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Fez ontem, dia 15 de fevereiro, 80 anos que ocorreu o famoso ciclone de 1941.

https://www.mediotejo.net/o-ciclone...das-as-tempestades-por-antonio-matias-coelho/

Evolução sinóptica desse dia e que deu origem ao temporal, um cavamento explosivo à nossa latitude, cerca de -35 hpa em 24 horas, mais ou menos.

Penso que foi registada a maior rajada de vento até à época na Serra do Pilar - Porto, se calhar as rajadas até seriam superiores ao registado e indicado pelo IPMA, caso o anemómetro não tivesse avariado com o temporal:

Maior valor da rajada >167 km/h * Porto/S. Pilar 15/02/1941

(*) maior valor registado pelo anemómetro que avariou (ciclone de 1941)

https://www.ipma.pt/pt/oclima/extremos.clima/index.jsp?page=extreme_co.xml


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Um artigo interessante e quando faltam poucos dias para os 82 anos do ciclone de 1941 a 15/02:

A evolução sinóptica da altura, cioclogénese explosiva:

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REPORTAGEM

Ciclone de 1941: o “demónio” de vento que varreu Portugal​


12 de Fevereiro de 2023, 6:27


A única memória que Rosária tem do pai é do dia do ciclone. Lembra-se dos gritos das mulheres em seu redor, de mexerem nos bolsos do corpo já sem vida e de lá tirarem um punhado de laranjas. Joaquim do Simplício apanhara-as ao longo do caminho de cinco horas que percorreu a pé na fúria do vendaval. Ao chegar ao alto da aldeia da Gralheira de Montemuro, acabou arremessado pelo vento, quando já estava exausto da travessia. A poucos passos de casa, o seu corpo ficou coberto de neve.


Ali ficou com as laranjas que tinha trazido, conta-nos Rosária, que na altura tinha três anos. “Ele trazia laranjas para nos dar a nós”, diz a filha mais nova, referindo-se a si e ao irmão Porfírio. “Nunca as comemos.” As mãos, calejadas da idade e da vida de trabalho, acariciam a bengala que traz consigo. “É isso que me lembro do meu pai, não me lembra mais nadinha.”


Naquele dia, o “tempo já estava voltado”. Sentada num banco de granito numa tarde de Fevereiro, ao sol, Rosária veste preto da cabeça aos pés e vai-se aconchegando para não sentir tanto o frio. Está acompanhada por pessoas da aldeia e por um gato que ali foi abandonado, que se enrosca nas pernas e não sai da sua beira. Com o olhar pousado na serra, recorda o dia em que o vento lhe roubou o pai. Joaquim do Simplício tinha ido a pé com um grupo de homens para um julgamento em Cinfães, por serem testemunhas no negócio de uma vaca. Depois, “o tempo virou para pior.”

Há 82 anos, a fúria do vento espalhou destruição e mortes pelo país. Na Gralheira, em Viseu, morreram duas pessoas.

Mas a mãe de Rosária, Maria do Céu, estava tranquila: esperava que o marido chegasse no dia seguinte, já a tempestade teria amainado. Só que o julgamento foi adiado e os homens quiseram voltar à terra, apesar de o caminho pedregoso estar coberto de neve e de gelo. O cenário que encontraram foi mais perigoso do que pensaram. Não o sabiam, mas estavam perante uma das tempestades mais fortes que atingiram Portugal.

Era já noite quando Maria do Céu foi apanhada desprevenida pela notícia de que o corpo do marido tinha sido encontrado às portas da aldeia. Assim que o soube, desmaiou. Além da recordação das laranjas, o que Rosária sabe do seu pai era o que a mãe lhe ia contando, “lá de longe a longe”. Os outros evitavam tocar no assunto. “A gente nunca falava assim nisso. A minha mãe também não falava porque a gente começava logo a chorar”, recorda a filha, com a voz embargada. “Não tive infância nenhuma. Fomos criados sem pai, foi muito duro.”


Os 82 anos que passaram não impedem que as lágrimas se desprendam dos olhos de Rosária — é assim que todos lhe chamam, apesar de ter descoberto quando entrou para a escola que o seu nome no registo era Maria do Céu, como o da mãe. “Foi uma vida muito triste...”


Foi a 15 de Fevereiro de 1941 que o violento temporal atirou o pai de Rosária para a morte. Nesse dia, morreram duas pessoas na Gralheira: Joaquim do Simplício e Melchior da Costa. Pelo país, foram dezenas — se não mesmo centenas — as pessoas que morreram por causa do trágico ciclone que varreu Portugal.


“Nunca houve tamanha destruição” no país como um todo como nessa tempestade de 1941, garante o meteorologista Paulo Pinto, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Olhando para os dados do vento, do território afectado e para os relatos de quem o viveu, o meteorologista admite que é raro uma tempestade atingir todo o país de forma tão intensa.

Não se sabe ao certo quantas pessoas morreram, mas os jornais da época falam em mais de uma centena de mortes e centenas de feridos. Para além de um elevado número de vítimas, houve estragos também difíceis de contabilizar e que, além de terem abalado a economia nacional, interromperam as comunicações durante dias. “Foi uma situação catastrófica para o país”, resume a geógrafa Adélia Nunes, autora de um dos poucos estudos sobre o tema. Portugal foi o país mais afectado, mas a destruição também chegou a Espanha.

A tempestade moveu-se de sudoeste para nordeste, de Sagres até Bragança, atravessando todo o território continental. No Algarve, registaram-se rajadas de 140 a 150 quilómetros por hora, assim como nas Berlengas. Na serra do Pilar, no Porto, um anemómetro registou ventos de 169 quilómetros por hora antes de avariar, levando a crer que a velocidade tenha excedido aquele número. Deverão ter ocorrido rajadas superiores a 170 quilómetros à hora em grande parte do país, acredita Paulo Pinto.

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