Ciclone de 15 Fevereiro 1941 em Portugal

Vince

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Ondas de 50 metros de altura???

E já agora porque não 200 ou 300 metros de altitude, caramba que esta gente exagera sempre imenso .... no que toca a contar factos !!


Percebe-se pelo texto que é a altura que a água atingia na rebentação Aurélio.
Por exemplo, a 15 de Fevereiro de 1986 (curiosamente no 45º aniversário desta de 1941) num temporal nos Açores as ondas entre 15 a 20 metros chegavam aos 60 metros na rebentação

neptunod.jpg

(c) http://www.petercafesport.com/
 


Costa

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Neste vídeo a arrebentação das ondas chega à estrada e ultrapassa em vários metros a altura da própria falésia.

E as falésias em Sagres devem ter +/-80 metros




Só para ter uma base de comparação, nesta foto é possível ver o tamanho de uma pessoa comparado com a altura da falésia.

53482024.jpg
 
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Chingula

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16 Abr 2009
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Sobre o "Ciclone de 15 de Fevereiro de 1941" achei muito interessante uma "página" da Camara Municipal de Lisboa, onde se podem consultar os exemplares do jornal "O Século" dos dias seguintes ao evento (16,17,18,19,20 e 21 de Fevereiro), assim como o "Século Ilustrado" da semana.

Em: http://www.cm-lisboa.pt/?idc=472&idi=52482

Pelos relatos...cada vez mais me convenço que os parâmetros meteorológicos que se tornaram mais gravosos (numa perspectiva de Protecção Civil) foram, em todo o território, o vento com rajadas superiores a 100 km/h, a descida, para valores demasiado baixos, do campo da pressão atmosférica que provocou uma subida muito rara do nível das águas - "maré de tempestade" ou "storm surge" (mouchões do Tejo cobertos de água) e o temporal nas orlas costeiras...






http://www.cm-lisboa.pt/archive/doc/SeculoIlustrado1941.pdf



http://www.cm-lisboa.pt/archive/doc/O_Seculo_16.pdf



http://www.cm-lisboa.pt/archive/doc/O_Seculo_17.pdf



http://www.cm-lisboa.pt/archive/doc/O_Seculo_18.pdf




http://www.cm-lisboa.pt/archive/doc/O_Seculo_19.pdf




http://www.cm-lisboa.pt/archive/doc/O_Seculo_20.pdf




http://www.cm-lisboa.pt/archive/doc/O_Seculo_21.pdf
 

algarvio1980

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O ciclone de há 70 anos: «na aldeia da ilha Ançã nem destroços restam»

O «barlavento» termina aqui, com esta terceira parte, a evocação dos estragos causados no Algarve pelo ciclone que atingiu o país há 70 anos, no dia 15 de Fevereiro de 1941.

Como seria de prever, o ciclone atingiu fortemente as ilhas barreira da Ria Formosa: «Na ilha da Culatra desapareceram muitas barracas de pescadores, que se dirigiram ao departamento [Marítimo do Sul] a pedir providências. Os marítimos das ilhas perderam os seus barcos e os apoios de pesca. Os ilhéus foram vacinados, devido a terem aparecido doentes atacados de varíola. A barca do porto comum foi parcialmente destruída».

«Há, porém, um facto que sobreleva todos os outros: A destruição da aldeia da ilha Ançã [Ancão – Praia de Faro], da qual nem destroços restam. Ondas gigantescas, de altura inconcebível, invadiram de súbito a pequena língua de terra. Nada podia resistir-lhes. Casas, redes, pequenas embarcações, o arraial da armação da pesca de atum «Cabo de Santa Maria» - tudo foi reduzido a migalhas num abrir e fechar de olhos. E logo outras vagas arrastaram os restos daquilo, que momentos antes, fora uma povoação de gente humilde e laboriosa, agora lançada na mais negra e desoladora das misérias».

Ao todo, mais de cem pessoas, entre homens, mulheres e crianças, foram atingidos pela catástrofe, na hoje designada Praia de Faro.

