Um dos grandes problemas nacionais é a falta gritante de sociedade civil. Em Inglaterra, por exemplo, muito do trabalho de protecção e manutenção é feito com voluntários, associações, e donativos. Isto permite que em primeiro lugar as coisas sejam feitas com amor e dedicação, por pessoas que defendem a bandeira da causa, e não por um funcionário qualquer que se calhar está a trabalhar para receber um salário ao final do mês, por obrigação, sem motivação. Obviamente que há muitos funcionários dos parques e reservas que têm enorme paixão pelo que fazem, e já conheci vários. Mas depois esbarram em condicionalismos impostos pelo topo da cadeia hierárquica do funcionalismo, onde andam muitos boys e girls que estão lá com a cunha do partido A ou B. No caso do Gerês, como funcionaria isto? Teríamos uma associação de amigos do Parque Nacional, que receberia fundos da população, grandes empresas, que tentaria também captar fundos internacionais. Haveria programas voluntários, idosos, estudantes, desempregados, que iriam fazer acções de vigilância do Parque na época de incêndios. Os associados fariam uma vigilância apertada da actuação do Estado e autarquias, participando na elaboração dos planos de Ordenamento, exigindo que as contas públicas fossem de livre acesso e transparentes, denunciando publicamente todos os casos suspeitos de corrupção, tráfico de influências, captura do interesse público, e crimes ambientais.
No Algarve notava-se que a maior parte dos membros das associações não eram pessoas da terra, mas sim estrangeiros residentes na região, algumas pessoas de Lisboa, normalmente com formação superior, alguns ex-emigrantes portugueses.
Numa cultura como a portuguesa temos de criar um sistema de sociedade civil, as pessoas têm de perceber que não basta ir votar e deixar os políticos à vontade sem serem vigiados nos 4 anos seguintes. A nível local em Portugal a intervenção também tem muitos problemas. Por exemplo, a maior parte das nossas empresas não tem escala, não exporta e nem sequer vende para outras regiões, depende de clientes locais. Ora quem tem négocios nunca quer dar a cara, se se mete numa denúncia a um Presidente do PS perde logo uma carrada de clientes do PS local, outros têm medo de represálias porque o maior emrpegador a nível local em boa parte do país é o Estado, imaginem alguém que trabalha na Misericórdia a recibos verdes e o director daquilo é do PSD, essa pessoa mete-se numa associação que se queixa do Presidente da Câmara que também é do PSD local, então acaba por ser despedida como represália. O activismo é muito mais fácil assim nas grandes áreas urbanas de Lisboa e Porto, mas a nível local é muito complicado ainda mobilizar a população porque há muitos medos.