Alguém consegue dar instruções sobre como interpretar as imagens do radar de Sta. Bárbara, nomeadamente e mormente as barras castanhas no topo e no lado direito da imagem que são visíveis nos "Máximos de Reflectividade"?
Vou tentar dar uma explicação do modelo do eco de radar simplificado, abstraindo da curvatura terrestre e do facto de o feixe do radar ter uma origem quase pontual.
São perfis verticais dos ecos do radar projectados no meridiano e no paralelo do local do radar. Conferem uma terceira dimensão (altitude) aos ecos. Assim, a banda no topo corresponde aos ecos mais intensos encontrados nos varrimentos segundo um plano paralelo ao meridiano e deslocando-se em longitude (esquerda-direita) para produzir a extensão total da banda; na banda lateral são os ecos mais intensos encontrados nos varrimentos segundo um plano paralelo ao paralelo de latitude da estação e deslocando-se em latitude (baixo-cima). Cada banda tem assinaladas três linhas a pontilhado correspondentes às altitudes 5,3 Km, 9,6 Km e 13,7 Km.
Exemplo 1:
Às 23:40:05 utc do dia 3 de Abril havia duas células no quadrante Nordeste vistas da Terceira. O eco de cada célula é um objecto tridimensional, com maior ou menor densidade do eco consoante a maior ou menor reflexão nas gotas de chuva ou outras partículas na atmosfera. Projectando verticalmente esse "objecto" no plano horizontal, como se visto de cima, obtém-se o que se vê no círculo do radar. Mas ainda com a particularidade de ficar visível na projecção apenas o ponto que em cada vertical tinha maior intensidade do eco.
Nas bandas do topo e da direita estão projecções do "objecto" como se fosse em paredes verticais, e não num plano horizontal como o do círculo do radar. Na banda do topo vê-se projecção numa "parede" orientada Oeste-Leste (esquerda-direita da imagem) e na banda da direita a projecção numa parede Norte-Sul (cima-baixo da imagem). Estas projecções nestes planos verticais seguem a mesma regra da projecção no plano horizontal: apenas aparece o ponto com maior intensidade de eco ao longo de uma linha horizontal perpendicular ao plano vertical.
Uma explicação ainda mais simplificada:
Imaginemos que uma nuvem e respectiva massa de pingos de precipitação está algures dentro de uma sala quadrada em cujo centro se encontra o radar. Se toda a massa de pingos cair no chão, produz uma mancha que é o que vemos no círculo do radar. Se toda a massa de pingos fôr projectada horizontalmente contra uma das paredes da sala, produz uma outra mancha como se vê nas tais bandas de topo e da direita: a do topo seria a parede Norte (ou Sul) e a da direita a parede Leste (ou Oeste) da sala. Qualquer uma destas manchas fica mais ou menos "molhada" conforme a massa de pingos na nuvem fosse mais ou menos densa. Se houver várias células, várias nuvens, a mancha ficará com a intensidade correspondente à maior intensidade encontrada ao longo da linha projectante vertical sobre o chão ou projectante horizontal sobre as paredes.
Depois farei uma explicação das zonas de sombra de forma curva que se podem observar nas bandas. Têm que ver com a curvatura do globo terrestre e com a impossibilidade de o feixe do radar ver uma parte inferior da nuvem ou da massa de precipitação que está abaixo do horizonte visual do radar.