«Próximo da ilha Ançã e junto do ilhote de Coleiros, a fúria do mar teve um efeito surpreendente: apareceu uma nova barra».

Na Fuzeta, «parte da povoação foi invadida pelo mar. Ficaram inundadas centenas de habitações». «Os prejuízos nas embarcações são elevados. A ria está assoreada, pelo que é impossível o tráfego».

Os pescadores perderam ainda todas as teias de alcatruzes utilizadas na pesca do polvo. Na mesma localidade, tal como em Moncarapacho e Pechão «há milhares de oliveiras derrubadas».

Por sua vez, em Vila Real de Santo António, «os campos sofreram uma razia, não ficando, em muitos pontos, uma árvore de pé. No rio afundaram-se numerosas embarcações, outras ficaram destruídas e ainda outras desapareceram. As canoas dos irmãos Jacinto e José Barão e do Sr. José Marques foram tragadas pelas águas, assim como os respectivos carregamentos de café e açúcar. Um «gasolina» da Empresa de Transportes do Guadiana ficou despedaçado. No local conhecido por Lasareto, as casas velhas ruíram. Abateram telhados e paredes nas fábricas de Sanches e Barroso, Raul Folques, Sales, Ramirez, Aliança e Paródi. (…) Na vila, o tanoeiro António Segura Rodrigues foi projectado de encontro a uma parede sofrendo fractura nos maxilares. (…) Na avenida da Republica o vento levou as guaritas da Guarda-Fiscal».

«Na secretaria da Câmara Municipal, todas as janelas ficaram estilhaçadas. Correram perigo os funcionários e algumas pessoas que ali se encontravam, chegando a esboçar-se o pânico. Embora sem gravidade, há pessoas feridas com os estilhaços dos vidros».

«Por todo o lado há candeeiros de iluminação destruídos, postes telegráficos e telefones derrubados – o que tem impedido as comunicações com o resto da província e nomeadamente a capital – casas destelhadas, empenas caídas e árvores arrancadas. A caminho de Castro Marim o aspecto é ainda mais desolador. Toda a margem de terrenos cultivados alagaram-se, estando completamente inutilizadas as sementeiras de cevada, trigo e fava. A água subindo em verdadeiras cortinas, avança na parte baixa da vizinha cidade espanhola de Ayamonte, inundando-a completamente. Devem ser importantes os estragos ali ocorridos. Na povoação espanhola de Canelas caiu parte do campanário duma igreja».

Na velhíssima cidade de Tavira, «contam-se às dezenas os prédios que sofreram prejuízos. Na fábrica de moagem de J. A. Pacheco, o vento levou grande parte da cobertura, o mesmo sucedendo no armazém contíguo à moagem da firma Araújo Ribeiro & Dias. Na fábrica de conservas Balsense e na casa do salva vidas também abateram os telhados».

Também em Tavira, «o Bairro Jara habitado por gente pobre foi atingido gravemente, havendo moradias que ficaram destelhadas e em ruínas. Na bacia das Quatro Águas uma barca da Companhia de Pescarias Algarve, denominada Moagem, foi ao fundo, carregada de sal. Os batelões da mesma companhia que estavam junto do rio, que corre paralelo à costa foram atingidos pelas vagas, afundando-se. Na ilha de Tavira a água do mar juntou-se à do rio, pondo em sério risco o arraial da armação daquela empresa. A maioria das cabanas existentes na ilha foi levada pela corrente. No campo, milhares de árvores foram destruídas [No sítio das Cabanas, um olival, de que é proprietário o Sr. José Chagas, de cerca de trezentas árvores, só oito ficaram de pé]. Não há comunicações. A camioneta que faz a carreira diária entre a cidade e a vila de Alportel foi atingida por uma árvore».

«No sítio da Fortaleza, junto da armação do atum, o mar abriu nova barra de grande extensão» Na freguesia da Luz, «até a erva foi queimada pelo vento».

