Urso-pardo de volta a Portugal?

Kodiak

Cumulus
Registo
7 Fev 2009
Mensagens
109
Local
Braga
Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?

Interessante o projecto da preservação da turfeira. A metodologia parece-me a mais acertada. Aqui houve uma tentativa de preservar uma rede de turfeiras situadas a uma altitude média de aproximadamente 1000 metros, única forma de impedir o desaparecimento da narceja, como espécie nidificante. Mas parece-me que não vai surtir efeito. A narceja está no fim: oito a dez casais bem contados, todos na região do Barroso. Mais uma espécie a somar às várias desaparecidas nesta região!
Mas voltando à Quercus, na década de oitenta a Quercus tomou uma iniciativa semelhante, a compra de terras no Tejo Internacional. Os projectos actuais, as micro-reservas, seguem essa linha. Duvido é da eficácia de uma micro-reserva para aves rupícolas. É uma espécie de ilha num mar de desordem.
 


belem

Cumulonimbus
Registo
10 Out 2007
Mensagens
4,461
Local
Sintra/Carcavelos/Óbidos
Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?

Interessante o projecto da preservação da turfeira. A metodologia parece-me a mais acertada. Aqui houve uma tentativa de preservar uma rede de turfeiras situadas a uma altitude média de aproximadamente 1000 metros, única forma de impedir o desaparecimento da narceja, como espécie nidificante. Mas parece-me que não vai surtir efeito. A narceja está no fim: oito a dez casais bem contados, todos na região do Barroso. Mais uma espécie a somar às várias desaparecidas nesta região!
Mas voltando à Quercus, na década de oitenta a Quercus tomou uma iniciativa semelhante, a compra de terras no Tejo Internacional. Os projectos actuais, as micro-reservas, seguem essa linha. Duvido é da eficácia de uma micro-reserva para aves rupícolas. É uma espécie de ilha num mar de desordem.

Parece-me que a intenção de proteger a turfeira, não foi com o intuito de salvar a narceja da extinção naquela zona, mas somente proteger um habitat único no nosso país e com características excepcionais muito próprias.
Duvido que a Quercus queira criar uma micro-reserva para aves rupícolas. As micro-reservas destinam-se a alvos concretos, como flora endémica ou rara (como uma que existe no Alentejo), insectos ( como uma que existe na Serra do Alvão para proteger a rara borboleta azul), colónias de morcegos, habitats importantes ou raros para várias espécies, etc...
Para aves ( em especial rapinas), a Quercus preocupou-se mais com a zona do Tejo internacional, que me pareceu pertinente e realista dada a vasta área que abriga e as espécies que protege ( estando assim em conjunto com o Parque Natural do Tejo Internacional!)
 

BARROSODIGITAL

Cumulus
Registo
31 Jan 2008
Mensagens
145
Local
MONTALEGRE (+-1000m)
Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?

boa noite quanto ao urso penso que não será fácil ele chegar ao pnpg ou ao montesinho nos próximos anos ..

bom quem me dera que eles viessem ..

::quantos as cabras::
CABRA BRAVA OU PIRYNAICA

vejam este vídeo feito em 2007 no geres (brasalite perto de fonte fria)
http://barrosodigital.blogspot.com/2009/02/geres-vida-selvagem-2.html (peço desculpa pelo blog pois esta em mudanças)

actualmente o numero por ali diminui muito .. devido a caça furtiva ...

cump
miguel moura
 

Kodiak

Cumulus
Registo
7 Fev 2009
Mensagens
109
Local
Braga
Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?

