Impacto agrícola da seca 2011-2012

Mário Barros

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18 Nov 2006
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Maçores (Torre de Moncorvo) / Algueirão (Sintra)
Prejuízo de milhões no vale da Vilariça
A situação é dramática e os prejuízos são de milhões de euros na produção na fruta, hortícolas e azeitona no Vale da Vilariça. Cerca de 200 agricultores são obrigados a deixar de regar dentro de dois ou três dias centenas de hectares nos concelhos de Alfândega da Fé e Vila Flor, área servida pelo sub-bloco da Barragem da Burga, incluído no sistema de regadio do Vale da Vilariça.

A Burga deverá entrar em rutura muito em breve. A alternativa é não regar. "Não há água", sublinha José Almendra, presidente da Associação de Agricultores. A que resta chega para duas regas. É grande a dor dos agricultores que olham para o vale e se deparam com campos revestidos de nectarinas e pêssegos que tombaram das árvores devido à seca. Manuel Afonso, agricultor de Santa Comba, tem os cálculos feitos. "A azeitona de ripa, destinada a conserva, está toda perdida." E pelo menos 50% da produção para azeite está irremediavelmente arruinada.

A albufeira da Burga tem capacidade para um milhão e oitocentos mil metros cúbicos. Está na quota mínima. "Retirar mais água põe em causa a continuidade da barragem", alerta Fernando Brás, presidente da Associação de Regantes. O racionamento foi a solução encontrada há semanas para minimizar o problema. Instalou-se uma válvula de seccionamento em parte do regadio e reduziu-se a rega para duas vezes semanais. Um alívio momentâneo que acabou por ceder face às elevadas temperaturas do microclima local e à falta de chuva. "A água já não tem pressão, traz resíduos. A filtragem não é bem feita e entope o sistema de rega", diz Manuel Afonso.

Em 2010 foi aprovado pelo PRODER um projeto para a construção de um dique na Burga por dois milhões com uma comparticipação de 25% do Estado (500 mil euros) que não avançou. "Os prejuízos da seca serão bem maiores do que essa verba", refere Fernando Brás.

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=2730099
 


Agreste

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29 Out 2007
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Terra
Re: Seg. Previsão do Tempo e Modelos - Outubro 2012

No Arade há água nos furos. No Sado a campanha agrícola está a terminar e portanto rega-se menos. A gestão dos recursos não aponta para ruptura em nenhum lado. Não está afastada a hipótese de termos cheias antes do final do ano nem estamos ao nível da seca dos anos 40.
 

comentador

Nimbostratus
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2 Out 2012
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Évora
Re: Seg. Previsão do Tempo e Modelos - Outubro 2012

óh Algarvio, tenha calma e paciência! Uma seca não é o fim do mundo! Sempre houve e há de continuar a existir. As secas em clima mediterrâneo é um fenómeno normal. As árvores na natureza não vão morrer! As plantas têm mecanismos de defesa perante situações adversas do clima, elas adaptam-se à situação. Ainda estamos no início de outubro, e a previsão de modelos a longo prazo não é lá muito fiável, logo não se pode afirmar com certeza que a seca possa durar mais uns meses. A chuva há-de chegar a todo o país, vai ver.... A natureza é quem decide.
 

Aurélio

Cumulonimbus
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23 Nov 2006
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Re: Seg. Previsão do Tempo e Modelos - Outubro 2012

No Arade há água nos furos. No Sado a campanha agrícola está a terminar e portanto rega-se menos. A gestão dos recursos não aponta para ruptura em nenhum lado. Não está afastada a hipótese de termos cheias antes do final do ano nem estamos ao nível da seca dos anos 40.

Oh Agreste, comparar os anos 40 com os tempos em que estamos, não faz qualquer sentido, porque se produz diria umas 10 x mais vezes, e hoje em dia temos se calhar pelo menos mais umas 100 x mais barragens do que se tinha antigamente.
Não existe comparação possível .....

Um ano de seca, não existe problema nenhum ..... mas dois anos seguidos (se viesse a acontecer) aí sim teria graves implicações.
Em relação ao comentador em primeiro lugar bem vindo, em segundo lugar recordo-lhe que Portugal não é apenas cidades e centros comerciais, existe o interior, e existe agricultura.
Nesse caso é muito simples, um ano de seca, não chove usa-se a água das barragens, dois anos de seca idênticos ... não há água, não há culturas, os preços disparam nos hipers, o preço da farinha, palha, trigo, ect ... dispara.
2004 - 2005 não foi o fim do mundo, mas foi o fim de muitas cabeças de gado.


