Tesourinhos deprimentes da Meteorologia e Clima

algarvio1980

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21 Mai 2007
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Olhão (24 m)
Quando os próprios "ditos entendidos" na matéria, baralham tudo, não se pode pedir muito mais aos Media... :facepalm:

Curiosamente, nem uma palavra para o tornado de Lagoa e que curiosamente amanhã faz 10 anos sobre a sua ocorrência.

Em Lagoa e Silves, as cidades mais afetadas, o valor do "vento máximo instantâneo" ter-se-á situado entre 256 quilómetros por hora e 295 quilómetros por hora, "sendo de considerar como mais provável um valor máximo para a rajada [de três segundos] da ordem de 260-270 quilómetros por hora", segundo o IPMA que considerou de escala quatro na escala Fujita.


Também, falta o tornado de 4 de Março de 2018, que afectou os concelhos de Faro e Olhão, onde destruiu parte do Estádio do Moncarapachense.
 


StormRic

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23 Jun 2014
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Póvoa de S.Iria (alt. 140m)
Quando os próprios "ditos entendidos" na matéria, baralham tudo, não se pode pedir muito mais aos Media... :facepalm:


A explicação é má demais... :facepalm:

"
Os tornados são fenómenos tipicamente continentais e a sua formação ocorre através da chegada de frentes frias a regiões onde o ar está mais quente e instável, favorecendo o desenvolvimento de uma tempestade, que, por sua vez, impulsiona a formação deste tipo de ciclone.
Os tornados caracterizam-se como uma forte corrente de ar ascendente, em espiral, na base da nuvem, cuja forma se assemelha a um funil, com elevado poder de destruição, e formam-se pelo choque entre duas correntes de ar, e a rotação do ar.
Como decorre o processo do tornado? A massa de ar frio forma uma “tampa” sobre a massa de ar quente próxima ao solo, impedindo a formação de nuvens. Com a penetração de uma frente fria ou pelo aquecimento excessivo da camada de ar próxima ao solo, o ar quente rasga a tampa e invade a massa de ar frio.
O ar quente sobe e expande-se, com uma velocidade que pode chegar aos 250 km/h. A instabilidade atmosférica poderá contribuir para que o movimento de expansão ocorra em forma espiral.
Por fim, a humidade condensada cai sob a forma de chuva. Devido à evaporação, o tornado forma-se abaixo da “tampa” numa área onde não chove. Ao invés dos furacões, os tornados são compactos e possuem curta duração. Por norma, um tornado apresenta 100 metros de extensão, e a sua duração é de poucos minutos. "
 

StormRic

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23 Jun 2014
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Póvoa de S.Iria (alt. 140m)
"Tornado pode ser confundido com um downburst" como chuva pode ser confundida com neve?

Não. A rotação ascendente associada a um tornado, e que tem de ser claramente visível pelas trajectórias dos detritos e partículas transportadas, permite distingui-lo facilmente. No downburst o vento diverge radialmente à superfície relativamente ao local onde o fluxo é fortemente descendente. Na periferia do downburst, o fluxo radial pode terminar com alguma ascensão e rotação de eixo horizontal, e é este movimento terminal do vento que pode ser confundido, numa visão muito limitada localmente, com o característico movimento ascensional do tornado, mas faltar-lhe-á sempre a rotação de eixo predominantemente vertical (mudança de direcção da componente horizontal do vento).

No terreno, os efeitos do downburst são linearmente rectilíneos e divergentes, cada objecto é danificado pelo vento que actuou sem mudar de direcção horizontal. No tornado, a rotação é visível pela torção sofrida, o objecto recebeu vento de direcção variando muito rapidamente. Um tornado é ainda capaz de levantar e transportar objectos de grande dimensão e atirá-los em qualquer direcção e posição. No downburst o derrube e arrastamento horizontal é preponderante. Só na periferia o movimento ascensional terminal será capaz de levantar detritos menores.