Quanto ao urso muito provavelmente não voltará. Não há habitat que chegue para aguentar uma população viável. Nem no Gerês nem em Montesinho (muito menos em Montesinho). Depois, os conflitos com a população seriam muitos. Para além disso tudo aponta para uma transformação, ainda que gradual, do coberto vegetal (para pior) devido ao aumento do número de fogos motivados por prováveis alterações do clima. Para além disso há um problema latente, muito grave, na Peneda-Gerês: a expansão da vegetação exótica. Penso que não estou errado ao dizer que um dia os principais predadores que habitam o Gerês (e Montesinho) irão desaparecer. Os motivos são vários, desde as barreiras artificiais criadas (as auto-estradas, o futuro TGV) ao turismo, passando pela a expansão das infra-estruturas ligadas ao aproveitamento das energias, pelos incêndios etc, etc.
Quanto à cabra. Embora admita que possa haver algum furtivismo a população tem vindo a crescer gradualmente. Dizer que existem menos não é uma afirmação realista. Actualmente a população dos três núcleos iniciais está avaliada em 350 a 400 indivíduos, não contando com um núcleo surgido recentemente resultante de uma nova largada. Mas o risco não parte apenas do furtivismo. Um eventual contacto dos indivíduos selvagens com as cabras domésticas, portadoras de sarna, poderá constituir, a curto ou médio prazo, um risco ainda maior. O contacto com seres humanos, a habituação, também não é benéfica.
Penso que a preservação da espécie é da responsabilidade de todos, do Estado Português (do ICNB), das associações, do cidadão comum. Se existe perturbação é importante que se dê a conhecer. Se existe furtivismo é fundamental que se denuncie.
 

Kodiak

Cumulus
Registo
7 Fev 2009
Mensagens
109
Local
Braga
Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?

Turfeiras e narceja. Eu sei que o projecto da Quercus não teve como objectivo a protecção da narceja, mas sim da turfeira em si. Nem fazia sentido.
O que eu disse, ou queria dizer, é que a protecção do conjunto de turfeiras do PNPG são a única maneira de conservar as últimas narcejas nidificantes de Portugal (do Continente). Talvez eu me tenha explicado mal!
Sobre a micro-reserva para rupícolas pareceu-me ter lido algo, na página da Quercus.
 

Kodiak

Cumulus
Registo
7 Fev 2009
Mensagens
109
Local
Braga
Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?

Vi o vídeo e não posso deixar de fazer alguns comentário. É pena que uma associação como a vossa, tão preocupada com a preservação dos valores naturais da região não tome precauções ao abordar uma espécie como a Capra pyrenaica. Um das cenas mostra claramente as cabras em fuga devido ao autor ou autores de vídeo. A divulgação do vídeo com a identificação do local, também não me parece correcta. Já agora, informaram ou pediram autorização para filmar em área de protecção restrita?
Estamos a falar de uma espécie que desapareceu em 1890 e que só voltou ao território português por distracção das autoridades de Madrid. Se voltar a desaparecer, não regressará.
Aproveito para realçar aquilo que afirmei na mensagem anterior. As associações também têm a sua responsabilidade na preservação do património natural. No caso concreto da vossa associação, não perturbando uma das espécies mais valiosas da fauna portuguesa e não divulgando um dos poucos locais onde é possível a sua sobrevivência.
 

belem

Cumulonimbus
Registo
10 Out 2007
Mensagens
4,461
Local
Sintra/Carcavelos/Óbidos
Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?

Quanto ao urso muito provavelmente não voltará. Não há habitat que chegue para aguentar uma população viável. Nem no Gerês nem em Montesinho (muito menos em Montesinho). Depois, os conflitos com a população seriam muitos. Para além disso tudo aponta para uma transformação, ainda que gradual, do coberto vegetal (para pior) devido ao aumento do número de fogos motivados por prováveis alterações do clima. Para além disso há um problema latente, muito grave, na Peneda-Gerês: a expansão da vegetação exótica. Penso que não estou errado ao dizer que um dia os principais predadores que habitam o Gerês (e Montesinho) irão desaparecer. Os motivos são vários, desde as barreiras artificiais criadas (as auto-estradas, o futuro TGV) ao turismo, passando pela a expansão das infra-estruturas ligadas ao aproveitamento das energias, pelos incêndios etc, etc.
Quanto à cabra. Embora admita que possa haver algum furtivismo a população tem vindo a crescer gradualmente. Dizer que existem menos não é uma afirmação realista. Actualmente a população dos três núcleos iniciais está avaliada em 350 a 400 indivíduos, não contando com um núcleo surgido recentemente resultante de uma nova largada. Mas o risco não parte apenas do furtivismo. Um eventual contacto dos indivíduos selvagens com as cabras domésticas, portadoras de sarna, poderá constituir, a curto ou médio prazo, um risco ainda maior. O contacto com seres humanos, a habituação, também não é benéfica.
Penso que a preservação da espécie é da responsabilidade de todos, do Estado Português (do ICNB), das associações, do cidadão comum. Se existe perturbação é importante que se dê a conhecer. Se existe furtivismo é fundamental que se denuncie.

O Montesinho, a meu ver, está em muito melhor estado que o Gerês.
Tem mais carvalhais, tem mais ungulados selvagens, tem a maior população de lobo-ibérico em Portugal e uma das maiores da Península Ibérica...
Não sei se o urso-pardo vai lá voltar, mas o que é facto, é que existe uma população bem próxima de urso-pardo em franco crescimento e para quem conhece os ursos-pardos e sabe o seu raio de acção, depressa entenderia que a probabilidade de eles entrarem cá ocasionalmente é grande e pelo menos vai se tornar cada vez mais provável nos próximos anos.
No meu trabalho de campo, tenho verificado, ao contrário que muita gente pensa, num notório regresso de vários animais, anteriormente muito mais raros, em Portugal. Existem variados exemplos ( alguns de grande importância biológica): águia-imperial, lobo-ibérico, javali, veado-europeu, corço,etc,etc...
Falando na narceja, ainda ontem vi uma, num bosque rupícola perto de Óbidos!!:thumbsup:
 

belem

Cumulonimbus
Registo
10 Out 2007
Mensagens
4,461
Local
Sintra/Carcavelos/Óbidos
Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?

Turfeiras e narceja. Eu sei que o projecto da Quercus não teve como objectivo a protecção da narceja, mas sim da turfeira em si. Nem fazia sentido.
O que eu disse, ou queria dizer, é que a protecção do conjunto de turfeiras do PNPG são a única maneira de conservar as últimas narcejas nidificantes de Portugal (do Continente). Talvez eu me tenha explicado mal!
Sobre a micro-reserva para rupícolas pareceu-me ter lido algo, na página da Quercus.


Sim, de facto não tinha entendido. Mas há exemplos que me parecem interessantes: O Paúl do Boquilobo é uma zona pequena com vegetação e aves rupícolas e não acho que seja uma opção «insuficiente» protegê-lo, mas antes necessária... E se estiver rodeado de betão ainda mais importância lhe devemos conferir. Com ou sem narcejas, parece-me correcto.
E quantos mais actos destes, tanto melhor... Quem me dera que mais gente fizesse isto e em mais sítios. Eu não sou um membro da Quercus, mas reconheço no trabalho deles algumas boas acções ( além de outras menos boas). Ainda há pouco tempo plantaram em algumas zonas protegidas 26.000 árvores nativas de variadas espécies ( de acordo com a região claro).
Realmente não vejo muita gente fazer o que eles fazem...
Se souberes mais algo sobre essa nova reserva de rupícolas, estás à vontade para partilhar connosco.:thumbsup:
 

Kodiak

Cumulus
Registo
7 Fev 2009
Mensagens
109
Local
Braga
Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?

Narceja em bosque rupícola ou ripícola? Narceja ou galinhola? A narceja é comum como invernante, mas raríssima com estival nidificante. Está classificada como "Criticamente em Perigo" (ver atlas nacional, publicado recentemente). Esta é mais uma das espécies que atesta a importância do sistema Gerês-Barroso frente a outras regiôes ou serras, como Montesinho.
Mas voltando à questão, penso que ambas as regiões são muito importantes. É difícil comparar. Porém, há coisas que saltam à vista. O Gerês tem uma dimensão que não tem Montesinho, o relevo vigoroso e acidentado (talvez o mais acidentado do País), o isolamento, a falta de estradas. O Gerês prolonga-se pela Peneda e Castro Laboreiro, por um lado, e pelo Barroso e Larouco, pelo outro. Há uma continuidade que não existe em Montesinho, há um sistema montanhoso extenso. Os carvalhais do Gerês, de Quercus robur (também há de Quercus pyrenaica), são muitíssimo mais ricos, quanto à composição florística, incluindo espécies fundamentais para o urso, como o arando, o azevinho, o teixo etc. Os carvalhais de Quercus pyrenaica, de áreas mais secas, são mais despidos, mais pobres. Não sei exactamente a extensão do carvalhal em Montesinho mas sei que são carvalhais muito humanizados. Quanto às presas e aos predadores. Há muito que estou atento ao evoluir da população do lobo e apenas posso dizer que na região do Gerês e áreas circunvizinhas existem cerca de 12 alcateias. O Gerês é actualmente uma das áreas da Península com maior densidade de lobo e as alcateias são relativamente grandes, chegando a ter entre 11 e 14 animais (com a ninhada do ano incluída). O corço cresce a olhos vistos, o veado surgiu acidentalmente e está em crescimento, a cabra regresssou, o grifo vai aparecendo mais ou menos regularmente (vi o ano passado no Gerês Oriental 32 grifos e dois abutres-pretos), já para não falar da marta (Martes martes), com uma das populações mais densas da Península, e do arminho, apenas para dar alguns exemplos.

Obviamente que Montesinho tem coisas boas, uma delas o facto de ficar longe, ou relativamente longe, dos centros urbanos mais importantes. E, claro, boas populações de presas e predadores, nisso estou de acordo.
 

Kodiak

Cumulus
Registo
7 Fev 2009
Mensagens
109
Local
Braga
Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?

Num futuro próximo, acredito na entrada ocasional de ursos, sobretudo de machos, no nosso território. Isso aconteceu em 1946, na Peneda-Gerês. Mas não creio no regresso do urso nos tempos mais próximos, porque não temos habitat.
Mas também é verdade que a natureza é dinâmica.Talvez um dia, quando o clima voltar a ficar mais frio. Aí sim! O homem migrará, as florestas tenderão a expandir-se e o urso voltará ao seu habitat, em Portugal, se Portugal existir.
 

belem

Cumulonimbus
Registo
10 Out 2007
Mensagens
4,461
Local
Sintra/Carcavelos/Óbidos
Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?

Narceja em bosque rupícola ou ripícola? Narceja ou galinhola? A narceja é comum como invernante, mas raríssima com estival nidificante. Está classificada como "Criticamente em Perigo" (ver atlas nacional, publicado recentemente). Esta é mais uma das espécies que atesta a importância do sistema Gerês-Barroso frente a outras regiôes ou serras, como Montesinho.
Mas voltando à questão, penso que ambas as regiões são muito importantes. É difícil comparar. Porém, há coisas que saltam à vista. O Gerês tem uma dimensão que não tem Montesinho, o relevo vigoroso e acidentado (talvez o mais acidentado do País), o isolamento, a falta de estradas. O Gerês prolonga-se pela Peneda e Castro Laboreiro, por um lado, e pelo Barroso e Larouco, pelo outro. Há uma continuidade que não existe em Montesinho, há um sistema montanhoso extenso. Os carvalhais do Gerês, de Quercus robur (também há de Quercus pyrenaica), são muitíssimo mais ricos, quanto à composição florística, incluindo espécies fundamentais para o urso, como o arando, o azevinho, o teixo etc. Os carvalhais de Quercus pyrenaica, de áreas mais secas, são mais despidos, mais pobres. Não sei exactamente a extensão do carvalhal em Montesinho mas sei que são carvalhais muito humanizados. Quanto às presas e aos predadores. Há muito que estou atento ao evoluir da população do lobo e apenas posso dizer que na região do Gerês e áreas circunvizinhas existem cerca de 12 alcateias. O Gerês é actualmente uma das áreas da Península com maior densidade de lobo e as alcateias são relativamente grandes, chegando a ter entre 11 e 14 animais (com a ninhada do ano incluída). O corço cresce a olhos vistos, o veado surgiu acidentalmente e está em crescimento, a cabra regresssou, o grifo vai aparecendo mais ou menos regularmente (vi o ano passado no Gerês Oriental 32 grifos e dois abutres-pretos), já para não falar da marta (Martes martes), com uma das populações mais densas da Península, e do arminho, apenas para dar alguns exemplos.

Obviamente que Montesinho tem coisas boas, uma delas o facto de ficar longe, ou relativamente longe, dos centros urbanos mais importantes. E, claro, boas populações de presas e predadores, nisso estou de acordo.

A narceja estava numa zona de bosque rupícola perto de um bosque ripícola.
Digamos, estava num bosque que cresce numa superfície rochosa calcárea, perto de um curso de água com alguma vegetação ripícola.:D
Não era uma galinhola, porque esta tem matizes cinza e castanhas no corpo.
A que eu vi devia ser invernante...
Pois eu sei que o Gerês é importante, mas cada local tem as suas vantagens.
O Montesinho tem menos visitantes, tem menos perturbação, está mais longe de grandes centros urbanos.
Não tenho a ideia dos carvalhais no Montesinho serem muito humanizados...
Tive lá em 2006 e pareceram-me até mais extensos e contínuos que muitos carvalhais do Gerês.
No Gerês de facto chove mais e possívelmente há mais riqueza de flora, mas não me parece que isso em si faça do parque um local mais isolado e selvagem que as montanhas da Sanabria, da Nogueira e de Montesinho.
É no Nordeste de Portugal onde existe o maior núcleo de lobos.
Os dados que me deu sobre o lobos do Gerês são no entanto melhores do que os que esperava e ainda bem...
 

