http://www.dn.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1821950
«Os cavalos hoje existentes na Europa tiveram origem na Ásia, mas também na Península Ibérica, que deu um contributo para a sua domesticação, processo que acompanhou o desenvolvimento dos homens, disse hoje uma investigadora.
A Península Ibérica serviu de refúgio a cavalos selvagens há cerca de seis mil anos e as populações foram "preponderantes" para a domesticação destes animais na região e no resto da Europa, concluiu um estudo de uma equipa internacional que inclui Cristina Luís (dos Museus da Politécnica da Universidade de Lisboa) e Maria do Mar Oom (do Centro de Biologia Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa). O trabalho, publicado esta semana na revista PloS One, indica que as raças de cavalos existentes na Europa "não só tiveram grande influência dos cavalos asiáticos, como também tiveram influência dos cavalos selvagens existentes na Península Ibérica, um dado novo e bastante interessante", avançou hoje à agência Lusa a investigadora Cristina Luís. "O cavalo sempre esteve associado ao homem e a sua domesticação também. Ao estudar a domesticação do cavalo podemos obter pistas de como se processaram as movimentações dos humanos ao longo dos tempos, numa análise antropológica e das civilizações", explicou.»
Muito interessante, sem dúvida e algo já esperado. Pelo menos na P. Ibérica, sei que houve domesticação.
http://www.horseshowcentral.com/horse_breeds/sorraia/327/1
«A equipa de investigadores analisou as relações genéticas de 24 raças de cavalos europeus e asiáticos para tentar esclarecer os fenómenos de domesticação na Europa. As informações obtidas sobre a influência que determinadas raças, de determinadas regiões, tiveram umas nas outras podem dar um contributo para trabalhos de conservação e melhoramento de raças actuais.»
Espera-se que esses melhoramentos não incluam a destruição de variedades raras e primitivas de cavalos selvagens, pelo menos até ao ponto da sua extinção. Não estou a ver, por exemplo, que vantagem terá em querer os Sorraias ou os garranos mais altos. Nos últimos, até é certo, que já têm misturas com poneis celta ( já não são animais propriamente selvagens) e que existe interesse ainda em esbater mais a sua primitividade com o cruzamento com o cavalo árabe...
«Cristina Luís apontou que a investigação desenvolvida "tem uma vertente de conservação, mas também de estudo da evolução do cavalo e da história das civilizações humanas, muito interligadas com os cavalos".
Vertente de conservação de quê? De raças domésticas?
«Há seis mil anos, quando eram selvagens, "os cavalos não gostavam muito de regiões de floresta densa e terão tido um refúgio na Península Ibérica e, eventualmente, terão então sido utilizados para a formação de outras raças" e seleccionados de formas diferentes, resumiu a investigadora. Actualmente, já não existem cavalos selvagens na Europa, há alguns casos de cavalos que andam ao ar livre, como os garranos, no norte de Portugal, mas "têm donos".
Atenção, que independentemente de onde tenha começado a domesticação, muito depois de 6.000 anos e até ao século XX, ainda tinhamos tarpans na Europa...
Na Polónia e em Portugal ( se o Sorraia continuar a ter os resultados genéticos que tem tido ultimamente, vai ter que ser mesmo considerado um tarpan). Quanto ao fenótipo, nem é preciso alongar-me no assunto... Ao contrário do auroque, que levou bem mais tempo a saber-se como era o seu aspecto ( e sobre as variedades locais pouco ou nada, se sabe), do tarpan nunca houve muitas dúvidas e o Sorraia encaixa-se perfeitamente neste perfil ( lista negra dorsal, côr da pelagem rato ou também grulla, extremidades negras ou mais escuras ( cabeça e membros), presença em alguns indivíduos de listas negras ( zebruras) nas patas ou até na garupa).
Cabeça com um típico perfil primitivo e convexo. E o mais importante é que dá origem a descendência fértil com o mesmo fenótipo. A sua baixa variabilidade genética, comprova o facto de ter sofrido um efeito bottleneck ( com aumento progressivo e sem alterações, típico de espécies que estão em vias de extinção e em que apenas um pequeno grupo de animais é sobrevivente. Terá sido apenas por causa do isolamento que lhes foi imposto artificialmente?
O comportamento observado, no Vale do Zebro ( Zebro Valley Refugee) é típico de animais selvagens... Mantêm uma boa distância das pessoas ( pode-se estar um dia inteiro à procura sem ver um...) e procuram protecção na floresta. Em vez de correrem pelos campos abertos como alguns cavalos domésticos, procuram o abrigo na floresta mais próxima ou quando são vistos associados a gado bovino, procuram abrigo no meio deste. Ou seja, o Sorraia basicamente preenche todos os requisitos necessários para serem considerados uma espécie selvagem. Falta agora é a confirmação final , que em princípio não deverá ser muito diferente do conhecimento actual ( mtDNA muito semelhante ao do tarpan). Certos cientistas, já estão a trabalhar neste assunto. Mas logo se vê ( um estudo dirigido aos loci nucleares também poderia ajudar). Embora o estudo dos ossos de cavalos primitivos em Portugal, poderia, decerto, também dar-nos umas pistas.
Já o comportamento, na Reserva Natural do sorraia, é o de animais cativos ( como se pode em vários animais que estão estabulados), pois o temperamento do tarpan, quando domesticado, embora independente não é de forma alguma indomável. Na verdade a reserva natural do Sorraia, não nos dá qualquer ideia de como deveriam ser tratadas, espécies tão raras e específicas como esta, mas apenas a de uma massificação egoísta e exploratória de um animal tão inteligente, bonito e independente, como é um cavalo selvagem ( ou pelo menos assilvestrado), que é tratado como qualquer outra raça de cavalo.
«Cristina Luís referiu um projecto em que se pretende estudar a relação entre cavalos da Península Ibérica e do Norte de África. Desconhece-se "qual a direcção das migrações de cavalos", já que os mouros estiveram em Portugal e "não se sabe se terão sido os cavalos dos mouros que foram trazidos para a Península Ibérica ou ao contrário", explicou. Os investigadores vão "tentar provar se realmente houve uma domesticação independente na Península Ibérica", salientou a especialista.»
Uma domesticação independente na P. Ibérica, em relação ao Norte de África?
Interessante, mas não seria importante averiguar se assim foi e como foi, antes de andar a criar a ideia de que a P. Ibérica foi o local eleito, depois da Ásia, na domesticação do cavalo?
O facto de encontrarem genes de origem ibérica e asiática, em algumas raças domésticas europeias de cavalo, apenas nos leva a concluir, que essas raças tiveram influência dos cavalos que existiam ou existem na Ibéria e na Ásia, não que a domesticação teve lugar só na Ibéria e na Ásia.