Seja como for, não existe qualquer razão para o pessoal do sul, andar a choramingar, pois normalmente por aqui as chuvas vêm mais pro final do mês, e vamos aguardando serenamente pelo desenrolar deste Outono e para ver como se comporta a atmosfera !

Mas se querem a minha opinião não acredito que neste ano seja ano de seca, acho que Novembro e Dezembro vão ser muito chuvosos .....
 

comentador

Nimbostratus
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2 Out 2012
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Évora
Re: Seg. Previsão do Tempo e Modelos - Outubro 2012

Olá Aurélio! Em primeiro lugar, eu conheço muito bem o país, cidades, vilas, aldeias, já estive em todas as regiões do continente e ilhas.

Em segundo lugar, nasci no monte, sou licenciado em agronomia e trabalho no campo e na cidade! Portanto, talvez saiba muito melhor que você, o que é o campo em Portugal!

Quando afirma: "Nesse caso é muito simples, um ano de seca, não chove usa-se a água das barragens, dois anos de seca idênticos ... não há água, não há culturas..." Esta afirmação está parcialmente errada!!!

Pois para sua informação 2 anos consecutivos de seca não significa que não haja culturas, porque até há, só que as produções são muito menores e daí a subida de preços! Anos de seca não significa a ausência total de precipitação, significa défice da mesma em relação às médias dos anos. Nunca tivemos ainda uma situação em que durante 12 meses do ano, tivessemos a ausência de chuvas!
Também 2 anos de seca não significa que não haja água de rega para regar, porque há água sim senhor!

Dependendo das capacidades dos perímetros de rega, há água de rega garantida até 5 anos ou mais! Só não há água nos perímetros mais pequenos, mas mesmo nesses, ainda se fazem culturas, mas com restrições de áreas e de culturas.

Em terceiro lugar, as chuvas no Sul só chegam normalmente para o final deste mês???!!!!! Mas qual Sul, está-se a referir só ao algarve ou a todo o Sul do País? Não é bem assim, Aurélio! Com que critérios afirma isso? Neste ano, em Setembro já cairam aqui na zona de Évora aproximadamente 40 mm! Se olhar aos anuários climatológicos, as primeiras chuvas nos últimos 20 anos tanto começam em Setembro ou Outubro!!
 

Aurélio

Cumulonimbus
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23 Nov 2006
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Faro
Re: Seg. Previsão do Tempo e Modelos - Outubro 2012

Olá Aurélio! Em primeiro lugar, eu conheço muito bem o país, cidades, vilas, aldeias, já estive em todas as regiões do continente e ilhas.

Em segundo lugar, nasci no monte, sou licenciado em agronomia e trabalho no campo e na cidade! Portanto, talvez saiba muito melhor que você, o que é o campo em Portugal!

Quando afirma: "Nesse caso é muito simples, um ano de seca, não chove usa-se a água das barragens, dois anos de seca idênticos ... não há água, não há culturas..." Esta afirmação está parcialmente errada!!!

Pois para sua informação 2 anos consecutivos de seca não significa que não haja culturas, porque até há, só que as produções são muito menores e daí a subida de preços! Anos de seca não significa a ausência total de precipitação, significa défice da mesma em relação às médias dos anos. Nunca tivemos ainda uma situação em que durante 12 meses do ano, tivessemos a ausência de chuvas!
Também 2 anos de seca não significa que não haja água de rega para regar, porque há água sim senhor!

Dependendo das capacidades dos perímetros de rega, há água de rega garantida até 5 anos ou mais! Só não há água nos perímetros mais pequenos, mas mesmo nesses, ainda se fazem culturas, mas com restrições de áreas e de culturas.

Em terceiro lugar, as chuvas no Sul só chegam normalmente para o final deste mês???!!!!! Mas qual Sul, está-se a referir só ao algarve ou a todo o Sul do País? Não é bem assim, Aurélio! Com que critérios afirma isso? Neste ano, em Setembro já cairam aqui na zona de Évora aproximadamente 40 mm! Se olhar aos anuários climatológicos, as primeiras chuvas nos últimos 20 anos tanto começam em Setembro ou Outubro!!

