Normal climatológica 1991-2020 (Portugal Continental)

almeida96

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9 Fev 2020
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Findo Dezembro de 2020, tal significou que é agora possível construir a nova normal climatológica 1991-2020.

Baseei-me nos dados do IPMA, nas séries longas (http://www.ipma.pt/pt/oclima/series.longas/) e nos boletins climáticos mensais (http://www.ipma.pt/pt/publicacoes/boletins.jsp?cmbDep=cli&cmbTema=pcl&idDep=cli&idTema=pcl&curAno=-1).

Os dados correpondem apenas ao território de Portugal Continental, sendo por isso uma média das estações do IPMA, que nem sempre são as mesmas (novas estações; estações com falhas...).

-Temperatura:

Começo por apresentar um gráfico com as temperaturas máxima; média e mínima:

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-Temperatura máxima:

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O aumento de temperatura foi maior para a temperatura máxima. Entre 1971-2000 e 1991-2020 a temperatura média aumentou 0,69 °C, com grande destaque para Maio com +1,56 °C; Junho com +1,34 °C; Abril com +1,12 °C e Agosto com +1,1 °C!

Apenas Novembro viu diminuir a máxima média muito ligeiramente; com Dezembro apresentando uma estabilização do valor.

O maior número de eventos extremos de calor, mesmo no Inverno, countribuiu largamente para este aumento expressivo das máximas. O tempo anticiclónico levou também à redução da precipitação.

-Temperatura média:

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Entre 1971-2000 e 1991-2020 a temperatura média aumentou 0,45 °C, com grande destaque para Maio com +1,12 °C; Junho com +0,93 °C e Abril com +0,82 °C!

A Primavera aqueceu muito! Os meses de Verão aumentaram mais moderadamente, bem como Março e Outubro. Já Fevereiro; Novembro e Dezembro arrefeceram...

Cada vez mais o Verão se alarga para Maio e Outubro, potenciando eventos extremos de calor; seca e grandes incêndios florestais (como Junho e Outubro de 2017).

-Temperatura mínima:

BQ3ldjz.png


A temperatura mínima teve um aumento muito mais moderado (+0,19 °C) entre 1971-2000 e 1991-2020, relativamente à tempertaura máxima. E diminuiu até o seu valor entre 1981-2010 e 1991-2020 ( - 0,05 °C) em 8 meses (Fevereiro; Setembro e Dezembro com as maiores diminuições; Abril e Maio com os maiores aumentos). Talvez tal se deva a uma maior preponderância de tempo anticiclónico e seco, potenciando as mínimas (menor perturbação atmosférica).

- Precipitação:

Agora o mais interessante (:D), a precipitação. Novamente, começo por um gráfico, permitindo uma comparação visual com as normais anteriores de 1971-2000 (ainda usada pelo IPMA) e a de 1981-2010:

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É muito visível a perda de precipitação de Fevereiro; Junho e Dezembro. Por outro lado, Março e Outubro aumentaram o seu valor médio entre cada normal.

A tabela com os valores das 3 normais indica isso mesmo:

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Analisando por estação do ano, entre 1971-2000 e 1991-2020, vemos o seguinte:

Inverno (Dez;Jan;Fev): 361,4 -> 293,9 mm - uma queda de 19 % na precipitação!
Primavera (Mar;Abr;Mai): 211,3 -> 214,8 mm - aumento de 2 %.
Verão
(Jun;Jul;Ago): 59,7 -> 44,8 mm - queda de 25 %! (mas a partir de valores baixos)
Outono (Set;Out;Nov): 249,7 -> 265,9 mm - aumento de 6%.

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É uma análise muito superficial e que não tem em conta as diferentes realidades de cada território, mas que nos dá uma clara ideia da tendência:

-Queda na precipitação
-Aumento nas temperaturas, com destaque para a temperatura máxima.
 
