Biodiversidade

james

Cumulonimbus
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16 Set 2011
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Estive há pouco tempo na vila do Gerês e reparei exactamente na mesma coisa. Aquela encosta está a ser dominada inteiramente por mimosas. Mas não é só ali. Também em toda a encosta sul entre a Vila do Gerês, Fafião, Ermida, etc, a mimosa está cada vez mais presente.

Carvalhos, e espécies nativas, só mesmo na zona da Portela do Homem, Leonte e Mata da Albergaria, sendo que esta última parece uma pequena ilha no meio de encostas varridas pelo fogo.

A Mata da Albergaria podia ser estendida em todo o perímetro da Albufeira de Vilarinho das Furnas. Há, naquele lugar, toda uma imensa área pronta a florestar e cuidar.


Há grandes carvalhais também nas zonas pertencentes aos concelhos de Montalegre e Melgaço .
 


james

Cumulonimbus
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16 Set 2011
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Viana Castelo(35 m)/Guimarães (150 m)
Concordo contigo nessa questão e noutras em que as autoridades fazem pouco pela conservação . No entanto , atualmente , o estado de conservação é superior à uns anos atrás . Eu , que sou desde sempre visitante assíduo do PNPG , lembro - me como era aterrador o estado do PNPG nos anos 80 nos anos 80 - uma festa anual em que se deitavam foguetes de cana no meio da Mata da Albergaria , gente a fazer piqueniques nessa e noutrs matas com fogareiros , campismo selvagem com lareiras acesas para se aquecerem , jipes e motas em qualquer trilho , lobos e outras espécies à beira da extinção . . .

Muita coisa se fez nestes anos todos , mas muita também ainda está por se fazer .

Porém , continuamos a falar de uma zona natural extraordináriamente importante , das mais importantes da Europa . , o seu estatuto de Parque Nacional é intocável e absolutamente inquestionável !


Eu queria citar o Bonelli .
 

james

Cumulonimbus
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16 Set 2011
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Viana Castelo(35 m)/Guimarães (150 m)
Frederico,

Vou explicar-te a razão de porque vês a mimosa sempre junto às bermas. Não é acção humana, é algo natural.

A mimosa é uma espécie pioneira e fixadora de azoto. Naturalmente está adaptada para ser a primeira espécie a crescer quando o solo fica de tal forma exposto, que perde a fertilidade. Isso acontece quando por exemplo, o solo é queimado, destruído durante a construção de uma estrada, ou quando o solo é lavrado de forma tão excessiva que perde a maioria da sua fertilidade.

Daí que vejas estas espécies oportunistas, pioneiras, a crescer em zonas queimadas, nas bermas das estradas (a seguir à sua construção) e muitas vezes nas cidades quando existe uma construção de um novo edifício. Ou em solos plantados com eucalipto, já que o eucalipto empobrece muito a fertilidade do solo, ao contrário do carvalho ou de árvores folhosas. A mimosa, ou a acácia, como são fixadoras de azoto, são a tentativa da natureza de corrigir o problema de fertilidade destruída. Na natureza, estas espécies são espécies pioneiras e fixadoras de azoto.

Outra coisa é que estas espécies (como a mimosa) acabam por reduzir-se e muito, durante a sucessão ecológica, que ocorre nas décadas posteriores, se não ocorrer mais nenhuma perturbação desse solo. O carvalho, castanheiro e outras nativas acabam por crescer após a mimosa e após décadas fazem sombra, o que vai matar a mimosa, que entretanto contribuição para a fertilidade do solo, que é necessária para o carvalho e outras espécies nativas se poderem estabelecer. Como vês, Frederico, este é o ciclo natural de um processo que se chama sucessão ecológica.