Kodiak

Cumulus
Registo
7 Fev 2009
Mensagens
109
Local
Braga
Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?

Quanto à narceja o caso está "arrumado"
Humanizado (o carvalhal), no sentido em que são explorados. A maioria dos carvalhais do Gerês, os carvalhais de carvalho-alvarinho, não são nem podem ser explorados. Apenas se permite anualmente a alguns naturais da região colher arando ou uva do monte, acompanhados por um vigilante da natureza que tem instruções precisas quanto aos locais e quantidades (sempre muito pouco).
De facto não me tinha lembrado que Montesinho é um prolongamento da Sanábria, seguindo-se a serra da Nogueira, que por acaso possuía, há alguns anos, um dos maiores carvalhais de carvalho-negral do País, cerca de 8.000 hectares. Sei que é explorado e portanto desconheço o estado actual do referido carvalhal.
Lobos: como disse acompanho um pouco a questão do lobo, porque gosto (a espécie preferida) e também porque de vez em quando sou obrigado a envolver-me em algumas questões relacionadas com a sua conservação. A população está estável nesta região mas os conflitos com a população humana são muitos. A guerra é ancestral. Em média há três a quatro ataques diários. Felizmente parte dos animais mortos são garranos que não pertencem a ninguém, ou pertencem a todos nós. Ultimamente foram marcados quatro lobos com emissores (satélite) que têm fornecido dados interessantes. Independentemente deste aspecto a população de lobos da Peneda-Gerês foi acompanhada e estudada durante muitos anos e daí saber-se o que se sabe, o número de alcateias, área vital, constituição, etc. Curiosamente nos anos oitenta achava-se que a população estava a diminuir. Puro engano!! Mas isto não significa que a população esteja a salvo.
 

belem

Cumulonimbus
Registo
10 Out 2007
Mensagens
4,461
Local
Sintra/Carcavelos/Óbidos
Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?

Quanto à narceja o caso está "arrumado"
Humanizado (o carvalhal), no sentido em que são explorados. A maioria dos carvalhais do Gerês, os carvalhais de carvalho-alvarinho, não são nem podem ser explorados. Apenas se permite anualmente a alguns naturais da região colher arando ou uva do monte, acompanhados por um vigilante da natureza que tem instruções precisas quanto aos locais e quantidades (sempre muito pouco).
De facto não me tinha lembrado que Montesinho é um prolongamento da Sanábria, seguindo-se a serra da Nogueira, que por acaso possuía, há alguns anos, um dos maiores carvalhais de carvalho-negral do País, cerca de 8.000 hectares. Sei que é explorado e portanto desconheço o estado actual do referido carvalhal.
Lobos: como disse acompanho um pouco a questão do lobo, porque gosto (a espécie preferida) e também porque de vez em quando sou obrigado a envolver-me em algumas questões relacionadas com a sua conservação. A população está estável nesta região mas os conflitos com a população humana são muitos. A guerra é ancestral. Em média há três a quatro ataques diários. Felizmente parte dos animais mortos são garranos que não pertencem a ninguém, ou pertencem a todos nós. Ultimamente foram marcados quatro lobos com emissores (satélite) que têm fornecido dados interessantes. Independentemente deste aspecto a população de lobos da Peneda-Gerês foi acompanhada e estudada durante muitos anos e daí saber-se o que se sabe, o número de alcateias, área vital, constituição, etc. Curiosamente nos anos oitenta achava-se que a população estava a diminuir. Puro engano!! Mas isto não significa que a população esteja a salvo.

