Madeira está a aquecer desde 1975 e pode vir a sofrer de falta de água
A temperatura média da ilha da Madeira deverá registar uma subida "inequívoca" de 1,4 a 3,7 graus até ao fim do século XXI, de acordo com as projecções de um estudo sobre clima e meteorologia dos arquipélagos atlânticos, apresentado ontem no Funchal.
Para a evolução da precipitação existe mais incertezas, mas as projecções apontam para reduções significativas de precipitação que podem ir para além dos 35% (3400 mm nos picos mais elevados).
Se ao longo das últimas décadas, a experiência empírica revela mudanças visíveis - em Agosto deste ano registaram-se 38 graus durante o dia e 34 às 4 da madrugada - o relatório final explica que há uma tendência significativa de +0,72ºC/por década, implicando uma diminuição da amplitude térmica. Conclui-se que, desde 1975, as temperaturas na Madeira, sobretudo no Funchal, têm valores superiores à média das temperaturas em Portugal continental e nos Açores, encontrando-se entre as mais elevadas das estações analisadas em todo o território nacional.
A longo prazo, prevê-se fortes impactos negativos nos recursos hídricos, agricultura, florestas, biodiversidade, oferta de energia, saúde humana, nomeadamente mortalidade devido ao calor, doenças associadas à qualidade do ar, bem como doenças transmitidas por vectores (mosquitos), exemplos do dengue, febre amarela, malária e febre do Nilo Ocidental, ou seja, doenças infecciosas tropicais. Neste capítulo cita-se, ainda, outros tipos de agentes, caso das carraças, pulgas e roedores. Um cenário que, a concretizar-se, terá, claramente, repercussões no turismo, conforme fez questão de sublinhar Filipe Duarte Santos, coordenador científico do estudo, que garantiu ainda que a situação dos Açores "é menos gravosa do que a Madeira porque as alterações climáticas são menos acentuadas".
O Governo Regional está preocupado com os resultados do estudo. O secretário do Ambiente e Recursos Naturais, Manuel António Correia, disse ao DN que, feito o diagnóstico, "é preciso promover mudanças de hábitos, como é o caso da utilização da água", tanto mais que se criou a ideia de que a Madeira é rica em água.
Além disso, garantiu o governante regional, estão a ser tomadas medidas como as reflorestações e o fim do pastoreio ordenado, concretizado desde 2003. "Temos, ainda, as lagoas de altitude para aproveitamento do recurso água, o caso dos perímetros de regra sob pressão cujos concursos já foram lançados, bem como a reciclagem das águas residuais. O Porto Santo é um bom exemplo. Presentemente, existe uma cobertura total de água através da dessanilização", frisou Manuel António Correia.