Biodiversidade

"Charneca" Mundial

Super Célula
Registo
28 Nov 2018
Mensagens
5,061
Local
Corroios (cota 26); Aroeira (cota 59)
sou reticente a esse tipo de medidas, já pagamos impostos e depois ainda se cobra para poder aceder a uma parte do território seria um estantinho até começarem a cobrarem para se ir a todo o lado. E Portugal é o tipo de país onde tal medida resvalaria para algo triste e acabarias com uma serra despovoada de povo e de visitantes. E já viste que para se ir a serra não fica barato tirando que vive nos arredores os restantes iriam por autoestrada o que por cá não fica barato
Por acaso o pagamento de portagens nos parques até era algo comum em Portugal até aos anos 90. Entretanto, por pressões municipais, as portagens foram sendo demolidas. Apenas restaram em locais como o Gerês ou a Mata do Buçaco, e mesmo assim as portagens nesses locais são polémicas, pois os parques "são de todos", segundo os municípios... :rolleyes:

Eis aqui o exemplo da Mata da Albergaria, no Gerês:
https://www.jn.pt/sociedade/portage...do-que-nas-melhores-autoestradas-3947478.html
 
  • Gosto
Reactions: belem e Pedro1993


belem

Cumulonimbus
Registo
10 Out 2007
Mensagens
4,466
Local
Sintra/Carcavelos/Óbidos
O problema no Parque Natural da Serra da Estrela é que, como na generalidade das Áreas Protegidas portuguesas, falta tanta coisa básica, para além de uma estratégia, coerente e efetivamente aplicada no território, daquilo que se pretende a médio/longo prazo.


Ou seja, a meu ver, não se pode estar a falar isoladamente da reintrodução da espécie A ou da espécie B, no PN da Serra da Estrela sem resolver essas carências antecipadamente. Essas decisões teriam que estar inseridas num plano, na tal estratégia de gestão, a médio/longo prazo; e, obviamente, assegurando que essas reintroduções teriam o mínimo de condições práticas para ser bem-sucedidas.


Desde logo, nem vale a pena sonhar com o regresso do lobo à Serra da Estrela. A serra está hoje tão humanizada, com a pressão turística a crescer e o alcatrão a chegar a tantos lados, que não me parece haver habitat suficiente para esta espécie, ainda que assegurada disponibilidade de presas que minimizasse os ataques a rebanhos e quintas de montanha.


Claro que, pelo menos em teoria, a reintrodução da cabra-montês seria mais fácil e mais pacífica. Porém, voltando atrás, essa reintrodução, a ser feita, teria que ter antecipadamente duas perguntas respondidas: o que se pretende dessa reintrodução? Quais seriam as previsíveis consequências e como se iria gerir essa reintrodução?


Dito tudo isto até parece que sou contra as reintroduções…não sou, apenas acho, infelizmente, a realidade das nossas Áreas Protegidas é tão triste que estarmos a ponderar essas hipóteses, quando muitas delas lutam apenas por sobreviver, é como uma equipa que luta para se manter na II liga estar a planear comprar o passe de um Ronaldo!


Entretanto, por vezes a Natureza troca-nos as voltas, e as reintroduções, com mais ou menos intervenção humana, ocorre via fronteira…

Eu sei, por isso é que disse que teria de ser uma decisão bem ponderada.
 
Última edição:
  • Gosto
Reactions: "Charneca" Mundial

camrov8

Cumulonimbus
Registo
14 Set 2008
Mensagens
3,288
Local
Oliveira de Azeméis(278m)
Por acaso o pagamento de portagens nos parques até era algo comum em Portugal até aos anos 90. Entretanto, por pressões municipais, as portagens foram sendo demolidas. Apenas restaram em locais como o Gerês ou a Mata do Buçaco, e mesmo assim as portagens nesses locais são polémicas, pois os parques "são de todos", segundo os municípios... :rolleyes:

Eis aqui o exemplo da Mata da Albergaria, no Gerês:
https://www.jn.pt/sociedade/portage...do-que-nas-melhores-autoestradas-3947478.html
Em certa medida é verdade todos pagamos com impostos e depois voltam a cobrar, muitas das vezes o governo cobra as entradas e deixa para os municípios todos os custos. Esse tipo de pratica esta a desaparecer pois torna as zonas protegidas ainda mais longe da população que vêem os parques mais como um empecilho onde para fazerem alguma coisa é uma dor de cabeça. Todos sabemos que muitos incêndios na serra é criado por pastores . O ano passado fui a uma praia perto de Malaga que tem portagem por ser "protegida" no entanto tem campos e estufas e lixo até a arriba. Que se imponham trilhos e zonas protegidas tudo bem agora cobrar é um bocado de mais
 
