Seca em Portugal

StormRic

Furacão
Registo
23 Jun 2014
Mensagens
23,358
Local
Póvoa de S.Iria (alt. 140m)
Aqui à dias estava a ministra da agricultura em Alvor a anúnciar que o governo estava no terreno a trabalhar com a reabilitação de 2 furos que estão a debitar para o canal de rega uns bons m3 diários. Nem sei se já arranjaram o bem dito canal que segundo consta tem muitas perdas.
Ou seja os aquíferos são a solução de recurso quando já estão sobrecarregados com o uso privado.
E quando derem por isso podem já estar a regar com água salgada. Nessa zona e noutras os furos já não dão garantia de não estar contaminados pela infiltração marinha.
 


belem

Cumulonimbus
Registo
10 Out 2007
Mensagens
4,466
Local
Sintra/Carcavelos/Óbidos
«Em Portugal Continental, nos últimos 75 anos, registaram-se 12 episódios de seca significativos, frequentemente prolongando-se por mais de um ano: 1943/1946, 1965, 1976, 1980/1981, 1991/1992, 1994/1995, 1998/1999, 2004/2006, 2008/2009, 2011/2012, 2014/2015 e 2016/2017 (Observatório das secas, IPMA).

Entre abril de 2017 e março de 2018 ocorreu a única situação de seca severa e extrema a afetar integralmente o país logo no mês de outubro, ou seja, no início do ano hidrológico (Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral, GPP).»



Parece que a regularidade das secas aumentou de forma exponencial a partir dos anos noventa.
A fase entre 2011 e 2022, tem sido talvez a pior em termos de consequências acumuladas, porque já a década anterior (2000-2010) foi a mais seca, desde pelo menos 1931.
E isto somado ao aumento das temperaturas, decerto que terá os seus efeitos.

Descrição de fenómenos de seca a uma escala mais local (mas este estudo só vai até 2006):

«Em termos de duração há a realçar: :
1933 –1935 no Porto (26 meses), Lisboa (15 meses) e Beja (28 meses) •
1943 – 1946 no Porto (38 meses), Lisboa (26 meses), Évora e Beja (29 meses) •

1953 –1955 no Porto (25 meses), Évora (23 meses) e Beja (24 meses) • 1973 – 1976 em Lisboa (28 meses) e Évora (18 meses) • 1979 – 1982 em Évora (33 meses) •
1991 – 1992/3 em Lisboa e Beja (24 meses), Évora (18 meses) •
1994 – 1995 em Lisboa (22 meses), Évora e Beja (20 meses) •

2004 – 2006 em Beja, (33 meses), Évora, Lisboa e Porto (16 meses).

Em termos de intensidade (número de meses consecutivos em seca severa ou extrema) são de realçar:
• 12 meses – Beja, 1943-1946 e 1994-95
•11 meses – Beja, 1994-1995
• 10 meses – Beja e Porto, 2004-2006
• 9 meses – Beja 1980-1981; Lisboa e Évora, 2004-2006



Intensidade das secas

Verifica-se que as secas mais graves em termos de intensidade foram as de 1943-46 e 2004-06. Na seca de 2004-06 grande parte do território esteve entre 7 e 9 meses consecutivos em situação de seca severa e extrema, sendo de destacar os 10 a 11 meses que se verificaram em muitas estações das regiões do litoral Norte, parte das regiões do Centro e região Sul. Em termos de percentagem na seca 2004-06, 34% do território esteve mais de 9 meses consecutivos em seca severa e extrema, enquanto 1943-46 esteve apenas 22%. Em termos médios, tanto 1943-46 como 2004-06 apresentam um número médio de meses consecutivos em seca severa e extrema de 7 meses. No entanto, 1943- 46 apresenta uma menor percentagem do território em meses consecutivos de seca severa e extrema (88%) em relação a 2004-06 com 100% do território afectado (Fig. 4).

Deste modo pode-se afirmar que a seca 2004-06 foi a situação de seca mais intensa em termos de extensão territorial dos últimos 65 anos. Considerando apenas duas áreas do território, a Norte e Sul do rio Tejo (Fig. 5) (Pires, 2008), verifica-se que: a) nas situações de seca de 1964-65, 1974-76 e 2004 -06 as duas áreas foram de igual forma afectadas; b) nas situações de seca de 1943-46, 1948-49 e 1990-92 foram mais afectadas as áreas a Norte do rio Tejo, em particular na de 1943-46 com 72% de área afectada; c) nas situações de seca de 1980-83, 1994-95 foram particularmente afectadas as áreas a Sul do rio Tejo.

