Os Arcos

StormRic

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23 Jun 2014
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Póvoa de S.Iria (alt. 140m)
Tudo o que na natureza desafia a lei da gravidade, especialmente se fôr feito de rocha, exerce um fascínio especial pela sugestão de uma engenhosidade natural que pensávamos reservada apenas à mente humana. Afinal os construtores humanos de arcos e pontes muito aprenderam com a estabilidade ao longo de milhares ou milhões de anos destas obras de engenharia natural. No entanto o processo de formação no caso dos arcos e pontes de rocha naturais é o oposto do que é realizado nas obras humanas: é um processo de destruição e não de construção.

Os agentes naturais de erosão, águas costeiras de mares e oceanos ou águas correntes superficiais e subterrâneas, derivadas da precipitação atmosférica, ou mesmo apenas o vento carregado de partículas, fazem o seu trabalho de desgaste da rocha, sobretudo nas superfíces de falésias, escarpas ou de cavidades e proeminências, actuando mais depressa nas zonas onde a rocha é menos resistente ou onde a actuação é mais persistente pela configuração dos fluxos de água ou vento.

É um desafio interessante procurar e encontrar arcos e pontes naturais, de todas as dimensões e formas e diferentes processos de formação. Há arcos com apenas alguns centímetros e outros com dezenas de metros. Arcos em que a rocha foi pacientemente furada e outros em que simplesmente se abateu uma porção por subtracção do apoio inferior. Outros ainda em que um bloco inteiro tombou lateralmente sobre dois apoios.

Aqui fica uma galeria de imagens divagando à volta do mistério dos arcos e pontes naturais. Todas as fotos foram obtidas, como de costume, no Parque Natural de Sintra-Cascais. O relato será em torno da sua descoberta e exploração progressiva.


O Arco da Pedra da Ursa ou "Portal Cósmico"


A Praia da Ursa é bem conhecida, mas não o serão assim tanto os arcos que aqui se podem descobrir.

O monumento natural que é a torre de rocha da Pedra da Ursa situa-se na extremidade norte e nem sempre se lá chega só pisando a areia. Por vezes a areia desaparece e é preciso realizar uma marcha sobre blocos de pedra de todos os tamanhos. Em condições excepcionais de deposição de areia costeira e de maré baixa, é possível rodear todo o arco pelo lado do mar, ficando este totalmente a seco.

5 de Novembro de 2010

http://www.meteopt.com/forum/topico/seguimento-litoral-centro-novembro-2010.5032/page-7

Primeira exploração fotográfica do ambiente cénico deste arco.
Baixa-mar às 19:40, de Lua Nova, ideal para compôr com o poente.

O acesso, não havia areia, teve que ser sobre os blocos, passa-se os Ursinhos a caminho do Pesqueiro do Abrigo, enseada entre a Pedra da Ursa e do Gigante.





Subindo um pouco o trilho na falésia que começa por trás do Abrigo (pequeno casinhoto de madeira e pedra sobreposta onde por vezes os pescadores arrumavam apetrechos ou se resguardavam) pareceu ser a única forma de captar uma visão geral da Ursa e do arco sob a sua "pata":







E o sol começava a descer, talvez fosse possível enquadrá-lo pelo arco, por isso, tentativa de chegar o mais perto possível, é preciso cuidado porque mesmo a descer a maré, o regime das ondas é irregular.









Objectivo atingido:



RS_20101105_8926c-X3.jpg

Ficámos para o crepúsculo...



E foi a última vez que vimos o poente através do Arco da Ursa, com esta ainda inteira.

Outras vistas com a antiga configuração da Pedra da Ursa, antes do seu desmoronamento em Abril de 2011 (o arco não caíu, ela só perdeu a "cabeça" literalmente):

17 de dezembro de 2010

Baixa-mar às 17:43, de quarto crescente




29 de janeiro de 2011

Quarto minguante, maré vazia às 17:21





18 de Março de 2011

Última visão da Ursa, premonição de que ia ficar truncada daí a um mês?