Reconstrução e situação atual

Os prejuízos totais na região foram contabilizados, dias depois do ciclone e segundo o «Diário de Notícias», em 50 000 contos (aproximadamente 250 mil euros, mas que, a valores atuais, ascenderiam a mais de 10 milhões de euros). A economia do Algarve ficou fortemente afectada e os mais pobres duramente atingidos, tanto mais que «as sementeiras de fava e ervilha, que constituem uma grande riqueza do Algarve e a base de alimentação das classes menos abastadas nesta quadra, podem considerar-se perdidas».

Mas os algarvios não se detiveram perante tão grande adversidade. Foram vários os gritos de socorro às entidades, emanados através dos jornais, como em Salir: «Centenas de camponeses, olhos rasos de lágrimas procuraram o correspondente do Século e pediram-lhe que, por intermédio do nosso jornal, se solicitassem providências ao Governo».

Até em Lisboa «uma comissão de estudantes algarvios, de várias Faculdades», coordenados por Maria Odete Leonardo, resolveu «recolher donativos para acudir aos seus conterrâneos».

António Graça Mira, contemporâneo aos acontecimentos, recorda ainda os cortejos de ofertas, que se realizaram um pouco por toda a região, bem como o imposto de um tostão, ambos destinados ao auxílio das vítimas.

O Carnaval de 1941, cujos festejos ocorreram a 25 de fevereiro, foi bastante discreto em todo o território. Mas em Loulé e em exceção, o corso saiu à rua, ou não se destinassem as suas receitas a apoiar o funcionamento do Hospital da Misericórdia.

A liderar o processo de restabelecimento do país esteve um algarvio, o louletano Eng. Duarte Pacheco, que à época ocupava o cargo de Ministro das Obras Públicas e Comunicações. O seu empenho e a pronta ação foram meritórios, permitindo normalizar “rapidamente” o país após tão pesada calamidade.

Em Portimão, data desta época a construção do bairro do Pontal, precisamente para alojar as famílias pobres que viram as suas casas e barracas destruídas pela violenta tempestade.

O ciclone marcou duramente a paisagem do Algarve, muitas árvores centenárias desapareceram e hoje dificilmente se imagina, por exemplo, a estrada de Faro a Olhão ladeada de eucaliptos. Interessante é constatar como a economia algarvia se transformou tanto nas últimas décadas.

Atualmente, já não seriam destruídos barcos carregados de esparto, de conservas, ou mesmo de açúcar. A freguesia de Pêra já não abastece Lisboa de favas ou ervilhas, e nem haveria no Algarve chaminés de fábricas de conservas, ou mesmo de cortiça, para derrubar. A produção de amêndoa, à época tão importante na economia regional, é hoje residual.

Mas o quotidiano e os hábitos dos algarvios também se modificaram substancialmente. Em Alte, como em toda a região, já não se cozinha com a água das goteiras, nem as favas e os griséus são a base da alimentação, ou exclusivas desta quadra.

Como se comportariam hoje os prédios da Praia da Rocha perante um ciclone? Ou todos os outros prédios por esse Algarve fora? É algo que devemos equacionar.

Afinal hoje, tal como ontem, não estamos livres dos efeitos de um novo ciclone extra-tropical.

Outras tempestades têm fustigado Portugal e o Algarve nos últimos 70 anos, mas felizmente nenhuma outra atingiu a destruição vivida pelos nossos avós, como a causada pelo ciclone de 15 de Fevereiro de 1941.


Bibliografia: Jornais «O Século» e «Diário de Notícias» de fevereiro de 1941 e Conta de Gerência do Município de Portimão de 1942 (gentilmente cedida pelo Centro de Documentação do Museu de Portimão)


*Investigador de História Local e Regional

4 de Março de 2011 | 23:43
Aurélio Nuno Cabrita*



Fonte: Barlavento Online

Excelentes artigos que recordam o ciclone de 1941. Se fosse hoje como seria?
 

algarvio1980

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O grande ciclone no Algarve ocorreu há 70 anos

Desde o tempo de infância, que se ouviu contar sobre a grande agitação social que se viveu no grande ciclone de 15 de Fevereiro de 1941, quando derrubou numerosas árvores centenárias de grande porte, destelhou telhados e o mar transformou-se num a amontoado de gigantescas ondas, que varriam as praias e na costa do sotavento algarvio aganhou o galeão espanhol do Cara Dura, que naufragou e morreu toda a tripulação, constituída por cerca de quarenta homens.

