Seguimento Açores e Madeira - Setembro 2015

AzoresPower

Cumulus
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17 Set 2013
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Angra do Heroísmo
@Orion , @Bruno Amaral , @lserpa ou outro entendido, dê-me aqui uma ajuda: tanto nessa tua última imagem como no iMap Weather, quando ativamos o IR enhanced, o que fica realçado a amarelo, laranja ou vermelho são as células com maior potencial convectivo, que pode ser traduzido em células que descarregarão mais chuva correto?
 
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1 Set 2015
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Imagem mais recente. Afinal vai para nordeste:

Kl48MZU.jpg
Tenho acompanhado continuadamente no imap desde manhãzinha e parece estar a deslocar-se agora mais rapidamente, com alguns raios dispersos a surgirem a SW (longe ainda) de São Miguel... compara o satélite com os movimentos veriticais do GFS para as 15 e 18h!
 

Orion

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5 Jul 2011
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Há mais condições mas é raro acontecer. A última vez que vi trovoada por aqui foi em Março ou Abril e foi fraquinha. Em Junho houve um downburst por aqui mas pronto são excepções. Com a chuva que caiu por aí, começo a acreditar que sim :lol:

A insolação aqui, ao contrário de aí, é negligenciável. As ilhas são muito pequenas para terem um impacto significativo. Estas condições (CAPE de 2431 e atmosfera muito instável) dariam origem a uma tempestade extremamente severa aí:

http://www.meteopt.com/forum/topico/saidas-de-modelos-incomuns-ou-de-sonho.5084/page-47#post-497938

Mas aqui não aconteceu nada de especial (foi um dia normal). Porque se não houver convergência de ventos, a principal força motriz por cá, o tempo é monótono. O calor não é suficiente e a orografia alta não é muito extensa.

quando ativamos o IR enhanced, o que fica realçado a amarelo, laranja ou vermelho são as células com maior potencial convectivo, que pode ser traduzido em células que descarregarão mais chuva correto?

Vermelho e laranja, especialmente o primeiro, indicam topos mais altos significando células mais severas. Nos Açores tipicamente isso significa mais chuva. Em locais com atmosferas baixas mais secas, como no continente, às vezes não chove e faz trovoada seca (a chuva evapora-se antes de chegar ao solo).

Tenho acompanhado continuadamente no imap desde manhãzinha e parece estar a deslocar-se agora mais rapidamente, com alguns raios dispersos a surgirem a SW (longe ainda) de São Miguel... compara o satélite com os movimentos veriticais do GFS para as 15 e 18h!

NVKGion.png


Continua mal. Onde estão os movimentos verticais correspondentes à célula que se encontra ao largo do Pico? Os representados são muito fracos.
 

rozzo

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11 Dez 2006
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Em relação aos valores impressionantes no Nordeste (São Miguel), claro que antes de mais é preciso esperar a confirmação total/oficial por parte do IPMA, pois são algo avassaladores, e numa simples análise das imagens de satélite até parecem suspeitos, não se vendo assim grande "aparato" sobre a zona. De qualquer forma, um pequeno "exercício", claro está, baseado que estamos a supor serem esses valores corretos! (Tendo em conta as imagens que já se viram da zona até atenua algumas dúvidas...)

1) Antes de mais, como disse atrás, nas imagens de satélite não se vê nada de muito marcante, na verdade a maior parte das células maiores passa ao largo. De qualquer forma, a resolução e produtos disponíveis para a zona não são tão favoráveis quanto isso para uma grande análise infelizmente... Ainda assim, o facto de passarem um pouco a fazer razia ao norte da ilha ajuda a explicar a enorme diferença de valores entre o Nordeste e outras zonas da ilha!

8ECEdiU.gif


2) A sinóptica é marcada claramente por uma pluma de ar tropical extremamente húmido, portanto "fértil" para grandes cargas de água. Cargas estas claro que só ocorrem caso haja algum forçamento para iniciar a convecção e consequente precipitação intensa. Sem esse trigger, há muito potencial, mas pode nem ocorrer quase precipitação.

suLKB7P.gif


3) O forçamento pode ocorrer por diversos factores (frente, cut-off, convergência, etc..) e diria que neste caso parece ter sido forçamento por convergência nos níveis baixos... Se virmos as cartas em altitude não existe nenhuma bolsa de ar frio a favorecer convecção. Também esta falta de ar frio em altitude explica provavelmente a quase ausência de trovoadas, sendo provavelmente células com muito conteúdo de água nos níveis baixos e médios, mas sem grande extensão vertical e conteúdo de gelo nos níveis altos, etc., aquelas coisas mais complexas relacionadas com descargas.

p6KSdtS.png


4) Mesmo nos níveis médios (700hPa) não parece haver grande forçamento vertical na zona, pelo menos à escala sinóptica. Na verdade até há várias áreas com movimentos descendentes (azuis), reforçando ainda mais a ideia de ter sido essencialmente forçamento em níveis mais baixos.

tePRo5E.png


5) Lá está, existe uma clara faixa estreita e comprida de convergência nos níveis baixos das isolinhas do vento (onde as setas como que "colidem"). Terá sido nessa linha de convergência que esteve o mecanismo de forçamento para provocar a conveção, o movimento vertical ascendente. Esteve ali situada sempre no limite das zonas norte das ilhas mais afectadas, mais uma vez ajudando a explicar ser um pouco localizado.

di3IO7V.gif


s4tkRQh.png


Aliás, é curioso comparar a direção do fluxo nos níveis baixos com a direção aparente de deslocamento das células na imagem de satélite. São quase opostos, ou seja, no fundo o sistema estava a deslocar-se lentamente para Leste (guiado pelo fluxo aos 500hPa) mas a origem da conveção forte era o fluxo de direção Sudeste->Noroeste nos níveis baixos.

6) Finalmente, a orografia, que claro nestes casos nas ilhas tem sempre papel crucial, tal como no famoso e trágico caso da Madeira. Sendo o fluxo nos níveis baixos de Sudeste, acaba por ser quase perpendicular à orientação das serras na parte oriental da ilha de S.Miguel, ou seja, as serras passam a ser uma enorme "parede" onde o fluxo extremamente húmido é forçado a subir, e a "despejar a água".

Juntando os ingredientes:

água precipitável + sinóptica com convergência nos níveis baixos + orografia perpendicular a esse fluxo

... a zona acabou por ficar mesmo no local a montante propício para acumulados enormes.

k1Mxh5O.png
 

lserpa

Cumulonimbus
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Esta passou a raspar o Faial... Já o Pico está a levar pesado!!
Entretanto, observei alguns mammatus :) tirei uma foto, mas não representa muito bem como estava inicialmente... O tempo que demorei a ir buscai o iPad foi o suficiente para perder forma. Mesmo assim ainda dá para perceber.
d637a4d8c37d525e515240f7fb59d0c9.jpg
 

Wessel1985

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21 Set 2013
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Boa Tarde ...

Dizer que este fim de tarde até parece tirado a papel químico do de ontem ( esperemos que a evolução não seja a mesma ... )

Céu muito nublado e ameaçador e queda de alguns pingos bem grossos ... O vento também faz-se sentir com maior intensidade ...

Aguardemos a ver se não nos vemos outra vez a braços com novo dilúvio ... :unsure:
 

Orion

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3 dias de Setembro, 25 páginas no tópico. É, seguramente, um novo recorde :D

Céu muito nublado e ameaçador e queda de alguns pingos bem grossos ... O vento também faz-se sentir com maior intensidade ...

Um sistema frontal irá atravessar o arquipélago nos próximos 2 dias (hoje e amanhã). Portanto, haverá mais chuva.
 
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lserpa

Cumulonimbus
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... a zona acabou por ficar mesmo no local a montante propício para acumulados enormes.

k1Mxh5O.png
Explicação bastante plausível.
Foi sem dúvida um evento à escala local, e com o vento dos níveis baixos a convergirem todos para a área em questão e com o bloqueio orográfico, havendo assim uma elevação forçada dessa mesma massa de ar....
No caso da Terceira, creio que o cenário tenha algumas característica semelhantes à do Nordeste. A convergência não era perfeita, mas, o vento de superfície era mais intenso. A terceira tem uma área bastante montanhosa e extensa (tendo em conta a dimensão da ilha) e a própria forma orográfica serve de catapulta para a ascensão destas massas. Daí, as sucessivas células localizadas sobre a ilha.
Quem conhece bem a orografia do interior da Terceira sabe que é uma vasta área e com o topo máximo superior a 1000 metro e nas condições ideais emerge alguma convecção. E digamos que ontem, aos níveis baixos essa mistura estava perfeita... Aproveitando assim a boleia da instabilidade da célula principal... Foi a abertura da torneira....
 

lserpa

Cumulonimbus
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Boa Tarde ...

Dizer que este fim de tarde até parece tirado a papel químico do de ontem ( esperemos que a evolução não seja a mesma ... )

Céu muito nublado e ameaçador e queda de alguns pingos bem grossos ... O vento também faz-se sentir com maior intensidade ...

Aguardemos a ver se não nos vemos outra vez a braços com novo dilúvio ... :unsure:
Esta célula, já não é propriamente nova, aliás nunca vi uma durar tanto tempo... A risca amarela, representa o percurso feito por ela, arisca verde, apresenta a direção de deslocamento... Digamos que é um spaguetti model para um mesociclone. Leva a entender que ela está em constante renovação, a cor azul clara demonstra isso.... Ou seja, está a manter a estrutura.. Resumindo, a rota que ela leva, aponta que passe por aí...
1bc0c88405ed2d1231f1c2995b769414.jpg

Esta célula acertou em cheio no sul do Pico e passou cá no Faial de raspão... O suficiente para um aguaceiro forte.
 

Vince

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23 Jan 2007
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@Orion , @Bruno Amaral , @lserpa ou outro entendido, dê-me aqui uma ajuda: tanto nessa tua última imagem como no iMap Weather, quando ativamos o IR enhanced, o que fica realçado a amarelo, laranja ou vermelho são as células com maior potencial convectivo, que pode ser traduzido em células que descarregarão mais chuva correto?

O sensor de infravermelhos nos satélites meteo regista a temperatura (através da radiação infravermelha), tradicionalmente apresentada num produto com escala de cinza, entre preto e branco, quanto mais frio mais branco é, e vice versa.
A temperatura tem a ver com a altitude das nuvens, quanto mais altas as nuvens são, mais frias são os seus topos. O topo dum Cb aparece muito branco, um nevoeiro que é baixo, muito escuro.

Pelo que é aí que começa o 1º problema de interpretação, nem todas as nuvens altas (muito frias) são instáveis, cirrus por exemplo. Pelo que quando analisas imagens de satélite IR (infravermelho) tens que ter isso em conta, coisa que facilmente se aprende por observação regular a acompanhar estes episódios de instabilidade.

Por exemplo uma célula muito activa gera torres muito altas, logo muito frias, mas também espalha por uma grande região nuvens altas em altitude que não são instáveis apesar de oriundas da instabilidade, enganando um pouco os menos habituados. Pelo que tens que observar sempre atentamente uma sequência de imagens para perceber aonde estão mesmo a nascer essas torres, e conseguir distinguir a fonte do resto que são nuvens a expandirem-se na alta atmosfera. Até se podem estar a expandir noutra direcção que não a da célula.

