Seguimento Rios e Albufeiras - 2016

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Boa noite.

Na passada 6ª feira desloquei-me a Cinfães e passei pela barragem do Carrapatelo.
Estavam 2 comportas abertas, das 6 que tem. E apenas estavam parcialmente abertas, eu diria que pouco abertas mesmo. Ainda assim o caudal libertado era imenso, certamente muito longe dos dias de maior caudal.
O espectáculo era interessante, ver aquele turbilhão fez-me pensar no que seria ver os 6 descarregadores abertos...:shocking:




Encontrei também um vídeo das cheias de 1996, com o caudal monstruoso a passar em frente às ribeiras de Gaia e do Porto...É de pasmar a água que o rio Douro pode transportar nas maiores cheias.
São cerca de 97 600 km2 de área a debitar água para umas centenas de metros de largura que o rio tem entre Porto e Gaia. É bom lembrar que é uma área maior do que Portugal continental - 89 015 km²
Rio Douro na Wikipédia

 
Claro que é possível que tenha havido piores antes mas as maiores cheias do séc XX no Douro foi em 1909 e 1962 como se lê neste texto dos Bombeiros da Régua

"Na nossa cidade, são consideradas cheias grandes aquelas que inundam a Avenida João Franco (que esta à cota 58 m), implicando uma subida do nível do rio em 13 metros de altura (caudal a 6 000 m3/s).

Mas, essa cheia do rio de 1962, a segunda maior do Séc.XX (a maior cheia é de 1909 com um caudal de 16.700 m3/s), na nossa cidade, atingiu um caudal de 15.700 m3/s (cota 67,7 m, o equivalente a 23 metros de altura).

Da grande aflição, com “horas de angústia” e “horas de terror”, vividas pelos reguenses nesta cheia, temos um emocionante e doloroso relato feito nas páginas do jornal “Vida por Vida” .

“Ainda não seriam 19 horas do primeiro dia do ano de 1962, quando os nossos bombeiros começaram a ser solicitados para prestarem o seu auxílio a diversas famílias que na nossa zona ribeirinha estavam a ser molestadas pela subida do rio Douro.


Desde essa hora, nunca mais os nossos bombeiros tiveram um minuto de descanso e o auge da tragédia veio a verificar-se perto da noite, pois cada vez mais era superior o número de pedidos, que os nossos briosos Soldados da Paz eram impotentes para poderem atender. Duas vezes e com angústia se ouviu o toque da sirene para alertar toda a população e os trabalhos iam sempre decorrendo debaixo de um temporal e da um preocupação constante.

Os telefonemas sucediam-se para diversos locais a pedir informações sobre os aumentos verificados no caudal do nosso rio e todas as notícias eram o mais assustadoras que se podiam imaginar.

Cônscio da gravidade da situação, eis que o Comando da Corporação delibera pedir a colaboração das Corporações vizinhas (…) surgiram já no meio da manhã do dia 2 de Janeiro e o seu trabalho também não poderá ser esquecido. Vila Real, Lamego e Armamar, nos diversos locais onde trabalharam, deixaram a certeza de que estavam connosco e só havia um fim: salvar as vidas e haveres de tantos reguenses que se encontravam em perigo.

Tão cedo não se apagará da memória de todos nós tão grave tragédia que, felizmente, não teve a registar qualquer perda de vidas. (…) há a realçar a valentia dos infatigáveis bombeiros que, já na noite desse segundo dia, com risco das suas próprias vidas, salvaram diversos homens numa casa na Rua da Alegria, um casal de velhinhos no Salgueiral, e de morte certa, duas famílias no Juncal de Baixo, pois que estas, após terem sido retiradas, viam as suas pobres casas serem arrasadas pela fúria crescente do Rio Douro
”.


E aqui uma foto da cheia de 1962. Para quem conhece a Régua, mesmo para mim é surreal ver esta foto, a água chegou a áreas que nem pensamos que fossem possíveis, sendo que nesta foto só se podia circular a pé pela linha de comboio


ReA.jpg
 
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Uma pergunta "parva" a utilizaçao dos descarregadores de fundo nas barragens ajuda a desassoreamento das mesmas?

Sim. Até se pode dizer que são as diarreias dos rios.

Quanto às cheias do Douro, muito dificilmente haverá cheias como no passado. O rio, principalmente em Espanha, está muito controlado. A bacia do Douro espanhola conta com mais de 30 barragens, sendo que 9 delas têm albufeiras muito grandes.