A comparação com 1971-00 é legítima por ser a normal que o IPMA usa agora, mas tendo nós acesso ao período inteiro 1931-20, acho que não é a mais adequada. Também há situações em que a normal 1971-00 é que pode ser considerada a anomalia e a nova normal é mais... "normal" (a precipitação muito baixa em março por comparação com os meses à volta, por exemplo). A descida de temperatura/menor subida nos meses de fevereiro, novembro e dezembro perde relevância quando constatamos que a normal 1971-00 era já anormalmente quente nesses meses em comparação com as décadas anteriores...
Esta década (2011-2020) foi claramente a mais quente (a década de 90 era anteriormente a mais quente), e teve de longe o maior valor da temperatura máxima, mas a temperatura mínima foi a mais baixa desde a década de 70, e apenas umas centésimas superior à década de 40. Não há um único mês com temperatura média ou máxima inferior ao valor médio do período total 1931-20... A temperatura mínima é inferior nalguns meses (fevereiro, março e junho), e mesmo nos outros meses a anomalia positiva não é assim tão significativa, o que só reafirma a maior amplitude térmica derivada da referida maior persistência de tempo anticiclónico.
Foi a 2ª década mais seca, ligeiramente mais húmida que a anterior. Quase todos os meses tiverem precipitação inferior ao valor médio 1931-20, exceto abril (razoavelmente superior, nos últimos 5 abris, 4 tiveram mais de 150% da precipitação média), outubro e novembro (ligeiramente superior para ambos). A queda de precipitação no inverno e especialmente no verão é notória, enquanto que na primavera e no outono se mantém praticamente igual
 
A comparação com 1971-00 é legítima por ser a normal que o IPMA usa agora, mas tendo nós acesso ao período inteiro 1931-20, acho que não é a mais adequada. Também há situações em que a normal 1971-00 é que pode ser considerada a anomalia e a nova normal é mais... "normal" (a precipitação muito baixa em março por comparação com os meses à volta, por exemplo). A descida de temperatura/menor subida nos meses de fevereiro, novembro e dezembro perde relevância quando constatamos que a normal 1971-00 era já anormalmente quente nesses meses em comparação com as décadas anteriores...
Esta década (2011-2020) foi claramente a mais quente (a década de 90 era anteriormente a mais quente), e teve de longe o maior valor da temperatura máxima, mas a temperatura mínima foi a mais baixa desde a década de 70, e apenas umas centésimas superior à década de 40. Não há um único mês com temperatura média ou máxima inferior ao valor médio do período total 1931-20... A temperatura mínima é inferior nalguns meses (fevereiro, março e junho), e mesmo nos outros meses a anomalia positiva não é assim tão significativa, o que só reafirma a maior amplitude térmica derivada da referida maior persistência de tempo anticiclónico.
Foi a 2ª década mais seca, ligeiramente mais húmida que a anterior. Quase todos os meses tiverem precipitação inferior ao valor médio 1931-20, exceto abril (razoavelmente superior, nos últimos 5 abris, 4 tiveram mais de 150% da precipitação média), outubro e novembro (ligeiramente superior para ambos). A queda de precipitação no inverno e especialmente no verão é notória, enquanto que na primavera e no outono se mantém praticamente igual

Sim,na última década a precipitação aumentou no período Janeiro-Maio e em Novembro, mas isto comparando com a muito seca década 2000-2009. Já o Verão perdeu muita precipitação, bem como Outubro e Dezembro.
 
Curioso, que em Portalegre por exemplo, os meses mais chuvosos em termos médios, passaram a ser Outubro e Novembro, enquanto que os meses de inverno tiveram uma redução, depois Março e Abril tiveram de novo um pequeno aumento.
Conclusão: nas estações de transição ( Outono e Primavera), houve a manutenção ou aumento da precipitação média, enquanto que no inverno houve uma redução.
 
Última edição:
Curioso, que em Portalegre por exemplo, os meses mais chuvosos em termos médios, passaram a ser Outubro e Novembro, enquanto que os meses de inverno tiveram uma redução, depois Março e Abril tiveram de novo um pequeno aumento.
Conclusão: nas estações de transição ( Outono e Primavera), houve a manutenção ou aumento da precipitação média, enquanto que no inverno houve uma redução.
As estações de transição têm vindo a equilibrar um pouco a ausência de precipitação no inverno a Sul, veremos até quando. Acho curioso que, no caso das estações do Alto Alentejo, existem variações distintas e a redução da média de precipitação mais significativa em relação às normais 71/2000 se verifique em Portalegre.
Em Portalegre, a média de precipitação entre as normais 71/2000 e 81/2010 reduziu de 852mm para 833mm, enquanto que em Elvas aumentou de 535mm para 542mm. Já nas normais de 91/2020, em relação às de 81/2010, Portalegre aumentou para 838mm enquanto que Elvas reduziu para 534mm.