Olá Comentador, em relação a este assunto pressupus que ao dizer não chove, que entendesse o que queria dizer, mas ainda bem que pertence ao campo e á área. Pois bem, eu também pertenço á area pois também sou do campo, mas os meus pais é que são agricultores, e uma das consequências que tive foi um atraso nas culturas, se bem que são para a casa, e uma enorme dependência da água. A conta da electricidade subiu bastante.
O que acontece é que se tivermos um ano de seca (digamos precipitação abaixo dos 50% do normal), não existe problema, mas se continuarmos por mais tempo torna-se problemático, porque enquanto no 1º ano não se passa da seca meteorológica no segundo ano chegamos á seca hidrológica, e eu também sei o que isso é, bem como os meus vizinhos que em 2004 - 2006, os poços, os furos, ect ... ficaram quase sem água, digamos que a água já vinha barrenta.

Felizmente as secas são comuns mas geralmente não duram mais de um ano e meio.
Esperemos que as chuvas venham então ....

Na zona onde mora está ao mesmo nível de Lisboa, mas no Baixo Alentejo e Algarve, a primeira metade de Outubro ainda costuma ser bastante quente e normalmente seca. Os finais de Setembro e 1ª metade de Outubro trazem as primeiras frentes de Noroeste pouco abonatórias quanto mais a sul.
Aqui no Algarve quando começam a chover de forma digamos mais continuada é pela Feira de Faro, e como eu me recordo de tantos anos que chove e bem pela Feira de Faro.

Pode falar pela sua região mas não pela minha ...
...
Abraço, e espero que continue participando, porque discutir ideias é sempre interessante ......
 

Aurélio

Cumulonimbus
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23 Nov 2006
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Re: Seg. Previsão do Tempo e Modelos - Outubro 2012

Quando se começou aqui a falar era para se discutir ideias, e tentar-se conhecer algo e tentar se compreender em que estado está os nossos terrenos, e tentar-se entender através dos modelos de forma estes poderiam ajudar a terminar com a seca nesta zona.

Mas pelo amor da santa não vamos fazer deste tópico um muro das lamentações pois mais tarde ou mais cedo, a chuva vai chegar e será desta vez para todos.

Da minha parte fim do Off_Topic, tenham paciência .....
 

Agreste

Furacão
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29 Out 2007
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Re: Seg. Previsão do Tempo e Modelos - Outubro 2012

Oh Agreste, comparar os anos 40 com os tempos em que estamos, não faz qualquer sentido, porque se produz diria umas 10 x mais vezes, e hoje em dia temos se calhar pelo menos mais umas 100 x mais barragens do que se tinha antigamente.
Não existe comparação possível .....

1431big.jpg


Variabilidade temporal e espacial dos ciclos de seca - Identificação e caracterização das secas em Portugal Continental pelo PSI (Standardized Precipitation Index) nos anos 1941 a 2006

Dez 1943 - Abr 1946
Duração - 28 meses
Magnitude - (-36,29)
Intensidade - (-1,3)
Nº de meses em seca - L(10), M(7), S(9), E(2)

Jan 1949 - Mai 1950
Duração - 16 meses
Magnitude - (-15,08)
Intensidade - (-0,94)
Nº de meses em seca - L(9), M(4), S(3), E(0)

Mar 1953 - Fev 1955
Duração - 23 meses
Magnitude - (-13,56)
Intensidade - (-0,59)
Nº de meses em seca - L(21), M(2), S(0), E(0)

Mar 1957 - Dez 1958
Duração - 21 meses
Magnitude - (-11,66)
Intensidade - (-0,56)
Nº de meses em seca - L(20), M(1), S(0), E(0)

Dez 1964 - Nov 1965
Duração - 11 meses
Magnitude - (-8,77)
Intensidade - (-0,80)
Nº de meses em seca - L(8), M(3), S(0), E(0)

Fev 1967 - Dez 1969
Duração - 22 meses
Magnitude - (-10,15)
Intensidade - (-0,46)
Nº de meses em seca - L(21), M(1), S(0), E(0)

Jul 1974 - Dez 1976
Duração - 29 meses
Magnitude - (-20,33)
Intensidade - (-0,70)
Nº de meses em seca - L(24), M(5), S(0), E(0)