Conclusões

As alterações climáticas que têm ocorrido ao nível do globo apontam não só para um aumento da temperatura média global, mas também para o aumento da frequência e intensidade dos fenómenos climáticos extremos tais como secas, cheias, ondas de calor etc.
Assim e relativamente às situações de seca em Portugal Continental há que destacar os seguintes pontos (Pires, 2008): a) Episódios de seca desde 1901: Os valores do PDSI no período de arrefecimento, 1946-1975 são menos negativos que no período de aquecimento, depois de 1976, sugerindo um aumento da frequência de secas neste período; Verifica-se a ocorrência de um elevado número de secas em Beja (28), seguido de Évora com 25, Porto com 23 e Lisboa com 21.
b) Episódios de seca desde 1941: Ocorreram 9 situações de seca entre 1941 e 2006: 1943-46; 1948-49; 1964-65; 1974-76;1980- 83; 1990-92; 1994-95; 1998-99; 2004-06. Das 9 situações ocorridas as mais intensas e mais longas foram: 1943-46;1980-83;1990-92;1994- 95; 2004-06.
Décadas com mais situações de seca: 40 (1941- 42, 1943-46 e 1948-49) e 90 (1991-92, 1994-95 e 1998-99). 
A seca 1943-46 foi a mais longa ocorrida nos últimos 65 anos, 1990-92 a 2ª mais longa, 2004- 06 e 1980-81 foram as 3ª mais longas desde 1941. A destacar: A Seca de 2004-06 foi a de maior extensão territorial (100% do território afectado), seguida pela de 1943-46 (92% do território); A Seca 2004-06 foi a situação de seca mais intensa (meses consecutivos em seca severa e extrema) em termos de extensão territorial dos últimos 65 anos (100%);
Maior frequência de situações de secas nos últimos 30 anos (depois de 1976) quando comparado com o período entre 1941-1975.

Em 75% das estações meteorológicas consideradas a percentagem de ocorrência de secas no período 1976-2006 é igual ou superior a 50%. A maior frequência de situações de seca meteorológica que se verifica em Portugal Continental nas últimas décadas, é indicativo de um aumento do risco e da vulnerabilidade a este fenómeno, o que poderá obviamente trazer um aumento dos impactos, nomeadamente, ao nível dos sectores agrícola e hidrológico e necessariamente social.


Fonte: https://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/36092/1/Riscos de secas em Portugal Continental.pdf?ln=pt-pt

De novo aproveito para realçar que este estudo só vai até 2006.

Depois houveram secas nos anos: 2008/2009, 2011/2012, 2014/2015, 2016/2017...

Falta colocar informações sobre 2018, 2019, 2020 e 2021....

Dados do IPMA sobre 2018:

No ano de 2018 o valor médio de precipitação total anual, 939.9 mm, corresponde a cerca de 107 % do valor normal (Figura 6). Valores de precipitação superiores aos registados em 2018 ocorreram em cerca de 40 % dos anos, desde 1931.
Em relação à distribuição espacial (Figura 5 dir.), os valores foram superiores ao normal em quase todo o território, exceto nalguns locais da região Sul. O valor mais baixo de percentagem, 79 %, ocorreu na Covilhã e o mais alto, 146%, em Mirandela. Durante o ano (Figura 7) destacam-se os valores mensais de precipitação nos meses de março (extremamente chuvoso) e dezembro (muito seco)



2019:

No ano de 2019 o valor médio de precipitação total anual, 755.6 mm, corresponde a cerca de 86 % do valor normal (Figura 7). Valores de precipitação inferiores aos registados em 2019 ocorreram em cerca de 30 % dos anos desde 1931.
Durante o ano de 2019 (Figura 8), apenas 3 meses registaram valores superiores ao normal (abril, novembro e dezembro), nos restantes meses o valor médio foi sempre inferior ao normal sendo de realçar os meses de janeiro, fevereiro e maio com anomalias negativas muito significativas.
Em relação à distribuição espacial (Figura 9), os valores foram superiores ao normal na região Noroeste do território e em parte da região Centro e inferiores no restante território, destacando-se o Alentejo e Algarve. O valor mais baixo de percentagem, 35%, ocorreu em Faro e o mais alto, 139%, na Guarda.