Contavam os guardas fiscais, que constituíram a guarnição do posto da ilha da Abóbora (desaparecida em 1962), que enfrentando o vento ciclónico ao longo da costa, percorreram grandes distâncias com uma escada, para recolher os corpos, que davam à costa.

Desse grande ciclone, dizia o avô deste articulista, que uma grande oliveira, perto da casa foi arrancada pelas raízes, numa imagem não habitual no Algarve. Deste temporal, ficou um registo oficial, que veio a ter consequências futuras, pela abertura de uma barra na ilha de Tavira, entre o espaço, que em terra continental, situava-se entre o Forte do Rato (Bateria de Santo António) e a povoação de Cabanas de Tavira.

A antiga barra de Tavira, que tornara a cidade importante no século XVI, tinha caminhado para Leste e já ia em Cacela Velha, onde terminou.

Em 1926 foi aberta outra barra, frente ao Forte do Rato, por uma firma alemã, que veio assorear e só foi reaberta em 1961.

A abertura da barra pelo ciclone, foi em 15 de Fevereiro de 1941, deixando os pescadores de Cabanas de Tavira na dúvida e com receio, de não deixar passar um barco sem perigo, até que o pescador Branquinho, no seu barco chamado Coxicho, se aventurou a ir para o lado do mar.

A barra ficou a chamar-se do Coxicho, o nome do barco, que a passou. Esta barra, aberta pelo ciclone de 15 de Fevereiro de 1941, havia de produzir as suas consequências futuras, porque como todas as barras no sotavento algarvio, começou também a caminhar para leste, passando frente a Cabanas de Tavira em 1961, que ficou exposta às inundações de casas nas grandes marés e ondulações do Levante do Atlântico.

Colocaram pedras nas muralhas, onde as ondas faziam a rebentação e Cabanas de Tavira, estava a imaginar um futuro negro, que poderia ser idêntico a Farrobilhas. Mas, a barra continuou a caminhar para leste e no ano seguinte (1962) foi fazer desaparecer totalmente o arraial da pesca do atum da Abóbora, constituído por numerosas casas de habitação em alvenaria, escola eo posto da Guarda Fiscal, onde o lugar só era assinalado pelos ramos de uma grande amoreira, que levou alguns meses a desaparecer, pelas profundas raízes, que a mantiveram presa no meio das correntes marítimas.

Em Março de 1968, quando se regressou do serviço militar em África, visitou-se Cabanas de Tavira, tirou-se uma fotografia e ainda era uma povoação com mar na frente.

A partir dessa altura, começou a formar-se outra ilha de areia, que é, a que existe presentemente e Cabanas de Tavira voltou a ser como sempre tinha sido, que com a nova elevação a Vila, na Ria Formosa, tornou-se num procurado destino turístico.

Neste ano de 2011, faz precisamente, em 15 de Fevereiro, setenta anos, que ocorreu o grande ciclone do Algarve, que no futuro teve consequências bastante nefastas, pela abertura da Barra do Coxicho.

A ilha da Abóbora frente a Cabanas de Tavira desapareceu, formou-se outra ilha e assim vão acontecendo as alterações geográficas.

Por: Adérito Vaz
http://www.jornalavezinha.com/noticia.asp?idEdicao=241&id=11704&idSeccao=2125&Action=noticia
 

