ISO's e temperatura a nível do solo

Mário Barros

Furacão
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Ora bem, gostaria se possível que alguém me desse umas noções das temperaturas provocadas a nível no solo pelas ISO's, essencialmente a 850hpa é que muito se fala delas mas na realidade a temperatura a nível do solo vive quase sempre de especulação quando se tenta relacionar ambos os assuntos.

Eu normalmente quando se fala numa ISO de 16ºC a 850hpa costumo acrescentar mais 3ºC ou 4ºC para a temperatura a nível do solo...será que estou certo ?
 


Brunomc

Nimbostratus
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aqui está a minha maneira de ver a temperatura no solo através destes valores..mas penso que da mais para o distrito de Évora e talvez mais 2 ou 3

fui eu que criei estes valores com base na temp 850hpa do GFS

ISO 24 - 39-40ºC
ISO 22 - 37-38ºC
ISO 20 - 35-36ºC
ISO 18 - 33-34ºC
ISO 16 - 31-32ºC
ISO 14 - 29-30ºC
ISO 12 - 27-28ºC
ISO 10 - 25-26ºC
ISO 8 - 23-24ºC
ISO 6 - 21-22ºC
ISO 4 - 19-20ºC
ISO 2 - 17-18ºC
ISO 0 - 15-16ºC
ISO -2 - 13-14ºC
ISO -4 - 11-12ºC
ISO -6 - 9-10ºC
ISO -8 - 7-8ºC
ISO -10 -5-6ºC
ISO -12 -3-4ºC
ISO -14 - 1-2ºC
ISO -16 - -1-0ºC

mas gostava de saber mais sobre as ISO'S porque estes valores podem não corresponder para alguns distritos de portugal continental..
 

Daniel Vilão

Super Célula
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22 Mar 2007
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Ora bem, gostaria se possível que alguém me desse umas noções das temperaturas provocadas a nível no solo pelas ISO's, essencialmente a 850hpa é que muito se fala delas mas na realidade a temperatura a nível do solo vive quase sempre de especulação quando se tenta relacionar ambos os assuntos.

Eu normalmente quando se fala numa ISO de 16ºC a 850hpa costumo acrescentar mais 3ºC ou 4ºC para a temperatura a nível do solo...será que estou certo ?

Confesso que me sinto um pouco estranho ao estar a responder-te a isto, não sei tudo, como é óbvio, mas costumas postar muito mais nas previsões do que eu, embora eu também veja os modelos. :p

Mas geralmente quando se faz a observação e leitura das condições em altitude joga-se - eu costumo jogar - com o gradiente térmico vertical, especialmente tendo em conta que os 850 hPa costumam fixar-se à volta dos 1500m de altitude, embora com ligeiras variações ao longo do ano, devido às condições de instabilidade, entre outras.

Assim, sendo o gradiente térmico vertical médio de 6,2 ºC por cada 1000m de altitude, logicamente relativo às condições de estabilidade da atmosfera, partindo do princípio de que não existem inversões térmicas a destacar, níveis de saturação muito diferentes aos vários níveis de altitude, entre outros, é uma maneira simples de fazer esta generalização.

Estando os 850 hPa a uma altitude média de 1500m, o gradiente térmico vertical correspondente ao nível do solo será de 9,3 ºC.

Assim, eu aplico os 9,3 ºC em relação ao que é mostrado a 850 hPa e com isto calculo a máxima à superfície, com base na hora mais próxima da mesma, escolhendo as diferentes horas de observação do modelo.