A mimosa é impossível de eliminar. É importada mas é a árvore em Portugal (neste momento) mais adaptada ao empobrecimento que os solos portugueses têm (causados quase só por acção humana) e também é a árvore mais adaptada ao nosso clima neste momento (mais ainda que o carvalho que entretanto sofre também com o aquecimento do clima e redução da precipitação). Daí que eu espere uma verdadeira explosão da mimosa a seguir-se ao cultivo massivo de eucaliptos que empobreceu os solos portugueses, ou dos danos causados ao solo como os resultantes da agricultura e construções de infraestruturas.

falando de soluções, a solução pode passar por arrancar algumas mimosas sim, mas esse processo em si é um pouco sem consequência (as mimosas acabam por voltar, porque deixam no solo um banco de sementes formidável, prontas a germinar após o próximo fogo ou revirar do solo). Mais eficiente e sendo planeamento de longo prazo é plantar folhosas nativas nos sítios em que a mimosa cresce presentemente. E sobretudo impedir os fogos! E claro que além dessas acções críticas, também se pode ir arrancando, cortando a mimosa (se possível deixando a rama no solo após o corte, já que esta acrescenta fertilidade ao solo, e nunca vai gerar novas plantas). Pode ser esse o trabalho das autárquias. Outras árvores como o castanheiro, sobreiro, etc, cresceriam bem, além de produzirem comida ou recursos de valor (e podem produzir madeira igualmente)- E claro há muita mais diversidade que pode ser plantadas além de carvalhos e castanheiros, árvores e outras plantas. E isto sim é verdadeira sustentabilidade e planear o futuro, com pés e cabeça.

E concordo com o dizes. Em Portugal há erros ambientais gravíssimos. E a gestão dos parques naturais é maioritariamente uma paródia. A do Gerês é vergonhosa como dizes. Não se pode deixar perder mata original, esses valiosos carvalhais, num parque nacional. Têm que haver mais motivação por parte das autoridades competentes e mais sensibilização. E sim, haver áreas sem acesso humano.



Mas há muita espécies nativas que foram prejudicadas pela plantação maciça de coníferas , as espécies da zona foram simplesmente destruídas para plantar pinheiros e eucaliptos . Na minha zona continuam a nascer carvalhos ( e azevinhos também ) um pouco por todo o lado .
 

irpsit

Cumulonimbus
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Concordo com todos vós.

Os dois grandes problemas são de facto o fogo e a plantação exagerada de monoculturas de eucaliptos e pinheiros.
A conservação ecológica em Portugal têm melhorado, mas ainda deixa MUITO a desejar.

Acho que se tivéssemos os carvalhais de volta à maioria do país, não só teríamos uma paisagem absolutamente fantástica, óptima para o turismo, como muito mais biodiversidade, e podíamos ter isso a par de mais sustentabilidade na indústria da madeira.
 
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boneli

Nimbostratus
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12 Jan 2008
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Eu queria citar o Bonelli .

Eu entendo o que dizes. O que eu digo é o reflexo do que ouço de pessoas que sabem mais do que eu nomeadamente Biólogos e a minha própria experiência de Bombeiro nos últimos 15 anos.

Toda a gente diz que conhece o Gerês desde pequeno. Pois também eu e de facto há melhorias em alguns aspetos, no entanto o Gerês é muito mas muito mais do que a mata da Albergaria!!!!

Se ao andarmos por lá e vemos mimosas por todo lado a crescer de forma gritante algo se passa!! Os grande incendio que houveram nessas encosta e foram até as pedras brancas e entrada do parque de Vilarinho das Furnas....o grande incêndio que houve na Serra Amarela, para não falar na zona da Peneda (vou ficar por aqui), Lindoso, Cabril zona de Montalegre, etc acentuou mais esta questão das mimosas. Algo tem de ser feito. Têm noção dos milhares de hectares que arderam no parque nos últimos 5 anos???? Mais de 20 000 hectares...e só com muito esforço é que conseguiu-se parar o avanço na mata da Albergaria. Se o parque tem uma área de cerca de 80.000 hectares é só fazer contas e fico-me por aqui. Mimosas é para continua e ficar...num parque dito nacional.