O 2º problema é o produto em si, uma imagem de satélite até te mostra a torre convectiva, mas a mesma é a corrente ascendente, e o local aonde cai a chuva é nas descendentes, pelo que por satélite não sabes dizer muito bem aonde está a a cair a chuva e muito menos a quantidade... Para isso é preciso o radar, e infelizmente nos Açores não temos.

Outro 3º problema, que tem também a ver com o anterior, é que o satélite às vezes engana-nos bem. Por vezes há células medonhas de aparência e nem se passa nada de especial, e outras vezes células medianas por quem ninguém dá um tostão, e fazem muito estrago. O post acima do rozzo é capaz de descrever um desses casos, onde a precipitação intensa pouco é percepcionada por satélite, e aonde um radar é que daria jeito.

O Enhanced IR é apenas uma variação, em vez duma escala tradicional cinza que varia entre preto e branco, usa-se cores, ficando mais fácil de interpretar, mas mostram a mesma coisa, a temperatura dos topos das nuvens. Na tua pergunta, o vermelho e laranja mostram topos mais frios, mas tens que olhar com atenção, de preferência numa sequência, aonde eles estão mesmo a nascer, pois como referi, em altitude espalham-se nuvens altas (e frias) por uma grande área que engana um bocado.
 

lserpa

Cumulonimbus
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29 Dez 2013
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O sensor de infravermelhos nos satélites meteo regista a temperatura, tradicionalmente apresentada num produto com escala de cinza, entre preto e branco, quanto mais frio mais branco é, e vice versa.
A temperatura tem a ver com a altitude das nuvens, quanto mais altas as nuvens são, mais frias são os seus topos.

Pelo que é aí que começa o 1º problema de interpretação, nem todas as nuvens altas (muito frias) são instáveis, cirrus por exemplo. Pelo que quando analisas imagens de satélite IR (infravermelho) tens que ter isso em conta, coisa que facilmente se aprende por observação regular a acompanhar estes episódios de instabilidade.

Por exemplo uma célula muito activa gera torres muito altas, logo muito frias, mas também espalha por uma grande região nuvens altas em altitude que não são instáveis apesar de oriundas da instabilidade, enganando um pouco os menos habituados. Pelo que tens que observar sempre atentamente uma sequência de imagens para perceber aonde estão mesmo a nascer essas torres, e conseguir distinguir a fonte do resto que são nuvens a expandirem-se na alta atmosfera.

O 2º problema é o produto em si, uma imagem de satélite até te mostra a torre convectiva, mas a mesma é a corrente ascendente, e o local aonde cai a chuva é nas descendentes, pelo que por satélite não sabes dizer muito bem aonde está a a cair a chuva e muito menos a quantidade... Para isso é preciso o radar, e infelizmente nos Açores não temos.

O Enhanced IR é apenas uma variação, em vez duma escala tradicional cinza que varia entre preto e branco, usa-se cores, ficando mais fácil de interpretar, mas mostram a mesma coisa, a temperatura dos topos das nuvens.
Aproveitando aqui o teu Post, acrescento só uma dica... @AzoresPower Para mais facilmente deduzires onde poderá estar a chuva forte, considera o deslocamento da célula, ou seja, divides a célula ao meio, na parte da frente, tens a alimentação dela, updraft, e na parte traseira, tens o downdraft, onde se localizam as chuvas/granizo e ventos descendentes.
Depois, sabendo qual o quadrante do vento à superfície e qual a intensidade, percebes que a precipitação poderá ter tendência a acompanhar a direção do mesmo. Normalmente, a precipitação mais forte está concentrada de meio para trás. Também é importante descontares os lados da célula, normalmente são só nuvens em expansão.
 

lserpa

Cumulonimbus
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Actualização dos acumulados horários dos Açores, totais e máximos:
Os da última hora no grupo central é que devem estar mais significativos...
A estação do aeroporto do Pico não deverá ter recebido grande precipitação.... É pena não haver uma no Sul do Pico!
A de São Caetano poderá ter registado algo mais significativo...
 
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