2020:

No ano de 2020 o valor médio de precipitação total anual, 746.8 mm, corresponde a cerca de 85 % do valor normal (Fig. 1.9). Valores de precipitação inferiores aos registados em 2020 ocorreram em cerca de 30 % dos anos desde 1931. Ao longo de 2020 (Fig. 1.10), apenas os meses de abril, maio e outubro registaram valores de precipitação superiores ao normal. Destacam-se as anomalias negativas dos meses de janeiro e fevereiro que contribuíram para o inverno de 2019/2020 ter sido mais seco que o normal.
Em relação à distribuição espacial (Fig. 1.11), os valores foram inferiores ao normal em quase todo o território, exceto nalgumas regiões do interior do território. O valor mais baixo de percentagem, 69 %, ocorreu na Alvalade e o mais alto, 124%, em Elvas.



2021:

No ano de 2021 o valor médio de precipitação total anual, 684.6 mm, corresponde a 78 % do valor normal. Valores de precipitação inferiores aos registados em 2021 ocorreram em cerca de 20 % dos anos desde 1931 (Figura 9).
Ao longo de 2021 (Figura 10), apenas os meses de fevereiro e setembro registaram valores de precipitação superiores ao normal. Destacam-se as anomalias negativas consecutivas dos meses de novembro e dezembro (-90 mm e -50 mm, respetivamente).

 
Última edição:

belem

Cumulonimbus
Registo
10 Out 2007
Mensagens
4,466
Local
Sintra/Carcavelos/Óbidos

"Charneca" Mundial

Super Célula
Registo
28 Nov 2018
Mensagens
5,067
Local
Corroios (cota 26); Aroeira (cota 59)
A década 2011-2020 foi ligeiramente menos seca que a 2001-2010
Essencialmente porque a anomalia de precipitação no Norte e nas ilhas até foi ligeiramente positiva, caso contrário teria sido a década mais seca. No Alentejo e Algarve foi mesmo a década mais seca desde que há registos! :surprise:
 

trovoadas

Cumulonimbus
Registo
3 Out 2009
Mensagens
3,226
Local
loule-caldeirao
Essencialmente porque a anomalia de precipitação no Norte e nas ilhas até foi ligeiramente positiva, caso contrário teria sido a década mais seca. No Alentejo e Algarve foi mesmo a década mais seca desde que há registos! :surprise:
Ao ler os posts anteriores era mesmo nisso em que estava a pensar mas antecipaste-te ;)
Quanto ao futuro há quem pense que agora vêm aí umas enxurradas e resolve-se o problema mas eu tenho as minhas reticências...
Tem de se analisar em termos de ano hidrológico completo. Até podem cair umas enxurradas e acabarmos o ano hidrológico com 300 e tal mm ou 400 e tal mm e continuarmos com grande déficit.
Mais, a precipitação pode ser muito assimétrica leste/oeste o que no caso do Algarve faz muita diferença. Basta ver o que foi o ano de 2020/2021 que ainda assim operou milagres pois as bacias estavam mais ou menos compensadas.
Resumindo tenho muitas dúvidas acerca do próximo ano hidrológico. Vamos ver como é o arranque logo em Outubro...

Estou a falar no caso concreto do Baixo Alentejo e Algarve incluíndo Vale do Sado até Setúbal.
Penso que do eixo Évora-Portalegre para Norte a análise é outra!
 

guisilva5000

Super Célula
Registo
16 Set 2014
Mensagens
7,176
Local
Belas
Esta imagem do satélite Terra no dia 13 a mostrar o "óasis" que é o Alqueva. Parece um lago perdido no deserto:

ORzxnGE.png


Também se vê a 2a maior albufeira do país mais para cima, Castelo de Bode. Serão os dois reservatórios de água mais importantes nas próximas décadas...

As barragens espanholas estão em mau estado.
 

StormRic

Furacão
Registo
23 Jun 2014
Mensagens
23,358
Local
Póvoa de S.Iria (alt. 140m)
Também se vê a 2a maior albufeira do país mais para cima, Castelo de Bode.

As próximas chuvas, se forem relevantes, vão trazer cinza e solo da Estrela, mas ficarão na maior parte retidas em Cabril. Em princípio o percurso é grande e quando a água chega a Castelo de Bode já não deve trazer partículas em suspensão.
 

