Foi o primeiro ciclone que me lembro ... Furacão Charlie ...
Pela Terceira ainda fez os seus estragos ...
Lembro me perfeitamente de na altura eu e a minha mãe nos refugiarmos na casa de uma vizinha e de todos os vizinhos ficarem juntos com o receio de algo pior ...
Lembro me de um vizinho que vinha da rua nos relatar que várias estradas estavam cortadas ...
Foi a primeira vez que senti aquela sensação de que algo grande estava a vir ...
A segunda vez foi no Furacão Tânia em 1995 no que para mim foi o pior furacão de que tenho memória a afetar a Terceira ...
Lembro me perfeitamente de estar com a minha mãe a segurar as portadas durante a noite pois parecia que tudo ia levantar voo ...
Foram tempos animados esses ...
Claro que depois houve o Lorenzo que afetou algumas ilhas de uma forma inédita mas curiosamente na Terceira a coisa foi mais calma porque a tempestade afetou mais o grupo ocidental e o sul do grupo central ...
Recordo bem do Charlie... e do Bonnie que veio logo a seguir.
Estávamos em 1991 ou 92 se não me falha a memória.
O Charlie bateu forte no grupo Oriental, mas também o Bonnie que para mim foi o pior.
Foi o furacão mais recente em tempos cronológicos que me recordo que mais impacto fez na Ilha de São Miguel, mas também o Tânia que foi completamente assustador com muitos prejuízos materiais.
Nessa altura não haviam redes sociais nem internet e cada um ficava à conta de nosso senhor...apenas seguiamos os avisos pela TV e pelo rádio, mas lembro que nessa altura as pessoas encaravam isso como uma coisa normal sem o sensacionalismo exagerado de hoje em dia.
Lembro de ver telhados a voar e árvores arrancadas, quer no Bonnie, quer no Tânia.
As vagas entravam sem piedade pelos quintais das moradias que ficavam na orla costeira....
Meus avós contavam me que no tempo deles ( inícios do séc XX) os furacões eram bastante piores com consequências maiores do que hoje em dia.
Até no Inverno era costume ver as serras mais altas da ilha cobertas de branco semanas a fio..
Hoje em dia é raro já isso acontecer....
Muitas pessoas ficavam sem as suas casas, n havia subsidios para dar a ninguém, os pastores tinham que acautelar o gado em zonas altas e muitos deles desapareciam sem rasto com o temporal em profundas grotas e ravinas sem ser notícia...
Calhaus gigantes que entravam por terra dentro com a força do mar.. cemitérios fronteiriços ao mar que ficavam inundados de água , e a lista nunca mais acabava...
Minha mãe é da década de 50 do séc XX e é a própria a dizer que antigamente as estações eram bastante mais definidas, as tempestades tropicais e os invernos eram muito mais rigorosos que hoje...
O ciclone mais destrutivo que me recordo no grupo Oriental foi no Natal de 1996, a ilha de São Miguel foi atingida por uma grande tempestade, que causou o encalhe de navios na marina de Ponta Delgada, nos dias 25 e 26 de dezembro. Deve ter sido um ciclone fora da sua época normal.
Além disso, a 14 de Dezembro desse mesmo ano, um evento de mau tempo com chuva intensa, provocou deslizamentos de terra e cheias na vila da Povoação, que resultou em vítimas mortais e muitos estragos..
Se formos fazer uma perspectiva ao passado de todos os ciclones que já atingiram os Açores nunca mais saíamos daqui, por que a lista é infindável...
Mas uma coisa é certa: já não há verões nem invernos como antigamente, e isso é geral nos Açores, de uma ponta à outra do arquipélago...