Seguimento Marítimo 2022 (Ondulação, Temperatura água, Praias, etc.)



Aristocrata

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Além da "subida do nível médio do oceano" por razões adversas convém não esquecer que algumas placas litosféricas também estão em processos de subsidência, como por exemplo, a Indonésia...

Subsidence in Coastal Cities Throughout the World Observed by InSAR
O mesmo acontece com a cidade de Veneza.
Isso é um problema de ocupação de solos não preparados para o peso das infraestruturas. É histórico a construção em zonas sensíveis como o litoral oceânico e zonas ribeirinhas.
Obviamente, se conjugarmos isto com a subida do nível do mar, teremos então uma agravante de muito difícil solução - a presença humana nesta zonas tem crescido exponencialmente nas últimas décadas.


Na dissertação de António Araújo "Influência do mar na morfologia urbana de Espinho", temos este excerto interessante, nas páginas 38 a 40:

II.10 - As invasões do Mar

“A nós, o Mar levou-nos tudo, até à raiz: as igrejas, as casas, os palheiros, as praças, as ruas, as vielas. Todo o nosso Centro Histórico foi tragado pelas ondas” (…) “Não há uma rua, um marco, um pelourinho, que nos guie nos caminhos da antiguidade” Miguel (1999, p.12). Vários autores, através das suas obras literárias, têm relatado as invasões do Mar que ocorreram sobre a povoação de Espinho, dando conta das respetivas consequências. Como descrito em Quintã (1999, p.81), as investidas do Mar sobre Espinho, são quase tão antigas como a povoação primitiva pois, de acordo com apontamentos sintéticos do Padre Lima, os avanços do Mar ao longo dos tempos, tiveram uma evolução impressionante. Em 1866, a distância entre a estação do caminho-de-ferro e a linha da costa era de 450 metros, em 1875, foi reduzida para 350 metros e em 1910, era só de 140 metros. Até 1904, o Mar destruiu tudo o que era antigo. Finalmente, até 1948, foi destruído o que restava até à Rua 2.

Referindo-se às consequências destes ataques sobre a povoação de Espinho, Miguel (1999, p.24), diz que, “O Mar invadiu Espinho a partir da segunda metade do século XIX. Arrasou a povoação. Levou Mar dentro casas e terreno. O ano de 1889 ficou tristemente gravado na memória de Espinho como o ano da “grande invasão”. Ruas inteiras desapareceram para sempre na voragem do Oceano. Os pescadores perderam os seus palheiros e as suas casinhas. A pesca caiu. A população de residência habitual empobreceu. Causou muito mal à Terra e ao Povo. Mas não comeu os seus filhos! O pescador, como todo o português, é sedentário por natureza. Onde nidifica, cria os filhos e deseja morrer.”

A marcar os inúmeros relatos efetuados, acerca da temática das invasões do Mar sobre a localidade de Espinho, salientam-se cenários de verdadeira destruição de um território e todos os seus pertences, associados às respetivas datas de ocorrência, nem sempre consensuais na hora de testemunhar. No entanto, fruto de uma abordagem comparativa, por algumas obras publicadas, podia-se, com certeza absoluta, referir a data das primeiras invasões marítimas, porquanto, num dos escritos deixados pelo já mencionado Padre Lima, pode-se ler que a primeira invasão ocorreu em 1834 e, segundo testemunho do seu pai, “o Mar veio roubar as canastras ao Palheiro Negro"

Segundo refere Miguel, (2001, p.61), ano a ano, o Mar continua a arrasar a povoação. Em cada inverno vai desaparecendo um pedaço de Espinho. A imprensa local e nacional, dá insistentemente, noticia das várias tragédias ocorridas, ao que o governo do Reino responde com serenidade, parecendo tudo ignorar. A revista “Ilustração Portuguesa” de 29/03/1909 (cit. in Miguel, 2001, p.62), escreveu: “A Destruição de Espinho – Se fosse necessário um exemplo impressionante e convincente do desprezo ferozmente egoísta que os homens do governo (…) votam aos interesses das populações, dificilmente poderia encontrar-se outro que melhor se prestasse a comentários indignados da opinião pública. Há anos que o Mar vem destruindo a vila florescente de Espinho, colocada no percurso da mais importante linha férrea do país. Aos clamores angustiosos da população sacrificada, os ministros respondem com promessas cujo cumprimento de ano para ano se protela; e enquanto os técnicos discutem, as ondas vão derrubando as últimas casas, de modo a fazer suspeitar que quando venha a tomar-se uma resolução governativa ela se reduzirá a um pequeno padrão comemorativo onde a posterioridade possa ler: “Aqui existiu Espinho!”