Mesmo quando há descargas, são pontuais e restritas a algumas barragens, e não todas ao mesmo tempo.
No caso de Portugal é diferente. As albufeiras das nossas barragens na bacia do Douro são muito pequenas. Por isso facilmente enchem e descarregam. Nas cheias das últimas semanas, a água tem sido toda praticamente proveniente de Portugal. Também porque a precipitação se tem restringido muito ao litoral.
De qualquer forma, a média do armazenamento da bacia do Douro espanhola está nos 84,24%.
 
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Sim. Até se pode dizer que são as diarreias dos rios.

Quanto às cheias do Douro, muito dificilmente haverá cheias como no passado. O rio, principalmente em Espanha, está muito controlado. A bacia do Douro espanhola conta com mais de 30 barragens, sendo que 9 delas têm albufeiras muito grandes.

Mesmo quando há descargas, são pontuais e restritas a algumas barragens, e não todas ao mesmo tempo.
No caso de Portugal é diferente. As albufeiras das nossas barragens na bacia do Douro são muito pequenas. Por isso facilmente enchem e descarregam. Nas cheias das últimas semanas, a água tem sido toda praticamente proveniente de Portugal. Também porque a precipitação se tem restringido muito ao litoral.
De qualquer forma, a média do armazenamento da bacia do Douro espanhola está nos 84,24%.

Curiosamente as grandes Barragens espanholas são em afluentes do Douro.
Sendo a maior Almendra, sozinha tem um terço da capacidade total de Espanha no Douro
 
Eu penso que as cheias também estão associadas à quantidade de chuva. No caso em concreto do Douro, as cheias eram cíclicas , grandes cheias , ao longo dos tempos, só tem ocorrido de X em X anos. Penso que isso estará dependente da chuva que cai em Espanha. Visto que a bacia hidrográfica do Douro espanhola é muito superior à portuguesa ( e na bacia hidrográfica espanhola chove muito menos e de forma mais irregular que na portuguesa) , penso que em parte reside a explicação das grandes cheias no Douro só ocorrerem excepcionalmente. E claro que as barragens também têm aí o seu papel.

P. S. Quando ocorrem anos extraordinariamente chuvosos ( pela quantidade e extensão temporal) como o de 2001 ( que até hoje não mais se repetiu um ano assim, as chuvadas no início deste ano foram uma brincadeira comparadas com esse inverno 2000 / 2001) , não há barragem nenhuma que impeca imponentes cheias ( como se viu nessa altura) . Só que estas impressionantes anomalias na precipitação só ocorrem em períodos temporais bastante alargados.
 
P. S. Quando ocorrem anos extraordinariamente chuvosos ( pela quantidade e extensão temporal) como o de 2001 ( que até hoje não mais se repetiu um ano assim, as chuvadas no início deste ano foram uma brincadeira comparadas com esse inverno 2000 / 2001) , não há barragem nenhuma que impeca imponentes cheias ( como se viu nessa altura) . Só que estas impressionantes anomalias na precipitação só ocorrem em períodos temporais bastante alargados.

Sem barragens, as cheias dessa altura teriam sido imensamente maiores.
A monitorização das barragens é feita ao minuto para que o maior caudal na foz do Douro aconteça no período em que a maré está a esvaziar e decorre a maré vazia.
Quando a maré enche e até ao pico da maré, mas barragens debitam menos água, fazendo com que a cota do rio aumente o menos possível.

Por isso é que em alturas de cheias, a amplitude do rio na foz é praticamente nula, quer em maré cheia, quer em maré vazia. Já a velocidade da água é imensamente maior na maré vazia, porque o caudal debitado é muito maior.

Mesmo nestas "pequenas cheias", não fosse esse controlo, teriam havido importantes cheias em Gaia e no Porto na maré alta. Mas foi tudo praticamente controlado ao centímetro.
 
Sem barragens, as cheias dessa altura teriam sido imensamente maiores.
A monitorização das barragens é feita ao minuto para que o maior caudal na foz do Douro aconteça no período em que a maré está a esvaziar e decorre a maré vazia.
Quando a maré enche e até ao pico da maré, mas barragens debitam menos água, fazendo com que a cota do rio aumente o menos possível.

Por isso é que em alturas de cheias, a amplitude do rio na foz é praticamente nula, quer em maré cheia, quer em maré vazia. Já a velocidade da água é imensamente maior na maré vazia, porque o caudal debitado é muito maior.

Mesmo nestas "pequenas cheias", não fosse esse controlo, teriam havido importantes cheias em Gaia e no Porto na maré alta. Mas foi tudo praticamente controlado ao centímetro.