  • Gosto
Reactions: Pedro1993

Dan

Moderação
Registo
26 Ago 2005
Mensagens
10,510
Local
Bragança (675m)
A ideia de área protegida implica restrições a um vasto conjunto de atividades. O problema também passa pelo facto de grande parte das nossas “áreas protegidas” estarem em propriedade privada. Se o estado serve para alguma coisa, devia servir também para isto. Já era altura de se criarem verdadeiros espaços naturais em terrenos públicos.
 

frederico

Furacão
Registo
9 Jan 2009
Mensagens
10,319
Local
Porto
sou reticente a esse tipo de medidas, já pagamos impostos e depois ainda se cobra para poder aceder a uma parte do território seria um estantinho até começarem a cobrarem para se ir a todo o lado. E Portugal é o tipo de país onde tal medida resvalaria para algo triste e acabarias com uma serra despovoada de povo e de visitantes. E já viste que para se ir a serra não fica barato tirando que vive nos arredores os restantes iriam por autoestrada o que por cá não fica barato

As portagens na serra da Estrela seriam não para acesso ao Parque mas sim para acesso ao Maciço Central. Haveria isenção para moradores no interior do Parque Natural.

A serra da Estrela tem uma série de espécies que em Portugal só existem no Maciço Central, por um questão de altitude. Ter aquilo cheio de carros e de gente a pisotear não é compatível com a protecção dos valores ambientais.

Não te esqueças que vives num país onde a taxa moderadora para urgências num Hospital central anda perto dos 20 euros para «moderar» o acesso...
 

frederico

Furacão
Registo
9 Jan 2009
Mensagens
10,319
Local
Porto
No século XIX e XX ocorreram vários eventos que modelaram a propriedade privada.

Os conventos tinham muitas florestas nativas, com a sua nacionalização e venda essa floresta perdeu-se rapidamente pois os privados queriam lucrar com o corte das árvores. Só se salvou, por exemplo, a mata do Buçaco.

Depois veio o registo predial, houve grandes vigarices pois boa parte da população era analfabeta, então muita gente «alfabetizada» registou baldios, «terras de ninguém». A ocupação dos baldios e o roubo de terras continuou até ao Estado Novo.

A isto foi-se juntando a venda de património do Estado em períodos de aperto financeiro.

Há algum tempo uma grande quinta com sapal estava à venda na Reserva do Sapal de Castro Marim. Questionei-me, quem quer isto? Trata-se de uma terra que deveria ser do Estado, deveria ser comprada pelo ICN. O problema é que no Algarve aparecem sempre especuladores que compram. E compram na esperança de construir, mesmo sabendo que é área protegida. Aos poucos, começam a lavrar, a cortar as árvores, surge um incêndio aqui e acolá, metem uns pré-fabricados, depois constroem um armazém agrícola, ao fim de uns anos do armazém agrícola já querem fazer um hotel!

Um exemplo do que referi anteriormente é o que se tem passado numa Quinta que está dentro da Ria de Alvor. O proprietário anda a tentar urbanizar há alguns anos e já teve condenação em tribunal, inédita na altura em Portugal.

Inédita condenação judicial dos proprietários da Quinta da Rocha, na Ria de Alvor, à reposição completa dos habitats que haviam destruído
O Tribunal Central Administrativo do Sul confirmou a condenação dos proprietários da Quinta da Rocha, na Ria de Alvor, que obriga à reposição completa dos habitats que haviam destruído, e a abster-se-a todo o tempo de quaisquer intervenções nas zonas que possuem espécies ou habitats protegidos.
Esta decisão tem um impacte muito significativo no direito ambiental português, ao exigir o restauro integral dos valores naturais destruídos, obrigando a empresa de Aprígio Santos a submeter ao ICNF um plano para a sua reposição integral e culminando um processo que vem desde 2007 e que envolveu dezenas de denúncias, autos de notícia e contraordenações pelos danos ambientais realizados nesta propriedade.


https://www.sulinformacao.pt/2015/0...alvor-sao-melhores-factos-ambientais-de-2014/

No Algarve estão muitos terrenos nesta situação em áreas protegidas.
 

frederico

Furacão
Registo
9 Jan 2009
Mensagens
10,319
Local
Porto
Interessante. As associações de caçadores têm tentado fazer reintroduções mas as entidades públicas não querem colaborar.

