Biodiversidade no Barrocal Algarvio
Depois da serra do Caldeirão, chegou a vez de abordar o barrocal algarvio.
O barrocal é uma sub-região natural do Algarve que se localiza entre as serras e o litoral. É uma região estreita nos extremos, que se localizam aproximadamente entre Cacela e Lagos, e larga na região central, localizada no concelho de Loulé.
Caracteriza-se pela presença de solos calcáreos, e em parte desta região surgem elevações irregulares, os barrocos, algumas das quais de altitude moderada, próxima dos 500 m, como é o caso da Rocha da Pena. O barrocal integra ainda a Serra de Monte Figo (411 m).
A região tem um clima mediterrânico idêntico ao do litoral algarvio, com precipitações ligeiramente superiores, que rondarão os 500-800 mm anuais. Encontra-se protegida dos ventos de quadrante norte pelas serras do Caldeirão e de Monchique.
A vegetação assumiu num passado recente características de consididerável relevo ecológico. Na maquis predominariam as alfarrobeiras, os zambujeiros, as aroeiras, os medronheiros, o carrasco, entre muitas outras espécies vegetais, uma delas autócne já extinta (um narciso que só existe actualmente em jardins botânicos). Nalgumas zonas mais desenvolvidas surgiria a azinheira e o carvalho-cerquinho.
Neste habitat encontraríamos o lince-ibérico, várias aves de rapina, que nidificariam nalgumas escarpas calcáreas, raposas, ginetos, texugos, ouriços, passeriformes, e várias espécies de morcegos, entre outras.
Predominava a agriculura de sequeiro, com belos arvoredos de cariz biológico, com uma biodiversidade única. Falo das culturas da amendoeira, da alfarrobeira, da oliveira e da figueira. Nos vale encontrávamos a agricultura de regadio, com os citrinos, a nespereira ou outras árvores de fruto.
Na última década o barrocal tem sofrido um progressivo processo de degradação. A construcção massiva e desregulada de aldeamentos turísticos e pequenas «vilas», dispersas na paisagem, levou à abertura de muitos novos caminhos e à destruição progressiva de trechos de vegetação autócne. Em poucos anos a paisagem que outrora era verde ficou salpicada de branco e de cinzento. Para além disso, os pomares de sequeiro há muito que foram abandonados e agora correm o risco de vir a ser substituídos por mega-plantações de oliveiras ou por campos de golfe. E os últimos anos de seca têm piorado a situação, sendo já evidente uma gradual rarefacção da densidade da vegetação.
Embora tenha sido reinvidicada há muitos anos, a área protegida do barrocal, que ficaria a norte de Loulé, nunca foi criada. Existem apenas dois sítios classificados, de reduzidas dimensões, a Rocha da Pena e a Fonte Benémola. Por classificar restá o Cerro do Cabeço, a Nave do Barão e outros monumentos geológicos da região.
A agricultura sustentável pode vir a trazer desenvolvimento económico sem causar danos. A allfarroba é um produto pouco divulgado, e com um enorme potencial, tal como o figo, cada vez mais ausente da nossa alimentação. E para não falar da amêndoa, fruto que continuamos a importar quando poderíamos ser auto-suficientes.
Uma estratégia para o barrocal devia incluir:
- A criação de um Parque Natural no barrocal a norte de Loulé;
- Corredor ecológico com Monchique e Odelouca;
- Reintrodução do lince;
- Salvaguarda de núcleos de vegetação autócne mais desenvolvidos;
- Mais ordenamento urbanístico;
- Salvaguarda dos monumentos geológicos;
- Recuperação paisagística das pedreiras.