Fev 1980 - Fev 1982
Duração - 24 meses
Magnitude - (-21,62)
Intensidade - (-0,90)
Nº de meses em seca - L(11), M(12), S(1), E(0)

Dez 1982 - Dez 1983
Duração - 12 meses
Magnitude - (-9,49)
Intensidade - (-0,79)
Nº de meses em seca - L(9), M(3), S(0), E(0)

Abr 1991 - Out 1993
Duração - 30 meses
Magnitude - (-24,35)
Intensidade - (-0,81)
Nº de meses em seca - L(17), M(11), S(2), E(0)

Out 1994 - Dez 1995
Duração - 14 meses
Magnitude - (-11,80)
Intensidade - (-0,84)
Nº de meses em seca - L(8), M(6), S(0), E(0)

Nov 1998 - Mai 2000
Duração - 18 meses
Magnitude - (-13,87)
Intensidade - (-0,77)
Nº de meses em seca - L(10), M(8), S(0), E(0)

Jan 2002 - Dez 2002
Duração - 11 meses
Magnitude - (-8,6)
Intensidade - (-0,78)
Nº de meses em seca - L(7), M(4), S(0), E(0)

Jan 2004 - Nov 2006
Duração - 34 meses
Magnitude - (-38,48)
Intensidade - (-1,13)
Nº de meses em seca - L(18), M(3), S(10), E(3)

Análise das transições entre classes de seca através de modelos de Markov - Tempo esperado de permanência e recorrência para as categorias de «Não Seca»; «Quase Normal»; «Seca Moderada»; «Seca Severa/Extrema» obtidos com a série SPI

Faro

Permanência - Intervalo de meses consecutivos na mesma classe
Recorrência - Intervalo de meses consecutivos até regressar à mesma classe

«Não Seca»
(Permanência) - 13,5 meses
(Recorrência) - 2 meses

«Quase Normal»
(Permanência) - 5 meses
(Recorrência) - 4 meses

«Seca Moderada»
(Permanência) - 2,5 meses
(Recorrência) - 13 meses

«Seca Extrema/Severa»
(Permanência) - 4,5 meses
(Recorrência) - 14 meses
 

Vince

Furacão
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23 Jan 2007
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Já agora um texto interessante que li num fórum sobre a seca e a vindimas deste ano:
Há sectores onde as secas são geríveis ou ou pelo menos minimizáveis, desde que haja capacidade para tal e o devido conhecimento