Downburst:
c8p4Zbn.jpg
 

Mindz

Nimbostratus
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18 Out 2015
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Montijo
Não. A rotação ascendente associada a um tornado, e que tem de ser claramente visível pelas trajectórias dos detritos e partículas transportadas, permite distingui-lo facilmente. No downburst o vento diverge radialmente à superfície relativamente ao local onde o fluxo é fortemente descendente. Na periferia do downburst, o fluxo radial pode terminar com alguma ascensão e rotação de eixo horizontal, e é este movimento terminal do vento que pode ser confundido, numa visão muito limitada localmente, com o característico movimento ascensional do tornado, mas faltar-lhe-á sempre a rotação de eixo predominantemente vertical (mudança de direcção da componente horizontal do vento).

No terreno, os efeitos do downburst são linearmente rectilíneos e divergentes, cada objecto é danificado pelo vento que actuou sem mudar de direcção horizontal. No tornado, a rotação é visível pela torção sofrida, o objecto recebeu vento de direcção variando muito rapidamente. Um tornado é ainda capaz de levantar e transportar objectos de grande dimensão e atirá-los em qualquer direcção e posição. No downburst o derrube e arrastamento horizontal é preponderante. Só na periferia o movimento ascensional terminal será capaz de levantar detritos menores.

Downburst:
c8p4Zbn.jpg
Eu estava a ser irónico mas obrigado pela explicação perfeita (como sempre).
 

StormRic

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23 Jun 2014
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Póvoa de S.Iria (alt. 140m)
Estas têm que ficar aqui, estamos sempre a aprender:

Gostei particularmente deste pormenor:
"Quanto à tempestade desta terça-feira, tudo começou com nuvens densas, surgidas na atmosfera entre os Açores e a Madeira, que depois se concentraram sob Portugal, em particular na região de Lisboa, numa gigantesca nuvem que chegou a ter nove quilómetros de espessura, que originou as fortes chuvas da última noite e desta manhã."
:lol:
Mas atenção que eles falaram com o meteorologista Jorge Ponte :D

Mas nessa entrevista também há estes três factos/informações muito interessantes:

"
Recorde de chuva em Lisboa
Segundo o IPMA, entre as 9h00 de segunda e as 9h00 de terça-feira, a estação meteorológica do IPMA no Jardim Botânico Tropical, em Belém, registou 120,3 milímetros de chuva por metro quadrado de área, o que será um recorde. Em 1967 registou-se 112,5 milímetros de chuva entre 25 e 26 de novembro, na Tapada da Ajuda, próximo do mesmo local, em Lisboa."

1º) O IPMA tem uma estação no Jardim Botânico Tropical em Belém (secreta, ninguém sabia que ela existia, alguém sabia?).
2º) Os recordes de acumulados diários de chuva ainda são considerados das 9h às 9h. :facepalm: (compreendo, porque é a esse intervalo que os dados históricos estão referidos, não há possibilidade de conhecer registos horários históricos da maior parte das estações).
3º) O máximo de ontem dia 13 foi 120,3 mm (naquela estação que ninguém conhece e que nem se sabia representar Lisboa), o que supera o máximo histórico para a Tapada da Ajuda de 112,5 mm, mas não tem em conta que das 9h às 15h no dia 13 choveu muito mais do que das 9h às 15h no dia 12, e assim o valor que devia ser citado não devia ter em conta o intervalo das 9h às 9h mas sim um intervalo flutuante que maximizasse o valor em 24 horas. Porque afinal estava-se a falar deste evento!! Ou estava-se a falar de quebrar recordes??

E para terminar, a pérola do costume: "registou 120,3 milímetros de chuva por metro quadrado de área" :huh: (deixa cá deduzir: se a área fôr maior os milímetros também são, certo? Ou seja em dois metros quadrados chovem 240,6 mílimetros. Não? Sim?:unsure:)
:lmao:

:facepalm:
 

ecobcg

Super Célula
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Mais uma para os tesourinhos...
Um mix de vários assuntos diferentes, mal traduzidos e com um título chamativo... Um excelente exemplo de como não se deve fazer noticias...

"Ciclone-bomba’ como nos EUA a caminho de Portugal? Ano começa com mais frio e chuva"

 

tonítruo

Nimbostratus
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Um mix de vários assuntos diferentes, mal traduzidos e com um título chamativo... Um excelente exemplo de como não se deve fazer noticias...

