Tragédia na Madeira - Entrevista com o Prof. Delgado Domingos

Knyght

Cumulonimbus
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10 Mai 2009
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Os descontos pois infelizmente nestes dias tenho visto diversos comunicados até por videoconferência vindos de Lisboa que parece ser uma leitura quase directo dos modelos que eles usam.

Acho que o cuidado que vejo no AEMET com o modelo Hirlam também devia acontecer tanto com a Madeira como com os Azores em relação ao IM.

Aliás parcerias!!!

Parcerias com as universidades da Madeira, dos Açores e as diversos departamentos de meteorologia, e porque não com a AEMET.
Criar do Hirlam um modelo de alta resolução peninsular.

Não me venham com tretas se Portugal predispor-se a partilhar custos e dados a Espanha não dirá que não.

A boa previsão dos radares que são precisos de uma forma de outra pode cobrir as tempestades piores porque os dados iniciais são importantes no inicio e assim a distância de alerta será mais fiável. Se o trabalho for feito alertas de 7 dias não é utópico.

Mas pelo contrário o IM refugia-se que o tempo é imprevisível e nunca poder aperfeiçoar-se...
Isto é mentira redonda
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Portugal está longe do que se faz de melhor em meteorologia! Disto todos nós sabemos!
 


Vince

Furacão
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23 Jan 2007
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O IM está a brincar, aliás o nosso Portugal é sempre a mesma coisa uma total falta de responsabilidade e de sentido de assumir culpa.

Com todo o respeito, brincar brincar, andamos todos nós, entre bons e menos bons, o IM tem técnicos de competência, alguns de elevada competência, coisa que não reconheço a mim nem a ti. Isso da culpa, vais-me desculpar, era só o que faltava acusarem o IM do que aconteceu na Madeira.

"Os Azores só não estão também esquecidos porque tem as bases militares USA e França"
A componente militar é sempre um argumento muito forte, e que pode deixar muito mal o estado Português....

Não percebi nada do que quiseste dizer com isto, mas não há nenhuma base francesa nos Açores desde 1993. Há uma americana nos Lajes, Terceira/Açores, e é graças a essa base que o IM local tem acesso privado a um radar, propriedade dos americanos.


P.S2:. O RUN da GFS 00h do dia 22/02 indicava 40mm/h ao nível do mar de precipitação logo havia previsão para algo muito anormal, mas sim o aviso vermelho foi lançado como reacção e não como previsão!

Isso escrito dessa forma é falso, o GFS tinha precipitação, uns 40mm mas distribuída ao longo de várias horas, não numa hora como sucedeu.



Criar do Hirlam um modelo de alta resolução peninsular.

O IM tem um modelo equivalente ao Hirlam tão bom ou melhor que o Hirlam. Não tem o produto para a Madeira ou pelo menos não tem público, mas o Hirlam espanhol que abrange a Madeira também não é um mesoescala com resolução tendo um domínio tão grande.

Não me venham com tretas se Portugal predispor-se a partilhar custos e dados a Espanha não dirá que não.

O IM tem uma relação privilegiada com Espanha, tem várias parcerias que são públicas, desde partilha de recursos radar no continente ou DEA's na Madeira e outras coisas.


A boa previsão dos radares que são precisos de uma forma de outra pode cobrir as tempestades piores porque os dados iniciais são importantes no inicio e assim a distância de alerta será mais fiável. Se o trabalho for feito alertas de 7 dias não é utópico.

Sobre o radar, eu se fosse madeirense também me questionaria se ao longo de todos estes anos o governo regional fez alguma pressão sobre o governo central por causa do radar. Alberto João Jardim acostumou-nos todos a conseguir tudo o que queria para a Madeira tornando-a a 2ª região mais rica do país, mas não me recordo de alguma vez o ter visto a pressionar alguém para terem um radar. Se calhar em vez de haver tanta preocupação com modelos que são faliveis, alguém se deveria ter preocupado mais com um radar.

Quanto aos alertas a 7 dias para algo como aconteceu na Madeira não é utópico, é simplesmente estúpido.