Relativamente à questão de o Parque ser Parque Nacional ou não quem me falou foi uma equipa de biólogos que conheço e nos meus tempos livres acompanho na monotorização de mamíferos e anfíbios juntos das barragens, num estudo pago pela EDP. Eles são bem claros no que dizem. "O Gerês já não é o que era" e dizem mais que Montezinho a nível de preservação do património Natural já passou o Gerês.

Se se investiu mais? Acredito que sim...mas isso é relativo muito relativo.
 
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Nimbostratus
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Concordo com todos vós.

Os dois grandes problemas são de facto o fogo e a plantação exagerada de monoculturas de eucaliptos e pinheiros.
A conservação ecológica em Portugal têm melhorado, mas ainda deixa MUITO a desejar.

Acho que se tivéssemos os carvalhais de volta à maioria do país, não só teríamos uma paisagem absolutamente fantástica, óptima para o turismo, como muito mais biodiversidade, e podíamos ter isso a par de mais sustentabilidade na indústria da madeira.
O Problema não é o fogo, mas sim a falta dele...
o problema foi e é a ausência de gestão do fogo num território de pastoreio...ora assim os incêndios fazem o seu percurso...fogo e incêndios florestais são completamente diferentes!
O ICNF não tem uma estratégia para combater invasoras nem para gerir o fogo...esse é o verdadeiro problema! A diminuição, pensada e ideológicamente fundamentada, da presença do estado na gestão do território esta a ter os seus "belos" frutos...enfim...
Outro exemplo, a meu ver mais preocupante, é a presença da haquea picante (vulgo pica burros)...ja está no Marão/Alvão e ás portas do parque nacional pg...futuro negro este que a conservação da natureza tem a sua frente, infelizmente!
 

james

Cumulonimbus
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16 Set 2011
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Já nos anos 90 existiu um projeto de erradicação das mimosas , começou mas parou pouco tempo depois , muito à portuguesa .
Há dois tipos de " Gerês " , o turístico , este sim com grandes problemas de pressão humana e o selvagem , com problemas ao nível de fogos .

Na minha opinião , em ambos os casos , o grande problema é a falta de meios de vigilância .
 
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frederico

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As mimosas seriam problemam resolvido em poucos anos se houvesse vontade política e dinheiro. Isto deveria ser tratado como o ébola.

Lista de plantas invasoras. Quem plantar, seja onde for, tem multa. Planos de erradicação coordenados com as freguesias. Os proprietários seriam avisados por edital que no dia tal haveria «limpeza». Herbicida para cima e questão resolvida.
 

frederico

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Quantos aos eucaliptos...

Não sou especialista no tema mas li há uns tempos que no médio e longo prazo Portugal teria um problema com a exportação desta madeira e da pasta de papel... Os BRICS estão também a fazer plantações de eucalipto, caso do Brasil e da Ìndia, vendem a preços muito mais baixos...

Se há investimento que deveríamos fazer... seria sim no sobreiro! Trata-se de uma árvore que é espontânea em quase todo o território continental e parte do seu habitat, especialmente na zona Centro, está ocupado com pinhal e eucaliptal. E por que motivo defendo o sobreiro? O petróleo barato acabou e a cortiça é um material com futuro! E poderíamos produzir muito mais cortiça.

E também poderíamos produzir no futuro madeiras nobres como a madeira de carvalho, de forma sustentada... com uma vantagem, os carvalhos não precisam de acções de reflorestação, basta limpar os terrenos de infestantes e espalhar manualmente bolotas...

«De modo que este país da vinha e da oliveira, das frutas magníficas e das flores preciosas, podendo oferecer no grandes mercados, com antecedência de bastantes dias, os produtos mais caros e mais raros, de maior procura e consumo, vive agarrado à miséria da sua cultura de cereais. Porque não a abandonará?»

Parece que Salazar escreveu esta frase há quase um século.

Durante décadas insistiu-se na questão do trigo. E assim se destruiu o solo de muitas serras.

Agora o eucaliptal veio para substituir o trigo...
 
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As mimosas seriam problemam resolvido em poucos anos se houvesse vontade política e dinheiro. Isto deveria ser tratado como o ébola.