O desmoronamento foi captado pela fotógrafa Eliana Pema Lemos. São cinco fotos, cliquem no link para verem as seguintes.
Esta é a última:
Ursa%2Bmorta.jpg

Observando as fotos cheguei a esperar que o arco tivesse desabado também, sob o choque das rochas que caíram de 75 metros de altura.

Este dia no fórum:
http://www.meteopt.com/forum/topico/seguimento-litoral-centro-abril-2011.5511/page-52

A situação que despoletou a queda da Ursa no dia 21 à tarde:
http://www.meteopt.com/forum/topico/seg-previsao-do-tempo-e-modelos-abril-2011.5506/page-6

Penso que a chuva não seria suficiente, provavelmente terá recebido uma descarga eléctrica que fendeu a rocha. As mudanças de temperatura da rocha com a insolação da tarde de dia 21 terão sido o gatilho final.

27 de Maio de 2011

Novamente baixa-mar de quarto minguante, às17:58 (Cascais)

Este é o novo perfil da Ursa:




O arco tinha resistido:



O "Portal Cósmico", denominação criada pelos escaladores Paulo Roxo e Miguel Grillo, continuava inteiro, embora com a entrada bastante bloqueada pelo cone de detritos do desmoronamento.







Muito interessante ler o relato de Daniela Teixeira sobre escalada na Ursa. Duas fotos nesse blog que mostram a dimensão dessa aventura (estas fotos não são da minha autoria):



Voltando ao dia 27 de Maio de 2011, sobre a pilha de pedras amontoadas, a Luz no Portal:


(continua)



 
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StormRic

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O Arco da Praia da Aroeira

Deixemos o Arco da Pedra da Ursa por enquanto e, antes de lá voltarmos e de explorarmos os outros arcos da Praia da Ursa, incluindo o colossal Arco da Pedra do Gigante, mudemos de ambiente telúrico.

Os arcos da Ursa e do Gigante foram esculpidos na facilmente atacável pedra calcárea, embora estas estejam eivadas de filões e em parte metamorfizadas pelo contacto com a intrusão magmática que originou o maciço de Singtra.

A uma curta distância de algumas centenas de metros, o ambiente muda para as rochas magmáticas, granitos e sienitos. A formação dos arcos passa a ficar condicionada pelo sistema de diacláses, superfícies de fractura da massa rochosa que aparecem por variações de tensão e pressão.

Do Cabo da Roca, a paisagem para norte é das mais espectaculares do ponto de vista cénico e geológico. Observa-se nitidamente a transição dos tipos de rocha na periferia da intrusão magmática.
Esta vista natural deve ser das mais fotografadas, pelo menos do nosso país, aqui com uma aproximação para mostrar o objectivo seguinte neste tópico:

RS_20120311_1494c.jpg


Lá está em grande destaque a Pedra do Gigante (ou da Noiva), 92m, e a Pedra da Ursa, 75m, mais recolhida e agora diminuída, ambas esculpidas em camadas sedimentares alteradas e inclinadas por força do surgimento do maciço de Sintra.
Em primeiro plano, a rocha acastanhada/alaranjada é granito atravessado por diques e filões, e ainda mais próximo, na encosta do lado direito e que vem continuar pelo Cabo da Roca, sienito.

Nesta carta geológica, pode ver-se a explicação da riqueza geológica desta zona abrangida pelo PNSC:

map-geo-litol


A Pedra e o desfiladeiro da Ribeira da Ursa, a meio entre as localizações 5 e 6 na carta acima, estão exactamente na separação entre o granito e o calcário. A restante Praia da Ursa para sul e até à Pedra do Cavalo, a crista acerada entrando pelo mar, são já talhadas em granito.

Partindo do Cabo da Roca, percorrendo um estradão de terra, primeiro desvio a aparecer do lado esquerdo da estrada asfaltada, e depois seguindo um trilho sobre o topo das falésias, vamos observando o panorama da Praia da Aroeira lá em baixo. Até termos uma boa perspectiva da Pedra do Cavalo:

RS_20120311_8995c.jpg


Olhando com atenção percebe-se pelo jogo de sombras que há ali um arco. Foi assim que o descobri.

Outra vista reveladora, ainda desde a Roca:



28 de Dezembro de 2010

Uma das páginas do seguimento MeteoPT, Litoral Centro, deste dia:
http://www.meteopt.com/forum/topico/seguimento-litoral-centro-dezembro-2010.5127/page-141

Baixa-mar de minguante, às 20:25.

Reanálise deste dia ao fim da tarde:
9bOfRnY.png


Frio, ventoso e húmido é o que me lembro mais, não choveu.

A meio da descida para a Aroeira/Pedra do Cavalo, um trilho muito sinuoso em lacetes sucessivos, declive difícil e escorregadio, o da Ursa até é mais fácil nesse aspecto. No entanto, bastante seguro do ponto de vista de estabilidade do terreno.



Como referência, a descida demorou cerca de 40 minutos, cautelosa, com algumas fotos pelo meio.
O olhar para a encosta que se desceu engana, parece menos (130m):


Já na praia, que nesta altura não mostrava areia, mas que quando a maré baixa bastante é um paraíso.



O Cabo da Roca e o farol bem lá em cima. Uma certa sensação de fim-do-mundo, inóspito, o dia de inverno não ajudando.



A caminho do extremo norte da "praia". O terreno não existe, é um caos de pedras e blocos, uma total inadequação à presença humana, com a humidade tudo é escorregadio:



A esta distância o portal do Arco começa a mostrar a sua dimensão, tão grande como o pórtico de uma catedral:





Passa-se pela Sentinela da Aroeira (todas as praias aqui têm que ter uma sentinela...):



e assoma-se à entrada onde finalmente se confirma que é... um arco!



E do outro lado olhando para trás, a abertura de entrada. Todos os blocos caídos têm um aspecto inquietantemente recente, como se esta "catedral" estivesse em desmoronamento permanente, o que é verdade.



À saída, a Sentinela também lá está:





A entrada tem mais 10 metros de altura. O farol da Roca é visível, nesta data a torre de radar ainda não tinha sido imposta à paisagem.



Vista desde a saída:



O tempo começava a ameaçar e a escassear, ainda dois aspectos da entrada (à data a objectiva disponível era a de 18mm tradicional, não consegui uma panorâmica suficiente):





Estes locais não permitem deslizes temporais, quando está na hora, há que ir:



O crepúsculo avançava:



A Aroeira é uma das praias mais agrestes deste litoral com inclemente ambiência invernal e... espiritual.

RS_20101228_9712c.jpg


(continua)
 
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Tudo o que na natureza desafia a lei da gravidade, especialmente se fôr feito de rocha, exerce um fascínio especial pela sugestão de uma engenhosidade natural que pensávamos reservada apenas à mente humana. Afinal os construtores humanos de arcos e pontes muito aprenderam com a estabilidade ao longo de milhares ou milhões de anos destas obras de engenharia natural. No entanto o processo de formação no caso dos arcos e pontes de rocha naturais é o oposto do que é realizado nas obras humanas: é um processo de destruição e não de construção.

Os agentes naturais de erosão, águas costeiras de mares e oceanos ou águas correntes superficiais e subterrâneas, derivadas da precipitação atmosférica, ou mesmo apenas o vento carregado de partículas, fazem o seu trabalho de desgaste da rocha, sobretudo nas superfíces de falésias, escarpas ou de cavidades e proeminências, actuando mais depressa nas zonas onde a rocha é menos resistente ou onde a actuação é mais persistente pela configuração dos fluxos de água ou vento.

É um desafio interessante procurar e encontrar arcos e pontes naturais, de todas as dimensões e formas e diferentes processos de formação. Há arcos com apenas alguns centímetros e outros com dezenas de metros. Arcos em que a rocha foi pacientemente furada e outros em que simplesmente se abateu uma porção por subtracção do apoio inferior. Outros ainda em que um bloco inteiro tombou lateralmente sobre dois apoios.

