Tenho vindo a acompanhar esta discussão há algum tempo e está a ser bastante interessante.
Penso que grande parte das razões já foram enunciadas, mas posso também pronunciar-me um pouco e defender algumas opiniões já dadas por alguns membros.
Devo começar por referir as regiões mais baixas dos vales do Guadiana, Tejo e Douro. Não conheço bem o Norte do país, mas conheço razoavelmente bem o Centro e muito bem o Sul, nomeadamente as regiões Alentejanas, por isso estou suficientemente seguro para afirmar que as zonas mais baixas e mais encaixadas do Vale do Guadiana, nomeadamente nas zonas de Moura, Serpa e Mértola são zonas potencialmente surpreendentes no que toca às temperaturas máximas e médias de Verão.
Contudo, não devemos ter ilusões, porque as zonas que aquecem mais durante o Verão - normalmente as mais baixas - costumam ser as que mais arrefecem no Inverno, pelo que a média anual não irá diferir muito das regiões envolventes.
Por isso, será dificíl identificar as regiões mais quentes no período estival apenas pela temperatura média anual. Zonas no interior de vales mais encaixados e profundos, nomeadamente no Interior, onde não há grande presença da Nortada nem de ventos húmidos, são mais propícias a maiores aquecimentos diurnos, não só devido a estes factores como também devido aos baixos valores de humidade relativa do ar e aos elevados valores de evapotranspiração que se relacionam entre si, facilitando a subida das temperaturas, nomeadamente em dias de céu limpo, mas não só.
As próprias encostas adjacentes ao vale irão absorver e reflectir grandes quantidades de radiação em forma de calor, que se acumularão no interior dos vales, nomeadamente durante o dia e no período estival.
Acredito plenamente na ocorrência de temperaturas iguais ou superiores a 50 ºC durante o Verão, em Portugal Continental.
Não é preciso afastarmo-nos muito de Lisboa para termos valores surpreendentes, basta apenas que as condições referidas atrás se conjuguem o melhor possível e, a juntar a isto, o tipo de solo seja propício a essa subida da temperatura durante o dia, o que se passa em muitos locais de Portugal.
Solos arenosos irão provocar grandes aquecimentos diurnos pela maior reflexão do que absorção de radiação, devido à sua coloração clara e, por sua vez, permitir grandes arrefecimentos nocturnos, uma vez que não absorvem facilmente a humidade nem a conservam durante muito tempo, perdendo-se facilmente. Além disso, todos sabemos que a pedra é muito mais susceptível a alterações térmicas do que a terra, ainda mais quando está molhada.
Devo ainda concordar bastante com o que o rozzo disse há uns posts atrás; devemos defender ao máximo a qualidade dos dados obtidos e, por isso, devemos instalar estações em condições padrão nos locais que achemos mais interessantes, mas evitando a influência do urbanismo, porque isso invalida a qualidade dos dados obtidos.
Tal como as RUEMAS não são comparáveis com as EMAS e apenas servem para verificar a influência do urbanismo em si no clima e não podendo entrar nos relatórios mensais nem anuais, uma estação que se instale no meio de uma ilha de calor urbana, por cima de uma calçada branca e entre dois prédios de tonalidade clara com trânsito constante ao seu lado não irá demonstrar grande fiabilidade nem interesse quanto aos dados que irá debitar, pois nesse caso não estaremos a analisar as condições naturais do local onde nos encontramos, mas sim a incluir uma grande influência das condições humanas e urbanas nos dados que irão ser recolhidos.
Eu já vi os valores médios aproximados para Janeiro para os vales do Guadiana ( entre 10 e 12,5...) num trabalho publicado há uns anos e são mais altos do que as zonas envolventes.
Para um vale ou encosta quente, os invernos nem sempre são necessariamente mais frios, do que as zonas envolventes mais altas. Sobretudo quando a pedologia e a exposição, assim o favorecem. Assim as médias anuais são claramente mais altas do que as zonas envolventes, geralmente ( claro que há excepções...).
Eu para um vale do Guadiana com uma média de Julho de 27,5 ou 28 não estou à espera de um Janeiro com um valor médio abaixo de 10...
Tal como no Tejo, com um valor médio de 29 ou 30 ( supondo), não estarei à espera de menos de 10 em Janeiro...
Isto para a maioria dos casos.
Excepções são vales em que se acumula demasiado ar frio no inverno por demasiada exposição a nordeste ou norte, por uma pedologia de granitos ou outras rochas de «fraco aquecimento», por altitude demasiado elevada, por ser uma encosta desfavorecida em exposição, por ter uma vegetação particular, etc...