Registos de pressão da erupção do vulcão Hunga Tonga (15/16 Janeiro 2022)

StormRic

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A maioria das estações da Europa apanharam a onda de choque também às 19h00UTC mais ou menos. Terão havido 2? Também apanhei essa das 00h00, e penso que uma ligeiro registo perto das 19h00.

Ver anexo 928

Na minha estação tenho uns pico nas primeiras horas de hoje (Domingo, 16). Será das ondas de choque?

Ver anexo 929

Melhor aqui:

Ver anexo 931

Teoricamente qualquer lugar no globo terá recebido duas ondas de choque, mas em geral uma mais forte do que a outra. Isto deve-se a que a primeira a chegar corresponde à menor distância ao longo de um arco na superfície terrestre que pertence ao círculo máximo que passa no ponto emissor da onda (Hunga Tonga) e no ponto receptor (qualquer estação no globo). Círculo máximo de dois pontos na superfície terrestre é a intersecção de um plano que passa nesses dois pontos e no centro da Terra com o globo terrestre suposto esférico. A segunda onda seguiu também ao longo de um arco do mesmo círculo máximo mas em sentido contrário. A soma das distâncias dos dois trajectos seria teoricamente igual ao perímetro da Terra suposta esférica, aproximadamente 40 000 Km. Claro que esta situação corresponde a um globo perfeitamente esférico e de superfície lisa (planeta 100% oceânico, por exemplo, e mesmo assim deformado pelas forças de maré e de rotação). A realidade coloca inúmeros obstáculos à progressão da onda, principalmente a orografia dos continentes, e por isso a primeira frente de onda a chegar a um certo local, muito afastado, pode não ser a mais forte devido aos obstáculos (perda de intensidade) e até fenómenos de difracção ao contorná-los (flexão das ondas com mudança de direcção de propagação). Foi o caso do território continental português, em que foi a onda que seguiu o trajecto mais longo aquela que chegou com maior intensidade. Isto talvez se deva à posição do território na frente atlântica e existência de obstáculos importantes no trajecto mais curto, aquele que é obrigado a passar pela cordilheira das Montanhas Rochosas, logo perdeu muita intensidade nessa barreira. Enquanto que para outros lugares da Europa - e bastam pequenas diferenças de localização - o círculo máximo tem uma janela orográfica ideal para a onda de choque, ao atravessar o Estreito de Bering, tangenciar o norte da Groenlândia e evitar ainda o relevo costeiro norueguês: é o caso do litoral da Bélgica, por exemplo.

Na imagem, a vermelho é o arco de círculo máximo mais curto que passa em Hunga Tonga e em Lisboa; a verde o que passa pela Bélgica.

vxHdVbS.jpg


Se tiverem o Google Earth podem usar a ferramenta "régua" para traçar estes arcos, identifcando primeiro a localização do vulcão como início do segmento e depois esticando-o até chegar à estação de recepção da onda. Podem confirmar que pequenas variações de algumas dezenas ou centenas de quilómetros na posição da estação originam grandes deslocamentos laterais do arco.
Tentem encontrar por onde terá passado a onda de choque que chegou até cá. Não é fácil, pois o arco criado com esta ferramenta corresponde sempre ao mais curto, mas onda que nos chegou seguiu pelo arco mais longo... ;)

Não esquecer ainda o fenómeno de difracção ao contornar obstáculos.
 


StormRic

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@StormRic o facto de Tonga estar relativamente perto da Nova Zelândia que são os nossos antípodas, e portanto de os dois percursos serem ambos grandes e de tamanho parecido também influencia?

Parece-me que sim. Precisamente, estamos muito perto dos antípodas exactos de Tonga os quais se situam no norte de África (Argélia talvez). Aliás foi desta direcção que em princípio terá chegado a frente da onda de choque que foi mais evidente nos registos barométricos, num percurso algo inesperado pois terá atravessado toda a África, entrando a sul de Moçambique.

Mais perturbações esta manhã. Terá havido outra erupção intensa... ou são as ondas de choque (infrassom) ainda a viajar à volta do planeta?

Ver anexo 937

É difícil dizer, será necessária uma modelação pormenorizada do globo e da propagação da onda, mas teoricamente a onda, em todas as suas frentes, continua a dar a volta perdendo progressivamente intensidade. Penso que haverá também fenómenos de interferência a partir do momento que as duas frentes, que partiram em sentidos opostos ao longo de um círculo máximo, se encontram ao completar cada uma mais de meia volta. A juntar a isto haverá possivelmente fenómenos de reflexão em cadeias montanhosas muito elevadas, e difracção nas passagens estreitas. Não sei qual é a extensão em altitude da onda e que efeitos isso tem, também.
 

ecobcg

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Parece-me que sim. Precisamente, estamos muito perto dos antípodas exactos de Tonga os quais se situam no norte de África (Argélia talvez). Aliás foi desta direcção que em princípio terá chegado a frente da onda de choque que foi mais evidente nos registos barométricos, num percurso algo inesperado pois terá atravessado toda a África, entrando a sul de Moçambique.



É difícil dizer, será necessária uma modelação pormenorizada do globo e da propagação da onda, mas teoricamente a onda, em todas as suas frentes, continua a dar a volta perdendo progressivamente intensidade. Penso que haverá também fenómenos de interferência a partir do momento que as duas frentes, que partiram em sentidos opostos ao longo de um círculo máximo, se encontram ao completar cada uma mais de meia volta. A juntar a isto haverá possivelmente fenómenos de reflexão em cadeias montanhosas muito elevadas, e difracção nas passagens estreitas. Não sei qual é a extensão em altitude da onda e que efeitos isso tem, também.

Também já vi alguns tweets hoje sobre a tal possível nova erupção, que terá ocorrido na passada madrugada. Mais pequena que a do dia 15 mas grande à mesma. Mas ainda está por confirmar, uma vez que os dados provenientes de lá são escassos neste momento.
 

leofe

Cumulus
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Boa tarde.
Por aqui foi assim! Foi mal ter calibrado logo antes de acontecer...
PA Vulcao.jpg
 

StormRic

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A frente da onda de choque inicia-se com um pequeno anel em torno da explosão. À medida que esse anel se vai expandido, divergindo em todas as direcções, vai formando uma circunferência cada vez maior até abraçar todo o globo numa altura em que a frente corresponde a um círculo máximo definido pela intersecção de um plano, que passa no centro do globo e é perpendicular ao raio terrestre no ponto da explosão (raio terrestre = segmento de recta que une o ponto à superfície com o centro da Terra, suposta esférica), com a superfície da "esfera" terrestre. Nesse instante a frente da onda está a 10 000 Km (quarto da circunferência máxima terrestre) do ponto da explosão. A partir desse momento, o anel vai contraindo-se e fazer o oposto do fenómeno de expansão: vai convergir no local antípoda da explosão. Nesse local reinicia-se, teoricamente, a expansão como se se tivesse produzido aí também uma explosão. Mas o comportamento da onda que agora se contraíu é, penso eu, imprevisível, pois haverá certamente fenómenos de interferência e sobreposição de ondas. Imprevisível também porque nem todos os segmentos do anel da frente da onda chegam ao mesmo tempo ao local antípoda, alguns nem sequer chegando lá porque foram barrados ou desviados no seu trajecto por obstáculos maiores. A onda de choque que chegou a Portugal, por exemplo, já é uma onda que passou no local antípoda de Hunga Tonga (algures no norte de África) e não sofreu anulamento no embate com a que vinha em sentido contrário, pois esta tinha perdido considerável intensidade ao atravessar os relevos do continente norte-americano.

Fica à discussão. :unsure: ;)
 

TiagoLC

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A frente da onda de choque inicia-se com um pequeno anel em torno da explosão. À medida que esse anel se vai expandido, divergindo em todas as direcções, vai formando uma circunferência cada vez maior até abraçar todo o globo numa altura em que a frente corresponde a um círculo máximo definido pela intersecção de um plano, que passa no centro do globo e é perpendicular ao raio terrestre no ponto da explosão (raio terrestre = segmento de recta que une o ponto à superfície com o centro da Terra, suposta esférica), com a superfície da "esfera" terrestre. Nesse instante a frente da onda está a 10 000 Km (quarto da circunferência máxima terrestre) do ponto da explosão. A partir desse momento, o anel vai contraindo-se e fazer o oposto do fenómeno de expansão: vai convergir no local antípoda da explosão. Nesse local reinicia-se, teoricamente, a expansão como se se tivesse produzido aí também uma explosão. Mas o comportamento da onda que agora se contraíu é, penso eu, imprevisível, pois haverá certamente fenómenos de interferência e sobreposição de ondas. Imprevisível também porque nem todos os segmentos do anel da frente da onda chegam ao mesmo tempo ao local antípoda, alguns nem sequer chegando lá porque foram barrados ou desviados no seu trajecto por obstáculos maiores. A onda de choque que chegou a Portugal, por exemplo, já é uma onda que passou no local antípoda de Hunga Tonga (algures no norte de África) e não sofreu anulamento no embate com a que vinha em sentido contrário, pois esta tinha perdido considerável intensidade ao atravessar os relevos do continente norte-americano.

Fica à discussão. :unsure: ;)
Ilustração:
 

StormRic

Furacão
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Ilustração:


Precisamente! Agora só falta encontrarmos uma animação visualizada num modelo esférico e não cartográfico.

Como nesta imagem animada, e passando depois para o outro hemisfério. Estou curioso se será possível ver a convergência nos antípodas e o que acontece à onda ao encontrar as cordilheiras Norte e Sul-Americanas. Talvez captada pelos satélites GOES ou Meteosat. :unsure:

A visualização numa projecção Mercator pode realmente ser muito confusa para quem não consiga imaginar a transformação desta projecção de volta à forma esférica do globo.

Vou ainda tentar encontrar nos gráficos barométricos das estações próximas da Tonga o retorno da onda ao ponto de emissão.

 

ecobcg

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Terceira vaga?
Eventuais novos picos de pressão esta noite. Amanhã confirmo melhor nos gráficos mais detalhados, mas parece haver outras estações europeias a registar o mesmo novamente.
BarometerHistory (18-vert.jpg