Seguimento - Incêndios 2025

É claro que dão jeito, não é essa a questão. O problema é esta viciação que leva as pessoas a pedir mais e mais e mais meios aéreos. Não é sustentável, quando não se desenvolve capacidades de supressão nas horas de "lume brando".

A entrada tardia de aeronaves no terreno está também relacionada com limites operacionais relacionados com os pilotos. Não se pode esperar que um piloto que conclua uma missão às 20h30, e esteja em casa às 21h30, que se apresente às 07h da manhã para início da missão durante 10 ou 12 dias seguidos. Além de que estes limites são regulados quer contratualmente quer do ponto de vista de legislação aérea.

De acordo, a minha crítica está em que à mesma hora havia mais meios aéreos empenhados por exemplo no incêndio do Sabugal (e não duvido que fossem úteis, mas apesar de tudo decorria numa orografia mais favorável) do que neste megaincêndio, com a desculpa de não ser possível atuarem por falta de visibilidade, algo que até poderia acontecer do lado da Covilhã e do Fundão mas não aqui. Parece-me que foi um erro prontamente assumido porque quando a situação piorou foram destacados meios, só que tarde demais.

Mas não quero estar a dar demasiado ênfase a isto, falhas acontecem, os problemas de base estão antes de o fogo começar.

Detalhe da área ardida até à manhã de ontem, vales de Loriga, Alvoco da Serra e Unhais da Serra, encostas do planalto da Estrela, Torre.

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Esta é uma imagem "feliz", passe a expressão face à calamidade que isto é, porque dá para comparar a zona de pinhal muito denso e praticamente sem gestão por parte dos baldios da freguesia de Alvoco da Serra, ao longo do vale da ribeira a oeste da aldeia e praticamente até à cumeada do vale de Loriga, que ardeu como um fósforo na terça-feira, e o pinhal gerido, menos denso e intercalado por folhosas na zona de Vasco Esteves de Baixo e Vasco Esteves de Cima, que só mais tarde ardeu e do qual ainda sobrou uma pequena parte.

Entretanto, a pequeníssima frente junto à Penha dos Abutres na divisória entre os vales de Alvoco/Cabrum e de Loriga continua a dar trabalho, porque mesmo com meios aéreos e meios apeados, vai apagando de um lado e reacendendo do outro, e já andam nisto desde ontem à tarde...
 
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A zona de Sátão, Aguiar e Trancoso é mais pinhal. Raramente se veem carvalhos. Vá pelos menos as zonas que conheço.

O que não falta nessa zona da Beira Interior são manchas de carvalhal a despontar... quer dizer o que não faltava, infelizmente deve ter ardido grande parte neste mês. algum passaria despercebido porque estava no sub-bosque do pinhal. Apenas à espera que o pinhal concluísse o seu ciclo de vida para tomar o seu lugar, algo que não acontecerá se o povoamento arder e voltar tudo à estaca zero da sucessão ecológica.
 
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Eu acredito que a humidade dos solos deve ser super importante.

Eucaliptais adultos, mesmo com gestão, vão ter muito menos humidade nas árvores e nos solos (onde é inevitavel que fiquem fiquem cascas, folhas, etc) que zonas não geridas de plantas autóctones com plantas arbustivas e outras árvores mais jovens, com um solo mais rico e húmido. Agora também é verdade que os nossos solos estão quase todos pela hora da morte, e vão demorar a recuperar.

Os giestais por exemplo dão se bem em solos pobres.

Encontrei um estudo português que aponta para que as diferenças entre gerido vs não gerido, poderem ser menores do que se pensa, em relação a fogos superficiais:

Effect of Fuel Management and Forest Composition on Fire Behavior †Miguel Pacheco 1, Aline Oliveira 1,* , Paulo Fernandes 2 and Joaquim Silva

"Likewise, only one statistical test (out of 12) showed significant differences in firebehavior between the three types of stands. Our results show that the reduction in fuel load and depth in Managed areas was annulated by the more severe meteorological conditions (stronger wind speed and lower moisture) observed in these areas. However, it should betaken into consideration that this study only assessed surface fire. Despite these results, FuelBreaks are an important instrument of prevention and containment of wildfires; they allow better access to means of combat and decrease the likelihood of ignition from, for example,roads and power transmission lines. On the other hand, different results would probablybe obtained by including crown fire simulations and more severe weather scenarios."

Vale o que vale, porque realmente 4 dos 12 testes encontraram diferenças, com a diferença mais significativa a ser no eucaliptal, mas achei interessante.