"Ciclone-bomba’ como nos EUA a caminho de Portugal? Ano começa com mais frio e chuva"

"originou temperaturas que chegaram aos -50ºC em vários estados norte-americanos"
Quais estados?
 

StormRic

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Mais uma para os tesourinhos...
Um mix de vários assuntos diferentes, mal traduzidos e com um título chamativo... Um excelente exemplo de como não se deve fazer noticias...

"Ciclone-bomba’ como nos EUA a caminho de Portugal? Ano começa com mais frio e chuva"


"O vento estratosférico, indicador da robustez do vórtice polar na zona da Europa, indique uma probabilidade baixa de interrupções polares ou árticas potentes, mas o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMAI admite que a frente polar que se aproxima de Portugal poderá chegar a território nacional logo no início do ano."

Estou a tentar imaginar a imagem que o cidadão comum, com conhecimentos reduzidos de meteorologia a uma escala maior do que a zona onde vive, retira daquela explicação, mas não faço mesmo ideia... :facepalm:

E para esclarecer ainda melhor, aquele parágrafo para emoldurar:

"Segundo o meteorólogo espanhol Fernando Martín, da Meteored, verificar-se alterações do vórtice polar – os ventos do ártico que circulam no Polo Norte – que podem descer a latitudes mais baixas, provando fenómenos como ‘A besta do Leste’, com efeitos distintos de um e de outro lado do Atlântico."
 

Dias Miguel

Cumulonimbus
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26 Jan 2015
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Bom, fala-se em "El Niño" e temos logo notícias sensacionalistas.... :facepalm::buh::nono:

El Niño de regresso em 2023: fenómeno climático pode bater recordes de temperatura acima dos limites da segurança​

Por Francisco Laranjeira em 10:49, 13 Fev 2023
meteorologia.jpg

O El Niño pode estar de regresso até ao final do ano, de acordo com os especialistas – a última vez que este fenómeno foi registado, em 2016, um terço dos recifes da Grande Barreira de Coral, na Austrália, morreu e o Kuwait atingiu 54ºC, um recorde no hemisfério oriental, naquele que continua a ser o ano mais quente registado a nível global. Em 2023, é expectável esse regresso e os especialistas alertaram, segundo o jornal espanhol ‘ABC’, que pode voltar a bater recordes pela primeira vez acima dos limites da segurança climática: acima de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.
Há três anos que o planeta está so influência do La Niña, a contrapartida do El Niño, responsável pelo arrefecimento do globo. Em ambos os casos, o fenómeno tem origem no Oceano Pacífico, conforme a superfície do oceano equatorial é mais frio ou mais quente. Globalmente, o El Niño aumenta a temperatura média. “O El Niño produz aquecimento, especialmente nos trópicos “, explicou Belén Rodríguez Fonseca, professor do Departamento de Geofísica e Meteorologia da Universidade Complutense de Madrid. Assim, em grandes áreas da América Latina ou do Sudeste Asiático, o inverno será muito mais quente, enquanto as chuvas podem multiplicar-se nas costas ocidentais da América. Na Península Ibérica pode ter consequências positivas: este fenómeno está associado a invernos mais húmidos (e algo mais frios), embora também existam estudos que apontam para outonos quentes.
“Se for confirmado, 2023 certamente será mais quente que 2022 em escala global”, explicou o porta-voz da Agência Meteorológica espanhola (Aemet), Rubén del Campo. “O recente episódio de La Niña pode ter mascarado um pouco a tendência de aquecimento global, e se agora entrarmos em um possível evento El Niño, as coisas podem levar a temperaturas ainda mais altas”, frisou Eduardo Penabad, analista sénior.
A nível prático, a chegada do El Niño terá consequências: aumenta as chances de ondas de calor exacerbadas e secas severas mas não em todas as partes do mundo. “Se estamos diante de uma situação em que a temperatura média global aumenta, é de se esperar também que as temperaturas extremas aumentem e que essas ondas de calor possam ocorrer em várias partes do planeta, talvez sem precedentes ou talvez de uma intensidade raramente vista”, frisou Del Campo.

