Seguimento Meteorológico Livre 2019

ecobcg

Super Célula
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10 Abr 2008
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Sitio das Fontes e Carvoeiro (Lagoa - Algarve)
Boa noite a todos,

Já acompanho este fórum há algum tempo, entenda-se alguns anos, mas até à data nunca cheguei a colocar nenhum comentário. Quer seja por comodismo, quer seja por falta de disponibilidade. Sempre utilizei este espaço como consumidor. A minha consulta aumenta durante o período onde em média a precipitação tem mais probabilidade de ocorrer, entenda-se Outono e Inverno.

Bem-haja a todos pelos seus contributos. Aqui aprende-se. Mas desculpem a minha sinceridade e perdoem-me a frontalidade, aqui também se desespera com algumas considerações que de racionais e de teor científico não têm nada.

Vivendo no Sul de Portugal, fácil de perceber pelo meu perfil, a quantidade de precipitação durante o ano é uma preocupação e que acompanho sempre com alguma apreensão. Dito isto e face aos recentes desenvolvimentos que aqui no fórum têm ocorrido tomei a iniciativa e a liberdade de fazer algumas considerações.

Em primeiro lugar gostaria de referir que como tudo na vida, o bom senso, a educação e o respeito pelas opiniões antagónicas têm que prevalecer num tom de cordialidade e respeito. Na ciência os pontos de vista diferentes são bem vindos. Mas esses pontos de vista têm que ser suportados e validados com dados. Não basta ter opinião. O nosso discurso tem que ser fundamentado e construído com base em teorias comprovadas e devidamente consolidadas.

Na ciência o cpeticismo deve imperar e devemos nos questionar sobre tudo. A climatologia e/ou a meteorologia não deverá ser diferente. Só assim a Humanidade evolui e progride para o bem de todos.

O senso comum e as conclusões rápidas nunca foram as melhores respostas para as questões cientificas com que o Homem se depara.

Agora o que noto nos últimos dias aqui neste fórum é que muitos dos princípios que acima refiro são constantemente violados. Desde quase a ofensa entre os membros desta comunidade, até à infantilidade de desejar que aconteça em Portugal fenómenos que só outras latitudes estão habituadas, passando pela “choradeira” da monotonia do “nosso tempo” leva-me a crer que a nossa realidade climática não é conhecida nem entendida.

Agora abordando especificamente o tema que ultimamente tem sido aqui discutido, “A Besta”, “O Antílope”, o ”AA” ou o demónio (aqui o termo é meu, para manter a mesma linha de linguagem) é preciso saber onde vivemos. Portugal Continental localiza-se numa área de influência de predominância de um anticiclone e este quer gostemos ou não irá reinar sempre em pleno, pelo menos na dinâmica da atmosfera hoje conhecida. As secas sucedem-se aos períodos de mais precipitação e estes às secas. Não é uma realidade nova. Deixo alguns dados para reflexão:

  • “As situações de seca são frequentes em Portugal Continental, com consequências gravosas particularmente na agricultura e na pecuária, nos recursos hídricos e no bem-estar das populações, sendo de destacar, nos últimos 65 anos, sete episódios de seca com maior severidade: 1943/46, 1965, 1976, 1980/81, 1991/92, 1994/95 e 1998/99 e 2004/06 . As regiões a Sul do Tejo são as mais vulneráveis, e as que têm sido mais afectadas. Das secas referidas, as mais graves foram: Seca 1943-46 – a mais longa ocorrida nos últimos 65 anos, 1990-92 a 2ª mais longa, 2004-06 e 1980-81 foram as 3ª mais longas. Seca de 2004-06 – a de maior extensão territorial (100% do terriório afectado) e a mais intensa (tendo em conta os meses consecutivos em seca severa e extrema).” Fonte: IPMA.

  • “Verifica-se uma forte irregularidade inter-anual dos índices da precipitação. A maior seca ocorreu em 1693/94; há numerosas notícias de gravíssima seca no Outono, no Inverno e na Primavera desse ano. Manuel de Almeida refere que não choveu entre Dezembro de 1693 e o dia de S. João (24 de Junho de 1694)…” Fonte: Alcoforado, Maria João. Variações climáticas do passado: chave para o entendimento do presente? Exemplo referente a Portugal (1675-1715)

  • As condições térmicas e pluviométricas observadas em Portugal provam que, no SW da Europa as situações sinópticas terão sido LMM (Late Maunder Minimum) semelhantes às actuais, apenas com uma maior frequência de ocorrência de situações anticiclónicas no Inverno e Primavera…” Fonte: Alcoforado, Maria João. Variações climáticas do passado: chave para o entendimento do presente? Exemplo referente a Portugal (1675-1715).


    Bom… O discurso já vai demasiado longo. Tenham calma… Estamos neste rectângulo há muitos séculos e já vivemos períodos de seca e chuva extremos. Aqui só há uma nova realidade… O uso sustentável dos nossos recursos é completamente distinto do que era antes e fazemos muitos erros no uso da natureza. Campos de golfe, culturas de regadio, relva verde, culturas intensivas de pecuária com consumo excessivo de água, perdas nas redes de distribuição de água, entre outros, não são práticas que se adequam ao nosso clima, nem ao nosso planeta. Mas isto dava muito mais conversa… Por isso tenham calma e discutam cordialmente com base em argumentos científicos e não empiricos. Termino pedindo compreensão e desculpa se ofendi alguém. Não era essa a minha intenção.

Caro "conterrâneo"! :)
Saúdo o ingresso no fórum e logo com uma participação séria e factual
Assim é que se discute este e outros assuntos. Obrigado pelo belo texto!
 


Orion

Furacão
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5 Jul 2011
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Açores
O relatório da TT Joyce (que passou a sul dos Açores) já foi publicado. Apesar de não ser um ciclone relevante para a maioria das pessoas, é outro caso em que modelos menos 'famosos' (ex: canadiano) tiveram um melhor desempenho que os 'craques' (GFS/IFS). A previsão dos ciclones tropicais tem destas coisas.

g8aTUMu.png


Eu também me ri quando o COAMPS mostrava o Ophelia a passar pelos Açores com cat. 3. Não se voltará a repetir :D
 
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Registo
14 Fev 2019
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Bem vindo, e que intervenções destas sejam vistas por aqui mais vezes! É este o mote que este fórum precisa, obrigado pela sua "pequena" mas grande participação;) Bons eventos :thumbsup:
Obrigado
Bem vindo, e que intervenções destas sejam vistas por aqui mais vezes! É este o mote que este fórum precisa, obrigado pela sua "pequena" mas grande participação;) Bons eventos :thumbsup:

Obrigado meu caro pela boas vindas e pelo incentivo. Bons eventos.
 
Registo
14 Fev 2019
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Lagos
Caro "conterrâneo"! :)
Saúdo o ingresso no fórum e logo com uma participação séria e factual
Assim é que se discute este e outros assuntos. Obrigado pelo belo texto!
Obrigado. Permita-me felicitar-te pelo óptimo trabalho desenvolvido pela V/ estação do Sítio das Fontes. Acompanho frequentemente quer seja directamente a partir do sítio da internet, quer no Facebook. Parabéns.
 

Mr. Neves

Cumulonimbus
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22 Jan 2013
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Tondela-290m
Falar de variabilidade meteorológica e alterações climáticas é um assunto complicado e por vezes ingrato, efetivamente no passado já ocorreram imensos períodos de seca e com temperaturas elevadas para a época. Não é a primeira vez que se registam 20 e poucos graus em Dezembro, Janeiro ou Fevereiro na região centro ou norte, a questão é: estarão a aumentar o nº de invernos em que a temperatura permanece anormalmente alta e a estabilidade domina? Estarão a aumentar o nº de dias de temperaturas acima do normal em cada inverno? Bom, como é evidente não disponho de dados muito precisos, mas analisando de grosso modo os cerca de três meses de Inverno meteorológico desde 2001 até agora (a partir dos mapas mensais do IPMA) no que toca a temperatura média, nota-se que existe uma tendência para existirem mais meses em que a temperatura média ficou acima do normal, do que propriamente abaixo do normal, ou dentro do normal. Quererá isto dizer alguma coisa? Não estou a considerar um período de 30 anos, como é evidente, mas é neste período que as concentrações de carbono se tornaram expressivamente mais avolumadas. É um pouco prematuro saber neste momento que alterações concretas isto nos trará, mas parece-me igualmente negligente afirmar-se que em nada estamos a sofrer com o aquecimento global.

Entretanto já que a pasmaceira não arreda pé do continente, há que pôr os olhos nas ilhas, e aquilo que o GFS modela é qualquer coisa por demais interessante para as Flores e parte do grupo central. No entanto a dispersão de painéis continua a ser algo elevada em termos da variação de temperatura aos 850hPa e 500hPa, estando as médias no ensemble bastante mais suaves que GFS e GFS-FV3. Já em comparação com o ECMWF, este está apenas um pouco mais desfavorável aos 850hPa. Claro que, e ainda por cima tratando-se de ilhas, o efeito da humidade relativa em altitude é inevitável, pelo que as cotas muito naturalmente ficarão sempre algumas centenas acima do previsto. Todavia a existência de precipitação abundante sob regime de aguaceiros originada pelo forçamento vertical provocado quer pelo forte gradiente barométrico, quer pelo forte calor latente produzido, uma vez que a temperatura do mar será muito mais elevada que a temperatura em altitude (carta 1), juntamente com algum CAPE, e ainda pela forte colisão de massas de ar a temperaturas bem distintas (carta 2), irá gerar certamente precipitação convectiva que pode ajudar a que de algum modo surjam surpresas.

Há algo ainda interessante nas últimas saídas do GFS (entenda-se operacional e paralela), é que durante os períodos de ar mais frio em altitude colocam ar mais seco à superfície (carta 3), isto ajudaria certamente a baixar o ponto de orvalho, o que seria também uma ajuda para a queda de neve. Isto tudo a juntar a uma atmosfera mais compacta com baixo geopotencial e freezing levels igualmente baixos (carta 4)

Aguardemos pelas próximas saídas e pela calibração dos painéis, veremos qual dos cenários atualmente vistos ficará mais próximo das previsões finais. No entanto é muito provável que haja uma suavização destes parâmetros todos...

Ensemble GEFS:
graphe_ens3_ydm1.gif


Carta 1:
FalCNCx.png


Carta 2:
gfs-6-6_zgw4.png


Carta 3:
qcTCXT9.png


Carta 4:
KarSG66.png


Só para a posteridade :lol::
RBJxuHJ.png
 
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Aurélio Carvalho

Nimbostratus
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5 Out 2018
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Faro
Bom dia de acordo com os modelos amanhã e segunda serão dias de chuva sendo que me parece que poderá chover do que os modelos indicam. Assim sendo na região sul espero cerca de 15 mm acumulados no evento que fará com que o mês chegue a cerca de 30 mm totalizando cerca de 50% do valor normal.
Chuva boa para os terrenos ..
 

Orion

Furacão
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5 Jul 2011
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Açores
Queria que a 'canadiana' (engraçado tendo em conta a discussão recente) chegasse até mim mas não vai dar. Dias muito frios para o G. Ocidental.

G5reado.png


A próxima ciclogénese explosiva vai passar a noroeste do arquipélago. Esperar para ver se surge alguma mais perto das ilhas.

Para os interessados (vai certamente dar origem a imagens de satélite muito interessantes), é provável que haja uma massiva tempestade de areia na Argélia daqui a 4 dias. Há consenso nos modelos relativamente à formação da cut-off (subjacente à formação ao haboob), que deverá passar sobre ou ao largo de Portugal daqui a 48 horas, mais coisa menos coisa.

8P8qMJO.png


i0KcYwu.png
 
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lserpa

Cumulonimbus
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29 Dez 2013
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Horta, Matriz, (90m)
A saída desta manhã do ecm e do GFS estão potentes! Portanto, a parte do nevar é engraçado é tal, mas o vento sustentado de 110km/h e as rajadas de 150km/h dispensava-se.


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Snifa

Furacão
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16 Abr 2008
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Porto-Marquês:145 m Mogadouro:749 m
Bem, avizinha-se uma situação incrível para o grupo oriental dos Açores :shocking: Com os valores de frio em altitude seria bem possível neve quase a cota 0 :cold:

Sim, não é muito comum isos tão baixas nos Açores, um verdadeiro "cold blast" vindo da zona do Canadá, não digo cota 0 porque em ilhas no meio do Atlântico é bastante complicado tal suceder, mas talvez neve aos 400/500 m num aguaceiro mais forte e no grupo Ocidental:


anim_vxd9.gif


Outra possível situação é a passagem de uma depressão muito cavada em especial pelo grupos Ocidental e Central:

anim_ntc8.gif
 

Ricardo Carvalho

Cumulonimbus
Registo
23 Jul 2015
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Azeitão/Sesimbra
Bom dia de acordo com os modelos amanhã e segunda serão dias de chuva sendo que me parece que poderá chover do que os modelos indicam. Assim sendo na região sul espero cerca de 15 mm acumulados no evento que fará com que o mês chegue a cerca de 30 mm totalizando cerca de 50% do valor normal.
Chuva boa para os terrenos ..
Verdade, analisando os modelos à para todos os gostos! Para a minha zona o
ICON está especialmente simpático, vamos ver!

705bf3f00bb4da5ab39ab241b6f7ecef.jpg


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trovoadas

Cumulonimbus
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3 Out 2009
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loule-caldeirao
Se esta semana ainda foi na dúvida se era Primavera para a semana parece que vai
efectivamente chegar!
Era bom que esta entrada rendesse uns 20mm no geral ou melhor ainda que os modelos pequem por defeito visto a situação modelada ser algo complexa devido à formação de cut-off. Depois é esperar e aguardar por melhores dias. Espero também que hajam falhas naquela subida da dorsal Africana que bem podia ir mais para Leste.