Mas pelo contrário o IM refugia-se que o tempo é imprevisível e nunca poder aperfeiçoar-se...
Isto é mentira redonda

Inundações rápidas e enxurradas deve ser das coisas mais difíceis de se prever. E prever o que aconteceu na Madeira é para mim se calhar impossível mesmo daqui a muitos anos. Uma coisa é prever que chova muito ou haja probabilidade para tal, outra coisa é prever o que aconteceu na Madeira com esta dimensão, porque não envolve apenas a meteorologia mas muitos outros factores. Se não sabes porquê, procura informar-te.


Portugal está longe do que se faz de melhor em meteorologia! Disto todos nós sabemos!

Sem dúvida, muita coisa está mal e há que melhorar, mas também acho que muito do que se fala não tem nexo e é fruto de muito desconhecimento.
 

Knyght

Cumulonimbus
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10 Mai 2009
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Vince o departamento de geografia da Universidade da Madeira já tem valores padrão valores de precipitação superiores a 100mm em 24h são quase certos de existir derrocadas, é preciso é existir colaboração.

São feitos com recolha e tratamentos de dados pelos alunos, coordenadas pelos cientistas/professores.

Em todas as áreas da docência universitária devia existir trabalho cientifico mas se isso não é reconhecido de nada serve...

Enfim se o IM não se abre estamos feitos, e nós não somos suficientes grandes para ignorar-mos o vizinho...
 

Geostrofico

Cirrus
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8 Jan 2007
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Vince o departamento de geografia da Universidade da Madeira já tem valores padrão valores de precipitação superiores a 100mm em 24h são quase certos de existir derrocadas, é preciso é existir colaboração.

São feitos com recolha e tratamentos de dados pelos alunos, coordenadas pelos cientistas/professores.

Em todas as áreas da docência universitária devia existir trabalho cientifico mas se isso não é reconhecido de nada serve...

Enfim se o IM não se abre estamos feitos, e nós não somos suficientes grandes para ignorar-mos o vizinho...

Fazer a previsão das derrocadas, tendo em conta o nivel de agua ja existente no solo já é competencia da protecção civil, não do IM.

Quanto ao Hirlam, o IM trabalha com o modelo ALADIN, que é um modelo gerido por um consorcio dos serviçoes meteorologicos: Franceses, Belga,Checo e Portugues ,etc, enquanto o Hirlam é espanhol, holandes e dos paises escandinavos.

Para alem disso existe, muita cooperação ao nivel iberico, penso que essa cooperação é tambem alargada aos modelos numéricos, para alem do radar e das DEAs como anteriormente referido.

Para mim o que sucista duvidas, é a capacidade humana no centro de previsão, devia haver concursos próprios para aquela posição, para garantir que naquele lugar estavam os melhores meteorologistas.
 

Climat

Cirrus
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10 Mar 2010
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Boas a todos. Considero-me a pessoa ideal para criticar muitos posts que foram aqui colocados, por alguns membros, em especial o post do Knyght, em que o Vinca fez reparos muito importantes e interessantes no meu ponto de vista. Sou da área da meteorologia e climatologia da UALG e fiquei um bocado boquiaberta, com o que li aqui neste tópico.

Como podem afirmar que este professor Delgado Domingos toda a informação que ele disse é correcta, é algum caricato, como é que vocês dizem que o IM é arrogante, se esse professor não passa de um professor de Engenharia Mecânica, será que um Engenheiro Mecânico, percebe mais de meteorologia do que o IM.

Quanto de vocês já não interrogaram-se que os modelos metiam precipitações elevadas e às vezes isso nem acontece, quantas vezes os modelos metem uma precipitação irrisória, e acontece fenómenos extremos.

Quanto a mim, o IM não tem responsabilidade nenhuma, os avisos foram lançados a tempo e horas, em situações extremas como estas, só "in loco" é que se tem a percepção real do que está a acontecer.

Se a Madeira tivesse radar, seria detectado alguma coisa horas antes da tragédia?
Nem sempre é assim, os mais experientes do fórum, devem saber que às vezes mesmo vendo as imagens de radar e de satélite, é muito complicado prever situações dessas. Nesse dia, as imagens de satélite era vísivel uma linha horizontal de nuvens que eram praticamente inofensivas, só que aliado a outros factores meteorológicos e à orografia da ilha conduziram a essa tragédia.

Alguém lembra-se do dia 12 de Fevereiro de 2008 em Lisboa, alguém lembra-se do dia 25 de Agosto de 2007 no Sotavento Algarvio, do vendaval em Torres Vedras.

No caso de Torres Vedras, os modelos nesse dia, nada fazia prever o que ocorreu, uma ciclogénese explosiva no Oeste, a pressão foi muito mais baixa do que a modelada pelos modelos, a imagem de radar, do Vince, mostra isso mesmo, só mesmo junto à costa é que se deu a intensificação do vento, que duas horas antes nada fazia antever isso.

Qual os modelos mais fiáveis?
O ECMWF é o modelo mundial mais fiável na Europa, ele conhece muito melhor o clima da Europa, do que o americano GFS, que delírios o GFS coloca às vezes, neve no Algarve, furacões na direcção de Portugal no final do Verão e no Outono. O ECM é de longe o melhor modelo.

O modelo utilizado pelo IST tem erros, alguém já viu as coordenadas que estão colocadas, nas cidades do Algarve, por exemplo: Olhão a latitude é 37.03 e longitude é -7.83, mas no modelo do IST a latitude está correcta, mas a longitude está errada -8.83 não é de Olhão certamente, agora se Olhão fica em zona de Portimão- Lagos, e se Portimão fica no Oceano Atlântico é algo caricato.

Os modelos do IM são os melhores e existe uma colaboração estreita entre o IM e o Aemet, partilha de radar, DEA e muitas outras coisas.

O IM tem a responsabilidade de avisar as entidades competentes e lançar avisos meteorológicos e não alertas à população, que isso é da competência da Protecção Civil.

Não existe modelo no mundo, que consiga prever alguma coisa de concreto 7 dias antes, isso é pura futurologia e não meteorologia.

A população reage de forma diferente entre os vários avisos do IM ou alertas da Protecção Civil?
Não, as populações não querem saber dos avisos ou alertas, para elas tanto faz que esteja aviso verde, amarelo ou vermelho que isso não altera em nada os seus hábitos. O IM no dia 27 de Fevereiro lançou o alerta vermelho para vento a Norte de Leiria, alguém tomou precauções sobre essa situação.

O IM tem lançado os avisos sempre bem, não venham para aqui criticarem, em vez de criticarem o IM, criticassem o Estado Português, por falta de verbas ao IM, acho que seria mais sensato.

Já agora, deixo uma ideia para o fórum: Porque não fazem uma petição para o Estado Português apoiar com mais verbas o IM, fazerem uma petição para instalarem um radar na Madeira.

Seria muito melhor do que andarem a dizer que o IM é arrogante. Vocês são cidadãos e isso devia servir para vocês, fazem algo pelo país e não culpabilizar o IM pela tragédia que ocorreu na Madeira.

No IM existe o modelo Aladdin para a Madeira, mas é acesso restrito, na run das 0, posso afirmar que a precipitação variava entre os 20 e os 30 mm em 6 horas, daria total de 40 mm entre as 00 hoiras e as 12 horas desse mesmo dia. Têm muitos produtos que são interditos ao público, devido à falta de verbas, o IM têm que ir buscar dinheiro a algum lado. Quanto aos dados, sempre tive os dados que pedi ao IM, para algumas investigações que faço para estudar melhor o clima do Algarve, estão sempre abertos a colaborarem, não são assim tão fechados como alguns pensam.

SR Knyght então na sua opinião colocava o país todo em alerta vermelho, e estava o assunto resolvido,, mas que ideia mais ridícula, você pensa que isto da meteorologia é para andar a brincar aos avisos, acho que você não sabe o que diz e devia reflectir e pensar bem, antes de dizer alguma coisa, porque essas suas ideias não valem nada.

Na ciclogénese explosiva no Alentejo em Novembro de 1997, na vossa opinião, foi o IM o culpado?
Claro que não, o IM nesse dia lançou avisos a toda a população para o Algarve e Alentejo, alertou as tv's para isso, rádios e etc, eu sei que estava em estágio na altura no IM, lembro-me bem que o IM avisou a Proteccção Civil na tarde desse dia, para alertar ou mesmo evacuar alguma população no Barlavento Algarvio e no Baixo Alentejo, a protecção civil não fez nada, e depois morreram 11 pessoas no Alentejo, porque a protecção civil não fez nada do que o IM tinha recomendando para fazerem. Agora pensem de quem é a culpa afinal?
 