Sim, concordo.
Eu também afirmei que as barragens têm um papel importante no controlo de cheias. Principalmente nos períodos em que chove bem, mas nada de extraordinário, dá para fazer uma gestão de caudais que antigamente não existia. Nos períodos excepcionalmente chuvosos ( que são raros e que incidem sobre toda a bacia hidrográfica, penso que foi o caso de 2000/2001) é que se torna mais complicado.
 
esse ano de 2000/01 foi dos ultimos de grandes cheias aqui na Régua. Chegou à minha rua e ficou a pouco de entrar em minha casa, porque na altura eu vivia na avenida à beira rio. No espaço de poucas semanas/meses tivemos várias cheias seguidas a chegar à avenida.
Lembro-me bem de ficar noites e noites acordado, uma delas fomos dormir descansados com o rio quase em leito normal e acordamos às 8 da manhã com as noticias na rádio do rio a um metro de chegar à avenida principal, tivemos rapidamente de ir preparar as coisas para tirar tudo de casa.
As últimas grandes cheias cá na Régua, a chegar à avenida foram em Novembro de 2006.

Têm aqui um resumo das maiores cheias em Portugal que estão na página da ANPC

1909
Dezembro
Rio Douro
. Atingiu na Régua o caudal máximo de 16 700 m3/s;

1948
Janeiro

As mais generalizadas em Portugal, por se terem verificado em quase todos os rios do Continente;

1962
Janeiro
Norte e Centro do País
, com principal incidência nos rios Mondego e Douro, onde se cotou como a 2ª maior cheia do século XX;

1967
Novembro
Rio Tejo
. Morreram cerca de 500 pessoas, grande número de casas ficou gravemente danificado e foram destruídos muitos quilómetros de infra-estruturas;

1978
Fevereiro
Rios Tejo e Sado
;

1979
Fevereiro
Rio Tejo
. A cheia durou 9 dias, tendo provocado 2 mortos, 115 feridos, 1 187 evacuados e avultados prejuízos materiais. O distrito de Santarém foi o mais afectado. Considera-se como a maior cheia do séculoXX;

1983
Novembro
Rio Tejo
. Morreu uma dezena de pessoas, 610 habitações foram completamente destruídas, 1 800 famílias desalojadas, tendo os prejuízos ascendido a cerca de 18 milhões de contos (valores da época);

Cascais, 1983
CheiaPortugal1.GIF


1989
Dezembro
Rios Tejo e Douro
. Provocou 1 morto, 61 pessoas foram evacuadas no Distrito de Santarém e 1 500 ficaram desalojadas no Distrito de Vila Real (Régua), onde atingiu um caudal máximo de 12.000 m3/s.

Constância (Rio Tejo),1989
Fotografia: Rui Ochôa
CheiaPortugal2.GIF


1997
Outubro
Monchique
. Precipitação muito intensa durante quatro horas alagou impetuosamente a localidade, com elevados prejuízos materiais em habitações, viaturas e equipamentos (ex: Termas das Caldas de Monchique).

1997
Novembro
Baixo Alentejo
. Onze mortos devido a inundações repentinas nos concelhos de Ourique, Aljustrel, Moura e Serpa.

2000/01
Inverno
Rios Douro e Tejo
. Um período de Inverno excepcionalmente chuvoso originou uma série de cheias consecutivas entre os meses de Dezembro e Março. Os distritos de Vila Real, Porto e Santarém foram os mais afectados. Outras bacias hidrográficas também registaram diversas situações de cheia, algumas das quais atingiram níveis recorde. Ao todo, durante este Inverno, cerca de uma dezena de pessoas perdeu a vida nas cheias, a maioria ao atravessar indevidamente zonas caudalosas. A saturação dos solos proporcionada pela precipitação contínua causou ainda diversos aluimentos de terras que provocaram mortos e desalojados.

2001
Janeiro
Rio Mondego
. Níveis excepcionais de precipitação na região de Coimbra originaram um elevado caudal do Mondego, o que provocou a rotura dos diques do leito central do rio em 13 pontos distintos (por erosão dos taludes). A zona a jusante de Coimbra ficou alagada durante quase uma semana, com especial incidência para o concelho de Montemor-o-Velho.
 
Quanto ao controlo de caudais, não se recordam de quando caiu a ponte de Entre-os-Rios, depois de a marinha sacrificar um mergulhador, ter havido um esforço conjunto e reduzido consideravelmente o caudal do Douro?