Lista de plantas invasoras. Quem plantar, seja onde for, tem multa. Planos de erradicação coordenados com as freguesias. Os proprietários seriam avisados por edital que no dia tal haveria «limpeza». Herbicida para cima e questão resolvida.
Não é assim de forma linear...a questão do herbicida pode ser contrapoducente!
Mas no caso da Mimosa (Acacia dealbata) o próprio descasque é bastante eficaz...e isso ja foi feito neste local referido do Gerês...o problema é a manutenção e vigilância!
O estado demitiu se das suas "obrigações" e disseminação de linhas orientadoras...não cuida do que é dele quanto mais do que não é...
a situação do ICNF é verdadeiramente catastrófica! Não ha uma estratégia...é gritante a incompetencia de quem dirige este organismo...assutador!
 

AJB

Nimbostratus
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Quantos aos eucaliptos...

Não sou especialista no tema mas li há uns tempos que no médio e longo prazo Portugal teria um problema com a exportação desta madeira e da pasta de papel... Os BRICS estão também a fazer plantações de eucalipto, caso do Brasil e da Ìndia, vendem a preços muito mais baixos...

Se há investimento que deveríamos fazer... seria sim no sobreiro! Trata-se de uma árvore que é espontânea em quase todo o território continental e parte do seu habitat, especialmente na zona Centro, está ocupado com pinhal e eucaliptal. E por que motivo defendo o sobreiro? O petróleo barato acabou e a cortiça é um material com futuro! E poderíamos produzir muito mais cortiça.

E também poderíamos produzir no futuro madeiras nobres como a madeira de carvalho, de forma sustentada... com uma vantagem, os carvalhos não precisam de acções de reflorestação, basta limpar os terrenos de infestantes e espalhar manualmente bolotas...

«De modo que este país da vinha e da oliveira, das frutas magníficas e das flores preciosas, podendo oferecer no grandes mercados, com antecedência de bastantes dias, os produtos mais caros e mais raros, de maior procura e consumo, vive agarrado à miséria da sua cultura de cereais. Porque não a abandonará?»

Parece que Salazar escreveu esta frase há quase um século.

Durante décadas insistiu-se na questão do trigo. E assim se destruiu o solo de muitas serras.

Agora o eucaliptal veio para substituir o trigo...
E acrescento ainda, infelizmente, que o eucalipto jamais sairá das nossas paisagens, jamais...mas pior é não haver uma estratégia para impedir que atinja novas áreas...aliás, este Governo liberalizou completamente as plantações do mesmo...à custa de um suposto desenvolvimento económico comprometemos o futuro da biodiversidade do país...e este governo que tanto critica a herança passada, esta a deixar algo que nem a um inimigo deixaria! Nesta matéria, este governo tem tido uma politica miseravel, miseravel mesmo!
 
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frederico

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Sei que a Região Autónoma da Extremadura levou a cabo há uns anos um plano de erradição do eucalipto e os eucaliptais deram lugar a plantações de sobreiro e azinheira... aqui mesmo ao lado há outra mentalidade...
 
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Cumulonimbus
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Viana Castelo(35 m)/Guimarães (150 m)
Está praticamente concluída a barragem do Baixo - Sabor , um dos maiores atentados ambientais das últimas décadas em Portugal . E mesmo os seus benefícios económicos são no mínimo muito discutíveis .

E mesmo violando grosseiramente diretivas comunitárias , a barragem teve o aval da Comissão Europeia , o que é algo inacreditável .

Agora vêm com a proposta de criação de um Parque Natural Sabor - tua ( outro belo " serviço " ) , o que é uma inovação , primeiro destrói - se o ecossistema e depois classifica - se como parque natural .

Enfim , é o país que temos , por alguma razão estamos na cauda da Europa . . .:facepalm:
 

Mário Barros

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18 Nov 2006
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Maçores (Torre de Moncorvo) / Algueirão (Sintra)
Califórnia - 1915.

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