Como é facilmente compreensível, estas sucessivas destruições provocadas pelo Mar, suscitaram inúmeras tentativas de explicar o fenómeno. A construção do porto de Leixões, foi o primeiro motivo apontado, supondo-se ter desviado a corrente litoral norte-sul, com incidência sobre Espinho. Esta versão deixou de ter credibilidade, pois não explicava as invasões anteriores (Gaio, 1999, p.278). Muitas outras explicações se seguiram, provenientes de técnicos da especialidade e das quais faremos referência em capitulo especifico.
Documento disponível aqui (PDF):
Influência do mar na morfologia urbana de Espinho

Para mim há aqui um factor potencialmente importante para o avanço do mar em Espinho (o mesmo pode ter sucedido em outros pontos da costa): No século 18 tivemos aquilo que se chama de "pequena idade do gelo", um período que na Europa foi muito marcado, mas que em todo o mundo também apresentou temperaturas mais baixas do que na idade média. Nestas condições é de esperar que se tenham formado grandes glaciares um pouco por todo o lado.
Com o século 19 as temperaturas voltaram a subir, e seria de esperar o descongelar deste gelo acumulado nos continentes ao longo dos anos. E neste trabalho temos a evidência de um processo de avanço do mar ao longo de décadas e não em poucos anos.
Será esta uma evidência de uma fase de aquecimento global, resultando num avanço do mar\subida do nível médio do mar mais rápido do que o que observamos actualmente? Será que hoje em dia não teremos tanto gelo disponível como seria de esperar por essa altura? E que por isso o nível do mar suba muito mais lentamente do que no século 19?

Seria interessante saber se há mais relatos destes, não só na nossa costa como ao redor do mundo no mesmo período.

É um tema muito interessante para a nossa comunidade :thumbsup:
 

StormRic

Furacão
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Póvoa de S.Iria (alt. 140m)

StormRic

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Póvoa de S.Iria (alt. 140m)
Previsão de altura máxima significativa (média do terço de ondas mais elevadas), na geração de ondulação pela ciclogénese explosiva associada à fusão da ex-Martin com a depressão a sul da Groenlândia, é de 12 metros. Valores do vento médio previsto atingem os 60 nós.

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Desta ondulação, deverá chegar às costas do continente uma ondulação residual até 6 metros, para norte do Cabo Raso, e período longo superior a 17 segundos, a partir da noite de Domingo e madrugada de 2ª feira. Esta previsão agravou-se um pouco desde a última, há dois dias atrás.

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O período de pico >17s significa que cada vaga da ondulação trará uma importante massa de água, ou seja, mesmo sem vento a água avançará bastante nas faixas arenosas da costa, mesmo se a altura da onda não fôr muito grande.
 

Stormlover

Cumulus
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31 Jul 2018
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Ondulação de Segunda-feira que causou alguns problemas em São Martinho do Porto!
Também fui ao canhão mas ainda não editei tudo.
Reparem que não é preciso muito para chegar às casas e estabelecimentos, e também na erosão na zona sul da "concha" a duna está a ser erodida.

 

Aristocrata

Super Célula
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Bela combinação de ondulação, período e maré por estes dias @Stormlover .

No domingo passado desloquei-me de tarde às praias de Matosinhos.
À chegada, pelas 14h, já a ondulação surpreendeu-me, com ondas bem maiores do que esperava, e com período entre 16 e 17 segundos. Lembro que o aviso por ondulação só estava activo a partir das 15h.
Foi pena estar a vazar durante a tarde, mas ainda assim muito interessante.
Deixo aqui vídeos em 2 locais distintos:




 

Stormlover

Cumulus
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31 Jul 2018
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Loures / costa de caparica
O vídeo do canhão da Nazaré nesta mesma Segunda-feira, também já está prontinho. Parece outro mundo aquela zona.
Vistas mesmo do areal mete imenso respeito.
Pena que derivado à grande afluência de pessoas, mais que esperado, algumas vezes tive de tirar o som porque eram 20 línguas diferentes no vídeo xD .


Recomendação: Se forem lá nas próximas ondulações grandes, levem uma cadeirinha daquelas desdobráveis.
 

StormRic

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O vídeo do canhão da Nazaré nesta mesma Segunda-feira, também já está prontinho. Parece outro mundo aquela zona.
Vistas mesmo do areal mete imenso respeito.
Pena que derivado à grande afluência de pessoas, mais que esperado, algumas vezes tive de tirar o som porque eram 20 línguas diferentes no vídeo xD .


Recomendação: Se forem lá nas próximas ondulações grandes, levem uma cadeirinha daquelas desdobráveis.


É absolutamente inebriante contemplar este espectáculo, único no mundo atrevo-me a dizer, pela magnitude conjugada com condições tão favoráveis à sua observação!

Obrigado por mais esta partilha! :palmas:

Também agradecemos ao "Martin"... que nos enviou este evento quase na data do seu homónimo. :malandro:
E eu que ainda não consegui ver isto ao vivo... :o
 

Jorge_scp

Nimbostratus
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É possível prever quando as ondas ficam com estas condições?
Sim, bastante fácil na verdade e com uma antecedência muito razoável. Estas ondulações são normalmente geradas por depressões muito cavadas no Atlântico Norte, entre a Terra Nova e a Islândia, de preferência com o anticiclone sobre a Europa central/sudoeste. A ondulação gerada por esse campo de ventos muito intenso chega tipicamente 2/3 dias depois, com períodos muito elevados (a ondulação tem milhares de quilómetros para se "organizar" e tornar-se mais "limpa"), e o anticiclone sobre a Península Ibérica e o vento fraco associado nesta região permite as condições perfeitas: ondulação grande de NW (acima de 3/4 metros), períodos acima de 15 segundos e vento fraco ou off-shore. Para ondas de 20 metros ou acima na Nazaré, pede uma ondulação um pouco maior (4,5 m ou mais) mas com estas condições. Particularmente na Nazaré, para a refracção do canhão ter o máximo de efeito de amplificação das ondas, o ângulo da direção da ondulação deve ser tipicamente de NW/NNW, entre os 315 e 340º.
 

StormRic

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o ângulo da direção da ondulação deve ser tipicamente de NW/NNW, entre os 315 e 340º
Excelente explicação e curiosamente eu não esperava que esta fosse a direcção óptima para a máxima amplificação, pensei que fosse WNW ou mesmo W, dada a direcção do canhão (WSW-W-Este). Mas talvez seja o facto de que é a corrente de ressaca ter uma componente sul ao longo da praia do norte que explique a maior altura ser atingida com uma ondulação que deve sempre incluir ainda uma componente NNW, para que a ressaca faça a sua reflexão na praia com a tal componente sul.
 

Scan_Ferr

Nimbostratus
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Sim, bastante fácil na verdade e com uma antecedência muito razoável. Estas ondulações são normalmente geradas por depressões muito cavadas no Atlântico Norte, entre a Terra Nova e a Islândia, de preferência com o anticiclone sobre a Europa central/sudoeste. A ondulação gerada por esse campo de ventos muito intenso chega tipicamente 2/3 dias depois, com períodos muito elevados (a ondulação tem milhares de quilómetros para se "organizar" e tornar-se mais "limpa"), e o anticiclone sobre a Península Ibérica e o vento fraco associado nesta região permite as condições perfeitas: ondulação grande de NW (acima de 3/4 metros), períodos acima de 15 segundos e vento fraco ou off-shore. Para ondas de 20 metros ou acima na Nazaré, pede uma ondulação um pouco maior (4,5 m ou mais) mas com estas condições. Particularmente na Nazaré, para a refracção do canhão ter o máximo de efeito de amplificação das ondas, o ângulo da direção da ondulação deve ser tipicamente de NW/NNW, entre os 315 e 340º.
Obrigado! Gostava de lá ir um dia para ver este espectáculo ao vivo. Este fenómeno acontece quantas vezes por época? Duas, três?
 

