Seguimento Rios e Albufeiras - 2019



David sf

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O problema do Baixo Mondego seria bastante minimizado com a construção da barragem de Girabolhos. Portugal tem um grande défice na gestão dos Recursos Hídricos, em mais nenhum país civilizado ocorrem cheias desta magnitude em grandes rios após um período de seca acentuada. Com mais capacidade de retenção a montante, para a precipitação que ocorreu, que não foi nada de extraordinária, o caudal nunca atingiria valores superiores a 2000 m3/s em Coimbra.

As aldeias podem estar mal localizadas, em leito de cheia, mas o Ministro propor a sua relocalização é ridículo. O Terreiro do Paço deverá ser inundado com a eventual subida do nível do mar, mas ninguém propõe a deslocalização da Baixa de Lisboa. E Lisboa vai gastar mais de 100 milhões de euros num plano de drenagem apenas para resolver umas "chatices"... Não se podem gastar muitos menos euros para manter os diques do Baixo Mondego em condições?
 

Maravedi

Cirrus
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5 Jan 2016
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O problema do Baixo Mondego seria bastante minimizado com a construção da barragem de Girabolhos. Portugal tem um grande défice na gestão dos Recursos Hídricos, em mais nenhum país civilizado ocorrem cheias desta magnitude em grandes rios após um período de seca acentuada. Com mais capacidade de retenção a montante, para a precipitação que ocorreu, que não foi nada de extraordinária, o caudal nunca atingiria valores superiores a 2000 m3/s em Coimbra.

As aldeias podem estar mal localizadas, em leito de cheia, mas o Ministro propor a sua relocalização é ridículo. O Terreiro do Paço deverá ser inundado com a eventual subida do nível do mar, mas ninguém propõe a deslocalização da Baixa de Lisboa. E Lisboa vai gastar mais de 100 milhões de euros num plano de drenagem apenas para resolver umas "chatices"... Não se podem gastar muitos menos euros para manter os diques do Baixo Mondego em condições?

Existem muitas e variadas soluções... mas temos de ter em consideração que historicamente o Mondego sofre eventos de cheia num intervalo de 2 décadas... e estamos a falar num intervalo registado com quase 1000 anos...
A obras do ultimo século vieram minimizar o problema, mas não o vieram resolver.

Na minha opinião, existem soluções que deviam ser tomadas e de custo zero, como por exemplo a redefinição dos PDM´s... acho surreal que os autarcas que vêm para as TV's chamar o governo central à responsabilidade, sejam os mesmos que permitem que se construam edificações e novas urbanizações em cotas inferiores aos diques... que sejam os mesmos que canalizam as aguas pluviais das estradas para ribeiras sem que se tomem medidas de anti-retorno.

Quanto à sugestão do ministro eu não a levei tão à letra... eu interpretei mais como sendo fundamental redefinir a coerência ou não de manter certas zonas habitadas... isso pode ser feito através de redefinição de PDM's (como eu referi anteriormente e o qual defendo) e não obrigatoriamente com deslocalizações inteiras de populações.

Mas bom... como disse, existem muitas e variadas soluções... umas "grátis" outras muito onerosas... e há sempre quem vá considerar que desta ou daquela forma se faria melhor...

PS: quanto ao que acontece noutros países, também não somos assim tão maus e existem muitos casos semelhantes ao que acontece por cá em Espanha, França, Itália, Alemanha, etc... como é óbvio temos é a tendência de valorizar mais a "tristeza" que por cá se passa... E quanto ao facto de ser "após o período de grande seca", no Mondego o que se passa não é por causa do período de seca, aliás, se não foi pior, foi precisamente por termos passado um período de seca e assim a Aguieira estava com uma capacidade de encaixe brutal... se por acaso a Aguieira estivesse "normal", teria de ter começado a vazar mais cedo, sobrecarregando ainda mais e durante muito mais tempo o Mondego.
 

slbgdt

Nimbostratus
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31 Jan 2015
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O problema do Baixo Mondego seria bastante minimizado com a construção da barragem de Girabolhos. Portugal tem um grande défice na gestão dos Recursos Hídricos, em mais nenhum país civilizado ocorrem cheias desta magnitude em grandes rios após um período de seca acentuada. Com mais capacidade de retenção a montante, para a precipitação que ocorreu, que não foi nada de extraordinária, o caudal nunca atingiria valores superiores a 2000 m3/s em Coimbra.

