Gado bovino português e o Auroque

belem

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Touro Maronês de 5 anos que eu escolhi para a reserva da Faia Brava:

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Vaca Maronesa:

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Exemplo de 3 variações comuns nos cornos do auroque macho (por Daniel Foidl):

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No lado esquerdo, (vistos de frente) e no lado direito (vistos de trás) e embaixo vistos por cima.
É pena que a variação mais ao topo de todas, não tenha esteja representada no lado direito, mas está bem conseguido.

Alguns touros bravos e maroneses, têm a variação verificada mais acima e alguns touros barrosões e cachenos têm as duas variações verificadas embaixo.
 
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Ver touros que aparecem aos 19 minutos e 10 segundos , 19 minutos e16 segundos e 22 minutos e 58 segundos:



Mais um touro interessante dos Açores:

brtava.jpg


Ainda que os chifres sejam mais pequenos e tenham uma projeção mais baixa do que os exemplos dados no vídeo, é um exemplar curioso, pelo atleticismo, grande cabeça e farta pelagem localizada desde o topo da cabeça, até ao garrote).
 
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Touro Maronês que está no Tauros Programme (Holanda):

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Eu lembro-me de ele ter ido no primeiro lote de gado Maronês que me foi possível escolher para ser enviado para o programa do auroque na Holanda.
Aqui pode-se vê-lo ainda muito novo (e entre duas vacas) já na chegada ao Tauros Programme:

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Já é bom, mas podia ter escolhido um ainda melhor, se me tivessem dado tempo suficiente de manobra.
 

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Talvez eu devesse explicar, que tanto estes últimos touros bravos, como os maroneses, foram fotografados/filmados, desde pontos altos, por isso dá a ideia de serem mais pequenos do que são.

Alguns mitos que tenho reparado existir sobre o auroque que acho que vale pena desmistificar:

1- «Eram pouco mais pequenos do que elefantes»

Claramente exagerada esta observação (baseada em Júlio César), pois mesmo nas zonas onde os maiores exemplares foram documentados (Norte da Europa), os machos adultos aparentemente, atingiam cerca de 1 metro e 67 centimetros ao ombro em média. Auroques com mais de 1 metro e 90 cms, eram muito raros.
Em outras regiões eram obviamente mais pequenos: na Sicília, os machos adultos foram estimados como tendo 1 metro e 36 centímetros em média e em Portugal e na Suiça, tem sido dito que os machos adultos tinham uma média que variava entre 155 cms e 160 cms, praticamente o mesmo que na Hungria.
As vacas eram naturalmente mais pequenas e nas populações com os maiores animais (Norte da Europa), variavam entre 135 cms e 155 cms.
Estas estimativas, são baseadas em análises e medições feitas em esqueletos de auroque.

2-«Tinham cornos gigantes em lira alta»

Na verdade, cornos assim, nem eram comuns.
O ângulo de desenvolvimento dos cornos de auroque em relação ao crânio, tinha alguma variação, mas na verdade, tinha uma média de apenas 60 graus.
Os chifres normalmente saíam lateralmente e para cima, encurvando-se depois para a frente, para dentro e para cima.
Relativamente ao tamanho dos cornos, as populações com os maiores auroques (novamente, Norte da Europa), tinham touros adultos, com cornos que variavam entre 60 cms e 102 cms de comprimento, com uma diâmetro na base entre 10 e 18 cms e as vacas, tinham cornos que variavam entre 40 e 70 cms de comprimento, com um diâmetro na base entre 7 e 10 cms.
Portanto, claro que tais dimensões podiam (e deviam) ser mais pequenas em outras populações.
isto prova, que os cornos eram grandes, mas não tanto como algumas pessoas acham.


3- «Gostavam de frio e de neve»

As idades do Gelo, na verdade, levaram ao que o auroque, em certas fases, estivesse sobretudo restrito ao Sul da Europa, pois lá conseguia encontrar abrigo e alimento, tornando-se extinto em algumas partes da Europa, devido justamente ao frio glacial.
Algumas das razões que poderão ter levado à extinção dos últimos auroques na Polónia, foi a limitação na dispersão para zonas mais quentes e a falta de alimento causada pelos invernos rigorosos.

4- «Tinham uma bossa grande como o bisonte»

Basta comparar os esqueletos de ambos os animais, para perceber que tal observação não faz qualquer sentido.
Os auroques, tinham ombros salientes e um pescoço grande e bem desenvolvido, mas nesse aspeto não eram muito diferentes de alguns touros domésticos de aspeto mais atlético e primitivo.