Knyght

Cumulonimbus
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10 Mai 2009
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Primeiros os alertas são dados sim pela protecção civil atendendo aos dados facultados pelo IM, também o de derrocadas se dizem que vai chover 20mm não há claro aviso de nada.

Segundo e atendendo que infelizmente tenho assistido em tempo real a destruição tanto de são vicente como da tragédia do sul do passado dia 20 da Zona Sul acho grave. Talvez não seja tão analfabruto como pensa.
(Se ler bem o que escrevi é que tendo uma rede de observação por estações, radar, satélite, não há duvida precocemente se vai tento mais qualidade de diagnostico dos fenómenos tanto para superior alertas mais elevados, como evitar situações de pânico desnecessárias)

As 3 da Manhã do dia 20 não estava a dormir e indirectamente sabia que a quantidade de água era enorme, como já tinha rajadas de 150km/h. Mas não lhe vou facultar os dados que tenho.

Neste momento há 3 entidades na Madeira a trabalhar por si porque, talvez só essas 3 entidades tenha mais meios de observação de meteorologia que o próprio IM na Madeira.

Sabem porque? Porque desde sempre o IM não sentiu a obrigação de partilhar dados nem colaborar com ninguém, sendo assim cada um vai fazendo o seu investimento.
Na AEMET ressalta desde logo essa diferença de filosofia no site, eu tenho mais dados da Madeira em tempo real que com o IM...

O pior é quem morre, e as famílias dos que ficam!
 

Knyght

Cumulonimbus
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Várias notícias que vêm saindo nestes dias.

IM não utiliza o modelo americano
Delgado Domingos diz que a tragédia na Madeira poderia ser evitada
Data: 09-03-2010 Comentários: 3

O Instituto de Meteorologia (IM) considera infundadas e reveladoras de falta de conhecimento sobre a evolução da meteorologia em Portugal e na Europa, as afirmações do professor Delgado Domingos. O coordenador do grupo de previsão numérica do tempo do Instituto Superior Técnico (IST) considerou ontem, em declarações à Antena 1, que as mortes na Madeira poderiam ter sido evitadas se o IM usasse esta tecnologia para fazer previsões.

Na entrevista, Delgado Domingos acusou também o Governo de estar avisado e de nada fazer para minimizar as perdas da tempestade mortal no arquipélago madeirense.

Em comunicado, o IM recusou pronunciar-se "sobre a qualidade das actividades do grupo existente no IST", coordenado por Delgado Domingos, mas disse desconhecer quaisquer contributos ou publicações científicas do professor "para poder emitir opinião fundamentada". De resto, considera "desapropriadas" as 'previsões' à posterior de fenómenos adversos.

Na nota assinada pelo Gabinete de Comunicação, o IM esclarece ainda que os serviços de meteorologia europeus, à excepção do Reino Unido e da Noruega, "não utilizam o modelo americano MM5, tendo desenvolvido, através de consórcios, modelos europeus quer à escala global (modelo do Centro Europeu de Previsão a Médio Prazo) quer de área limitada ALADIN e HIRLAM". Ora, o IM é membro do Centro Europeu e do consórcio ALADIN, correndo em Portugal o ALADIN com 9 km de resolução e o AROME desenvolvido no mesmo consórcio com uma resolução de 2,5 km, acrescenta.

Para suprir as falhas dos modelos numéricos, os IM "mantêm vigilância permanente com meios de detecção remota como radares, detectores de descargas eléctricas e satélites e igualmente de observação 'in situ', os quais são ferramentas de diagnóstico que permitem, associadas à utilização de modelos conceptuais, melhorar a previsão num período muito curto, entre uma a seis horas", esclarece.

GR abre a porta à tecnologia

As críticas de Delgado Domingos também motivaram a reacção do secretário regional dos Assuntos Sociais, com a tutela da Protecção Civil. Francisco Jardim Ramos, referiu que a Região está "em consonância com o IM", no sentido do serviço regional ser dotado de equipamentos "mais eficazes na detecção rápida de grandes precipitações e alterações meteorológicas".

"Se o nosso serviço estivesse já dotado desse equipamento, provavelmente teria sido possível monitorizar com maior eficácia todo o desenrolar da precipitação", confirmou, apontando que "há vontade do Governo da República" em equipar o observatório meteorológico da Região com meios que permitam a detecção dos fenómenos com maior precisão. Contudo, sem datas previstas, Jardim Ramos espera que seja ainda este ano.
IM recusa usar contributos de "modelos académicos"
"Prever o que aconteceu estava fora das potencialidades dos modelos"
Data: 10-03-2010 Comentários: 3

O director do Observatório de Meteorologia do Funchal diz que a tragédia que se abateu sobre a Madeira no passado dia 20 de Fevereiro "era uma previsão que estava fora das potencialidades dos modelos" usados pelo Instituto de Meteorologia (IM).

O facto de o alerta vermelho ter sido accionado apenas na manhã de sábado, pouco antes do início da tragédia - causando cheias e escorregamentos vários devido à forte precipitação - gerou reparos, nomeadamente de investigadores e meteorologistas. "Aquilo que aconteceu entre as 10 e as 11 da manhã estava fora de qualquer previsão atendendo à quantidade de precipitação (80 mm em duas horas no Funchal e quatro vezes mais no Pico do Areeiro) e que acabou por causar todos aqueles estragos", sentencia Victor Prior.

No dia anterior, o IM tinha advertido para a ocorrência de previsão de chuva intensa. "Até nesse dia calcei umas botas", recorda o meteorologista. Mas "prever aquilo que aconteceu estava fora das potencialidades dos modelos", regista. Victor Prior defende que apenas o radar seria um instrumento de previsão com capacidade para minimizar o impacto da tempestade que matou já 43 pessoas na Madeira.

Os modelos (cartas de previsões numéricas) do IM pelo qual se rege o Observatório da Madeira tem menor resolução e detalhe topográfico do que aqueles que são utilizados por pólos de investigação como pelo Centro de Geofisica da Universidade de Lisboa, dirigido pelo meteorologista Pedro Miranda. Ele que revelou ao DIÁRIO que propôs em 2003, a instalação na Madeira de uma plataforma com o modelo global GFS (da meteorologia americana) que adiciona ainda o modelo regional MM5 com 2 km de resolução, representando os efeitos topográficos em vários pontos das ilhas.

Então, porque não utiliza o IM o modelo americano, de alta resolução, actualizado e acessível na Internet sem custos? "Não, porque não é um modelo oficial. Os especialistas do IM não lhe reconhecem credibilidade para que seja utilizado operacionalmente. Esse modelo funcionou bem nesse dia. Mas qual é a garantia?", argumenta Victor Prior.

É por isso que o repto lançado há sete anos pelo professor e investigador Pedro Miranda é refutado pelo director do Observatório do Funchal. "Para o Instituto de Meteorologia, o modelo MM5 não era nem é uma prioridade". Victor Prior não vê relevância nos interlocutores que o responsável pelo Centro de Geofísica da Universidade de Lisboa disse não ter encontrado na Madeira para instalar a plataforma. Diz que, para isso, bastaria a ligação virtual à Faculdade de Lisboa ou de Aveiro.

De resto, não reconhece créditos ao modelo MM5 - aquele que esteve mais perto do que aconteceu do trágico dia 20. "Para efeitos pedagógicos e académicos acho que é de grande interesse, porque as pessoas têm a oportunidade de mexer e interpretar campos meteorológicos, de programar, de inovar em termos de Internet, de design, enfim, faz parte da formação académica e é lá que eles devem ser preparados".

Já para ser usado como ferramenta científica pela autoridade nacional aeronáutica, a resposta é: Não. "O IM nunca usou, em termos operacionais, o MM5, porque o IM não deve usar modelos que não são devidamente verificados". É que antes da entrada em funcionamento, "os modelos ficam sujeito a testes morosos e complexos de verificação, recorrendo a métodos estatísticos de comparação entre dados observados em estações meteorológicas e gerados pelos modelos", explica.

O director do Observatório de Meteorologia do Funchal garante que o IM dispõe de "modelos muito melhores".

Reunião na Quinta Vigia

O director do Observatório de Meteorologia do Funchal tem agendada uma reunião com o presidente do Governo Regional. Victor Prior será recebido na Quinta Vigia por Alberto João Jardim amanhã, quinta-feira, pelas 14h30, segundo apurou o DIÁRIO ontem à hora do fecho. Ainda contactámos o director do Observatório para conhecer o móbil do encontro, mas não obtivemos resposta. No entanto, é muito provável que ambos os responsáveis troquem impressões sobre a polémica em torno dos modelos usados pelo IM e pelos pólos universitários de investigação.

44 milhões/ano: Portugal integra o Centro Europeu há 37 anos

Victor Prior diz que "podem vir as universidade todas dizer o que quiserem", mas há muito que a comunidade europeia percebeu que não se justifica cada país fazer a sua previsão meteorológica. É por isso que Portugal é, desde 1973, membro (fundador) do Centro Europeu, juntamente com 31 países. Todos contribuem por ano com 44 milhões de euros, para manter o consórcio ALADIN, que congrega uma equipa de "230 pessoas, 200 dos quais são dos melhores cientistas", que realizam cálculos em mapas com 9 km de resolução.

A tecnologia permite que se façam, na Europa, previsões numéricas com 10 dias de antecedência, sendo avaliadas permanentemente, usando computadores com capacidade de cálculo (em malhas de 16x16km) 50 vezes superior aos equipamentos informáticos do IM em Portugal, já de si "bastante potentes": "num segundo fazem contas que nós não conseguíamos fazer uma vida inteira".

Por cá, os equipamentos não têm uma capacidade de processamento tão grande, mas há outras metas. Victor Prior está a reforçar o quadro de meteorologistas de modo a poder garantir uma vigilância em permanência, "em regime de turnos em situações previsíveis de três a quatro dias de tempo adverso". Em Outubro foi contratada uma pessoa formada na área que está a especializar-se no observatório. Brevemente, o director conta lançar concurso público para recrutar mais dois meteorologistas.
Articulação entre entidades ajudará a prevenir catástrofes
Investigador da Uma defende importância das previsões dos grupos académicos
Data: 11-03-2010

O coordenador do projecto Esteiras de Ilhas (Island Wakes), Rui Caldeira, defende uma articulação entre entidades como o Instituto de Meteorologia (IM), a Protecção Civil, os laboratórios regionais e as universidades como forma de melhorar a capacidade de resposta da Madeira às catástrofes naturais.

"Se existisse uma articulação das várias entidades, o que não acontece actualmente, haveria sem dúvida um maior potencial de resposta", defende o investigador do Centro de Ciências Matemáticas da Universidade da Madeira (UMa), manifestando disponibilidade com vista a uma futura colaboração nesse sentido. "Dadas as (micro)dimensões das instituições em Portugal, tanto ao nível financeiro como técnico, não faz sentido tentar construir tecnologias e sistemas de previsão ambiental independentes, sem orquestração de vários grupos", acrescenta Rui Caldeira, sublinhando que sem essa conjugação de meios, tudo o que se possa fazer "é uma proposta 'a priori' mal dimensionada".

O investigador lembra que os cientistas necessitam "de acesso a dados para melhorar os modelos e estudar os fenómenos naturais", ao passo que os grupos operacionais como o IM podem beneficiar da contrapartida do "desenvolvimento científico obtido através destes estudos, para melhorar as suas capacidades de previsão". Para que isto seja uma iniciativa "digna de um país dito desenvolvido, as pessoas e os grupos têm de se entender e de se deixar de 'jogos de capelinha'", vinca Rui Caldeira, destacando a importância de "cimentar sinergias em prol do desenvolvimento e na resposta ao financiamento público".

No caso do temporal que se abateu sobre a Madeira no passado dia 20 de Fevereiro, o modelo meteorológico utilizado pelo projecto Esteiras de Ilhas - o MM5, que é equivalente ao usado pelo Instituto de Geofísica Infante D. Luís, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa - previu a elevada precipitação nalguns pontos da ilha. Rui Caldeira diz que isso não significa que "esta ferramenta seja perfeita" e muito menos que, com base nestas previsões, "se pudesse ter evitado a tragédia". Até porque, esclarece, a função dos grupos universitários não passa por "providenciar previsões meteorológicas operacionalmente". Contudo, sublinha, se existisse o tal canal de comunicação entre instituições, os estudos e as previsões disponibilizadas pelos grupos de investigação universitários constituiriam dados adicionais e "uma mais valia que as entidades oficiais podiam usar para comparar com imagens de satélites e com outros dados e modelos de previsão".

