Quando há situações invulgares à partida, dificilmente modeláveis em detalhe, ou pelo menos com o detalhe tão especial que a Madeira exige, entra o factor experiência. Se temos declarações dizendo que nos últimos dez anos não viu uma situação semelhante, então talvez seja necessária a entrada em cena, em tempo útil, de meteorologistas com uma experiência mais longa ou de registos descritivos e estudos mapeados que mostrem o que esperar nessas poucas situações raras.
Mapa WU com os registos de precipitação de hoje. Valem o que valem, claro, e a par dos registos nas estações oficiais mostram uma variabilidade espacial extremada mas que é bem característica das precipitações na ilha da Madeira.
Perante a surpresa, refiro sempre o mesmo: o que acham que moldou o violento relevo da Ilha? Obviamente que foi a precipitação ao longo dos milénios. O relevo da Ilha poucas alterações tem sofrido ao longo dos mais de cinco séculos, mas as derrocadas e as enxurradas são uma constante. Não há extensão suficiente da memória das populações nem tempo suficiente de conhecimento e ocupação da Ilha para se saber quão extremos podem ser os fenómenos de precipitação. Mas a geomorfologia da Madeira é um livro aberto para quem o saiba ler: a Ilha continuará a desmoronar-se em falésias gigantescas, as ribeiras continuarão a escavar cada vez mais os profundos vales, os picos e encostas continuarão a desmantelar-se em derrocadas. Nada vai fazer parar esse processo. O que está mal na Madeira não é a Ilha nem o clima da Madeira, ou até a previsão meteorológica, é a ocupação humana e a alteração de delicados equilíbrios de vertentes e de escorrências.