StormRic

Furacão
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23 Jun 2014
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Póvoa de S.Iria (alt. 140m)
Obrigado! Gostava de lá ir um dia para ver este espectáculo ao vivo. Este fenómeno acontece quantas vezes por época? Duas, três?

Não depende da meteorologia local mas sim da formação e passagem no Atlântico Norte, normalmente entre a Terra Nova e a Islândia, de depressões muito cavadas em que o vento atinge força de furacão, e persistente durante um período de tempo suficiente para a energia transmitida à superfície do oceano formar ondulação superior a 8m, idealmente ainda mais alta. A distância a que essa ondulação se forma, milhares de quilómetros da nossa costa, também é importante pois durante o percurso a ondulação vai-se organizando em ondas maiores e de longo período, resultando daí a chegada de ondas com massa de água muito grande. Ao mesmo tempo que estas situações de geração de ondas no Atlântico distante acontecem, é normal no território do continente ocorrerem condições anticiclonicas com tempo relativamente calmo, o que permite às ondas que chegam à costa não serem desfeitas pelo vento e originando também boas condições de observação.
A frequência daquelas depressões atlânticas não obedece a um padrão constante interanual, mas ocorrem sempre pelo menos algumas vezes por ano, normalmente de Outubro a Abril.
 

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Nimbostratus
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Sim, bastante fácil na verdade e com uma antecedência muito razoável. Estas ondulações são normalmente geradas por depressões muito cavadas no Atlântico Norte, entre a Terra Nova e a Islândia, de preferência com o anticiclone sobre a Europa central/sudoeste. A ondulação gerada por esse campo de ventos muito intenso chega tipicamente 2/3 dias depois, com períodos muito elevados (a ondulação tem milhares de quilómetros para se "organizar" e tornar-se mais "limpa"), e o anticiclone sobre a Península Ibérica e o vento fraco associado nesta região permite as condições perfeitas: ondulação grande de NW (acima de 3/4 metros), períodos acima de 15 segundos e vento fraco ou off-shore. Para ondas de 20 metros ou acima na Nazaré, pede uma ondulação um pouco maior (4,5 m ou mais) mas com estas condições. Particularmente na Nazaré, para a refracção do canhão ter o máximo de efeito de amplificação das ondas, o ângulo da direção da ondulação deve ser tipicamente de NW/NNW, entre os 315 e 340º.
Por exemplo, esta depressão desta semana vai originar ondas desta grandeza?
 

Jorge_scp

Nimbostratus
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Por exemplo, esta depressão desta semana vai originar ondas desta grandeza?
Na verdade serão várias depressões. E vão gerar ondas grandes durante praticamente toda a semana, mas um pouco longe das mais altas ou fotogénicas que o canhão da Nazaré pode gerar. Em primeiro lugar, o swell gerado não vai ser extraordinariamente alto (andará entre os 3 a 4 metros, pontualmente um pouco mais). As depressões não são das mais cavadas que o norte Atlântico é capaz de produzir e consequentemente os ventos gerados, sendo fortes, não são excepcionalmente fortes, o que aliado ao rápido deslocamento das depressões, não permitindo que esses ventos atuem muito tempo e transfiram muita energia para a superfície do oceano, justifica a "modesta" altura do swell. Depois, as próprias condições locais estão longe das ideais. Com o fluxo de oeste perturbado, e o anticiclone fora da nossa região, o vento vai estar sempre "onshore", ou seja, do mar para terra, tornando o mar mais irregular, imperfeito, e não permitindo que as ondas alcancem o máximo de altura possível.

Resumindo, ondas grandes sim, mas longe daqueles dias épicos e com condições perfeitas para observar o fenómeno. Talvez num período ou outro esta semana em que o vento seja mais fraco se tenha um "cheirinho" e possam melhorar as condições temporariamente, mas normalmente com um tempo mais tempestuoso, mesmo com o mar agitado e grande, não é o melhor para ver as ondas da Nazaré.

O que se procura são dias de swell acima de 4 metros, e dias com vento fraco ou do quadrante leste. Acontece com depressões no Atlântico Norte que cavam por vezes mais do que 950/960 hPa, ventos com força de furacão, mas cuja influência na meteorologia não se sente por cá, condição que não se verifica esta semana.