Aqui fica uma galeria de imagens divagando à volta do mistério dos arcos e pontes naturais. Todas as fotos foram obtidas, como de costume, no Parque Natural de Sintra-Cascais. O relato será em torno da sua descoberta e exploração progressiva.


O Arco da Pedra da Ursa ou "Portal Cósmico"


A Praia da Ursa é bem conhecida, mas não o serão assim tanto os arcos que aqui se podem descobrir.

O monumento natural que é a torre de rocha da Pedra da Ursa situa-se na extremidade norte e nem sempre se lá chega só pisando a areia. Por vezes a areia desaparece e é preciso realizar uma marcha sobre blocos de pedra de todos os tamanhos. Em condições excepcionais de deposição de areia costeira e de maré baixa, é possível rodear todo o arco pelo lado do mar, ficando este totalmente a seco.

5 de Novembro de 2010

http://www.meteopt.com/forum/topico/seguimento-litoral-centro-novembro-2010.5032/page-7

Primeira exploração fotográfica do ambiente cénico deste arco.
Baixa-mar às 19:40, de Lua Nova, ideal para compôr com o poente.

O acesso, não havia areia, teve que ser sobre os blocos, passa-se os Ursinhos a caminho do Pesqueiro do Abrigo, enseada entre a Pedra da Ursa e do Gigante.





Subindo um pouco o trilho na falésia que começa por trás do Abrigo (pequeno casinhoto de madeira e pedra sobreposta onde por vezes os pescadores arrumavam apetrechos ou se resguardavam) pareceu ser a única forma de captar uma visão geral da Ursa e do arco sob a sua "pata":







E o sol começava a descer, talvez fosse possível enquadrá-lo pelo arco, por isso, tentativa de chegar o mais perto possível, é preciso cuidado porque mesmo a descer a maré, o regime das ondas é irregular.









Objectivo atingido:



RS_20101105_8926c-X3.jpg

Ficámos para o crepúsculo...



E foi a última vez que vimos o poente através do Arco da Ursa, com esta ainda inteira.

Outras vistas com a antiga configuração da Pedra da Ursa, antes do seu desmoronamento em Abril de 2011 (o arco não caíu, ela só perdeu a "cabeça" literalmente):

17 de dezembro de 2010

Baixa-mar às 17:43, de quarto crescente




29 de janeiro de 2011

Quarto minguante, maré vazia às 17:21





18 de Março de 2011

Última visão da Ursa, premonição de que ia ficar truncada daí a um mês?



O desmoronamento foi captado pela fotógrafa Eliana Pema Lemos. São cinco fotos, cliquem no link para verem as seguintes.
Esta é a última:
Ursa%2Bmorta.jpg

Observando as fotos cheguei a esperar que o arco tivesse desabado também, sob o choque das rochas que caíram de 75 metros de altura.

Este dia no fórum:
http://www.meteopt.com/forum/topico/seguimento-litoral-centro-abril-2011.5511/page-52

A situação que despoletou a queda da Ursa no dia 21 à tarde:
http://www.meteopt.com/forum/topico/seg-previsao-do-tempo-e-modelos-abril-2011.5506/page-6

Penso que a chuva não seria suficiente, provavelmente terá recebido uma descarga eléctrica que fendeu a rocha. As mudanças de temperatura da rocha com a insolação da tarde de dia 21 terão sido o gatilho final.

27 de Maio de 2011

Novamente baixa-mar de quarto minguante, às17:58 (Cascais)

Este é o novo perfil da Ursa:




O arco tinha resistido:



O "Portal Cósmico", denominação criada pelos escaladores Paulo Roxo e Miguel Grillo, continuava inteiro, embora com a entrada bastante bloqueada pelo cone de detritos do desmoronamento.