As aldeias podem estar mal localizadas, em leito de cheia, mas o Ministro propor a sua relocalização é ridículo. O Terreiro do Paço deverá ser inundado com a eventual subida do nível do mar, mas ninguém propõe a deslocalização da Baixa de Lisboa. E Lisboa vai gastar mais de 100 milhões de euros num plano de drenagem apenas para resolver umas "chatices"... Não se podem gastar muitos menos euros para manter os diques do Baixo Mondego em condições?
A barragem de Girabolhos não tinha capacidade de armazenamento..
145hm³ é tanto como a Caniçada.
Se fosse 10x maior teria razão, assim era só mais uma foz tua ou baixo sabor.
Que para aproveitar a altura, a tomada de água fica nos últimos metros, sendo o resto da água não útil
 

David sf

Moderação
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8 Jan 2009
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Oeiras / VN Poiares
A barragem de Girabolhos não tinha capacidade de armazenamento..
145hm³ é tanto como a Caniçada.
Se fosse 10x maior teria razão, assim era só mais uma foz tua ou baixo sabor.
Que para aproveitar a altura, a tomada de água fica nos últimos metros, sendo o resto da água não útil

Actualmente as únicas albufeiras com volume relevante na BH do Mondego são a Aguieira e Fronhas. A primeira tem pouco mais de 300 hm3 de volume útil, a segunda cerca de 40 hm3, o que dá um total de 350 hm3. Girabolhos representava um aumento de capacidade de cerca de 40% na bacia do Mondego, o que seria significativo e que permitiria amortecer a atrasar a chegada da ponta da cheia.
Foz Tua e o Baixo Sabor representarão papéis decisivos no amortecimento de cheias na BH do Douro, queixamo-nos muito dos espanhóis, mas na esmagadora maioria das cheias no Porto o caudal registado em Crestuma é cerca de 4 vezes superior ao registado em Saucelle. Quase todo o escoamento provém da parte portuguesa da BH, e amortecer o caudal de ponta nos principais afluentes (e poder gerir os caudais de forma conjunta em toda a bacia, desfasando no tempo a ocorrência de pontas em cada afluente) é absolutamente necessário.
 

frederico

Furacão
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9 Jan 2009
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Desculpa contrariar-te @DaniFR mas estão ai algumas confusões/lapsos, e alguns deles, acredito eu, originados pela noticia/reportagem da SIC que partiu para conclusões sem conhecer minimamente o que se passa no Mondego.

  1. Quando o Mondego atinge os 1200 m3/s, o caudal sobe ao ponto de entrar em acção o 1º Sifão. Este sifão, não é nada mais que um "escape" onde a água "escorre" para os campos do Mondego a Norte de Montemor-o-Velho. Não há aqui nenhum automatismo.
  2. Caso o caudal continue a aumentar, outros 2 sifões entram em "acção" permitindo assim um controlo de caudal limite de 1800 m3/s.
  3. Note-se que com um caudal com estes valores, são inevitáveis cheias dentro da cidade de Coimbra, nomeadamente no parque verde. E quanto a isso, poucas soluções poderão ser concretizadas, mas não é importante, pois é apenas zona de parque de lazer sem habitações.
  4. Os 3 sifões existentes estão em altitudes diferentes, sendo que o primeiro que actua está mais a jusante e o 3º está mais a montante. Os campos norte do Mondego, estão cercados por diques, servindo assim de reservatórios gigantescos que aliviam o caudal do rio ao "absorverem" até 760 m3/s de caudal...
  5. Esgotando-se a capacidade dos sifões e atingindo o caudal um valor na ordem dos 1800 m3/s, ai sim, entra em funcionamento uma descarga fusível que se localiza junto ao açude (que funcionou sem problemas).
  6. Os campos Norte, "escorrem" a água para os campos Sul através de tubagem que passa por baixo do rio velho, não sobrecarregando assim o rio velho que poderia causar cheias em Montemor-o-velho. (Já vi aqui no forum uma foto desse "escape", sendo que está erradamente descrita como sendo uma estação bombagem).
  7. Os campos sul são também eles um reservatório gigantesco e estão igualmente cercados por diques, no entanto, dentro destes campos existe a localidade da Ereira e esta sim transforma-se em "ilha" durante as cheias, pelo que esta é sempre uma grande preocupação.
  8. Os campos sul são escoados para o Mondego através de bombagem na tão falada estação da Foja. É verdade que esta estação tinha planeado originalmente 6 bombas (não 8) e é verdade que das 6 apenas 2 existem. Note-se no entanto que estas bombas apenas funcionam em casos de se atingir determinadas cotas e a sua capacidade é/será sempre limitada.
  9. As cheias, rebentamento de diques, etc... em NADA foram influenciados por causa da bombagem da Foja... essa estação podia ter 20 bombas que não teria evitado nada do que se passou.
  10. Por fim, dizer apenas que no caso limite de mesmo os campos do Mondego ficarem "cheios" e "transbordar", a água escorre 1º para o rio velho (que desagua no Mondego)... rio este que possui outro dique que o separa da 1ª linha de casas das várias aldeias.
Resumindo:
  • O sistemas de sifões e fusiveis, funcionou a 100%;
  • Os diques essenciais funcionaram, sendo que o que "rebentou" era o que separa o rio do "reservatório"... com o rebentamento aliviou-se a pressão no Mondego o que ironicamente até poderá ter evitado tragédias mais a jusante.
  • O sistema de bombagem da Foja está deficiente (facto), no entanto isso só terá/teria importância se as chuvas torrenciais se prolongassem por vários dias .
Então porque houve casas inundadas?
  • Porque estupidamente se construiu e constrói em leito de cheia;
  • Porque há controlo do Mondego, mas não há nenhum controlo de muitas valas e ribeiras envolventes que com a subida do Mondego não têm para onde escoar;

