Seguimento Açores e Madeira - Junho 2023

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Mesmo sem o carácter expecional do evento do 20 de Fevereiro, o evento dos últimos 2 dias vai direitinho para baú das memórias meteorológicas da Madeira.

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No Funchal choveu em 24h de um qualquer dia de Junho mais do que as médias mensais dos meses de água em fartura de Dezembro a Fevereiro.

Em relação ao comportamento das obras nos caudais principais, não é possível fazer uma comparação directa. Se é verdade que o evento de ontem não atingiu os extremos horários do 20 de Fev, também é verdade que o no 20 de Fev os problemas sérios e a cedência de algumas infraestruturas começaram ainda antes desses extremos horários serem atingidos. De qualquer forma, o "povo" parece mais descansado em relação às ribeiras e esperemos que o medo que ainda assola muitas pessoas (tenho familiares que viveram o 20 de Fevereiro na 1a pessoa no centro do Funchal que ainda hoje se "trancam às 7 chaves" em casa sempre que há um aviso mais sério) se desapareça. O respeitinho esse tem que ficar sempre até porque além das ribeiras há todo um resto de uma ilha com a qual as pessoas tiveram que aprender a conviver e aceitar que não há engenharia nenhuma que elimine o risco.
Gostada de ver a acumulação de detritos que ficaram retidos a montante das obras de barreira realizadas nas ribeiras do Funchal.
Não sei o nome técnico, mas refiro-me a isto:

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Capturar12.JPG



Quanto ao carácter excepcional de precipitação neste mês de Junho, quando entrar a década 21-30 nas normais da Madeira (lá para 2050... lol), a média de precipitação normal para Junho vai disparar!!
 
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Boas, eu já conduzi com mau tempo mas ontem foi demais, a partir do meio dia quando o tempo deveria melhorar ficou bem pior do que a manhã. Vi ontem na RTP Açores o jornalista a perguntar ao Sr da P. Civil o porquê das ocorrências serem ao final da tarde, até parece que não choveu da tarde, aqui estão alguns prints de fotos tiradas depois das 15 horas.


Ver anexo 5899Ver anexo 5900Ver anexo 5901Ver anexo 5902Ver anexo 5903Ver anexo 5904Ver anexo 5905Ver anexo 5908
Segundo a comunicação social choveu na Ribeira Quente cerca 70 mm em 24h, sendo que antes disso já tinha chovido nos dias anteriores.
 
Gostada de ver a acumulação de detritos que ficaram retidos a montante das obras de barreira realizadas nas ribeiras do Funchal.
Não sei o nome técnico, mas refiro-me a isto:

Ver anexo 5916

Ver anexo 5917


Quanto ao carácter excepcional de precipitação neste mês de Junho, quando entrar a década 21-30 nas normais da Madeira (lá para 2050... lol), a média de precipitação normal para Junho vai disparar!!

Aqui chamam de açudes embora tecnicamente não sejam os açudes que existem no continente.

Também gostava de ver o material que fica retido embora esses garfos tenham espaçamentos diferentes ao longo da extensão da ribeira. A ideia é fazer uma espécie de filtro ao longo da ribeira em que cada secção deixa passar uma determinada dimensão de pedra chegando à cidade apenas os detritos mais finos.

A ideia é evitar isto (foto Publico)

Screenshot-2023-06-07-131915.png




Se o material retido nos açudes está a entupir, as construtoras agradecem.
 
Faço aqui uma pergunta curiosa que dava para uma aula inteira de geografia:

Tenho uma dúvida em relação aos taludes dos solos da Madeira. Será que são constituídos pela mesma composição orgânica dos taludes dos Açores para serem igualmente propensos a deslizamentos de terra sempre que se registam quantidades mais elevadas de precipitação?

A Ilha de São Miguel por exemplo, sempre teve um grande historial de quebradas de terras devido à natureza dos seus solos, muitos deles fatais, alguns até desencadeados por episódios de precipitação excessiva, outros pela ocorrência de erupções vulcânicas e até sismos destruidores desde o seu povoamento!

Falo obviamente da maior catástrofe natural ocorrida no Arquipélago no ano de 1522 , conhecida historicamente pela "Subversão de Vila Franca do Campo", soterrando a maior parte da maior e principal urbe de então do Arquipélago do séc XV.
A mortandade foi enorme, as crônicas do séc XV falam em 5000 mortos , tendo restado apenas 70 e poucos dos seus habitantes.
Foi considerada a Segunda maior catástrofe natural ocorrida em Portugal, depois do terremoto de Lisboa de 1755 que matou igualmente milhares de pessoas.
No sec. XVII outro grande deslizamento de terras ocorreu na Ribeira Quente reactivado pela erupção do Vulcão das Furnas no ano de 1630 matando igualmente milhares.
No século XIX e sec XX outros episódios se sucederam!