Obviamente para a mínima não serão os 9,3 ºC, na minha opinião, pois com o avançar da noite a radiação solar que já não entra está a ser libertada pela superfície terrestre, podem gerar-se inversões térmicas a várias altitudes em noites de céu limpo e acalmia do vento, a própria atmosfera em comparação com os 850 hPa não tem grande ponto de comparação nestas alturas, uma vez que seja dia ou noite a variação térmica diária é muito menor a níveis altos da atmofera do que ao nível do solo, tanto pela absorção da radiação durante o dia por parte do solo, como pela sua consequente irradiação, dependerá também dos tipos de solo, relevo, intensidade solar, e depois, à noite, a energia será libertada também de forma diferente consoante os factores que se observem, para além de que a nível altos da atmosfera não existe a tal barreira horizontal, o solo, que faça com que haja acumulação de ar frio à superfície durante a noite, entre outros e, por isso mesmo, a interpretação do gradiente térmico vertical é, na minha opinião, tratada de forma diferente ao longo do dia e consoante as condições atmosféricas observadas. É necessária alguma empiria nestas casos e quem está mais habituado a estas análises saberá melhor como jogar com elas. Muitas vezes o próprio calor acumulado interfere nas análises, assim como mudanças de padrão repentinas também poderão não surtir grande efeito devido a esse factor, consoante haja muito ou pouco calor acumulado à superfície devido às condições ocorridas em dias anteriores a própria previsão muda e têm-se mais factores em conta, muitas vezes conhecemos determinados microclimas, sabemos onde podemos aplicar melhor o efeito marítimo, sabemos onde ele costuma ser exagerado pelo próprio modelo e fazer uma análise mais pessoal, condições de relevo que muitos modelos não têm conta e muitos mais factores.

Depois de tudo isto, ainda há muito mais a considerar, há infinitas situações possíveis de analisar cada caso tendo em conta as condições actuais e já ocorridas, fiabilidade dos próprios modelos e seria uma discussão sem fim.
 

David sf

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8 Jan 2009
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Depende também da direcção do vento, nebulosidade, número de horas de sol, densidade urbana, distância ao mar, convecção... Não se pode estabelecer uma relação de proporcionalidade, nem somar x graus, porque a relação não é nada directa. Basta dizer que o litoral está neste momento com temperaturas próximas de 30 com a iso 16, com vento leste. Em Julho, com isos superiores, mas em regime de nortada, as temperaturas não ultrapassavam os 25.
 

Daniel Vilão

Super Célula
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Depende também da direcção do vento, nebulosidade, número de horas de sol, densidade urbana, distância ao mar, convecção... Não se pode estabelecer uma relação de proporcionalidade, nem somar x graus, porque a relação não é nada directa. Basta dizer que o litoral está neste momento com temperaturas próximas de 30 com a iso 16, com vento leste. Em Julho, com isos superiores, mas em regime de nortada, as temperaturas não ultrapassavam os 25.

Precisamente. O que eu disse ainda teria muito mais para acrescentar. É um sem número de factores que jogam entre si e que é preciso ter em conta. De qualquer forma, por não haver uma relação muito directa, a nossa análise é sempre empírica e tem em conta o que já conhecemos acerca das tendências dos vários modelos. ;)
 

rozzo

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11 Dez 2006
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Como foi aqui dito, estabelecer uma relação directa é perigosíssimo!
Verdade a história do gradiente adiabático, etc, e seria tudo muito bonito num clima bem comportadinho, longe de mares, brisas, etc, aí até não andaria muito longe..
Agora num clima com mar, rapidamente essas coisas caiem por terra, com contra-exemplos como já o David sf referiu, e muitos mais haverá!

Além das brisas, inversões, e especificidades locais, a própria radiação para cada mês muda tudo. Cartas meteorológicas idênticas com iso 850 idênticas em Julho e Outubro vão dar valores à superfície totalmente diferentes..

Olhem hoje, com previsões acima dos 30º claramente pelo IM ou weatheronline para Lisboa, e afinal se calhar ambos vão exagerarar bastante, e provavelmente por isso mesmo, apesar das temperaturas aos 850, a radiação solar já não proporciona assim tanto aquecimento à superfície..

E para não entrar em detalhe então no Inverno nas mínimas claro como já disse o Daniel, onde estamos fartos de ver estações a poucos kms (portanto com iso 850 iguais basicamente) com mínimas com diferenças de 5 ou 10 graus se for preciso!

Pode-se sim, é com base nas iso 850 em conjunto com outras variáveis fazer empiricamente estimativas da temperatura à superfície, por comparação com as observações, como disse mais ou menos o Brunomc, mas isto local a local. Este tipo de formulação empírica será ajustada local a local especificamente, e isso sim até pode dar resultados interessantes.
Agora uma "fórmula mágica" generalizada para a T2m com base na T850hPa é claro ilusão, ou então se não ilusão, é algo associado a uma estimativa muito grosseira e perigosa!