JCARL

Cumulus
Registo
29 Nov 2010
Mensagens
416
Local
Vila Velha de Ródão
As próximas chuvas, se forem relevantes, vão trazer cinza e solo da Estrela, mas ficarão na maior parte retidas em Cabril. Em princípio o percurso é grande e quando a água chega a Castelo de Bode já não deve trazer partículas em suspensão.
E ainda passa antes de chegar a Castelo de Bode. pela Barragem da Bouça.
 

guisilva5000

Super Célula
Registo
16 Set 2014
Mensagens
7,176
Local
Belas
As próximas chuvas, se forem relevantes, vão trazer cinza e solo da Estrela, mas ficarão na maior parte retidas em Cabril. Em princípio o percurso é grande e quando a água chega a Castelo de Bode já não deve trazer partículas em suspensão.
Cabril e CB já estão mais que habituadas a serem os retentores de cinzas, nada de novo infelizmente.
 

joralentejano

Super Célula
Registo
21 Set 2015
Mensagens
9,448
Local
Arronches / Lisboa
Rio Sabor, em Gimonde:



Não sei se este cenário é normal durante uma situação de seca neste rio, mas está numa situação idêntica ao Rio Caia aqui em Arronches. Isto está péssimo por todo o lado!
 

Nickname

Super Célula
Registo
2 Fev 2012
Mensagens
5,678
Local
Viso Norte, Viseu (520m)

algarvio1980

Furacão
Registo
21 Mai 2007
Mensagens
12,468
Local
Olhão (24 m)

Francisco Amaral insiste que resolução da falta de água no Algarve "é emergente"​



Este parágrafo é delicioso: "O edil explica que o "filme" repete-se quando há dois anos seguidos de seca: "o Algarve entra em pânico, os políticos ficam histéricos, mas o que é facto, é que passados uns dias chove uma semana e ninguém mais fala do assunto, além do problema desses pomares de abacate em que o Ministério da Agricultura não fala com o do Ambiente e depois andam todos às turras uns com outros... não entendo, como é que se autoriza centenas de hectares de abacate, que consome água à força toda... é asneira atrás de asneira", explicou.

:D
 

trovoadas

Cumulonimbus
Registo
3 Out 2009
Mensagens
3,226
Local
loule-caldeirao

Francisco Amaral insiste que resolução da falta de água no Algarve "é emergente"​



Este parágrafo é delicioso: "O edil explica que o "filme" repete-se quando há dois anos seguidos de seca: "o Algarve entra em pânico, os políticos ficam histéricos, mas o que é facto, é que passados uns dias chove uma semana e ninguém mais fala do assunto, além do problema desses pomares de abacate em que o Ministério da Agricultura não fala com o do Ambiente e depois andam todos às turras uns com outros... não entendo, como é que se autoriza centenas de hectares de abacate, que consome água à força toda... é asneira atrás de asneira", explicou.

:D
Aqui à tempos discutia-se que o abacateito não era o diabo e que gastava tanto quanto uma laranjeira para além de ter sistemas de rega de alta precisão. Não nego isso agora esquecem-se é de fazer a análise completa.Não deixa ser engraçado que cada vez estamos mais eficientes mas o consumo de água aumenta. Porquê? Porque há muita procura. Se redurzirmos o consumo em 20% em teoria podemos aumentar a rede em 20% mantendo o mesmo gasto anual. Ora acho que se estão a esquecer disso ou pelo menos omitem.
Acho que atualmente já vamos a caminho dos 80hm3 /ano (facturados) e a tendência é de crescimento. Algo vai ter de ceder para compensar este aumento de turismo/população e só vejo, neste caso, que tenha de ser a agricultura.
 

joralentejano

Super Célula
Registo
21 Set 2015
Mensagens
9,448
Local
Arronches / Lisboa

Seca. Península Ibérica com "condições mais secas do que habitual" até novembro, alerta Bruxelas​

Relatório deixa alertas sobre a água disponível para a produção hidroelétrica e para a irrigação dos terrenos em Portugal. E fala num risco de incêndio de elevado a extremo na maior parte do país.

A Comissão Europeia estimou esta terça-feira que a Península Ibérica tenha, até novembro, “condições mais secas do que habitual“, admitindo que “os riscos podem persistir” relativamente à seca e avisando sobre a falta de armazenamento de água em Portugal.
É provável que nos próximos meses, até novembro de 2022, ocorram condições mais quentes e secas do que o habitual na região euro-mediterrânica ocidental. Em algumas zonas da Península Ibérica, estão previstas condições mais secas do que as habituais para os próximos três meses”, indica o Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia num relatório atualizado sobre a avaliação da situação de seca na Europa.

Fonte
____________________________
Entretanto, na Barragem de Montargil:



Rio Paiva seco em alguns pontos do seu percurso: