Cinco ondas de calor já atingiram o país desde o mês de Maio. O fenómeno não é novo, mas a sua frequência é cada vez maior. Pelo menos até amanhã, Portugal volta a estar mergulhado em temperaturas muito mais elevadas do que é habitual nesta altura do ano.
As ondas de calor - assim classificadas quando se registam seis dias consecutivos com temperaturas cinco graus superiores à média - podem acontecer em qualquer época, seja no Verão ou no Inverno, mas são mais frequentes em Portugal em Agosto e em Junho. É no período estival, já de si naturalmente quente, que o aumento da temperatura em relação à média tem mais probabilidade de causar incómodo às pessoas.
O fenómeno, explica Fátima Espírito Santo, directora do departamento de Clima e Alterações Climáticas do Instituto de Meterologia, "entrou na ordem do dia com as ondas de calor de 2003", que "afectaram não só Portugal mas grande parte da Europa, durante cerca de duas semanas". A invulgar extensão no tempo e no espaço, juntamente com a mortalidade atribuída ao calor, chamaram a atenção para um fenómeno que já em 1981 e em 1991 tinha tido episódios significativos no país.
No entanto, a maior atenção dada ao fenómeno também se prende com o aumento da sua frequência. A subida generalizada das temperaturas máximas, e consequentemente das médias, implica a possibilidade de estes fenómenos extremos ocorrerem com mais assiduidade. Aliás, os dados recolhidos pelo Instituto de Meteorologia mostram que nos últimos 30 anos a tendência de aumento das temperaturas é crescente.
Temperaturas descem
A descida generalizada das temperaturas prevista a partir de amanhã deverá ser suficiente para ultrapassar a actual situação, mesmo nas regiões do interior, onde se vive agora a terceira onda de calor.
Segundo Fátima Espírito Santo, nunca nenhuma região portuguesa foi afectada por mais de três ondas de calor no mesmo ano. De acordo com os dados disponíveis até ao momento, esse limite ainda não foi ultrapassado porque as várias ondas de calor atingiram áreas diferentes. A região de Lisboa, por exemplo, ainda não foi este ano afectada por nenhuma, porque tem tido "sequências de três ou quatro dias muito quentes mas depois as temperaturas baixam durante um dia ou dois, antes de voltarem a subir", explica.
Desde a primeira onda de calor, que começou em Maio, já se registaram alguns fenómenos invulgares. A onda de calor de Julho (entre 7 e 18), pela sua extensão espacial (quase todo o território) e temporal (11 dias no Alentejo), pode mesmo ser considerada a mais significativa observada neste mês desde Julho de 1941.
Em Agosto registaram-se duas ondas, mas o mês foi de extremos. Os dois períodos de tempo quente foram intercalados por outro, entre 15 e 19, em que as temperaturas estiveram muito abaixo da média. Mesmo assim, Agosto de 2006 ficará entre os 15 mais quentes de que há registo.
A quarta onda de calor, entre 2 e 13 de Agosto, foi particularmente invulgar por afectar o litoral Norte e Centro. Fátima Espírito Santo explica que o litoral, por causa da influência moderadora do mar nas temperaturas é menos susceptível às ondas de calor, sobretudo no Norte, geralmente mais frio. Assim, é surpreendente que os valores máximos da temperatura tenham sido em alguns casos dez graus superiores à média, quando o Sul não foi afectado.
Fonte: http://dn.sapo.pt/2006/09/05/sociedade/portugal_atravessa_quinta_onda_calor.html