Dados do Inag referem que mais de metade das barragens nacionais têm uma disponibilidade hídrica acima dos 80%. Bacia do Sado e Oeste são as mais preocupantes
Mais de metade das albufeiras das barragens portuguesas tinham, em finais de Janeiro, disponibilidades hídricas superiores a 80% das suas capacidades. Valores que levam os responsáveis do Instituto da Água (Inag) a falar nas melhores reservas desde 2003, e a acreditar que estão afastadas as preocupações com a disponibilidade de água nos próximos dois anos.
Para Rui Rodrigues, responsável do Inag pela avaliação dos recursos hídricos, o aumento da disponibilidade das bacias nacionais, quando comparado com Dezembro de 2009, deve-se sobretudo ao facto de, "apesar de não ter chovido muito durante o mês de Janeiro, também não se ter registado um aumento dos níveis de evaporação, o que conduziu ao aumento do armazenamento de água nas barragens".
O responsável do Inag garante que "temos água para dois anos de seca" e afiança mesmo que "em 2009 não chegou a haver preocupação com a seca". "Em Dezembro, andava toda a gente preocupada com a seca e com os níveis de água nas barragens sem razão nenhuma", salienta Rui Rodrigues.
Para ajudar a compreender a preocupação com uma situação de seca, basta analisar as sete ondas de calor registadas ao longo do ano até ao Outono (ver caixa).
Não obstante, a chuva que caiu em Novembro e Dezembro levou a que no final de Janeiro a maioria das bacias hidrográficas estivesse com uma disponibilidade entre os 61 e os 80%. Abaixo destes valores só as do Oeste e Sado (com 39,5 e 31,9%, respectivamente) enquanto acima estava já a bacia do Guadiana (83,4%), atingindo a barragem do Alqueva o seu limite máximo no início de Janeiro deste ano.
As condições favoráveis já referidas levaram a que, no final do último mês, a bacia do Barlavento algarvio tivesse já atingido a cota máxima de armazenamento. Próximas de atingir a disponibilidade máxima estavam as barragens das bacias do Cávado (Alto Rabagão, Caniçada, Paradela, Salamonde, Venda Nova e Vilarinho das Furnas) e Guadiana (Alqueva, Beliche, Caia, Enxoé, Lucefecit, Monte Novo, Odeleite e Vigia).
Apesar desta boa disponibilidade das bacias, a do Sado apresentava valores mais reduzidos. De acordo com Rui Rodrigues, "um dos problemas é que esta bacia tem pouca capacidade de armazenamento para as necessidades que tem". Outro dos motivos é que "temos uma forte agricultura numa zona que é muito seca".
Será necessário criar então novas áreas de armazenamento? Para o responsável do Inag tal hipótese não faz sentido, pois "as bacias existentes são suficientes".
Tal como não faz qualquer sentido proceder-se ao transvase de outras bacias. "Apenas estaremos a iludir o problema", frisa Rui Rodrigues, acrescentando que "com as barragens que já temos já existem grandes perímetros de rega". "Ao criar mais barragens estaríamos a incentivar, erradamente, a criação de mais perímetros de rega", diz.
Para este responsável do Inag, a solução tem de passar por "adequar as necessidades à realidade e à capacidade de armazenamento que temos". Uma medida que, admite, não é fácil de concretizar. É que se "atingiram situações muito desequilibradas", conclui.
DN