Um ponto em que todos estaremos de acordo é que não haverá memória de uvas tão sãs como as deste ano. E a culpada é sem dúvida a Natureza. Resta apenas saber o preço a pagar pela cepa por esta sanidade toda, porque o tempo seco e a falta de humidade puseram muita vinha com a língua de fora.
Mas as uvas não estão apenas sãs. Mais que um atraso na maturação, o ciclo da videira tem sido este ano mais longo que o costume. O ano foi seco, mas com excepção de dois pontos de calor extremo, tudo foi ameno. Não me vou alongar muito aqui, pois está tudo no tópico da vinha 2012, o importante a reter é que o ciclo longo fez com que as uvas tenham uma maturação lenta e um consequente equilíbrio extraordinário em todas as suas componentes. Tenho ouvido muita gente a queixar-se da acidez excessiva, eu acho que está tudo muito equilibrado. É realmente um equilíbrio de acidez com o qual não estamos habituados a lidar, mas ao qual devemos dar o devido valor, em todos os sentidos, a começar pela poupança em compra de ácido tartárico.
Acho que podemos e devemos ver este ano não como um ano com atrasos, mas sim como um ano com um ciclo longo.
Os bagos são realmente pequenos, e creio que é aí que se sente a quebra de produção, não no número de cachos, mas no seu peso. A proporção de sólidos em relação ao líquido é maior que o costume. Mas não devido a desidratação, de um modo geral os bagos estão cheios, não estão em passa, são é pequenos, logo tudo está naturalmente mais concentrado.
Os aromas são excelentes, as cores são excelentes, os taninos são excelentes, os ácidos são excelentíssimos.
Creio que é um ano para valorizar a acidez. Para arriscar em ter um pouco menos de maturação fenólica, para preservar a excelência dos ácidos. Até porque a concentração e a extração está tão fácil, que não é necessário estar a extrair demais para ter cor e taninos, correndo aí o risco de extrair taninos demasiado agressivos.
Quem perceber isto, poderá ter este ano vinhos absolutamente excepcionais.
Mas quem estiver apenas by the book à espera da fenólica descurando a acidez, vai fazer vinhos iguais a todos os outros, daqueles que já cansam.
A quebra de acidez está-se a dar apenas a partir dos 13,5 de grau provável (generalista). Por exemplo, Aragonez com 12,7 e pH de 3,52 é uma coisa extraordinária, mas normal este ano.
Não vejo mal em perder alguns taninos maduros para preservar ácidos e aromas. Para quê desequilibrar o que está em equilíbrio?
Há é falta de azoto assimilável, alimento essencial para a levedura, tem de haver cuidados redobrados no acompanhamento das fermentações. Desde que o haja, estas desenrolar-se-ão sem problemas.
E os depósitos a seguir à fermentação alcoólica, mesmo nos vinhos brancos, praticamente não apresentam paredes com sarro, tartaratos, precipitação de ácido tartárico. As variações de pH entre a fase mosto e o vinho estão a ser mínimas. Tudo isto é sinal de estabilidade e equilíbrio.
Mais que saber aplicar as receitas decoradas, é preciso saber ler nas folhas de parreira. Este ano pode ser único em equilíbrio de álcool, ácidos, taninos, cor, aromas, estrutura, TUDO. Pode haver vinhos absolutamente fantásticos abaixo dos treze graus, e nos brancos até abaixo dos doze. Não querendo imitar ninguém, mas como às vezes só se liga aos exemplos vindos de fora, lembrem-se dos Semillon de Hunter Valley.
Parece haver uma produção mais alta que o normal de ácido succínico, ácido residual formado logo no início da fermentação, mas não há aumentos significativos de amargor nos vinhos. Para já não passa de um registo. As fermentações malolácticas parecem estar a andar, mas ainda é cedo para opinar aqui.
Mas repito, é ano para dar valor ao ácido tartárico que está na uva.
Nesta altura só deveriam estar nas vinhas apenas as uvas de ciclos muito longos ou tardios, como a Touriga Nacional, Tinto Cão, Castelão, Cabernet Sauvignon, e Bagas de excelência. Tudo o resto já teve mais que tempo de ser vindimado (claro que estou a ser generalista). E tudo o que é de casca fina ou atreita à podridão é obrigatório estar dentro de casa desde 6f ou Sábado. Toda a gente sabia que ia chover. E mais vale apanhar são e menos maduro, que podre e sem mais nada. Nem tudo tem de ser topo de gama. Para as uvas brancas e algumas castas tintas esta chuva só vai servir para diluir o que estava com uma concentração e equilíbrio absolutamente extraordinários. Estas não estão a fazer nada na vinha. Para as outras já identificadas esta chuva é uma benção para completar a maturação, desde que não seja em excesso, claro.
Mas que ninguém se atreva a aparecer com vinhos de 2012 com 15graus, pH a roçar os 4 e a tresandar a compota para barrar o pão, e a dizer ao mesmo tempo que espelham o terroir. Além da primeira parte ser crime num ano destes, a segunda será lábia barata.
É um típico ano atípico. Depois de um ano para esquecer, um ano para lembrar. E a diferença foi apenas uma: a extrema humidade, ou falta dela, na vinha.
Pode ser uma vindima memorável. Apenas estou apreensivo em relação ao preço que a vinha vai pagar por esta vindima memorável. É ano para regar assim que a vindima estiver concluída, para prolongar o ciclo mais uns tempos para captar reservas para o ciclo seguinte. E será outro ano para fazer uma poda de bom-senso quando chegar o tempo dela.
Ainda é precoce falar na colheita tardia. Mas algumas tímidas neblinas matinais e húmidas apesar de intercaladas com manhãs sequíssimas sem orvalho às seis da manhã, e a chuva da semana que entra, parando depois com temperaturas mais baixas, dão esperança a que a excepcionalidade do ano continue.


continua: http://forum.revistadevinhos.iol.pt/viewtopic.php?f=2&t=3200
 

Aurélio

Cumulonimbus
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23 Nov 2006
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Re: Seg. Previsão do Tempo e Modelos - Outubro 2012