Na ficha de Portalegre existe um erro no valor mais elevado de precipitação. No dia 21 de outubro de 2020, a estação registou 150.1mm e não 137mm.
 
Última edição:
Na ficha de Portalegre existe um erro no valor mais elevado de precipitação. No dia 21 de outubro de 2020, a estação registou 150.1mm e não 137mm.

Será que se refere a um período de 24 horas diferente? 0h-0h ou 9h-9h ? As normais ainda seguem esta norma antiga das 9h-9h?
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Os 150,1 mm estão no registo diário de dia 20 e não 21. O acumulado das 0h às 9h no dia 20 (13,5 mm) subtraído do acumulado das 0h às 9h de dia 21 (1,3 mm) dá um valor igual à diferença entre os 150,1 mm e os 137,9 mm (12,2 mm).
Conclusão: os 137,9 mm do dia 21 estão a ser contabilizados entre as 9h do dia 20 e as 9h do dia 21.

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Acumulado parcial do dia 20 até às 9h00 a subtrair ao registo diário do dia 20: 13,5 mm.
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No dia 21, Portalegre tem 0+0+0,3+0,7+0,2+0+0,1+0+0=1,3 mm das 0h às 9h
 
Última edição:
E na temperatura chegou aos 42,1°c em Agosto de 2023, ao invés dos 41,9°c de 2018.
Atenção que nesse caso, o registo de 2023 não pode ser contabilizado nesta normal climatológica uma vez que a mesma é até 2020.

Será que se refere a um período de 24 horas diferente? 0h-0h ou 9h-9h ? As normais ainda seguem esta norma antiga das 9h-9h?
Ver anexo 22751

Os 150,1 mm estão no registo diário de dia 20 e não 21. O acumulado das 0h às 9h no dia 20 (13,5 mm) subtraído do acumulado das 0h às 9h de dia 21 (1,3 mm) dá um valor igual à diferença entre os 150,1 mm e os 137,9 mm (12,2 mm).
Conclusão: os 137,9 mm do dia 21 estão a ser contabilizados entre as 9h do dia 20 e as 9h do dia 21.

Ver anexo 22749

Acumulado parcial do dia 20 até às 9h00 a subtrair ao registo diário do dia 20: 13,5 mm.
Ver anexo 22750

No dia 21, Portalegre tem 0+0+0,3+0,7+0,2+0+0,1+0+0=1,3 mm das 0h às 9h
Então será esse o motivo pelo qual foram contabilizados os 137mm. Não me faz muito sentido porque no registo diário e no boletim climatológico de outubro de 2020 foram contabilizados os 150mm, mas o IPMA é que lá sabe o que deve considerar nas fichas das normais.
 
Não me faz muito sentido porque no registo diário e no boletim climatológico de outubro de 2020 foram contabilizados os 150mm, mas o IPMA é que lá sabe o que deve considerar nas fichas das normais.
Exacto, mas é uma norma da OMM, porque os registos históricos que datam desde o século dezanove e vinte provinham de observações que eram feitas às 9h da manhã. Todas as Normais consideram sempre o período 9h-9h.
Sempre achei que paralelamente a esses registos e a partir da altura em que começaram a haver observações automáticas em cada vez mais estações, as Normais deviam contemplar também os extremos para os períodos flutuantes de 24 horas, que são afinal os extremos que têm utilidade para o planeamento de obras de hidráulica urbana e espelham melhor o clima e a sua evolução . Claro que desde há décadas que se usam esses períodos flutuantes, mas sem constarem nas Normais, esses registos devem ser requeridos pelas empresas.
Logicamente, os extremos em períodos flutuantes são sempre maiores que os extremos em períodos padrão, só por acaso serão iguais. E esta pequena probabilidade de coincidirem é cada vez menor à medida que se aumenta a frequência sub-horária das observações. Já desde o século passado que o padrão da frequência das observações/registos de acumulados de precipitação era de 10 minutos ou até menos para algumas estações de referência.
 
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Bela quebra da precipitação em Faro, passou de 509.8 mm na normal 1981-2010 para 455.1 mm na normal 1991-2020, foram só à vida -54.7 mm, saltando fora a década de 80. :rolleyes: