Tudo o que na natureza desafia a lei da gravidade, especialmente se fôr feito de rocha, exerce um fascínio especial pela sugestão de uma engenhosidade natural que pensávamos reservada apenas à mente humana. Afinal os construtores humanos de arcos e pontes muito aprenderam com a estabilidade ao longo de milhares ou milhões de anos destas obras de engenharia natural. No entanto o processo de formação no caso dos arcos e pontes de rocha naturais é o oposto do que é realizado nas obras humanas: é um processo de destruição e não de construção.
Os agentes naturais de erosão, águas costeiras de mares e oceanos ou águas correntes superficiais e subterrâneas, derivadas da precipitação atmosférica, ou mesmo apenas o vento carregado de partículas, fazem o seu trabalho de desgaste da rocha, sobretudo nas superfíces de falésias, escarpas ou de cavidades e proeminências, actuando mais depressa nas zonas onde a rocha é menos resistente ou onde a actuação é mais persistente pela configuração dos fluxos de água ou vento.
É um desafio interessante procurar e encontrar arcos e pontes naturais, de todas as dimensões e formas e diferentes processos de formação. Há arcos com apenas alguns centímetros e outros com dezenas de metros. Arcos em que a rocha foi pacientemente furada e outros em que simplesmente se abateu uma porção por subtracção do apoio inferior. Outros ainda em que um bloco inteiro tombou lateralmente sobre dois apoios.
Aqui fica uma galeria de imagens divagando à volta do mistério dos arcos e pontes naturais. Todas as fotos foram obtidas, como de costume, no Parque Natural de Sintra-Cascais. O relato será em torno da sua descoberta e exploração progressiva.
O Arco da Pedra da Ursa ou "Portal Cósmico"
A Praia da Ursa é bem conhecida, mas não o serão assim tanto os arcos que aqui se podem descobrir.
O monumento natural que é a torre de rocha da Pedra da Ursa situa-se na extremidade norte e nem sempre se lá chega só pisando a areia. Por vezes a areia desaparece e é preciso realizar uma marcha sobre blocos de pedra de todos os tamanhos. Em condições excepcionais de deposição de areia costeira e de maré baixa, é possível rodear todo o arco pelo lado do mar, ficando este totalmente a seco.
5 de Novembro de 2010
http://www.meteopt.com/forum/topico/seguimento-litoral-centro-novembro-2010.5032/page-7
Primeira exploração fotográfica do ambiente cénico deste arco.
Baixa-mar às 19:40, de Lua Nova, ideal para compôr com o poente.
O acesso, não havia areia, teve que ser sobre os blocos, passa-se os Ursinhos a caminho do Pesqueiro do Abrigo, enseada entre a Pedra da Ursa e do Gigante.


Subindo um pouco o trilho na falésia que começa por trás do Abrigo (pequeno casinhoto de madeira e pedra sobreposta onde por vezes os pescadores arrumavam apetrechos ou se resguardavam) pareceu ser a única forma de captar uma visão geral da Ursa e do arco sob a sua "pata":



E o sol começava a descer, talvez fosse possível enquadrá-lo pelo arco, por isso, tentativa de chegar o mais perto possível, é preciso cuidado porque mesmo a descer a maré, o regime das ondas é irregular.




Objectivo atingido:

Ficámos para o crepúsculo...

E foi a última vez que vimos o poente através do Arco da Ursa, com esta ainda inteira.
Outras vistas com a antiga configuração da Pedra da Ursa, antes do seu desmoronamento em Abril de 2011 (o arco não caíu, ela só perdeu a "cabeça" literalmente):
17 de dezembro de 2010
Baixa-mar às 17:43, de quarto crescente

29 de janeiro de 2011
Quarto minguante, maré vazia às 17:21


18 de Março de 2011
Última visão da Ursa, premonição de que ia ficar truncada daí a um mês?

O desmoronamento foi captado pela fotógrafa Eliana Pema Lemos. São cinco fotos, cliquem no link para verem as seguintes.
Esta é a última:
Observando as fotos cheguei a esperar que o arco tivesse desabado também, sob o choque das rochas que caíram de 75 metros de altura.
Este dia no fórum:
http://www.meteopt.com/forum/topico/seguimento-litoral-centro-abril-2011.5511/page-52
A situação que despoletou a queda da Ursa no dia 21 à tarde:
http://www.meteopt.com/forum/topico/seg-previsao-do-tempo-e-modelos-abril-2011.5506/page-6
Penso que a chuva não seria suficiente, provavelmente terá recebido uma descarga eléctrica que fendeu a rocha. As mudanças de temperatura da rocha com a insolação da tarde de dia 21 terão sido o gatilho final.
27 de Maio de 2011
Novamente baixa-mar de quarto minguante, às17:58 (Cascais)
Este é o novo perfil da Ursa:

O arco tinha resistido:

O "Portal Cósmico", denominação criada pelos escaladores Paulo Roxo e Miguel Grillo, continuava inteiro, embora com a entrada bastante bloqueada pelo cone de detritos do desmoronamento.



