Re: Sismologia - Seguimento 2007
Sismo de grau 8
Tragédia no Peru
"Pensámos que estávamos a ser bombardeados”, afirmou um habitante de Pisco ainda assustado pelo sismo de quarta-feira, que causou centenas de mortos. “O que tornava tudo mais terrível era o rugido do tremor de terra, associado a um fulgor surreal no céu”, recordou, por seu lado, Bronwyn Davis, de Lima, que diz ter sentido o chão a tremer debaixo dos pés, enquanto em volta as árvores e os postes de electricidade eram sacudidos com grande violência.
As autoridades afirmam que o sismo, de 8,0 pontos de magnitude na escala aberta de Richter (um dos mais fortes em todo o Mundo desde 1990), fez pelo menos 500 mortos e cerca de dois mil feridos. Além da intensidade, o poder destruidor do abalo foi potenciado pela sua duração. Testemunhas dizem que a terra não parou de tremer durante mais de dois minutos. “Estamos habituados a sismos ocasionais. Mas não é costume sentir um tremor quando estamos na rua”, sublinhou Bronwyn. Jessica, outra habitante de Lima, não esquece a sensação de medo causada pelo prolongamento do abalo e pelas réplicas, algumas com uma intensidade de 6,3. “Parecia que ia parar mas continuava. Tudo tremia: o chão debaixo dos pés, os carros, as paredes, e havia luzes estranhas a iluminar o céu.”
Os primeiros dados indicam que o maior número de mortos, cerca de duas centenas, se verificou em Pisco. Quase 80% da cidade ficaram em ruínas, nomeadamente uma igreja onde estavam reunidas dezenas de fiéis. “Já encontrámos sobreviventes e continuamos os trabalhos”, afirmou Juan Mendoza, presidente da Câmara da cidade. Em Ica, um incidente semelhante deixou soterradas mais de uma centena de pessoas que assistiam à missa da tarde.
PRESOS FOGEM
As outras localidades mais atingidas pelo sismo são Cañete e Chincha. Nesta última, a derrocada das paredes de uma prisão permitiu a fuga de 600 detidos. Mas o que preocupa mais as autoridades é a escassez de sangue nos hospitais, superlotados de feridos, onde falta também a água e a luz.
Em muitos locais, na vizinhança de cadáveres deixados a céu aberto (as morgues estão superlotadas), centenas de desalojados dormiram ao relento, aquecidos por fogueiras. “A parede caiu e esmagou-a. Não sei para onde hei-de levá-la.” Jose Flores, de 12 anos, é a imagem do desalento. Junto ao corpo da mãe, caído no passeio, ficou à espera de auxílio.
PORTUGAL REGISTOU ABALO
A elevada magnitude do sismo no Peru foi registada na rede sismológica nacional, do Instituto de Meteorologia. “A detecção em Portugal resulta da vibração no solo, cuja propagação de ondas sísmicas é captada pelas estações, mesmo que se observem valores baixos, disse Fernando Carrilho, director do departamento sismológico.
O mesmo responsável indicou que “este sismo provocou elevada destruição devido à sua elevada magnitude, por se localizar a apenas cerca de 150 quilómetros a sul de Lima, junto à costa do Peru, e por a profundidade focal ser de apenas 33 quilómetros”.
Fernando Carrilho indicou que “o abalo ocorreu numa zona de forte actividade sísmica, pela interacção entre as placas tectónicas Nazca e da América do Sul, que se faz através de um movimento de convergência a uma taxa de aproximadamente 8 cm/ano”. Em 1868, recordou, foi registado um de magnitude 9.
PORTUGUESES ESCAPAM ILESOS
As autoridades portuguesas desconhecem a existência de cidadãos nacionais entre as vítimas do sismo que na noite de quarta- -feira abalou o Peru. Fonte da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas afirmou à agência Lusa que os serviços consulares em Lima continuam “a acompanhar a situação”.
Na capital do Peru, onde não há registo de grande número de vítimas, vive uma comunidade de 180 portugueses. Lima e a faixa costeira
peruana foram as mais atingidas pelo abalo de terra.
À MARGEM
ILHAS SALOMÃO
Um sismo com 6,7 graus de magnitude atingiu ontem as Ilhas Salomão, a noroeste da Austrália. O epicentro do abalo foi a dois km de profundidade, numa área 75 km a sudoeste de Honiara, capital do país.
JAPÃO
A terra tremeu também na ilha de Honshu, Japão, onde o abalo atingiu a intensidade de 5,4 a 6,4 graus. Não há registo de danos de monta nem vítimas.
CAVACO SILVA
O Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, enviou ao seu homólogo peruano, Alan García, uma carta de condolências pelas vítimas do sismo no Peru.
APELO DE BENTO XVI
O Papa Bento XVI rezou ontem pelas vítimas do sismo peruano e apelou ao envio imediato de ajuda internacional, num “espírito de caridade e solidariedade cristã”.
OUTROS SISMOS
IRÃO - 21/06/90
Mais de 60 mil pessoas morreram num sismo, com magnitude 7,5 na escala de Richter, no Noroeste do país. Terá sido a maior catástrofe natural ocorrida durante o século anterior no Irão.
ÍNDIA - 30/09/93
Morreram 7601 pessoas e 15 846 ficaram feridas no estado de Maharastra na sequência de um terramoto com 6,4 graus na escala de Richter.
JAPÃO - 17/01/95
Em Kobe morreram pelo menos 6400 pessoas na sequência de um violento abalo telúrico de magnitude 7,2 graus na escala de Richter.
AFEGANISTÃO - 4/02/98
Na província de Rustaq morreram pelo menos 4400 pessoas devido a um terramoto de magnitu-de 6,1.
AFEGANISTÃO - 30/05/98
Na província de Tajar, mais de 5000 pessoas perderam a vida num sismo de magnitude 7,1.
TURQUIA - 17/08/99
No Noroeste do país morreram mais de 17 mil pessoas e outras 30 mil ficaram feridas, na sequência de um terramoto de magnitude 7,4.
ÍNDIA - 26/01/01
No estado de Gujarat morreram pelo menos 15500 pessoas devido a um terramoto de magnitude 6,9 na escala de Richter.
IRÃO - 26/12/03
Na tristemente famosa tragédia de Bam perderam a vida 26 271 pessoas na sequência de um sismo de magnitude 6,3.
INDONÉSIA - 26/12/04
Um violentíssimo terramoto de intensidade 8,9 na ilha de Samatra matou mais de 280 mil pessoas, em 12 países da Ásia e África.
PAQUISTÃO - 8/10/05
Na Caxemira, região fronteiriça entre o Paquistão e a Índia, morreram aproximadamente 86 mil pessoas e ficaram feridas outras 40 mil, na sequência de um abalo telúrico de intensidade 7,6.
INDONÉSIA - 27/05/06
Na ilha de Java, um terramoto com 6,2 graus na escala de Richter provocou a morte a pelo menos 6234 pessoas. O tremor de terra causou ainda ferimentos a cerca de duas dezenas de milhar de pessoas. Além disso, um total de 340 mil pessoas ficaram sem casa.
INDONÉSIA - 17/07/06
Na ilha de Java, um violento tremor de terra com 7,7 graus na escala de Richter, seguido de maremoto, provocou a morte a 596 pessoas.
F. J. Gonçalves com agências
Edição de Hoje in Correio da manhã