SpiderVV

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Alentejo – Os efeitos do Ciclone de 1941 em Arronches
A memória colectiva é um dos bens mais valiosos de uma comunidade. Apesar de não ser palpável, é o que lhe transmite identidade, que une e a torna única. A preservação deste património imaterial tem uma importância incalculável mas muitas vezes é simplesmente esquecida. Neste campo, a recolha e salvaguarda das histórias e saberes das gentes do concelho de Arronches é de vital importância para a memória histórica das gerações vindouras.
É nesta temática que hoje vamos relembrar um o ciclone de 1941, um acontecimento trágico que foi, sem dúvida, um dos momentos marcantes da história deste povo que na época em Arronches vivia da terra e para a terra.
Ao fim da manhã desse 15 de Fevereiro de 1941, J. Correia, na altura um rapaz de 13 anos, tinha acabado de almoçar, como habitualmente na oficina de carpintaria do Sr. João Guerra, ao fundo da rua do Açougue, após o almoço dirigiu-se à drogaria Bigares, no Largo da Cadeia onde foi buscar uns vidros, quando se apercebeu de forte ventania. Não estranhou, pois essa noite e manhã de Fevereiro já davam sinais de temporal. De repente mal teve tempo de chegar à drogaria, vindo dos lados de Assumar escutou um ruído ensurdecedor seguido de rajadas de vento que tudo destruíam à sua passagem, refugiado na casa Bigares deixou a tempestade amainar, no regresso à carpintaria verificou que o grande eucalipto existente junto ao convento de Nossa Senhora da Luz não tinha resistido à força do vento, sendo arrancado pela raiz, Nas ruas o povo assustado verificava os estragos e comentava “foi um ciclone”.

Ler mais: http://arronchesemnoticias.blogspot.com/2011/02/alentejo-os-efeitos-do-ciclone-de-1941.html
 

Mário Barros

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Extremadura

No Correio da Extremadura que saiu com a data de 22 de Fevereiro de 1941, na sua 1ª página´, pode ler-se que “A fúria do ciclone que devastou o país fez-se sentir em toda a região ribatejana com a mais cruel intensidade, causando mortes e incalculáveis prejuízos [...] dezenas de casas destruídas [...] e se contam por muitas centenas de milhar oliveiras, eucaliptos, pinheiros e outras árvores arrancadas pelo furacão [...]

Choramos também a perda daquela linda álea de cedros da Quinta de Vale de Lobos, que nos dizem ter sido plantados por Herculano e que o ciclone arrancou na companhia de provectos carvalhos que foram testemunhas das meditações do grande historiador.”

Na página 6 do mesmo jornal há outro artigo:

“Os estragos do ciclone na cidade e na região [...] A Quinta dos Anjos, pertença do lavrador João Caldas, uma das mais importantes dos arredores, foi das mais devastadas pelo ciclone. O seu vasto pinhal, um dos mais importantes da região, ficou completamente destruído. [...]”

“Na Portela, caíram muitas árvores, entre as quais um enorme pinheiro sobre a estrada, o qual foi escorado a fim de permitir o trânsito. Também ali caíram muitos postos telegráficos e muitas chaminés [...]”

Lembro-me de o meu pai e da minha avó Honória me falarem que o ciclone «até tinha derrubado o pinheiro das sete pernadas que ficava no canto da Vinha Grande». Penso que deverá ser o mesmo que é referido na notícia do jornal que trago à vossa memória.

Quanto a mim, a imprensa regional é um importante meio de recuperar os acontecimentos passados. Por isso a minha preocupação em investigar e registar os dados que vou conseguindo.

Espero que o assunto «Ciclone de 1941» vos traga recordações. Em segunda mão, é claro. Pela voz de pais e avós, tal como eu.

http://aaepp.info/?p=328
 

Mário Barros

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Maçores (Torre de Moncorvo) / Algueirão (Sintra)
Alvalade