1431big.jpg


Variabilidade temporal e espacial dos ciclos de seca - Identificação e caracterização das secas em Portugal Continental pelo PSI (Standardized Precipitation Index) nos anos 1941 a 2006

Dez 1943 - Abr 1946
Duração - 28 meses
Magnitude - (-36,29)
Intensidade - (-1,3)
Nº de meses em seca - L(10), M(7), S(9), E(2)

Jan 1949 - Mai 1950
Duração - 16 meses
Magnitude - (-15,08)
Intensidade - (-0,94)
Nº de meses em seca - L(9), M(4), S(3), E(0)

Mar 1953 - Fev 1955
Duração - 23 meses
Magnitude - (-13,56)
Intensidade - (-0,59)
Nº de meses em seca - L(21), M(2), S(0), E(0)

Mar 1957 - Dez 1958
Duração - 21 meses
Magnitude - (-11,66)
Intensidade - (-0,56)
Nº de meses em seca - L(20), M(1), S(0), E(0)

Dez 1964 - Nov 1965
Duração - 11 meses
Magnitude - (-8,77)
Intensidade - (-0,80)
Nº de meses em seca - L(8), M(3), S(0), E(0)

Fev 1967 - Dez 1969
Duração - 22 meses
Magnitude - (-10,15)
Intensidade - (-0,46)
Nº de meses em seca - L(21), M(1), S(0), E(0)

Jul 1974 - Dez 1976
Duração - 29 meses
Magnitude - (-20,33)
Intensidade - (-0,70)
Nº de meses em seca - L(24), M(5), S(0), E(0)

Fev 1980 - Fev 1982
Duração - 24 meses
Magnitude - (-21,62)
Intensidade - (-0,90)
Nº de meses em seca - L(11), M(12), S(1), E(0)

Dez 1982 - Dez 1983
Duração - 12 meses
Magnitude - (-9,49)
Intensidade - (-0,79)
Nº de meses em seca - L(9), M(3), S(0), E(0)

Abr 1991 - Out 1993
Duração - 30 meses
Magnitude - (-24,35)
Intensidade - (-0,81)
Nº de meses em seca - L(17), M(11), S(2), E(0)

Out 1994 - Dez 1995
Duração - 14 meses
Magnitude - (-11,80)
Intensidade - (-0,84)
Nº de meses em seca - L(8), M(6), S(0), E(0)

Nov 1998 - Mai 2000
Duração - 18 meses
Magnitude - (-13,87)
Intensidade - (-0,77)
Nº de meses em seca - L(10), M(8), S(0), E(0)

Jan 2002 - Dez 2002
Duração - 11 meses
Magnitude - (-8,6)
Intensidade - (-0,78)
Nº de meses em seca - L(7), M(4), S(0), E(0)

Jan 2004 - Nov 2006
Duração - 34 meses
Magnitude - (-38,48)
Intensidade - (-1,13)
Nº de meses em seca - L(18), M(3), S(10), E(3)

Análise das transições entre classes de seca através de modelos de Markov - Tempo esperado de permanência e recorrência para as categorias de «Não Seca»; «Quase Normal»; «Seca Moderada»; «Seca Severa/Extrema» obtidos com a série SPI

Faro

Permanência - Intervalo de meses consecutivos na mesma classe
Recorrência - Intervalo de meses consecutivos até regressar à mesma classe

«Não Seca»
(Permanência) - 13,5 meses
(Recorrência) - 2 meses

«Quase Normal»
(Permanência) - 5 meses
(Recorrência) - 4 meses

«Seca Moderada»
(Permanência) - 2,5 meses
(Recorrência) - 13 meses

«Seca Extrema/Severa»
(Permanência) - 4,5 meses
(Recorrência) - 14 meses

Muito interessante, mas preciso que me esclareças algumas coisas:
1) Esses dados é relativamente a Faro ou a Portugal?
2) Esses 4 indices traduz-se em quê ?
Não Seca -- Normal;
Quase Normal -- Seca Fraca;
Seca Normal -- Seca Normal;
Seca Extrema/Severa -- Seca Severa/Extrema
3) De que forma associas ás letras, assumindo que essas são em Inglês ?
L - Normal e Seca Fraca;
M - Seca Normal;
S - Seca Severa;
E - Seca Extrema;
4) De que forma é calculada a magnitude e intensidade?
A intensidade aparenta ser o indice SPI mas e a Magnitude ?

