O esquilo-vermelho ou esquilo-vermelho-eurasiático (Sciurus vulgaris) é uma espécie de esquilo pertencente ao género Sciurus. É um roedor omnívoro que habita árvores, sendo muito comum por toda a Eurásia.
Em Portugal, o esquilo-vermelho desapareceu no século XVI, mas nos anos 1990 populações vindos da Espanha voltaram a colonizar o norte do país.[1] Na Grã-Bretanha e Irlanda os seus números têm decrescido, em parte devido à introdução do esquilo-cinzento americano (Sciurus carolinensis)[2] e também devido à baixa manutenção do seu habitat. O esquilo-cinzento foi também introduzido no norte da Itália, e há o risco de que também nessa região ocorra a competição com a espécie nativa européia.
Descrição física
O esquilo-vermelho tem um comprimento típico de 19 a 23 cm (excluindo a cauda), uma cauda entre 15 e 20 cm de comprimento e um peso entre 250 e 340 g. Não apresenta dimorfismo sexual, pois machos e fêmeas têm o mesmo tamanho. Pensa-se que a longa cauda do esquilo o ajuda a manter o equilíbrio e postura quando salta de árvore em árvore e corre ao longo de ramos, podendo também ajudar o animal a manter-se quente durante o sono.
A cor da pelagem do esquilo-vermelho varia com a estação e a sua localização. Existem diversas variantes, do preto ao vermelho. A pelagem vermelha é mais comum na Grã-Bretanha; noutras partes da Europa e Ásia, co-existem diferentes pelagens nas mesmas populações. O ventre é sempre branco-creme. O esquilo-vermelho muda o pêlo duas vezes por ano, tomando uma pelagem mais espessa e escura e adquirindo tufos de pêlo nas orelhas entre Agosto e Novembro. Os tufos de pêlo são uma característica específica do esquilo-vermelho. Possui em geral uma coloração mais clara e avermelhada que o esquilo-cinzento americano ou o esquilo-vermelho americano.
Possui também garras aguçadas e encurvadas que permitem trepar às árvores, mesmo que os ramos estejam caídos.
Reprodução e mortalidade
O acasalamento pode ocorrer no final do Inverno, durante Fevereiro e Março, e no Verão, entre Junho e Julho. Uma fêmea pode originar uma a duas ninhadas por ano; cada ninhada tem normalmente três ou quatro crias mas pode ter até seis. A gestação dura 38 a 39 dias. A mãe toma sozinha conta das crias, que nascem indefesas, cegas e surdas e pesando entre 10 e 15 g. O seu corpo encontra-se coberto de pêlo após 21 dias, os olhos e ouvidos abrem após três ou quatro semanas e desenvolvem todos os seus dentes até aos 42 dias. Os jovens esquilos conseguem comer alimentos sólidos após 40 dias, podendo após este tempo abandonar o ninho e encontrar comida por meios próprios; são no entanto amamentados até às oito a dez semanas.
Durante o acasalamento, os machos detectam as fêmeas que se encontram no estro através de um odor que elas produzem; embora não exista corte, o macho corre atrás da fêmea até cerca de uma hora antes de acasalar. É usual diversos machos correrem atrás da mesma fêmea até o macho dominante (normalmente o de maior envergadura) conseguir acasalar. Machos e fêmeas acasalam múltiplas vezes com diversos parceiros. As fêmeas têm de possuir uma massa corporal mínima até atingir o estro e as fêmeas mais pesadas produzem em média mais filhotes. Uma fêmea produz a sua primeira ninhada tipicamente durante o seu segundo ano de vida. A reprodução pode ser mais lenta se a comida for escassa.
Um esquilo-vermelho vive cerca de três anos, embora alguns espécimens vivam até aos sete ou dez anos se em cativeiro. A sobrevivência tem uma correlação positiva com a disponibilidade de sementes durante o Outono e Inverno; em média, 75% a 85% dos jovens esquilos desaparece durante o primeiro Inverno e a mortalidade desce para 50% nos Invernos seguintes.[3]
Ecologia e comportamento
O esquilo-vermelho habita a floresta conífera, encontrando-se também em florestas temperadas caducifólias. Nidifica na axila de ramos de coníferas formando ninhos em forma de cúpula com cerca de 25 a 30 cm de diâmetro, forrado com musgo, folhas, ervas e casca de árvore. Também utilizam cavidades em árvores e ninhos de cuco para nidificar. É um animal solitário, tímido e relutante em partilhar comida. No entanto, fora da estação de acasalamento, e especialmente no Inverno, diversos esquilos-vermelhos podem partilhar um ninho para se manterem quentes. A organização social é baseada numa hierarquia de dominância entre sexos e dentro de cada sexo; embora os machos não sejam necessariamente dominantes em relação às fêmeas, os animais dominantes são normalmente maiores e mais velhos que os subordinados e os machos dominantes têm usualmente lares maiores que machos e fêmeas subordinados.[4]
O esquilo-vermelho alimenta-se de sementes de árvores, conseguindo limpar cones de coníferas para obter as suas sementes. Também se alimentam de determinados cogumelos, ovos de pássaros, bagas e rebentos de plantas. Também podem remover a casca de árvores para aceder à seiva. É capaz de coleccionar cogumelos e secá-los em árvores.[5][6]
Entre 60% e 80% do seu período activo pode ser passado na busca de alimento e forragem.[7] Embora o esquilo-vermelho seja capaz de memorizar onde escondeu comida, a sua memória espacial é menor e menos precisa que a do esquilo-cinzento;[8] necessita por isso procurar frequentemente os esconderijos quando necessita deles e por vezes não encontra alguns. Não mantém territórios e as áreas de busca de alimento sobrepõem-se de forma considerável.