O nascer do dia 15 de Fevereiro de 1941 foi para os alvaladenses igual a muitos outros característicos de um mês de Fevereiro normal, salpicado aqui e ali por alguns momentos de chuva. Mas, a partir das nove horas da manhã, a tranquilidade da povoação foi abalada por um fenómeno metereológico sem precedentes nos registos históricos nacionais, que ficaria conhecido pelo Ciclone de 1941. O país seria fustigado por ventos ciclónicos semeando um rasto de morte e de destruição que durou cerca de 12 horas. Doze longas e intermináveis horas… Em Alvalade, das habitações voaram centenas de telhas como se fossem folhas de papel. Poucos segundos e umas quantas rajadas de vento foram suficientes para arrancar a cobertura de fibrocimento do pavilhão do Posto de Culturas Regadas. A Pensão Guerreiro, na Rua da Cruz, e a residência da família Aires (que antes tinha sido propriedade dos Lança Parreira), onde pernoitou o rei D. Miguel, foram despojadas, pela força do vento, de boa parte das platibandas que encimavam e decoravam as respectivas frontarias. No campo, o cenário era dantesco. Milhares de árvores arrancadas pela raiz e muitas culturas destruídas. Com os postes do telégrafo pelo chão, a linha férrea e as estradas de acesso à vila invadidas de destroços e troncos de árvores, a freguesia ficaria completamente isolada por uns longos dez dias, criando grandes dificuldades para restabelecer a normalidade na vida da população. Em Vale de Lobo, as rajadas de vento deitaram ao chão um homem de 75 anos, dentro de um lamaçal. Ali morreu, por não conseguir levantar-se. De susto ou de ataque cardíaco, também outra idosa, de 85 anos, lá morreria na mesma herdade tendo sido ambos sepultados no dia 17. Um dia trágico que fica nos anais da freguesia e que ainda permanece bem vivo na memória de muitos alvaladenses.
http://www.alvalade.info/?p=160

O meu tio Joaquim mais conhecido pelo “Ciclone”, pois nasceu precisamente neste dia. A minha avó contava que o parto se fez quase sem telhado, pois o ciclone levantou telhas e telhados das casas com estruturas mais débeis. O “Ciclone” nasceu onde é hoje o café Central. Joaquim foi o nome de baptismo mas o meu avô, António Fernandes Lança junior, apelidou-o de “Ciclone”, nome que o identifica até hoje. Como bons Alentejanos há que arranjar um diminutivo para “Ciclone” e então passou a ser chamado por mta gente de “Caloino”.
Eis amigos a história de uma das figuras mais conhecidas e acarinhadas da nossa Vila, meu tio “Ciclone”.
 

Vince

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23 Jan 2007
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Braga
Das várias edições diárias do jornal Século que o Chingula colocou mais em cima, e que tem centenas de notícias do evento em Portugal continental e Madeira, seleccionei para já umas para destacar:

observatorio.jpg


meteox.jpg




Cais do Sodré, Lisboa

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caisdosodre4.jpg
 

irpsit

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A tempestade de 1941 foi mesmo épica e rara.
Com pressãod e 935 e ventos a ultrapassar 200km/h.

Aqui na Islândia são rotineiras as tempestades de inverno com pressão a 970 e ventos a chegar aos 150km/h, quase a cada 2 semanas.

No dia 2 de Fevereiro deste ano tivemos aqui uma tempestade com pressão mínima de 957.
E tivemos ventos de 150km/h a 8 de Fevereiro. Por vezes as rajadas chegam perto dos 200km/h. É assustador, portanto imagino como será em Portugal e com ar subtropical.
 

ciclonico

Cirrus
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Porto
Vídeo retirado do programa "Te Acuerdas", emitido durante o telejornal español (Telediário) em 2009. Apesar das imagens terem sido captadas em Espanha na área de Santander, dá-nos pela primeira vez uma ideia em movimento do que foi aquele ciclone de 1941.
Imagens principais são relativas ao consequente incêndio que destruiu 2km/2 do centro histórico de Santander, durante o ciclone de 1941.
As 4 primeiras imagens são do ciclone em si, que nos dão uma pequena ideia do que foi. As 4 imagens seguintes são de um filme español realizado em 1944 sobre esse ciclone, onde podemos ver imagens baseadas na realidade 3 anos antes, do que foi sentido directamente pelas população na rua (não muito diferente de testemunhos que ouvi sobre a situação por que passaram na cidade do Porto). As restantes são dos restos em que ficou o centro de Santander após o incêndio e, finalmente, testemunhos actuais de pessoas que foram testemunhas na época.
Como neste momento todos devem saber, o ciclone no seu movimento provocou ventos de sul na costa norte de Espanha, que mesmo em situações destas, são sempre bastante secos, daí o incêndio ter-se propagado rápidamente.

 
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