Oceano Antárctico está a arrefecer
Expedição científica a bordo do navio Polarstern terminou na semana passada
Polarstern em viagem num ambiente fantástico
O mar profundo da Antárctida está a arrefecer, o que pode estar a estimular a circulação das massas de água oceânicas. Esta é a primeira conclusão da expedição a bordo do "Polarstern", uma iniciativa do Instituto alemão Alfred Wegener para a Investigação Polar e Marinha que terminou na semana passada em Punta Arenas, no Chile. Segundo os investigadores, as imagens de satélite recolhidas durante o Verão antárctico revelam a maior extensão de gelo marinho alguma vez registada.
O objectivo da expedição Polarstern ANT-XXIV/3 era investigar a circulação oceânica e estudar os ciclos oceânicos de materiais que estão dependentes dela. Os principais projectos a bordo eram o CASO (Climate of Antarctica and the Southern Ocean) e o GEOTRACES, parte do programa oficial do
Ano Internacional Polar para o Antárctico
Imagem de trabalho da expedição que terminou a semana passada
Sob a direcção de Eberhard Fahrbach, oceanógrafo no Instituto Alfred Wegener, 58 cientistas de dez países estiveram a bordo do navio de investigação PolarStern, entre 6 de Fevereiro e 16 de Abril. Estudaram as correntes oceânicas, a distribuição de temperatura, os níveis de sal e fizeram análises das substâncias na água do mar antárctico.
"Queríamos investigar o papel do oceano austral no clima do passado, presente e futuro", disse Fahrbach. Segundo o responsável, o afundamento das massas de água no oceano antárctico está relacionada com as alterações da região, tendo por isso um papel determinante no clima global.
Impacto do Oceano Antárctido no clima global
"Enquanto o último Verão árctico foi o mais quente registado, tivemos um Verão frio, com o gelo marinho a atingir o máximo alguma vez registado no Antárctico. Esta expedição deve dar-nos as bases para compreender os desenvolvimentos opostos que estão a ocorrer nos dois pólos", salientou Fahrbach.
No âmbito do projecto GEOTRACES, a equipa verificou a diminuição da concentração de ferro, tendo medido a quantidade mais pequena alguma vez detectada no oceano. Segundo os investigadores, como o ferro é um elemento vital para o crescimento das algas, que assimilam CO2 do ar, esta diminuição da concentração de ferro pode servir de argumento contrário à posição que acredita que a extensão dos oceanos aumenta o sequestro de dióxido de carbono.
Rede autónoma de observação e medição
De acordo com os responsáveis, como as alterações oceânicas só se tornam visíveis após vários anos e diferem espacialmente, os dados recolhidos durante a expedição não serão suficientes para determinar consequências e desenvolvimentos a longo prazo.
Segundo os cientistas, as lacunas de informação só podem ser preenchidas com a ajuda de sistemas de observação autónomos, colocados no fundo do oceano ou à deriva, capazes de recolher sistematicamente informação ao longo dos anos.
"Para contribuir para o Sistema de Observação do Oceano Austral ancorámos, no âmbito de uma cooperação internacional, 18 estações de observação e restaurámos outras 20. Com 65 sistemas flutuantes, capazes de recolher informações debaixo do gelo e com uma duração de vida até cinco anos, construímos uma rede de medição única e abrangente", salientou Fahrbach.
Para chamar a atenção do público, em particular da geração mais nova, interessada em ciência e sensível aos processos ambientais, estiveram a bordo do navio duas professoras alemãs. "Trazemos para casa muitas impressões desta expedição e vamos ser capazes de passar uma imagem mais real das regiões polares e do seu impacto na Terra quando falarmos com os nossos alunos", disse Charlotte Lohse, uma das contempladas com a participação na expedição.
Fonte:
CiênciaHoje