Muito interessante ler o relato de Daniela Teixeira sobre escalada na Ursa. Duas fotos nesse blog que mostram a dimensão dessa aventura (estas fotos não são da minha autoria):
Voltando ao dia 27 de Maio de 2011, sobre a pilha de pedras amontoadas, a Luz no Portal:


(continua)
Os agentes naturais de erosão, águas costeiras de mares e oceanos ou águas correntes superficiais e subterrâneas, derivadas da precipitação atmosférica, ou mesmo apenas o vento carregado de partículas, fazem o seu trabalho de desgaste da rocha, sobretudo nas superfíces de falésias, escarpas ou de cavidades e proeminências, actuando mais depressa nas zonas onde a rocha é menos resistente ou onde a actuação é mais persistente pela configuração dos fluxos de água ou vento.
É um desafio interessante procurar e encontrar arcos e pontes naturais, de todas as dimensões e formas e diferentes processos de formação. Há arcos com apenas alguns centímetros e outros com dezenas de metros. Arcos em que a rocha foi pacientemente furada e outros em que simplesmente se abateu uma porção por subtracção do apoio inferior. Outros ainda em que um bloco inteiro tombou lateralmente sobre dois apoios.
Aqui fica uma galeria de imagens divagando à volta do mistério dos arcos e pontes naturais. Todas as fotos foram obtidas, como de costume, no Parque Natural de Sintra-Cascais. O relato será em torno da sua descoberta e exploração progressiva.
O Arco da Pedra da Ursa ou "Portal Cósmico"
A Praia da Ursa é bem conhecida, mas não o serão assim tanto os arcos que aqui se podem descobrir.
O monumento natural que é a torre de rocha da Pedra da Ursa situa-se na extremidade norte e nem sempre se lá chega só pisando a areia. Por vezes a areia desaparece e é preciso realizar uma marcha sobre blocos de pedra de todos os tamanhos. Em condições excepcionais de deposição de areia costeira e de maré baixa, é possível rodear todo o arco pelo lado do mar, ficando este totalmente a seco.
5 de Novembro de 2010
http://www.meteopt.com/forum/topico/seguimento-litoral-centro-novembro-2010.5032/page-7
Primeira exploração fotográfica do ambiente cénico deste arco.
Baixa-mar às 19:40, de Lua Nova, ideal para compôr com o poente.
O acesso, não havia areia, teve que ser sobre os blocos, passa-se os Ursinhos a caminho do Pesqueiro do Abrigo, enseada entre a Pedra da Ursa e do Gigante.


Subindo um pouco o trilho na falésia que começa por trás do Abrigo (pequeno casinhoto de madeira e pedra sobreposta onde por vezes os pescadores arrumavam apetrechos ou se resguardavam) pareceu ser a única forma de captar uma visão geral da Ursa e do arco sob a sua "pata":



E o sol começava a descer, talvez fosse possível enquadrá-lo pelo arco, por isso, tentativa de chegar o mais perto possível, é preciso cuidado porque mesmo a descer a maré, o regime das ondas é irregular.




Objectivo atingido:


Ficámos para o crepúsculo...

E foi a última vez que vimos o poente através do Arco da Ursa, com esta ainda inteira.
Outras vistas com a antiga configuração da Pedra da Ursa, antes do seu desmoronamento em Abril de 2011 (o arco não caíu, ela só perdeu a "cabeça" literalmente):
17 de dezembro de 2010
Baixa-mar às 17:43, de quarto crescente

29 de janeiro de 2011
Quarto minguante, maré vazia às 17:21


18 de Março de 2011
Última visão da Ursa, premonição de que ia ficar truncada daí a um mês?

O desmoronamento foi captado pela fotógrafa Eliana Pema Lemos. São cinco fotos, cliquem no link para verem as seguintes.
Esta é a última:

Observando as fotos cheguei a esperar que o arco tivesse desabado também, sob o choque das rochas que caíram de 75 metros de altura.
Este dia no fórum:
http://www.meteopt.com/forum/topico/seguimento-litoral-centro-abril-2011.5511/page-52
A situação que despoletou a queda da Ursa no dia 21 à tarde:
http://www.meteopt.com/forum/topico/seg-previsao-do-tempo-e-modelos-abril-2011.5506/page-6
Penso que a chuva não seria suficiente, provavelmente terá recebido uma descarga eléctrica que fendeu a rocha. As mudanças de temperatura da rocha com a insolação da tarde de dia 21 terão sido o gatilho final.
27 de Maio de 2011
Novamente baixa-mar de quarto minguante, às17:58 (Cascais)
Este é o novo perfil da Ursa:

O arco tinha resistido:

O "Portal Cósmico", denominação criada pelos escaladores Paulo Roxo e Miguel Grillo, continuava inteiro, embora com a entrada bastante bloqueada pelo cone de detritos do desmoronamento.



Muito interessante ler o relato de Daniela Teixeira sobre escalada na Ursa. Duas fotos nesse blog que mostram a dimensão dessa aventura (estas fotos não são da minha autoria):
Voltando ao dia 27 de Maio de 2011, sobre a pilha de pedras amontoadas, a Luz no Portal:


(continua)
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