5- «O auroque era um animal de aspeto pesado e de grossa pelagem»

Reconstruções baseadas em esqueletos, indicam-nos que o auroque era um animal elegante, mas por outro lado também atlético e musculado.
O tronco no auroque tinha um aspeto mais quadrado, mais fundo, e menos comprido do que a maioria do gado doméstico e as pernas eram compridas.
Existe alguma variação, mas é esta a tendência observada.
Quanto à pelagem, nenhuma fonte, indica que o auroque era um animal de farta pelagem. Muito provavelmente, contudo, devia ter dupla pelagem (pois é uma condição básica observada em várias raças bovinas primitivas).
Nas poucas fontes históricas fidedignas que se conhecem (oriundas de quem viu o auroque pessoalmente) a distribuição da pelagem era desigual, e podia ser mais abundante na cabeça (sobretudo entre os chifres).
Baseando em observações feitas em raças primitivas, é possível que alguns auroques tivessem a pelagem mais desenvolvida no pescoço e na zona dorso-lombar
Evidentemente, que durante períodos mais frios, a sua pelagem podia tornar-se mais espessa e o oposto podia suceder durante fases mais quentes.
Auroques a perder a pelagem de inverno, também podiam ter uma distribuição desigual do desenvolvimento capilar.
O auroque, tanto quanto se sabe, não é um animal com origem em climas frios.

6- «O auroque era um animal muito agressivo»

Quem descreveu os últimos auroques, na Polónia, não foi isso que disse.
O auroque, praticamente, ignorava as pessoas, caso as mesmas não se aproximassem demasiado.
Mas os machos solitários, podiam tornar-se belicosos, caso provocados.
Tal comportamento é observado em vários outros animais e tais não são descritos como muito agressivos.

7- «Não vale a pena recrear o auroque»

Foi o Homem que extinguiu o auroque, portanto cabe ao mesmo, tentar ressuscitá-lo ou pelo menos, criar algo parecido.
A Paleontologia fornece-nos pistas inegáveis, de que o auroque tinha um papel fundamental nos ecossistemas europeus e que era mais abundante do que antes se pensava.
Mantido em condições adequadas, poderia ter interesse para repovoar, certas zonas.
Certos países, como Portugal e Espanha, possuem raças bovinas primitivas únicas a nível mundial (na minha opinião as mais parecidas com o auroque), que se forem bem geridas, podem desempenhar, em boa parte, o papel do auroque.
Seria necessário encontrar os exemplares mais primitivos, de cada raça e protegê-los localmente.
Nem todos os animais são perfeitos, mas se reunirem caraterísticas importantes, devem ser incluídos, pois será a combinação com outros exemplares da mesma raça que fará toda a diferença.
Na região do Gerês, animais raros de Raça Barrosã e Cachena, poderiam desempenhar esse papel (ou até em outras partes do Norte) na região do Marão/Alvão, a raça Maronesa com o seu raro subtipo primitivo e mais a Sul (e nos Açores) o touro bravo, que tem visto uma grave redução no número de exemplares primitivos.
Mas claro que é possível proteger o touro bravo no Norte e o Barrosão no Sul!
As distribuições atuais das raças, nem sempre representam a distribuição original dos animais e o fundamental, é haver condições de habitat ideais (nem que seja dentro de apenas uma quinta),

8- «Não existem vantagens em criar gado bovino primitivo»

Criar gado primitivo, é criar gado com maior capacidade de adaptação e de sobrevivência, seja contra adversidades climáticas, predadores, epidemias, ou escassez de alimento e um dos grandes trunfos dos ecótipos primitivos, é o de conseguirem fazer um aproveitamento alimentar, em zonas consideradas de pouco interesse para pastoreio.
Ao criar este gado, está a ser conservado património único e de extrema raridade, a nível mundial.
Vários projetos internacionais de recreação do auroque, poderão ter interesse nesses animais, e existe uma uma grande procura por raças bovinas antigas.
Por outro lado, podiam incentivar o ecoturismo.
O gado primitivo, tem até um papel importante, na prevenção de fogos florestais e no enriquecimento estrutural e ecológico dos ecossistemas.


9- «Gado primitivo é mais perigoso»

Mais independente, talvez seja o termo mais correto.
Mas raças, como o touro bravo, não podem ser mantidas como um Barrosão.
Portanto o processo de criação tendo em vista a segurança dos animais e das pessoas, deve seguir basicamente as mesmas exigências atuais.
 
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Modelos que representam o auroque, provenientes de Německo, Berlin, Museum für Naturkunde (Museum of Natural History)

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Touro e vacas


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Touro

Na minha opinião, tendo em conta, a altura em que foram feitos (na década de 1940), e que não foram baseados em reconstruções a partir esqueletos de auroque, até estão bastante bons.
Nos dias de hoje, já com mais tecnologia e usando reconstruções baseadas em ossadas de auroque, pode-se reparar que assim à primeira vista, os modelos apenas perdem, sobretudo, por ter as pernas menos desenvolvidas mas também o tronco (que é mais imponente nos machos).
 
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