Muito interessante ler o relato de Daniela Teixeira sobre escalada na Ursa. Duas fotos nesse blog que mostram a dimensão dessa aventura (estas fotos não são da minha autoria):



Voltando ao dia 27 de Maio de 2011, sobre a pilha de pedras amontoadas, a Luz no Portal:


(continua)


Obrigado por partilhares imagens tão lindas! E o momento em que "a cabeça da Ursa" saiu é épico, é mesmo estar no sítio certo e na altura certa. Mais uma vez digo, paraíso para os geólogos! Tudo isto me lembra a Geologia da escola, os processos de sedimentogénese são muito lentos, sem dúvida, a nossa vida não é suficiente para ver tais fenómenos mas o facto de terem apanhado a Ursa a cair é fenomenal! E toda a costa de Sintra é linda, o mar é o principal responsável por esculpir as rochas e continua a fazê-lo. :)
 

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O Arco da Praia da Aroeira

Deixemos o Arco da Pedra da Ursa por enquanto e, antes de lá voltarmos e de explorarmos os outros arcos da Praia da Ursa, incluindo o colossal Arco da Pedra do Gigante, mudemos de ambiente telúrico.

Os arcos da Ursa e do Gigante foram esculpidos na facilmente atacável pedra calcárea, embora estas estejam eivadas de filões e em parte metamorfizadas pelo contacto com a intrusão magmática que originou o maciço de Singtra.

A uma curta distância de algumas centenas de metros, o ambiente muda para as rochas magmáticas, granitos e sienitos. A formação dos arcos passa a ficar condicionada pelo sistema de diacláses, superfícies de fractura da massa rochosa que aparecem por variações de tensão e pressão.

Do Cabo da Roca, a paisagem para norte é das mais espectaculares do ponto de vista cénico e geológico. Observa-se nitidamente a transição dos tipos de rocha na periferia da intrusão magmática.
Esta vista natural deve ser das mais fotografadas, pelo menos do nosso país, aqui com uma aproximação para mostrar o objectivo seguinte neste tópico:

RS_20120311_1494c.jpg


Lá está em grande destaque a Pedra do Gigante (ou da Noiva), 92m, e a Pedra da Ursa, 75m, mais recolhida e agora diminuída, ambas esculpidas em camadas sedimentares alteradas e inclinadas por força do surgimento do maciço de Sintra.
Em primeiro plano, a rocha acastanhada/alaranjada é granito atravessado por diques e filões, e ainda mais próximo, na encosta do lado direito e que vem continuar pelo Cabo da Roca, sienito.

Nesta carta geológica, pode ver-se a explicação da riqueza geológica desta zona abrangida pelo PNSC:

map-geo-litol


A Pedra e o desfiladeiro da Ribeira da Ursa, a meio entre as localizações 5 e 6 na carta acima, estão exactamente na separação entre o granito e o calcário. A restante Praia da Ursa para sul e até à Pedra do Cavalo, a crista acerada entrando pelo mar, são já talhadas em granito.

Partindo do Cabo da Roca, percorrendo um estradão de terra, primeiro desvio a aparecer do lado esquerdo da estrada asfaltada, e depois seguindo um trilho sobre o topo das falésias, vamos observando o panorama da Praia da Aroeira lá em baixo. Até termos uma boa perspectiva da Pedra do Cavalo:

RS_20120311_8995c.jpg


Olhando com atenção percebe-se pelo jogo de sombras que há ali um arco. Foi assim que o descobri.

Outra vista reveladora, ainda desde a Roca:



28 de Dezembro de 2010

Uma das páginas do seguimento MeteoPT, Litoral Centro, deste dia:
http://www.meteopt.com/forum/topico/seguimento-litoral-centro-dezembro-2010.5127/page-141

Baixa-mar de minguante, às 20:25.

Reanálise deste dia ao fim da tarde:
9bOfRnY.png


Frio, ventoso e húmido é o que me lembro mais, não choveu.

A meio da descida para a Aroeira/Pedra do Cavalo, um trilho muito sinuoso em lacetes sucessivos, declive difícil e escorregadio, o da Ursa até é mais fácil nesse aspecto. No entanto, bastante seguro do ponto de vista de estabilidade do terreno.



