Nestes casos o mais urgente seriam planos para contenção dos solos e prevenção da erosão a provocar pelas chuvadas do próximo outono/inverno e um plano de contenção da expansão de espécies invasoras (em particular a Acacia dealbata e a Acacia melanoxylon), que já antes deste incêndio ocupavam áreas muito significativas.
Se estas duas medidas, urgentes repito, já de si são quase utópicas de por em prática, mais ainda seria, daqui para a frente, planos de ordenamanento que contemplassem e conciliassem a preservação das espécies autóctones (algumas de elevadíssimo valor como as adelfeiras - Rhododendron ponticum), com a exploração agrícola/florestal (medronho, castanha, maçã, mel, cortiça...) e, obviamente, com a presença humana, incluindo a vertente turística. Com um território bem ordenado, e gerido, até poderia haver algum espaço, em locais limitados e de localização muito específica, para alguma floresta de produção.
No fundo, é este ordenamento dos espaços florestais que falta no resto do país e que explica as tragédias cíclicas, a cada 10, 15 ou 20 anos, consoante os casos. Por exemplo, o ano passado voltar a arder o "pinhal" interior que também já não ardia em larga escala desde 2003, como Monchique.
O resto, as discussões sobre bombeiros, proteção civil, é para nos distrair do essencial: completa e total falta de ordenamento do território! Por isso, podemos ter dificuldade em antecipar o dia seguinte de Monchique, mas o guião dos próximos anos (que já está a acontecer em Pedrógão e demais áreas que arderam o ano passado) é bem conhecido: o eucaliptal irá regenerar a grande velocidade, mais denso e desordenado (até porque a seguir a um incêndio há sempre produtores que desistem e abandonam a exploração dos seus terrenos), a que se juntarão imensos matagais de espécies invasoras, o que em conjunto criará novo barril de pólvora...A tal paisagem lunar, com alguns eucaliptos e acácias pelo meio, que o biólogo Jorge Paiva há muito antecipa para grande parte das paisagens do noss país.
Daqui a 15 anos voltamos a falar...já vi este filme tantas vezes que já não me iludo.