Não se tratará de nada de muito extraordinário, em princípio nem ocorrerá muita precipitação (apesar de se tratar de uma entrada com alguma componente marítima, não será totalmente seca, principalmente no litoral), mas estamos perante a primeira entrada de ar frio na Europa a partir do início da semana que vem.
Para tal contribui uma clara mudança do padrão atmosférico no Atlântico, com um bom bloqueio a unir os Açores e a Islândia, a induzir um fluxo de norte em toda a Europa ocidental.
Saída operacional do ECMWF:
Com esta configuração seria possível alguma precipitação convectiva na faixa litoral, com uma cota de neve ligeiramente abaixo dos 1000 m, devido ao muito frio a 500 hpa (cerca de -30ºC no momento mais frio). A temperatura a 850 hpa prevista ronda os -2ºC no extremo norte, com a iso 0 a cobrir todas as regiões a norte do Tejo.
A dorsal que ascendeu no Atlântico deverá conseguir ligação a uma alta pressão ártica, originada pela subida de uma outra dorsal na região do Estreito de Beiring. Esta ligação permitirá uma segunda entrada de frio, esta com muito maior intensidade, que afectaria a Europa de Norte, e eventualmente outras regiões. Média do ensemble do ECMWF:
É provável que o bloqueio atlântico seja temporariamente rompido a uma latitude relativamente baixa, com a formação de uma depressão que se dirigiria inicialmente para os Açores e depois para Madeira e continente, deixando alguma precipitação em todas as regiões, e podendo no seu deslocamento para este ajudar a impulsionar a massa de ar frio para oeste. Um cenário semelhante ao ocorrido diversas vezes em 2009/10, neste momento apoiado por algumas saídas do GFS e todas as mais recentes do ECMWF.
Outra hipótese, seria uma intensa ciclogénese resultante do choque de massas (a atlântica húmida e a continental fria), com a formação de uma depressão cavada a oeste do continente português, que provocaria uns bons dias de chuva e vento fortes. Este cenário é previsto por algumas saídas do GFS (como a mais recente das 18z, na imagem em baixo), mas tem pouca importância no ensemble do ECMWF.
Este cenário é relativamente consensual, pelo menos o padrão global é praticamente certo, algo que já vem sido previsto pelo ECMWF a 32 dias há 3 semanas e agora é confirmado por todos os modelos disponíveis. É certo que a nível local ainda pode mudar muito, nestas entradas de ar frio há sempre variações pontuais que só são vistos a prazos mais curtos (ciclogéneses secundárias, por exemplo) e que originam grandes diferenças, essencialmente ao nível das temperaturas.