Como referência, a descida demorou cerca de 40 minutos, cautelosa, com algumas fotos pelo meio.
O olhar para a encosta que se desceu engana, parece menos (130m):


Já na praia, que nesta altura não mostrava areia, mas que quando a maré baixa bastante é um paraíso.



O Cabo da Roca e o farol bem lá em cima. Uma certa sensação de fim-do-mundo, inóspito, o dia de inverno não ajudando.



A caminho do extremo norte da "praia". O terreno não existe, é um caos de pedras e blocos, uma total inadequação à presença humana, com a humidade tudo é escorregadio:



A esta distância o portal do Arco começa a mostrar a sua dimensão, tão grande como o pórtico de uma catedral:





Passa-se pela Sentinela da Aroeira (todas as praias aqui têm que ter uma sentinela...):



e assoma-se à entrada onde finalmente se confirma que é... um arco!



E do outro lado olhando para trás, a abertura de entrada. Todos os blocos caídos têm um aspecto inquietantemente recente, como se esta "catedral" estivesse em desmoronamento permanente, o que é verdade.



À saída, a Sentinela também lá está:





A entrada tem mais 10 metros de altura. O farol da Roca é visível, nesta data a torre de radar ainda não tinha sido imposta à paisagem.



Vista desde a saída:



O tempo começava a ameaçar e a escassear, ainda dois aspectos da entrada (à data a objectiva disponível era a de 18mm tradicional, não consegui uma panorâmica suficiente):





Estes locais não permitem deslizes temporais, quando está na hora, há que ir:



O crepúsculo avançava:



A Aroeira é uma das praias mais agrestes deste litoral com inclemente ambiência invernal e... espiritual.

RS_20101228_9712c.jpg


(continua)

Boa foto-reportagem! Gosto muito de ver cartas geológicas e não fazia a mínima ideia que a Serra de Sintra era assim!
 
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Aristocrata

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Paços de Ferreira, 292 mts
Fantásticas imagens e com um relato que nos coloca "in loco".
Obrigado sincero pela partilha.
 
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StormRic

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Póvoa de S.Iria (alt. 140m)
Obrigado por partilhares imagens tão lindas! E o momento em que "a cabeça da Ursa" saiu é épico, é mesmo estar no sítio certo e na altura certa. Mais uma vez digo, paraíso para os geólogos! Tudo isto me lembra a Geologia da escola, os processos de sedimentogénese são muito lentos, sem dúvida, a nossa vida não é suficiente para ver tais fenómenos mas o facto de terem apanhado a Ursa a cair é fenomenal! E toda a costa de Sintra é linda, o mar é o principal responsável por esculpir as rochas e continua a fazê-lo. :)

Boa foto-reportagem! Gosto muito de ver cartas geológicas e não fazia a mínima ideia que a Serra de Sintra era assim!

Fantásticas imagens e com um relato que nos coloca "in loco".
Obrigado sincero pela partilha.

Obrigado! :)

A observação e compreensão no terreno das rochas e paisagem geomorfológica tornam-se cada vez mais fascinantes à medida que vamos conhecendo e aprendendo. Uma carta geológica também nos dá informações que permitem descobrir locais cenicamente muito interessantes. Mas é preciso ir mesmo ao âmago da paisagem para ver e sentir os processos geomorfologicos em curso. De visita em visita vamos apercebendo-nos de alterações, subtis ou violentas como a queda da Ursa. Uma das observações que são sempre uma novidade é o movimento das areias costeiras e das malhadas, todos os dias é possível encontrar diferenças. A zona da cascata da Ribeira da Ursa é um dos exemplos mais notáveis dessas diferenças, acumulando, especialmente fora da estiagem, informações do passado recente sobre a pluviosidade, as correntes e marés e mesmo o vento, humidade, temperatura. Essa cascata por si só merece um tópico.
 
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Lindo, lindo, então a ultima, :thumbsup:.