Se aconteceu o mesmo que no resto do país então presumo que essas casas em leito de cheia foram construídas essencialmente entre os anos 60 e 90. Importa então apurar responsabilidades sobre quem as autorizou.
 

David sf

Moderação
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8 Jan 2009
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Oeiras / VN Poiares
A obras do ultimo século vieram minimizar o problema, mas não o vieram resolver.

Como em todas as obras de regularização fluvial, a única coisa que é possível fazer é diminuir a probabilidade de ocorrência de cheias, nunca garantir que estas nunca mais acontecerão.

Na minha opinião, existem soluções que deviam ser tomadas e de custo zero, como por exemplo a redefinição dos PDM´s... acho surreal que os autarcas que vêm para as TV's chamar o governo central à responsabilidade, sejam os mesmos que permitem que se construam edificações e novas urbanizações em cotas inferiores aos diques... que sejam os mesmos que canalizam as aguas pluviais das estradas para ribeiras sem que se tomem medidas de anti-retorno.

Concordo plenamente, e acho que isso está feito em quase todo o país. Mas se existem actualmente aldeias inteiras em leito de cheia foi porque algures no passado alguém regularizou a construção naquele local e não é exequível agora mandar evacuar as aldeias inteiras. E o ministro só teve a "lata" de dizer aquilo porque se tratam de aldeias pequenas e fora de grandes urbes, porque nunca ouvi nenhum governante a propor a saída dos habitantes da Ribeira do Porto ou da Baixa de Lisboa. Ou do Parque de Campismo da Caparica, onde já se estouraram milhares de euros em obras marítimas para o proteger, e se o nível do mar subir o que os modelos climáticos prevêem para os próximos anos, está totalmente condenado.

PS: quanto ao que acontece noutros países, também não somos assim tão maus e existem muitos casos semelhantes ao que acontece por cá em Espanha, França, Itália, Alemanha, etc... como é óbvio temos é a tendência de valorizar mais a "tristeza" que por cá se passa... E quanto ao facto de ser "após o período de grande seca", no Mondego o que se passa não é por causa do período de seca, aliás, se não foi pior, foi precisamente por termos passado um período de seca e assim a Aguieira estava com uma capacidade de encaixe brutal... se por acaso a Aguieira estivesse "normal", teria de ter começado a vazar mais cedo, sobrecarregando ainda mais e durante muito mais tempo o Mondego.

O caudal registado na Ponte-Açude terá sido superior a 2000 m3/s, algo que raramente (nunca?) ocorreu desde a construção da Aguieira e da Raiva. As cheias em Coimbra antes da construção destas duas barragens atingiam caudais desta ordem de grandeza. Algo se passou, pode ter sido apenas má gestão do aproveitamento, para se ter atingido um caudal de ponta tão elevado após um período seco (solos insaturados, albufeiras com capacidade de encaixe, mesmo as mais pequenas nas cabeceiras) e com precipitações que, apesar de elevadas, não atingiram valores extraordinários.
 

dahon

Nimbostratus
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1 Mar 2009
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O problema do Baixo Mondego seria bastante minimizado com a construção da barragem de Girabolhos. Portugal tem um grande défice na gestão dos Recursos Hídricos, em mais nenhum país civilizado ocorrem cheias desta magnitude em grandes rios após um período de seca acentuada. Com mais capacidade de retenção a montante, para a precipitação que ocorreu, que não foi nada de extraordinária, o caudal nunca atingiria valores superiores a 2000 m3/s em Coimbra.