Para o chatgpt, no entanto, é claro:

"Eucaliptais, mesmo quando geridos, tendem a arder com maior intensidade devido à sua composição química e estrutura. Por outro lado, a floresta autóctone sem gestão pode acumular carga combustível, mas é menos propensa a fogos intensos e geralmente mais resiliente."
 
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A indústria da pasta do papel deve estar em decadência, com os meios digitais esta indústria tem hoje em dia um mercado muito inferior do que foi noutros tempos não?

Se assim for daqui a 20 anos teremos para juntar aos milhares de hectares de eucaliptos , do pequeno proprietário, sem qualquer manutenção a acrescentar os das celuloses

Outra coisa que me transtorna é ouvir falar em subsídios para tratar a floresta, isto então era a cereja no topo do bolo para as celuloses, eu a pagar impostos para os privados retirarem os lucros

Quem não dispõem de posses para ter uma floresta de pinhal ou eucaliptos limpa então que corte e deixe de ter, desta forma se resolvia parte do problema
 
A indústria da pasta do papel deve estar em decadência, com os meios digitais esta indústria tem hoje em dia um mercado muito inferior do que foi noutros tempos não?

Se assim for daqui a 20 anos teremos para juntar aos milhares de hectares de eucaliptos , do pequeno proprietário, sem qualquer manutenção a acrescentar os das celuloses

Outra coisa que me transtorna é ouvir falar em subsídios para tratar a floresta, isto então era a cereja no topo do bolo para as celuloses, eu a pagar impostos para os privados retirarem os lucros

Quem não dispõem de posses para ter uma floresta de pinhal ou eucaliptos limpa então que corte e deixe de ter, desta forma se resolvia parte do problema

A indústria da celulose está tudo menos em decadência! Continua em grande crescimento! Com a necessidade de abandonar o plástico o que não falta são novos produtos à base de fibras celulósicas. Além de que celulose não é só para papel, até fibras para indústria têxtil já são criadas a partir do eucalipto que ao contrário dos poliésteres, nylons e afins são biodegradáveis. Há várias formas de olhar para o problema. O que queremos? Continuar a usar materiais que provêm do combustíveis fósseis, poluentes não renováveis e que contribuem para o AG? Ou transitar para produtos de base florestal, renovável e que promovam gestão de território?

Quem não dispõem de posses para ter uma floresta de pinhal ou eucaliptos limpa então que corte e deixe de ter, desta forma se resolvia parte do problem
Quem não dispõe de posses para ter pinhal ou eucaliptal gerido que corte... E depois o que acontece? O terreno fica com o quê? Eu respondo, com mato, ou pior com invasoras como acácias... E mesmo que a pessoa em questão queira vender, quem vai comprar? Quem vai comprar 1ha de mato, porexemplo, no meio da serra da Lousã? Ninguém.. Por isso fica ao abandono.

Não sou um defensor da expansão do eucalipto, mas é uma espécie que tem o seu espaço. É importante para a nossa economia e diretamente emprega mais de 4000mil pessoas só na Altri e na Navigator, provavelmente outros tantos de forma indireta e em outras empresas menores. As plantações têm é que ser enquadradas na nossa paisagem compartimentadas e intercaladas com áreas com outras ocupações florestais, agrícolas ou outras. No fundo temos que promover um uso multifuncional dos espaços florestais, criando descontinuidades que dificultem a propagação do fogo. e criem economia e riqueza localmente. No fundo temos que promover, apicultura, resinagem, recolha lenha, corte de madeira de serração, caça, colheita de cogumelos silvestres, pastorícia, agricultura, turismo de natureza, entre outras atividades.
 
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A indústria da pasta do papel deve estar em decadência, com os meios digitais esta indústria tem hoje em dia um mercado muito inferior do que foi noutros tempos não?
Por outro lado, aumentou a escolha do papel/cartão em detrimento do plástico. Também começa a existir uma importante produção de fibras de celulose para vestuário. Estas alternativas têm-se revelado menos ecológicas do que se pensava, ao contabilizar as emissões e uso do solo e água necessários. Por último, não esquecer a produção de energia a partir da biomassa, algo que em termos de emissões também deixa muito a desejar.
 
A indústria da celulose está tudo menos em decadência! Continua em grande crescimento! Com a necessidade de abandonar o plástico o que não falta são novos produtos à base de fibras celulósicas. Além de que celulose não é só para papel, até fibras para indústria têxtil já são criadas a partir do eucalipto que ao contrário dos poliésteres, nylons e afins são biodegradáveis. Há várias formas de olhar para o problema. O que queremos? Continuar a usar materiais que provêm do combustíveis fósseis, poluentes não renováveis e que contribuem para o AG? Ou transitar para produtos de base florestal, renovável e que promovam gestão de território?
Eheh, respondemos quase ao mesmo tempo. Subscrevo.
Acho que o principal problema de Portugal é mesmo a proporção excessiva da plantação de produção industrial relativamente à floresta "ecológica" e de sustento à biodiversidade. A riqueza obtida da exportação da produção industrial é certamente excedida pelos prejuízos humanos e ambientais decorrentes de situações como a presente e da perda de solo utilizável para alimentação, bem que o futuro irá mostrar ser um dos recursos mais preciosos do planeta.
 
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Do que leio aqui a solução é que não há solução. Se calhar é isso mesmo e está à vista de todos. Pouca gente quer ir para o interior e muitas aldeias vão extinguir-se nos próximos anos. Os próximos 10,15, 20 anos vão trazer grandes mudanças a esse respeito. Apesar de casos pontuais o grande investimento está no litoral e assim parece continuar.
Parece que daqui a poucos anos a defesa às populações em muitos locais do país vai deixar de ser problema. Talvez aí diminuam também substancialmente as ignições e em caso de um grande incêndio o combate seja facilitado. Isto é outra perspectiva de ver as coisas ;)
 
Esse post foi dia 13...corresponde na perfeição com a notícia.

Para além de todos os problemas já aqui referidos claramente existe um problema judicial a resolver no país.

Polícia Judiciária investiga onda de incêndios suspeitos no Algarve. Um incendiário já foi detido em Loulé​



Ora, só não vê quem não quer... :rolleyes:
 
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Por outro lado, aumentou a escolha do papel/cartão em detrimento do plástico. Também começa a existir uma importante produção de fibras de celulose para vestuário. Estas alternativas têm-se revelado menos ecológicas do que se pensava, ao contabilizar as emissões e uso do solo e água necessários. Por último, não esquecer a produção de energia a partir da biomassa, algo que em termos de emissões também deixa muito a desejar.

Sim, não são inócuas, têm obviamente os seus impactos que acredito que com o avançar da tecnologia alguns possam ser mitigados. Mas a sociedade tem que avançar na direção contraria ao fóssil. Este é um dos caminhos possíveis esta essa transição.
 
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Do que leio aqui a solução é que não há solução. Se calhar é isso mesmo e está à vista de todos. Pouca gente quer ir para o interior e muitas aldeias vão extinguir-se nos próximos anos. Os próximos 10,15, 20 anos vão trazer grandes mudanças a esse respeito. Apesar de casos pontuais o grande investimento está no litoral e assim parece continuar.
Parece que daqui a poucos anos a defesa às populações em muitos locais do país vai deixar de ser problema. Talvez aí diminuam também substancialmente as ignições e em caso de um grande incêndio o combate seja facilitado. Isto é outra perspectiva de ver as coisas ;)

Sim... Não há solução definitiva para o problema dos fogos, essa é a nossa triste sina. Com o nosso clima que favorece um grande crescimento da vegetação no tempo chuvoso, seguido de um estação seca e quente, irá sempre haver fogos, é inevitável...

Mas... os fogos podemos geri-los. :) Com um plano nacional de fogo controlado que crie descontinuidades aliado a um apoio à atividades econômicas em espaço florestal/rural que elenquei num post acima podemos ter fogos menores e mais controláveis, mas fogos vão existir sempre.

O número de ignições tem vindo a diminuir fruto do abandono das práticas tradicionais do uso do fogo a também (quero acreditar), de a uma maior consciencialização da população através do Portugal Chama e outros programas semelhantes. Mas menos ignições só por si não significa menos área ardida. Se continuarmos a ter ignições que provoquem incêndios de 60mil ha como o que começou no Piodão...
 
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Fogo no Bustelo, Castro Daire.

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Em Portugal tenta se sempre passar a ideia de que os problemas não tem solução ou então tem de vir um génio para os resolver, Portugal é um dos pais mais atrasados na União Europeia tem é de mudar de rumo e deixar o povo de se enganar por políticos e pseudo especialistas que defendem os interesses de quem lhes paga o ordenado

Se calhar ficava mais barato o estado pagar o ordenado de todos os trabalhadores da celulose do que andar a gastar milhões ao ano para meios aéreos e afins para apagar fogos