Interliguem-me, porra!
Já quase que nos habituámos a que uma decisão desta magnitude – uma grande interligação ligando barragens de norte a sul – leve uns 60 anos a tomar como um cozinhado muito lento na panela da indecisão
Nas próximas décadas vamos assistir a uma redução significativa e progressiva da precipitação no território do continente. Este novo clima, mais árido, afeta já a agricultura, estando a conduzir a alterações nas culturas, no seu modo de condução e, acima de tudo, no consumo de água. Os períodos de estio têm sido cada vez mais prolongados e intensos, com situações em que mesmo o abastecimento das povoações esteve pontualmente em risco. Já Orlando Ribeiro distinguia o país atlântico do mediterrânico, e a mudança climática parece agravar essa diferença.
No Algarve e no sul do Alentejo, os períodos de seca extrema vieram para ficar. No primeiro caso, o desenvolvimento do turismo e das atividades com ele relacionadas disputa com a agricultura os poucos recursos em água, sempre que o nível das barragens da região desce perigosamente. Apesar da insuficiente qualidade dos números existentes, o setor agrícola é o grande utilizador, assumindo o papel de vilão da água, ou de herói da segurança alimentar, conforme os pontos de vista.
A única forma de reduzirmos o impacto da diferença entre os regimes de pluviosidade do Minho ao Algarve é conhecida desde há muitas décadas: uma grande interligação assentando num conjunto de canais e estações (...)