No fundo, realça o investigador da UMa, "de nada servirá termos os melhores dados científicos, por exemplo provenientes de radares meteorológicos e de modelos matemáticos, se não os pudermos passar a alguém com capacidade de os conjugar e de os interpretar de forma a tomar as melhores decisões em tempo útil".

Sobre as dúvidas que se colocam em relação à fiabilidade do modelo MM5, Rui Caldeira lembra que essa ferramenta "foi validada com dados de estações meteorológicas da Madeira fornecidos pelo IGA", além de que "vários institutos de meteorologia internacionais utilizam o MM5 como uma das ferramentas numéricas de previsão". Por isso mesmo, acrescenta, o trabalho desenvolvido no âmbito deste projecto "não pode ser visto como um mero exercício académico, tem algum potencial de previsão". Tanto assim é, prossegue, "que o modelo previu montantes de chuva elevados para o período da tragédia".

Rui Caldeira regista que este modelo assume interesse não só no plano da meteorologia propriamente dita, mas também no próprio comportamento do mar. "A interacção do oceano com a costa é tão importante para a Região como a interacção da atmosfera com a orografia", defende o investigador, acentuando que, principalmente no caso específico das ilhas, "não se pode desacoplar o papel que o oceano exerce como mediador de algumas condições atmosféricas e vice-versa".

"Madeira é um laboratório Natural para os estudos geofísicos"

Rui Caldeira considera que a Madeira, devido às suas características muito particulares, reúne "uma grande aptidão para os estudo geofísicos em geral", nomeadamente no que diz respeito à interacção da atmosfera com a orografia e ao estudo dos fenómenos oceanográficos.

O investigador considera mesmo que a ilha constitui um autêntico "laboratório natural" para o estudo destas questões, sendo por isso expectável que nesta altura, "à semelhança do que já se passa nos Açores", existisse "mais e melhor investigação e formação de alto nível nestas áreas".

Do ponto de vista da formação a nível superior, o maior óbice para que tal aconteça, regista Rui Caldeira, é que a exemplo de outras instituições universitárias nacionais, a UMa "está muito condicionada, do ponto de vista de financiamento, pelas políticas do Ministério do Ensino Superior e Tecnologia", que "prejudicam financeiramente os cursos que têm poucos alunos". Que é, precisamente, o grande obstáculo que se coloca para a implementação de um possível curso de Geofísica (Meteorologia e Oceanografia) na universidade madeirense.

É devido a este elevado potencial natural da Madeira que o projecto Esteiras de Ilhas - que é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia - tem atraído o interesse de outras instituições universitárias. Desde o Instituto de Oceanografia da Universidade de Lisboa, parceiro desde a primeira hora, passando pelo Instituto de Geofísica Infante D. Luís e pelo Centro de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto, entre outros. Há também algumas instituições estrangeiras que são colaboradoras do projecto, o que já levou à aprovação, inclusive, de iniciativas académicas financiadas pela União Europeia.
 

David sf

Moderação
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8 Jan 2009
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Oeiras / VN Poiares
Bom post, toca em quase todos os pontos essenciais, se bem que discorde de alguns.

Boas a todos. Considero-me a pessoa ideal para criticar muitos posts que foram aqui colocados, por alguns membros, em especial o post do Knyght, em que o Vinca fez reparos muito importantes e interessantes no meu ponto de vista. Sou da área da meteorologia e climatologia da UALG e fiquei um bocado boquiaberta, com o que li aqui neste tópico.

Como podem afirmar que este professor Delgado Domingos toda a informação que ele disse é correcta, é algum caricato, como é que vocês dizem que o IM é arrogante, se esse professor não passa de um professor de Engenharia Mecânica, será que um Engenheiro Mecânico, percebe mais de meteorologia do que o IM.

Quanto de vocês já não interrogaram-se que os modelos metiam precipitações elevadas e às vezes isso nem acontece, quantas vezes os modelos metem uma precipitação irrisória, e acontece fenómenos extremos.

Quanto a mim, o IM não tem responsabilidade nenhuma, os avisos foram lançados a tempo e horas, em situações extremas como estas, só "in loco" é que se tem a percepção real do que está a acontecer.

No caso da Madeira não podia fazer nada. Noutras acho que os avisos foram tardios, mas quase sempre correctos.

