Radar meteorológico prioritário há 20 anos
Infra-estrutura está a ser alvo de uma campanha para angariação de fundos
Data: 21-04-2010
Se a Madeira estivesse equipada com um radar meteorológico a população poderia ter sido avisada para a gravidade da situação ocorrida a 20 de Fevereiro com uma antecedência de pelo menos duas horas. É com esta convicção e para evitar que esse tipo de tragédias voltem a ter as consequências desastrosas que tiveram no último temporal que a Sociedade Portuguesa de Simulação Ambiental e Avaliação de Riscos (SOPSAR) está a desenvolver uma campanha de angariação de fundos para a aquisição de um radar meteorológico e do respectivo sistema de alerta, em parceria com o Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica.
Cláudia Sil, directora executiva da SOPSAR, sublinha que o radar meteorológico faz a caracterização das condições atmosféricas em três dimensões, permitindo detectar mais facilmente o risco que poderá constituir uma determinada situação climatérica. O equipamento torna a previsão muito mais precisa, sendo possível ter uma percepção real, nomeadamente da quantidade de água e da velocidade a que desloca. O actual sistema apenas permite uma visualização a duas dimensões, através de imagens de satélite, o que não permite uma interpretação rigorosa dos dados apresentados.
Cláudia Sil lembra que a instalação deste tipo de radar na Madeira está prevista há muito tempo. Constava num estudo que foi elaborado, há 10 anos, para a instalação de outros três radares no continente e um nos Açores. Foram concretizados dois, em Coruche e Loulé, e outro nos Açores, instalado pela força aérea norte-americana, o qual é explorado pelo Instituto de Meteorologia. A Madeira passou a ser assim o único território português não coberto por este tipo de tecnologia, embora no Norte, onde está em curso a expansão da rede, com instalação de terceiro radar em Arouca, a cobertura seja ainda deficiente.
Apesar de o Governo e o Instituto de Meteorologia já terem assumido a importância e prioridade do equipamento, a verdade é que a falta de orçamento tem adiado a questão.
Se inicialmente, o Porto Santo era a localização pretendida, actualmente decorrem estudos, ainda através de simulações em computador, relativamente às zonas do Paul da Serra e do Areeiro. Contudo, segundo o responsável pelo Observatório de Meteorologia da Madeira, terão também de ser realizados estudos no terreno.
De acordo com Vítor Prior, o radar meteorológico para a Madeira já é falado desde 1988/1989, acrescentando que se trata de um equipamento importante, o qual teria sido um bom apoio para o acompanhamento quase em tempo real da evolução das condições climatéricas verificadas a 20 de Fevereiro, o que é diferente de fazer uma previsão. Neste momento, salientou, não existe forma de medir a precipitação no mar, sendo apenas possível ter a noção dos níveis de pluviosidade quando já se encontra próxima da terra.
Dadas as condições da ilha, Cláudia Sil recorda que uma situação como a que ocorreu a 20 de Fevereiro pode voltar a acontecer em qualquer altura. "Estamos por exemplo agora numa situação atmosférica especial, onde há emissões vulcânicas intensas, e sabe-se, de certa forma, que este tipo de emissões acaba por provocar índices de precipitação superiores ao normal." A campanha da SOPSAR inclui um sistema de alerta que permitirá o envio imediato e através de SMS de possíveis avisos de mau tempo.
A responsável da SOPSAR refere que o equipamento tem um custo de cerca de três milhões de euros. Trata-se de um valor elevado, mas que, ainda assim, conforme salientou, poderá ajudar a prevenir as consequências de um temporal, sobretudo no que se refere a vítimas mortais, sublinhando que "às vezes se gasta muito menos na prevenção do que nos efeitos do desastre".
O que faz a SOPSAR
A SOPSAR define-se como uma associação independente, sem fins lucrativos, que visa promover o avanço da ciência e tecnologia na área da Simulação Ambiental e Avaliação de Riscos, apoiando e incentivando a permuta de informações, experiências e conhecimentos em todas as áreas relacionadas. Nesse sentido, constitui um fórum de conhecimento multidisciplinar e interdisciplinar, tendo por objectivos facilitar o exercício profissional na área, o desenvolvimento de metodologias e procedimentos, o intercâmbio de experiências e a permuta de informações, assim como fomentar o desenvolvimento de testes, normas e a certificação, apoiar a investigação, ensino e formação e promover a organização de seminários e encontros técnicos.
Sílvia Ornelas