Se souberes ou alguém souber explicar melhor agradecia
 

comentador

Nimbostratus
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2 Out 2012
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Re: Seg. Previsão do Tempo e Modelos - Outubro 2012

Olá Comentador, em relação a este assunto pressupus que ao dizer não chove, que entendesse o que queria dizer, mas ainda bem que pertence ao campo e á área. Pois bem, eu também pertenço á area pois também sou do campo, mas os meus pais é que são agricultores, e uma das consequências que tive foi um atraso nas culturas, se bem que são para a casa, e uma enorme dependência da água. A conta da electricidade subiu bastante.
O que acontece é que se tivermos um ano de seca (digamos precipitação abaixo dos 50% do normal), não existe problema, mas se continuarmos por mais tempo torna-se problemático, porque enquanto no 1º ano não se passa da seca meteorológica no segundo ano chegamos á seca hidrológica, e eu também sei o que isso é, bem como os meus vizinhos que em 2004 - 2006, os poços, os furos, ect ... ficaram quase sem água, digamos que a água já vinha barrenta.

Felizmente as secas são comuns mas geralmente não duram mais de um ano e meio.
Esperemos que as chuvas venham então ....

Na zona onde mora está ao mesmo nível de Lisboa, mas no Baixo Alentejo e Algarve, a primeira metade de Outubro ainda costuma ser bastante quente e normalmente seca. Os finais de Setembro e 1ª metade de Outubro trazem as primeiras frentes de Noroeste pouco abonatórias quanto mais a sul.
Aqui no Algarve quando começam a chover de forma digamos mais continuada é pela Feira de Faro, e como eu me recordo de tantos anos que chove e bem pela Feira de Faro.

Pode falar pela sua região mas não pela minha ...
...
Abraço, e espero que continue participando, porque discutir ideias é sempre interessante ......

Aurélio, assim está bem: devido à seca houve um atraso nas suas culturas e consequente diminuição da produção! Agora, não haver culturas quando temos seca, isso aí é diferente!! Mas tudo bem, foi forma inadequada de expressão que utilizou!

Não se trata de estar a falar só pela minha região, estou a falar no geral. Agora é claro, que em casos particulares há casos mais complicados. Sei que temos mais chuva à medida que se caminha do litoral para o interior e do Norte para o Sul. Eu consultei os registos de precipitação do algarve e baixo alentejo referente ao ano 2012 e no algarve choveu menos que no baixo alentejo. Só não conheço bem os perimetros de rega da vossa região, mas consultando o geral (a maioria das barragens principais), neste ano o regadio foi feito sem restrições, quer para a agricultura, quer para abastecimento público. Na região de Trás-os-Montes, a situação é pior que o algarve! Há barragens com níveis muito baixos e com restrições no abastecimento de água.

Costumam dizer que depois de um ano de seca, vem um húmido! A ver vamos no que vai dar, era bom que fosse para repor o nível de água das barragens e nas toalhas freáticas do solo.

Enfim, a Natureza há de decidir....
 

Vince

Furacão
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Re: Seg. Previsão do Tempo e Modelos - Outubro 2012

Na região de Trás-os-Montes, a situação é pior que o algarve! Há barragens com níveis muito baixos e com restrições no abastecimento de água.

Sim, e tem sido recorrente de há anos para cá. Dá-me ideia de alguma negligência/despreocupação de entidades público e privadas da região nordeste com o problema das secas. A sul como são mais recorrentes, provavelmente trabalhou-se mais e melhor nas últimas décadas para mitigar os efeitos de secas que são cíclicas no nosso clima.
 

Agreste

Furacão
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29 Out 2007
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Re: Seg. Previsão do Tempo e Modelos - Outubro 2012

Muito interessante, mas preciso que me esclareças algumas coisas:
1) Esses dados é relativamente a Faro ou a Portugal?
2) Esses 4 indices traduz-se em quê ?
Não Seca -- Normal;
Quase Normal -- Seca Fraca;
Seca Normal -- Seca Normal;
Seca Extrema/Severa -- Seca Severa/Extrema
3) De que forma associas ás letras, assumindo que essas são em Inglês ?
L - Normal e Seca Fraca;
M - Seca Normal;
S - Seca Severa;
E - Seca Extrema;
4) De que forma é calculada a magnitude e intensidade?
A intensidade aparenta ser o indice SPI mas e a Magnitude ?