Fonte: https://multinews.sapo.pt/noticias/...e-temperatura-acima-dos-limites-da-seguranca/

É mesmo caso para dizer, "em vez de informar, há que inventar (e, talvez, alucinar)..."
 

Orion

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5 Jul 2011
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Açores
Provável fonte -> https://www.abc.es/sociedad/piensa-pasado-hizo-calor-espere-vuelta-nino-20230213204614-nt.html

Si su efecto se superpone al del calentamiento global, los expertos creen que podría empujar los registros por primera vez más allá de uno de los umbrales de seguridad climática: un calentamiento de 1,5º de calentamiento por encima de los niveles preindustriales.

Ninguém pode ser perito em tudo e os jornalistas são um alvo fácil. Há artigos bem piores.

1.5ºC é um alvo muito falado. Um resumo da enorme dificuldade associada -> https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwitrrKfnJP9AhUfTKQEHWOjAfQQFnoECAkQAQ&url=https://www.mckinsey.com/~/media/mckinsey/business%20functions/sustainability/our%20insights/climate%20math%20what%20a%201%20point%205%20degree%20pathway%20would%20take/climate-math-what-a-1-point-5-degree-pathway-would-take-final.pdf&usg=AOvVaw3yLCK4oTjOL1slPR5Skfgs

Previsão mais fundamentada -> https://www.metoffice.gov.uk/about-...climate/2022/2023-global-temperature-forecast

Leitura essencial e complementar -> https://www.abc.net.au/news/2023-02...ring-redefining-el-nino-and-la-nina/101959160
 

Snifa

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16 Abr 2008
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Porto-Marquês:145 m Mogadouro:749 m
:rolleyes:

Massa de ar polar marítima abrupta traz o inverno de volta a partir de quinta. Frio, chuva e neve (sobretudo no norte e centro).​


20 fev. 2023, 23:09.

Temperaturas vão descer 6 a 8ºC. Em termos meteorológicos, há uma ciclogénese explosiva.

Um anticiclone a bloquear a passagem de tempestades e a deixar entrar massas de ar frio.

captura-de-ecra-2023-02-20-as-224918.jpg


Em termos meteorológicos chama-se ciclogénese explosiva.

Numa linguagem mais direta, significa simplesmente que estes dias de primavera antecipada foram bons mas passaram depressa e vem aí de novo a invernia, com frio e neve já a partir desta quinta-feira.

Não se preveem temperaturas tão geladas como as das semanas anteriores, mas as máximas vão baixar entre 5 e 8ºC, com a entrada abrupta de uma massa de ar polar marítima.

Começando pelo termo técnico, a tal ciclogénese acontece exatamente quando há uma descida muita acentuada da pressão atmosférica de uma depressão num curto intervalo de tempo.

Neste caso, vai ser entre esta terça e quinta-feira.



:palmas:


A massa de ar frio ainda se entende, agora ciclogénese explosiva? Em Portugal? Onde? :maluco:

Como vem frio, e as temperaturas vão descer 6º a 8ºc, a causa é a ciclogénese explosiva? :confused:

Estes jornaleiros, tem a noção do que é uma ciclogénese explosiva? :huh:

Eles até explicam de forma razoável que é quando ocorre uma descida muito rápida de pressão num curto espaço de tempo, mas associar isso ao frio, e ainda por cima não é ciclogénese explosiva nenhuma, nem lá perto... a pressão não vai cair tanto assim em 24 horas e ao ponto de se considerar explosiva, não há cavamento para isso.

Então o anticiclone bloqueia a passagem das tempestades, mas uma ciclogénese explosiva não é uma tempestade? :facepalm:

Será uma massa de ar frio "explosiva"? :lmao::cold:
 
Última edição:

SpiderVV

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26 Ago 2010
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Portalegre (400m)
Bem, isso já nem é um tesourinho deprimente, é um bocado de latão para deitar fora imediatamente. Como é possível fazer uma gaffe dessas? Bastava 2 segundos de Google, ainda por cima contradizem-se na "notícia", dizendo que é um anticiclone que bloqueia a passagem de tempestades e depois, corretamente, que é a descida muito rápida da pressão atmosférica.

Jornalixo.