Só agora vi atentamente a reportagem. Tal como todas as reportagens da TVI começa com um sensionalismo brutal. Por aquela ordem de ideias nunca se tinha construído uma única barragem. (Nem barragens nem nada, porque tudo danifica o ambiente). E só faltou dizer que os milhares de quilómetros de linhas férreas abandonadas pelo país fora (isso sim uma autêntica vergonha) são devido às barragens. Tantas linhas abandonadas e embirram agora com a linha do Tua. Pergunto-me porque é que uma cidade como Viseu (no coração de Portugal) não tem comboios.
Quando ao pasto, é coisa que não falta por aí. Nunca como agora esteve tudo de monte.
Mas vamos a dados incorrectos, da entrevista.
Minuto 3:45.
“Não se produz energia eléctria com petróleo em Portugal já há muitos anos.”
Ai não?
17 de Fevereiro de 2012.
E não foi o único dia em se produziu este ano energia eléctrica a partir do petróleo.
Minuto 14:48 – Exactamente aquilo para que serve a bombagem. Utilizar a energia que seria vendida a custo zero para a utilizar mais tarde quando está a custo elevando.
Minuto 15:21 – “Vamos ser pioneiros.” “Nunca foi realizado em parte nenhuma do mundo.”
A potência reversível instalada em Espanha é muito superior à instalada em Portugal.
Minuto 16 – É explicado o funcionamento mas induz-se erradamente o público. Porque é que nesse ponto não se falou da rentabilidade económica do assunto?
Minuto 17:35 – “A produção é um subproduto.” E nada mais interessou. Totalmente tendenciosa a reportagem. Totalmente!
Só ao minuto 20, quando já se repetiu uma série de vezes que se vai perder energia, é que se fala de euros. E mesmo assim não se explica bem os ganhos. Mas se fala em euros atribui-se logo aos culpados: eólica, fotovoltaico e co-geração.
Mas não são as energias em si que são as culpadas, mas os contractos feitos. Claramente se tivemos um BUM eólico, não foi porque de repente quisemos ser todos limpos e renováveis, mas porque os contractos foram aliciantes. 90€/MWh dá para enriquecer os produtores eólicos. E nem falo dos >300€/MWh fotovoltaicos e das falcatruas na co-geração. Mais uma vez não é um problema das energias, mas um problema que o governo gerou com ganância de encaixar dinheiro rapidamente. E que agora nos custa a nós. Mas que fazer quanto a isso?
Minuto 22:30 – 2010, 2010. Não deixaram o senhor dizer o porquê de em 2010 o preço da electricidade ter sido de 41€/MW e em 2009 ter sido de 70 e tal. Porquê? Diferença de quase o dobro!
Minuto 26:45 – “1MW reversível por cada 3,5MW eólicos”, uma teoria bonita se dependêssemos única e exclusivamente de nós e se fossemos uma ilha.
Mas não nos podemos esquecer que funcionamos em mercado ibérico, e que a flutuação do preço de consumo depende muito mais (se não quase totalmente) dos espanhóis e da produção energética lá.
E por fim, no final, não deixaram explicar o presidente da EDP o porquê das barragens. A decisão foi política. Tecnicamente, é sempre melhor usar centrais térmicas, mas se fosse politicamente correcto, porque se investe no renovável?
E mais, porque é que depois de um investimento grande que foi feito na ampliação de potência em produção de energia a partir de gás natural, em Abril do ano decorrente, a energia importada foi superior àquela produzida a partir do gás natural?
Aliás, em Abril a energia importada foi praticamente igual à produzida a partir das centrais térmicas. (1/4 do consumo cada).
Alguém advinha porquê?
E nesta reportagem sensionalista ainda há espaço para se falar de Salazar! “Big LOL”.
As barragens são uma extrema mais-valia. Agora, os moldes em que tudo foi feito são totalmente puníveis. Nunca se devia ter feito concessões de 75 anos. Foram negócios feitos à pressão, totalmente direccionados para as empresas em questão e para se encaixar dinheiro rapidamente e “baixar” o défice. Nisso estou totalmente de acordo.
E sublinho o que é dito ao minuto 8. A forma como foram feitas as coisas é mais um buraco, como as auto-estradas, SCUTS, e afins.
Mas volto a dizer, não é o conceito que está errado. É a forma como esse conceito foi implantado. Mas quem é que agora vai conseguir mudar isso? Parar a construção não é do meu ponto de vista a solução. A solução passa por rever os contractos, não só das barragem mas da produção de toda a energia (e não é só a renovável).
Mas isso é uma enorme dor de cabeça que ninguém vai querer fazer.