Falando do hemisfério norte, os ciclones começam por se mover nos trópicos de leste para oeste no fluxo dos ventos alísios no bordo sul dos anticiclones subtropicais. A força de Coriolis faz com que tentem sempre subir de latitude, pelo que o movimento natural é norte/noroeste, mas é esse bordo sul do anticiclone que contraria esse movimento impulsionando-o mais para oeste, ou se existir uma fraqueza nas altas subtropicais, permite que ele suba mais rapidamente de latitude contornando o anticiclone no bordo oeste e depois recurva para leste, como aconteceu agora com o Gordon.
Quando vemos um ciclone com uma trajectória enorme quase de Cabo Verde até ao Golfo do México isso significa que o ciclone nunca chegou a "aproveitar" uma falha nas altas pressões e foi sendo sempre impulsionado para oeste pelas mesmas, para chegar ao Golfo teve que apanhar também altas pressões nas Bermudas ou a oeste delas. Uma depressão isolada em altura algures pelo Atlântico também afecta as trajectórias.
Uma vez mais a norte, nas latitudes médias também começa a ser impulsionado pelo fluxo oeste não só do bordo norte dos anticiclones, mas também de depressões, cavados, etc. Por exemplo se aparecer um cavado profundo a oeste de um ciclone força o movimento deste para norte de forma geralmente acentuada soltando-o do bordo do anticiclone.
Pegando outra vez no Gordon, o Gordon no Domingo começa a sentir o efeito de um cavado que o fará subir de latitude, passando eventualmente no grupo oriental. Para visualizar melhor a coisa, é olhar para o que provoca o cavado, é a ondulação do Jet, vento nos níveis médio/altos, e o flanco leste/lado direito do cavado, o vento vai na direcção nordeste.
Mas a coisa não é assim tão simples como acabei de dizer, o movimento concreto de um ciclone tropical é dirigido por ventos de diversos níveis, quanto mais intenso um ciclone for, mais o seu movimento é afectado pelo fluxo entre níveis médios e altos, e quanto mais fraco, pelo fluxo entre os niveis baixos e medios. Pelo que entra na equação não só os fluxos nas diversas camadas da atmosfera mas a própria intensidade do ciclone.
Voltando ao Gordon, se este fosse um ciclone muito intenso no Domingo sentiria muito mais os efeitos do cavado que mencionei, e subiria mais de latitude, provavelmente passando no grupo central rumando ao Reino Unido. Pelo contrário, se hipoteticamente o Gordon fosse quase desfeito nos próximos dois dias pelo shear (cisalhamento do vento) o vórtice na superfície que sobrasse, passaria a sul dos Açores e provavelmente iria parar lá para os lados da Madeira porque nunca seria "capturado" pelo cavado mas sim seguiria o fluxo dos níveis baixos/médios que contornam o anticiclone ou outro tipo de fluxo desses níveis existente na sinóptica do momento.
No caso presente do Gordon, nas previsões actuais, nem ele é muito forte nem o cavado é suficientemente profundo para o arrastar mais para norte, nem é fraco de modo a descer de latitude, e provavelmente morrerá algures entre os Açores e o continente.
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Desconheço, mas penso que não será muito relevante.