Algumas fajãs da ilha tiveram também elas a sua origem em desabamentos de terras.
As freguesias dos Mosteiros e Ribeira Quente, por exemplo, estão situadas em cima de fajãs, mas há outras mais pela ilha.
Ou seja, a natureza e a gênese da própria Ilha de São Miguel é dada a fenômenos desta natureza, e não é preciso as quantidades de precipitação serem muito elevadas.
O que a precipitação não origina, os vulcões e os sismos fazem o resto.
Na Madeira passa se o mesmo?
A constituição dos solos da Madeira será que é semelhante às ilhas açorianas?
É que na ilha de São Miguel não basta chover mais nas serras.
Em qualquer parte da ilha, (à excepção da plataforma de Ponta Delgada,) o perigo é quase sempre eminente ao nível de deslizamentos e enxurradas rápidas, e a Ilha até tem altitudes menores em comparação com a Madeira, daí pensar que o problema das ilhas açorianas não é tanto a sua orografia em si, mas sim a constituição dos seus solos.
O que choveu na Madeira ontem, se tivesse ocorrido em São Miguel ou em qualquer outra ilha açoriana (excluindo Corvo e Graciosa) nem quero imaginar o que seria...

Provavelmente uma hecatombe nunca dantes vista!
 
Gostada de ver a acumulação de detritos que ficaram retidos a montante das obras de barreira realizadas nas ribeiras do Funchal.
Não sei o nome técnico, mas refiro-me a isto:

Ver anexo 5916

Ver anexo 5917


Quanto ao carácter excepcional de precipitação neste mês de Junho, quando entrar a década 21-30 nas normais da Madeira (lá para 2050... lol), a média de precipitação normal para Junho vai disparar!!

Viva, são açudes "tipo pilar".
Partilho aqui uma dissertação que encontrei online sobre os açudes das 3 ribeiras do Funchal:

 
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O que choveu na Madeira ontem, se tivesse ocorrido em São Miguel ou em qualquer outra ilha açoriana (excluindo Corvo e Graciosa) nem quero imaginar o que seria...

Para os 352mms do Areeiro ocorrerem nos Açores (especialmente no este de S. Miguel), seria necessário um evento com diferente configuração para compensar a orografia mais baixa.

A frente da Madeira não tinha propriamente grande intensidade, mas isso foi compensado pela duração incomum e os valores extremos (para a realidade da ilha) de água precipitável. Por cá, e para ocorrer o mesmo acumulado, os ventos teriam que ser bem mais intensos.

Apocalipse seria esta frente com a intensidade da outra. Quem sabe? Os acumulados poderiam ter sido o dobro ou o triplo.

Mas mesmo com as nossas 'limitações', de vez em quando há dilúvios notáveis. No boletim do IPMA foram registados 109.5mms nas Flores, bastando um estreito rio atmosférico e uma pequena depressão.

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Para se ter melhor noção da anormalidade, a normal para junho no Areeiro é de apenas 69,9 mm (61-90, são os dados mais recentes que tenho), ou seja, em 2 dias choveu quase 10 vezes o valor médio. E em termos relativos nem é a maior anomalia, Porto Santo é o caso mais "suave" e mesmo lá choveu 2 vezes e meia a média de junho nestes 2 dias
 
Para os 352mms do Areeiro ocorrerem nos Açores (especialmente no este de S. Miguel), seria necessário um evento com diferente configuração para compensar a orografia mais baixa.

A frente da Madeira não tinha propriamente grande intensidade, mas isso foi compensado pela duração incomum e os valores extremos (para a realidade da ilha) de água precipitável. Por cá, e para ocorrer o mesmo acumulado, os ventos teriam que ser bem mais intensos.

Apocalipse seria esta frente com a intensidade da outra. Quem sabe? Os acumulados poderiam ter sido o dobro ou o triplo.

Mas mesmo com as nossas 'limitações', de vez em quando há dilúvios notáveis. No boletim do IPMA foram registados 109.5mms nas Flores, bastando um estreito rio atmosférico e uma pequena depressão.

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Mas mesmo assim com menos valores de precipitação que choveu em São Miguel, ocorreram ( e ocorrem quase sempre) deslizamentos de terras.
A minha questão é: porquê?
Serão os solos diferentes?
Sim, porque já se percebeu que a orografia além de ter um papel preponderante no desencadear da precipitação não explica tudo.
A zona ocidental de São Miguel é propícia a enxurradas, e a zona central e oriental à ocorrência de desabamentos de terras.
Serão os solos e a natureza dos taludes instáveis?
 
