenção particular
porque, para além da forte ocupação humana, são atravessados por urna das vias de
maior tráfego automóvel da região: a auto-estrada Lisboa-Cascais (fig. la). A estabili-
dade atmosférica e a circulação automóvel são dois dos principais factores que contri-
buem para o aparecimento dos níveis mais elevados de poluição nas cidades e áreas
suburbanas (ANDRADE, 1996, p. 64), tornando-se, portante, imperioso conhecer o com-
portamento da camada limite da atmosfera e, sobretudo, a sua relação com o relevo e
com as componentes humanas e naturais que ocupam a superfície.
Neste trabalho procura-se determinar quais são as principais variáveis topoclimáti-
cas que explicam a variação espacial das temperaturas nas noites anticiclónicas de
arrefecimento radiativo e a extensão, em área, de um dos padrões térmicos mais carac-
terísticos: os lagos de ar frio no fundo dos vales.
Por outro lado, pretende-se dar continuidade à criação de documentos com interes-
se para o planeamento urbano. Por este motivo a área sobre a quais este estudo incide
corresponde aos limites da folha 430 (Oeiras) do mapa na escala 1:25 000.
Esta área do sul da península de Lisboa é caracterizada por vales orientados no
sentido norte/sul, com um relevo mais movimentado a leste e relativamente mais plano
a oeste (fig. la, p. 26). Os topos nao ultrapassam 220 m de altitude, observando-se, local-
mente, um desnível superior a 100 m entre as áreas mais elevadas e o fundo dos vales.
No sul, o litoral contacta com o oceano Atlântico e o estuário do Tejo. Os maiores aglo-
merados urbanos (Cascais, Oeiras, Queluz e a cidade da Amadora) servem, sobretudo,
de dormitórios a milhares de pessoas que se deslocam diariamente para a capital.