As aldeias podem estar mal localizadas, em leito de cheia, mas o Ministro propor a sua relocalização é ridículo. O Terreiro do Paço deverá ser inundado com a eventual subida do nível do mar, mas ninguém propõe a deslocalização da Baixa de Lisboa. E Lisboa vai gastar mais de 100 milhões de euros num plano de drenagem apenas para resolver umas "chatices"... Não se podem gastar muitos menos euros para manter os diques do Baixo Mondego em condições?

Eu diria que é muito mais prioritário o Rio Ceira.
Até porque nestas cheias o caudal do Mondego à saída da Aguieira nunca ultrapassou os 1000m3/s, mesmo durante as descargas.
A jusante da barragem temos apenas dois afluentes mais significantes, o rio Alva, que está controlado pela barragem de Fronhas e o rio Ceira que não tem qualquer tipo de controlo e a sua monitorização é quase inexistente.
 

Maravedi

Cirrus
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Se aconteceu o mesmo que no resto do país então presumo que essas casas em leito de cheia foram construídas essencialmente entre os anos 60 e 90. Importa então apurar responsabilidades sobre quem as autorizou.

Concordo a 100%, mas o problema é que esta desresponsabilização é endémica na cultura Portuguesa... é que nem é preciso ir a décadas tão distantes, pois ainda hoje são construídas casas a cotas inferiores ao limite dos diques do Mondego... para mim é surreal e altamente irresponsável por parte das autarquias... se Portugal fosse um pais que vivesse sobre a pressão populacional de um Japão eu até podia aceitar, mas porquê permitir construir uma casa numa zona de alto risco, quando a mesma casa podia ser construída 100 mts ao lado?
 

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Cirrus
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Actualmente as únicas albufeiras com volume relevante na BH do Mondego são a Aguieira e Fronhas. A primeira tem pouco mais de 300 hm3 de volume útil, a segunda cerca de 40 hm3, o que dá um total de 350 hm3. Girabolhos representava um aumento de capacidade de cerca de 40% na bacia do Mondego, o que seria significativo e que permitiria amortecer a atrasar a chegada da ponta da cheia.
Foz Tua e o Baixo Sabor representarão papéis decisivos no amortecimento de cheias na BH do Douro, queixamo-nos muito dos espanhóis, mas na esmagadora maioria das cheias no Porto o caudal registado em Crestuma é cerca de 4 vezes superior ao registado em Saucelle. Quase todo o escoamento provém da parte portuguesa da BH, e amortecer o caudal de ponta nos principais afluentes (e poder gerir os caudais de forma conjunta em toda a bacia, desfasando no tempo a ocorrência de pontas em cada afluente) é absolutamente necessário.

Está completamente enganado.
Tanto Foz Tua como Sabor, têm pouca capacidade de encaixe.

Quanto ao Mondego está se a confundir novamente.
Os 145hm³ de Girabolhos são totais e está a acrescentar total a útil.
A barragemGirabolhos apenas ia armazenar 7mts água
 

David sf

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Oeiras / VN Poiares
Está completamente enganado.
Tanto Foz Tua como Sabor, têm pouca capacidade de encaixe.

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http://www.centrodeinformacao.ren.p...tricidade em Portugal - Memória e desafio.pdf

Quanto ao Mondego está se a confundir novamente.
Os 145hm³ de Girabolhos são totais e está a acrescentar total a útil.
A barragemGirabolhos apenas ia armazenar 7mts água

Quem avançou esse valor foste tu, interpretei-o como volume útil.
Analisando o RECAPE (não encontrei o Projecto na internet), o funcionamento da barragem para produção de energia varia entre a cota 290 e a cota 300, provavelmente por corresponder à queda útil para o qual as turbinas têm o seu ponto de funcionamento. No entanto, existem tomadas de água às cotas 247 e 237, pelo que caso se tratasse de um empreendimento de fins múltiplos seria sempre possível captar água para abastecimento a níveis mais baixos. Pelo mesmo raciocínio é perfeitamente possível ganhar mais capacidade de regularização de cheias, desde que se abdique de produção hidroeléctrica durante um determinado período. O volume morto é muito inferior, uma vez que a produção de sedimentos prevista é de 3,5 hm3 em 50 anos.
A acrescentar há ainda mais 20m3 do contra-embalse da Bogueira, uns km a jusante.