Mas mesmo assim com menos valores de precipitação que choveu em São Miguel, ocorreram ( e ocorrem quase sempre) deslizamentos de terras.
A minha questão é: porquê?
Serão os solos diferentes?
Sim, porque já se percebeu que a orografia além de ter um papel preponderante no desencadear da precipitação não explica tudo.
A zona ocidental de São Miguel é propícia a enxurradas, e a zona central e oriental à ocorrência de desabamentos de terras.
Serão os solos e a natureza dos taludes instáveis?
Talvez sejam deslizamentos que afectam directamente as populações, interrompendo e destruindo estradas e caminhos, invadindo povoações, etc, portanto identificados por esses motivos.
Ou seja, na Madeira devem ocorrer inúmeros deslizamentos e desmoronamentos em zonas não povoadas, precisamente nas altitudes maiores em que a precipitação é mais forte, mas não identificados imediatamente ou sem consequências para as populações.
Também haverá diferenças na geologia e podologia (solos) das duas regiões, relacionadas com as diferentes idades das formações da orografia.
 
Só uma dúvida: porque se está a usar o valor de 352mm para hipótese, se o acumulado em 24 horas foi de 604mm?
Havendo até mais duas estações na Madeira que registaram mais de 352mm em 24 horas.

-> https://www.meteopt.com/forum/topic...adeira-junho-2023.11029/pagina-18#post-895392

É indiferente o valor porque o que escrevi mantém-se. Realidades muito diferentes.

Orografia-da-Ilha-de-S-Miguel-e-localizacao-das-estacoes-climatologicas-e-postos.png

Orografia.jpg


Talvez sejam deslizamentos que afectam directamente as populações, interrompendo e destruindo estradas e caminhos, invadindo povoações, etc, portanto identificados por esses motivos.
Ou seja, na Madeira devem ocorrer inúmeros deslizamentos e desmoronamentos em zonas não povoadas, precisamente nas altitudes maiores em que a precipitação é mais forte, mas não identificados imediatamente ou sem consequências para as populações.
Também haverá diferenças na geologia e podologia (solos) das duas regiões, relacionadas com as diferentes idades das formações da orografia.

Se não houver acesso, não há nada para limpar. Viva aos túneis -> https://www.madeira.gov.pt//Portals/27/Documentos/RedeViaria/REDEVIARIAREGIONAL_07_2017_PDF_T.pdf

:D
 
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Talvez sejam deslizamentos que afectam directamente as populações, interrompendo e destruindo estradas e caminhos, invadindo povoações, etc, portanto identificados por esses motivos.
Ou seja, na Madeira devem ocorrer inúmeros deslizamentos e desmoronamentos em zonas não povoadas, precisamente nas altitudes maiores em que a precipitação é mais forte, mas não identificados imediatamente ou sem consequências para as populações.
Também haverá diferenças na geologia e podologia (solos) das duas regiões, relacionadas com as diferentes idades das formações da orografia.

Faz sentido o que dizes, porém no interior da ilha de São Miguel (acredito que também em quase todas as ilhas dos Açores) também existem deslizamentos em zonas não povoadas, e que por isso não têm maior impacto.
A serra do Pico da Vara, o vale das Furnas, o "anfiteatro" da Povoação, o lugar da Praia em Água Dalto, a cratera interior das Sete Cidades, Furnas, Caldeirão (Faial) Lagoa do Congro, do Fogo, Lombadas, encostas dos Mosteiros, Faial da Terra, Rocha da Relva, Fajã do Calhau, etcetera, estão fortemente esventradas por desabamentos muito recentes
O problema são alguns povoados que estão em zonas sinalizadas de risco para a população, quer seja nos Açores, quer na Madeira, mas mesmo assim no caso dos Açores, julgo que a orografia das ilhas não explica tudo.
Na Madeira até pode explicar, ( ou não?) mas no caso açoriano, como é que se explica desencadeamentos constantes de vertente sempre que chove um pouco mais além? Isto para não falar dos sismos que volta e meia atingem as ilhas com maior ou menor intensidade.
Há poucos anos em 2010 se não me falha a memória, aconteceu o mesmo nas Flores, e os valores não foram tão astronómicos como os de ontem na Madeira.
É claro que as serras absorvem muito mais as chuvas, mas penso que a natureza dos solos de ambos os Arquipélagos são diferentes, apesar de terem em comum a mesma gênese vulcânica que as originou.
Talvez sejam deslizamentos que afectam directamente as populações, interrompendo e destruindo estradas e caminhos, invadindo povoações, etc, portanto identificados por esses motivos.
Ou seja, na Madeira devem ocorrer inúmeros deslizamentos e desmoronamentos em zonas não povoadas, precisamente nas altitudes maiores em que a precipitação é mais forte, mas não identificados imediatamente ou sem consequências para as populações.
Também haverá diferenças na geologia e podologia (solos) das duas regiões, relacionadas com as diferentes idades das formações da orografia.