Esquilo-vermelho apresentando os característicos tufos de pêlo de Inverno nas orelhas.
O período activo do esquilo-vermelho é a manhã e ao anoitecer. Descansa durante o dia no seu ninho, evitando dois perigos dessas horas: o calor e a maior visibilidade a aves de rapina. Durante o Inverno, este descanso diurno é mais curto ou ausente, embora condições climáticas agressivas possam fazer com que o animal fique no seu ninho durante vários dias de seguida.
Os predadores arbóreos incluem pequenos mamíferos como a marta (Martes martes), o gato-bravo e o arminho, que atacam as crias; aves, como corujas, e aves de rapina como gaviões e açores. A raposa-vermelha, gatos e cães também podem ser predadores quando o esquilo se encontra no solo. O homem influencia o tamanho e mortalidade da população ao destruir ou alterar habitats, causar mortes por acidente rodoviário e controlar populações pela caça.
Taxonomia e distribuição
O esquilo-vermelho ocorre em quase toda a Europa, boa parte da Sibéria, norte da China, Península Coreana e norte do Japão
Em Portugal o esquilo-vermelho extinguiu-se no século XVI, provavelmente devido à perda de habitats. A partir dos anos 1980 a espécie começou a recolonizar o norte do país, vindo da Galiza, na Espanha.[1][9] A subespécie encontrada em Portugal parece ser S. v. fuscoater.[9]
A expansão natural de esquilos repovoou grande parte de Portugal ao norte do Rio Douro, estando a espécie presente nas áreas protegidas do Parque Nacional da Peneda-Gerês e do Parque Natural de Montesinho. Nos últimos anos a espécie foi detectada na Reserva Natural Serra da Malcata, no centro-leste de Portugal.[10]
O esquilo-vermelho também foi introduzido em áreas verdes urbanas como o Parque Florestal de Monsanto,[11] em Lisboa, e o Jardim Botânico de Coimbra.
Subespécies
Existem mais de quarenta subespécies identificadas de esquilo-vermelho, mas o estatuto taxonómico de algumas destas é incerto. Um estudo de 1971 reconhece a existência de 16 subespécies e serviu como base para estudos taxonómicos posteriores.[12][13]
S. v. altaicus Serebrennikov, 1928
S. v. anadyrensis Ognev, 1929
S. v. argenteus Kerr, 1792
S. v. balcanicus Heinrich, 1936
S. v. bashkiricus Ognev, 1935
S. v. fuscoater Altum, 1876
S. v. fusconigricans Dvigubsky, 1804
S. v. infuscatus Cabrera, 1905
S. v. italicus Bonaparte, 1838
S. v. jacutensis Ognev, 1929
S. v. jenissejensis Ognev, 1935
S. v. leucourus Kerr, 1792
S. v. mantchuricus Thomas, 1909
S. v. meridionalis Lucifero, 1907
S. v. rupestris Thomas, 1907
S. v. vulgaris Lineu, 1758
Conservação
O esquilo-vermelho encontra-se protegido na maior parte da Europa por se encontrar listado no Apêndice III da Convenção de Berna para a Conservação da Vida Selvagem e Habitats Naturais Europeus; também se encontra listado como espécie quase ameaçada na Lista Vermelha da IUCN. Nalgumas áreas, é abundante e caçado por causa da sua pelagem.
Competição com o esquilo-cinzento
Embora não considerado sob ameaça a nível global, o número de esquilos-vermelhos diminuiu drasticamente no Reino Unido, pensando-se existir menos de 140 000 indivíduos,[14] 85% destes na Escócia. Este decréscimo na população é frequentemente associado à introdução do esquilo-cinzento (Sciurus carolinensis) provindo da América do Norte, embora a perda e fragmentação do seu habitat tenha desempenhado também um papel importante.
De forma a conservar a restante população, o governo do Reino Unido anunciou em Janeiro de 2006 um programa de abate do esquilo-cinzento, uma acção bem recebida por diversos grupos de conservação da natureza. Uma acção anterior de abate foi iniciada em 1998 na ilha de Anglesey, no norte do País de Gales, o que facilitou a recuperação natural da população do esquilo-vermelho e a reintrodução deste na floresta de Newborough.[15] Existem ainda diversos grupos locais de conservação, como o Red Squirrel Conservation em Mallerstang, Cúmbria.[16]
Fora das Ilhas Britânicas, existe uma população significativa de esquilo-cinzento em Piemonte, na Itália, onde dois pares escaparam ao cativeiro em 1948. Observou-se uma diminuição significativa do esquilo-vermelho na área após 1970 e teme-se a expansão desta espécie pela restante Europa.
O esquilo-cinzento aparenta ganhar na competição com o esquilo-vermelho por diversas razões:
O esquilo-cinzento consegue digerir facilmente bolotas, algo que o esquilo-vermelho não consegue fazer;
O esquilo-cinzento é portador de uma doença, um parapoxvírus, que aparenta não o afectar mas que frequentemente mata o esquilo-vermelho.
Quando o esquilo-vermelho se encontra sob pressão, não acasala tão frequentemente.
As duas espécies não são antagonistas e o confronto entre ambas não é um factor no declínio das populações de esquilo-vermelho.
Uma pesquisa efectuada em 2007 mostrou que a expansão da população da marta provoca a retracção da população do esquilo-cinzento. Pensa-se que tal é devido ao maior tempo que o esquilo-cinzento passa no solo, em relação ao esquilo-vermelho, expondo-se mais à acção deste predador.[17]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquilo-vermelho
Fica aberto o tópico do Esquilo. A ideia é termos um sitio onde se podem colocar todas as notícias que apareçam sobre este animal e continuarmos as discussões sobre a sua distribuição actual, que estão espalhadas por diferentes tópicos.