Se souberes ou alguém souber explicar melhor agradecia

1 - Os dados da tabela pequena são de Faro... a das datas corridas são nacionais.

2 - Exacto.

3 - Exacto; Ligeiro, Médio, Severo e Extremo.

4 - Os valores aparecem numa tabela da pag 66 mas não há nenhuma descrição de como os encontraram. Estive para publicar isto há mais tempo mas o livro neste ponto não descreve o cálculo nem da magnitude nem da intensidade.

O livro em si é uma compilação de vários estudos sobre esta temática. O preço é acessível mas o conteúdo é pesado e inclui vários cálculos matemáticos computacionais.
 

Aurélio

Cumulonimbus
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Re: Seg. Previsão do Tempo e Modelos - Outubro 2012

Aurélio, assim está bem: devido à seca houve um atraso nas suas culturas e consequente diminuição da produção! Agora, não haver culturas quando temos seca, isso aí é diferente!! Mas tudo bem, foi forma inadequada de expressão que utilizou!

Não se trata de estar a falar só pela minha região, estou a falar no geral. Agora é claro, que em casos particulares há casos mais complicados. Sei que temos mais chuva à medida que se caminha do litoral para o interior e do Norte para o Sul. Eu consultei os registos de precipitação do algarve e baixo alentejo referente ao ano 2012 e no algarve choveu menos que no baixo alentejo. Só não conheço bem os perimetros de rega da vossa região, mas consultando o geral (a maioria das barragens principais), neste ano o regadio foi feito sem restrições, quer para a agricultura, quer para abastecimento público. Na região de Trás-os-Montes, a situação é pior que o algarve! Há barragens com níveis muito baixos e com restrições no abastecimento de água.

Costumam dizer que depois de um ano de seca, vem um húmido! A ver vamos no que vai dar, era bom que fosse para repor o nível de água das barragens e nas toalhas freáticas do solo.

Enfim, a Natureza há de decidir....

Relativamente á minha região sempre tivemos muitos problemas com as secas e com aquela maior digamos assim (de 2004 - 2005), fez soar o alarme, pois como deve saber .... desperdiçar água é connosco. A Barragem do Alqueva foi a benção do interior alentejano e também do Algarve e conseguiu resolver a maior parte dos problemas de água. Arrisco dizer que não voltaremos a ter problemas hidrológicos, isto porque nos ultimos 20 anos se construiram várias barragens, sendo a maior de todas a do Alqueva.
Foram também construidas condutas de água para levar a água do Sotavento para o Barlavento algarvio devido aos problemas que a região central essencialmente sofria, porque por aqui não existem barragens e havia bastantes problemas com os furos não apenas devido á má qualidade em especial em alturas das secas, como também devido a constantemente ficarem quase secos.
O mesmo se passava em relação ao interior alentejano que em anos de seca é estilo Saara.
Por exemplo fiz a viagem até aí a Èvora agora em Setembro e parece existir quase uma barreira meteorológica da Vidigueira para cima, aliás existe um grande contraste em termos de vegetação (mas isso é normal ). Mas o que queria dizer aliás é que verifiquei uma grande secura na vegetação, quase ausência de vegetação, poucas culturas e o ponto que queria referir ... as pequenas albufeiras através das quais se faziam algumas culturas estarem também secas, e os animais muito magros. A região de Trás os Montes ainda está na "Pre-Historia" porque enquanto no Algarve se resolveu os problemas, em Trás os Montes parece existir inércia a resolver a situação, mas nem pense que choveu menos lá do que aqui. Olhe por exemplo aqui entre Dezembro e inicio de Outubro penso que somando tudo não ultrapassou os 80 mm, ou pouco mais.


Portanto em resumo em termos hidrológicos não temos nem vamos ter problemas a menos que haja uma seca durante uns 10 anos seguidos, contudo noutras regiões do país a que voçe chama de pequena pereferia, e que gosto mais de chamar barragens pequenas ou sem barragens de suporte, e que não têm como suporte uma grande barragem uma seca prolongada pode-se tornar um grande problema.