Infelizmente eu acho que o Gerês é explorado por centenas senão milhares de pessoas todos os anos e é possível entrar nas suas profundezas, sem ninguém saber... Não há controle nisso, pelo menos tanto como seria necessário.
E tem (muitos) poucos guardas para um parque tão grande...:(
Outra coisa que notei é que há falta de contacto entre as entidades do parque, o público e os investigadores.
E isto só torna tudo mais difícil e «força» o público a violar a lei...
Acredito contudo que existam áreas mais inacessíveis e ao abrigo da maior parte das pessoas...
Creio que existe um investigador de lobos no Gerês muito peculiar...
Ele uiva para os lobos e espera por respostas... Diz até que já consegue distinguir uivos de diferentes lobos e reconhecer os indivíduos!:D
 

Kodiak

Cumulus
Registo
7 Fev 2009
Mensagens
109
Local
Braga
Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?

É verdade que é explorado por centenas ou milhares de pessoas. Mas isso acontece num período muito curto entre o final de Julho e o início de Setembro e em alguns fins de semana. Por outor lado a "exploração" tem lugar no corredor Gerês-Albergaria-Vilarinho das Furnas. No resto do ano é sereno. Isto (a tranquilidade) tem a ver por um lado com o clima e por outro com existência de muitas áreas sem acesso, de relevo difícil e acidentado. Se assim não fosse não existiriam doze alcateias e seria impossível reintroduzir a cabra selvagem. Em relação a esta espécie basta dizer que o primeiro núcleo verdadeiramente português partiu de 4 exemplares escapados de cativeiro e que permaneceram incógnitos, com a descendência, durante quatro anos num dos vales mais acidentados da região.
Há poucos guardas para território tão extenso mas a principal questão nem é essa. Felizmente existe um corpo de guardas da GNR que trabalha exclusivamente para o Parque.
É muitíssimo complicado gerir uma área como esta e ao público há muita, mesmo muita, coisa que escapa. Operam-se aqui verdadeiros milagres. Um dia talvez se escreva a história do Gerês.


O personagem em questão uivava muito bem. E desencadeava por vezes resposta pronta. Tive ocasião de acompanhá-lo em diversas ocasiões. Ouvir a música de uma alcateia é coisa que não se esquece. É um lamento colectivo, doce e triste: arrepia, impressiona, persegue-nos toda a vida. Primeiro respodem todos, depois, apenas, o líder, que emite um uivo alto e grave, sinal claro de dominância.
 

belem

Cumulonimbus
Registo
10 Out 2007
Mensagens
4,461
Local
Sintra/Carcavelos/Óbidos
Re: Urso-pardo de volta à Peneda Gerês?

É verdade que é explorado por centenas ou milhares de pessoas. Mas isso acontece num período muito curto entre o final de Julho e o início de Setembro e em alguns fins de semana. Por outor lado a "exploração" tem lugar no corredor Gerês-Albergaria-Vilarinho das Furnas. No resto do ano é sereno. Isto (a tranquilidade) tem a ver por um lado com o clima e por outro com existência de muitas áreas sem acesso, de relevo difícil e acidentado. Se assim não fosse não existiriam doze alcateias e seria impossível reintroduzir a cabra selvagem. Em relação a esta espécie basta dizer que o primeiro núcleo verdadeiramente português partiu de 4 exemplares escapados de cativeiro e que permaneceram incógnitos, com a descendência, durante quatro anos num dos vales mais acidentados da região.
Há poucos guardas para território tão extenso mas a principal questão nem é essa. Felizmente existe um corpo de guardas da GNR que trabalha exclusivamente para o Parque.
É muitíssimo complicado gerir uma área como esta e ao público há muita, mesmo muita, coisa que escapa. Operam-se aqui verdadeiros milagres. Um dia talvez se escreva a história do Gerês.


O personagem em questão uivava muito bem. E desencadeava por vezes resposta pronta. Tive ocasião de acompanhá-lo em diversas ocasiões. Ouvir a música de uma alcateia é coisa que não se esquece. É um lamento colectivo, doce e triste: arrepia, impressiona, persegue-nos toda a vida. Primeiro respodem todos, depois, apenas, o líder, que emite um uivo alto e grave, sinal claro de dominância.

Pois como disse, acredito que hajam locais mais remotos e inacessíveis, pois os lobos, as cabras selvagens entre outros animais, só devem ser vistos em áreas mais isoladas.
Ainda bem que assim é e espero que o seja por muito mais tempo.
Um dia gostaria de ler a história do Gerês, um dos locais que mais me fascina em Portugal e no mundo, que pretendo continuar a estudar e observar.