Fazendo um pouco de off-topic, nos últimos dez anos foi notório o aumento do número de turistas portugueses no Algarve, que infelizmente se concentram em pouco mais de um mês. Sucede que há estudos que mostram que o gasto médio por turista é muito baixo, longe da realidade italiana ou grega. Ou seja, este turismo de massas compensa? Seria melhor para todos no Algarve se houvesse metade dos turistas mas fossem pessoas que consomem mais na restauração e comércio locais. Quem lucra com este turismo de massas e sem poder de compra são sobretudo os supermercados das grandes cadeias e as pessoas que fazem arrendamentos “ilegais”! Não são os restaurantes, cafés ou hotelaria. Este turismo exagerado de portugueses tira a qualidade de vida nas férias a todos! E há impactos no Ambiente dos quais ninguém fala. Há cada vez mais turistas nas ilhas barreira e têm feito coisas que o Plano de Ordenamento não previa. A Ria Formosa não pode ser uma reserva de Avifauna e estar parte do ano a abarrotar de pessoas. A tendência é para piorar pois as autarquias querem mais e mais concessões de praia e mais e mais blocos de apartamentos para entrar dinheiro de IMIs. Eu este ano fui a uma praia já longe donde está a casa dos meus pais pois em todas as praias próximas era impossível estacionar! Além disso não gosto de praias a abarrotar de pessoas. Fazia 12 kms para ir à praia. Pelo menos esta praia que não digo qual é tinha lugar para estacionar e pouca gente. Ainda não foi descoberta pelos turistas! Aguentará quanto tempo?
Sou licenciado em Turismo e fiz um estudo de caso em sazonalidade turística e o impacto da mesma nas várias regiões de Portugal.
Resumindo e concluíndo para não estender o Off-Topic, toda a literatura sobre Ordenamento e Planeamento Turístico está definida desde os anos 60. Pouco ou nada mudou acerca da teoria.
Dito isso, quais as autarquias que planeiam e respeitam as mesmas? Virtualmente NENHUMAS. Especialmente aquelas à beira mar. Pequenas autarquias condenadas a vender produtos diferenciados (seja pelo seu isolamento ou falta de grandes atracções) podem ter mais cuidado no que fazem. Silves é um bom caso no Algarve pois, à data que eu conheci um diretor do Turismo daquele concelho, apostavam nas mais valias culturais, paisagísticas e ambientais de um Algarve diferente.
De resto, o país está completamente a saque. Não existe qualquer planeamento a longo prazo e literalmente TODAS as acções verbais que apontam para modelos sustentáveis não passam de propaganda e Green Washing com vista a ganhar votos, galardões, prémios e justificar "investimentos".
Isso é transversal não só ao Turismo como a todos os sectores das autarquias, NUTS e governo de Portugal.
No Litoral Norte, zona que nos diz mais, não existe qualquer atenção sobre o que a região tem de mais especial: A precipitação muito acima da média Europeia e totalmente fora do contexto do resto do país.
A intensa sazonalidade não é respeitada em termos de investimentos e continuam a abrir hotéis como cogumelos fazendo com que o crescimento do Turismo não compense o aumento da oferta. Ou seja, cada vez temos mais empresas descapitalizadas. Depois, no estio, temos zonas como o Gerês que estão absolutamente invadidas de turismo e visitantes do pior tipo. Literalmente trata-se em alguns casos de turismo de massas em zonas de proteção da Biosfera.
O potencial agrícola desta região foi dizimado pelo abandono rural e urbanização sem nexo nenhum. Grande parte dos vales mais povoados (Cávado e Ave) são verdadeiros caixotes do lixo sub urbanos onde todo o tipo de território e ocupação partilha o mesmo espaço. Quintas abandonadas, fábricas de zinco, moradias de luxo, prédios já degradados, pavilhões e armazéns, explorações agrícolas e turísticas, eucaliptais, vias rápidas e auto estradas, caminhos rurais etc. Este problema está já a expandir-se para áreas até há 2 décadas ainda mais ou menos decentes. Sejam vilas do Alto Minho ou aldeias de montanha, não existe nexo nem fiscalização.
Invernos como este, longos e pesados no que toca à chuva, são na realidade invernos "normais" e que se repetem várias vezes todas as décadas. Se o Algarve tem falta de água para alimentar o seu turismo voraz e canibal, o Noroeste tem uma série de outros problemas completamente opostos mas que resultam no mesmo caos.