Ao longo dos anos incentivámos uma aproximação das Administrações Públicas Portuguesa e Espanhola (em particular das autonomias que fazem fronteira com Portugal) uma vez que deveriam ser harmonizadas questões que se prendem com a data de início e encerramento da caça a espécies migradoras, espécies exóticas invasoras, tuberculose em caça maior. Incentivámos a administração a adquirir exemplares das espécies, cabra-montês e camurça (emblemáticas da Península Ibérica mas só existentes em Espanha) bem como de corço, (espécie amplamente estendida por todo o território espanhol e escassa em Portugal). Estas sugestões visavam transformar estas espécies num recurso cinegético, num produto turístico apto a ser explorado. Certo é que, nenhuma destas petições foi atendida. Somos forçados a concluir que a ligação a Espanha é mais fácil e rentável se tiver por base projeto financiados.

http://cacaecaesdecaca.com/constituicao-do-pacto-nacional-para-a-conservacao-do-lince-iberico/
 

belem

Cumulonimbus
Registo
10 Out 2007
Mensagens
4,466
Local
Sintra/Carcavelos/Óbidos
Interessante. As associações de caçadores têm tentado fazer reintroduções mas as entidades públicas não querem colaborar.

Ao longo dos anos incentivámos uma aproximação das Administrações Públicas Portuguesa e Espanhola (em particular das autonomias que fazem fronteira com Portugal) uma vez que deveriam ser harmonizadas questões que se prendem com a data de início e encerramento da caça a espécies migradoras, espécies exóticas invasoras, tuberculose em caça maior. Incentivámos a administração a adquirir exemplares das espécies, cabra-montês e camurça (emblemáticas da Península Ibérica mas só existentes em Espanha) bem como de corço, (espécie amplamente estendida por todo o território espanhol e escassa em Portugal). Estas sugestões visavam transformar estas espécies num recurso cinegético, num produto turístico apto a ser explorado. Certo é que, nenhuma destas petições foi atendida. Somos forçados a concluir que a ligação a Espanha é mais fácil e rentável se tiver por base projeto financiados.

http://cacaecaesdecaca.com/constituicao-do-pacto-nacional-para-a-conservacao-do-lince-iberico/

É pena que assim seja.

Mas podem haver formas de contornar o problema.
Por exemplo, podem ser os próprios particulares a desenvolver tais projetos em reservas privadas (podendo criar até parcerias com certas entidades).
 
Última edição:

frederico

Furacão
Registo
9 Jan 2009
Mensagens
10,319
Local
Porto
A cabra-selvagem no Gerês aumentou de húmero, mas a sua caça ainda é interdita:

https://sicnoticias.pt/pais/2019-04...-cacada-por-ser-especie-protegida-em-Portugal

Não sabia que já a queriam caçar.

Pessoalmente não me choca que no futuro se cace ocasionalmente, mas com as seguintes condições:

1) A licença de caça deve ser leiloada e a base de licitação deve ser alta (milhares de euros),
2) A licença deve ser apenas para caçar 1 ou 2 machos envelhecidos por ano, ou de x em x anos.
3) Na caçada deve estar presente um técnico do parque.
4) O dinheiro do leilão da licença de caça deve ficar no Parque para projectos de conservação.
 

frederico

Furacão
Registo
9 Jan 2009
Mensagens
10,319
Local
Porto
O meu pai foi presidente de mais que uma associação de caçadores e sócio de uma reserva em Espanha.

Os caçadores em Portugal queixam-se que não vislumbram qualquer retorno dos impostos pagos pelas reservas e do dinheiro pago em licenças de caça. Em Espanha, a Junta da Andaluzia tem levado a cabo projectos de recuperação de espécies cinegéticas. Em Portugal todo o investimento em recuperação das espécies é feito pelos caçadores, que semeiam trigo, fazem a manutenção de bebedouros e vigiam na época de incêndios. O dinheiro que o Estado recolhe em impostos do sector da caça deveria ser aplicado na vigilância no terreno e na recuperação das espécies, em vez de se diluir no Ministério para pagar funcionalismo de secretaria, sem trazer retorno visível.
 

Dan

Moderação
Registo
26 Ago 2005
Mensagens
10,510
Local
Bragança (675m)
Sou mais favorável a uma lógica semelhante à que existe em alguns países africanos. Conservação de vida selvagem em parques públicos ou privados. Ficando a prática da caça para reservas de caça numa lógica empresarial, em terrenos privados. Misturar conservação com caça ainda me causa alguma resistência.