Obrigado, Vitor! :)

Sabes que há um caminho, que talvez permita 4x4 (nunca lá vi, mas pelo menos significa que é muito acessível a pé), e que leva da estrada da Praia da Adraga lá acima a Alvidrar, onde se pode ver a Pedra de Alvidrar e o Fojo, passa na Casa da Bota (abrigo de alvenaria para pescadores) e depois segue para sul, desce um pouco ao vale da ribeira do Caneiro e torna a subir ao Cabeço das Cortes. Daí tem-se uma vista fantástica sobre as Pedras da Ursa e do Gigante e respectivos arcos.

As próximas fotos a mostrar foram tiradas debaixo do arco do Gigante. Em 2012 havia uma praia nova entre a Ursa e o Gigante, este ano não sei como está. Os trilhos lá para baixo partem precisamente do Cabeço das Cortes, são difíceis. Também há trilhos que vêm da Ursa, ou, com maré muito vazia consegue-se atravessar o Pesqueiro do Abrigo sobre as rochas (ou usar uma cordinha que lá está para ultrapassar uma proeminência da falésia perto do Abrigo).

Mas, sublinho, a vista do Gigante de cá de cima do Cabeço das Cortes é simplesmente magnífica, especialmente ao pôr-do-sol. Foi só aquando de um passeio (o termo é este mesmo) a Cortes que descobri o fabuloso arco do Gigante.
 
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Vitor TT

Nimbostratus
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Pedernais ( Ramada ) ( 160 mts )
Obrigado, Vitor! :)

Sabes que há um caminho, que talvez permita 4x4 (nunca lá vi, mas pelo menos significa que é muito acessível a pé), e que leva da estrada da Praia da Adraga lá acima a Alvidrar, onde se pode ver a Pedra de Alvidrar e o Fojo, passa na Casa da Bota (abrigo de alvenaria para pescadores) e depois segue para sul, desce um pouco ao vale da ribeira do Caneiro e torna a subir ao Cabeço das Cortes. Daí tem-se uma vista fantástica sobre as Pedras da Ursa e do Gigante e respectivos arcos.

As próximas fotos a mostrar foram tiradas debaixo do arco do Gigante. Em 2012 havia uma praia nova entre a Ursa e o Gigante, este ano não sei como está. Os trilhos lá para baixo partem precisamente do Cabeço das Cortes, são difíceis. Também há trilhos que vêm da Ursa, ou, com maré muito vazia consegue-se atravessar o Pesqueiro do Abrigo sobre as rochas (ou usar uma cordinha que lá está para ultrapassar uma proeminência da falésia perto do Abrigo).

Mas, sublinho, a vista do Gigante de cá de cima do Cabeço das Cortes é simplesmente magnífica, especialmente ao pôr-do-sol. Foi só aquando de um passeio (o termo é este mesmo) a Cortes que descobri o fabuloso arco do Gigante.

Conheço bem esse caminho, ainda no Sábado passado o fiz, entre a Roca e a Adraga, mas já vi ligeiros junto a falésia, é arriscado mas já os lá vi, esses nomes tenho de recorrer a cartografia militar para os identificar :lol:, penso que ( se for essa a casa da Bota ) já "interditaram" a passagem em frente ( lado do mar ) por risco de erosão, abriram passagem pelas traseiras para dar acesso a um buracão no solo até ao mar,
continuando para sul, em tempos eu mais um amigo fizemos essa subida para o Cabeço das Cortes, não é fácil, molhado nem tentar, mas já faz uns bons anos, já tive recentemente foi antes da descida, possivelmente irei lá mas em modo 2x2 :D, pois não sei como está o caminho e tinha de fazer um recon a pé e assim faço-o todo, mochila ás costas e siga, o 4x4 fica antes da descida,
neste mês quero ver se faço um registo fotográfico de se possível toda a extensão desde o Abano até ao topo sul da praia Grande antes que as minhas "cruzes" me impeçam de vez de andar no terreno irregular, pois como ando sozinho receio que me aconteça algo semelhante ao que aconteceu agora a um geocacher, pois normalmente ando mais na areia, se cair pelo menos é mole:lol:,

mas sem duvida é uma paisagem belíssima, recomendo para quem gosta.
 
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