Se a Madeira tivesse radar, seria detectado alguma coisa horas antes da tragédia?
Nem sempre é assim, os mais experientes do fórum, devem saber que às vezes mesmo vendo as imagens de radar e de satélite, é muito complicado prever situações dessas. Nesse dia, as imagens de satélite era vísivel uma linha horizontal de nuvens que eram praticamente inofensivas, só que aliado a outros factores meteorológicos e à orografia da ilha conduziram a essa tragédia.

Alguém lembra-se do dia 12 de Fevereiro de 2008 em Lisboa, alguém lembra-se do dia 25 de Agosto de 2007 no Sotavento Algarvio, do vendaval em Torres Vedras.

No caso de Torres Vedras, os modelos nesse dia, nada fazia prever o que ocorreu, uma ciclogénese explosiva no Oeste, a pressão foi muito mais baixa do que a modelada pelos modelos, a imagem de radar, do Vince, mostra isso mesmo, só mesmo junto à costa é que se deu a intensificação do vento, que duas horas antes nada fazia antever isso.

Concordo com o que foi dito, mas neste ponto a crítica recai sobre o IM, que colocou as culpas todas na ausência do radar. Mas como foi referido por muita gente é uma forma de pressão sobre as autoridades para ver se o tal radar é finalmente adquirido.

Qual os modelos mais fiáveis?
O ECMWF é o modelo mundial mais fiável na Europa, ele conhece muito melhor o clima da Europa, do que o americano GFS, que delírios o GFS coloca às vezes, neve no Algarve, furacões na direcção de Portugal no final do Verão e no Outono. O ECM é de longe o melhor modelo.

De longe o melhor é o ECMWF, e diria que até o UKMO é melhor que o GFS. Está comprovado pela verificação da NOAA (agora não consigo encontrar o link).

O modelo utilizado pelo IST tem erros, alguém já viu as coordenadas que estão colocadas, nas cidades do Algarve, por exemplo: Olhão a latitude é 37.03 e longitude é -7.83, mas no modelo do IST a latitude está correcta, mas a longitude está errada -8.83 não é de Olhão certamente, agora se Olhão fica em zona de Portimão- Lagos, e se Portimão fica no Oceano Atlântico é algo caricato.

O modelo do IST a menos de 6 horas é muito bom, tenho verificado. Mais que isso é péssimo.

Não existe modelo no mundo, que consiga prever alguma coisa de concreto 7 dias antes, isso é pura futurologia e não meteorologia.

Realmente, é uma palermice afirmar que se previram as cheias na Madeira a 7 dias de distância.

A população reage de forma diferente entre os vários avisos do IM ou alertas da Protecção Civil?
Não, as populações não querem saber dos avisos ou alertas, para elas tanto faz que esteja aviso verde, amarelo ou vermelho que isso não altera em nada os seus hábitos. O IM no dia 27 de Fevereiro lançou o alerta vermelho para vento a Norte de Leiria, alguém tomou precauções sobre essa situação.

As pessoas não ligam nenhuma. No próprio dia do acontecimento, as autoridades foram alertando na CS para ninguém sair de casa. Muita gente não ligou. Mesmo se fosse lançado o aviso a 2 dias de distância, não duvido que todos os estragos materiais e a maioria dos pessoais não teriam sido evitados.

O IM tem lançado os avisos sempre bem, não venham para aqui criticarem, em vez de criticarem o IM, criticassem o Estado Português, por falta de verbas ao IM, acho que seria mais sensato.

E critico aqui o estado. Pagamos impostos para termos acesso aos serviços do estado, entre os quais o IM. Mas também critico o IM:

-Um caso que conheço. Numa empresa era necessário aceder aos dados de precipitação na Madeira. Contactou-se o IM, e a senhora que atendeu disse que a pessoa que tratava disso não estava. No dia seguinte, a mesma coisa. Só se conseguiu falar com essa pessoa duas semanas depois, para se ter acesso aos dados quase um mês depois do primeiro contacto. O problema aqui não é tanto o dinheiro, para uma empresa são trocos, mas o tempo que demorou, o trabalho que ficou parado, é que é criticável. Estes dados deviam estar online, na net, com acesso mediante pagamento.

-Um presidente de uma empresa pública de carácter científico e é gestor é normal. No Instituto da Água, por exemplo, também é assim. Mas acho que não se devem pronunciar sobre questões técnicas. Lembro-me que aquando o sismo sentido em Lisboa há uns meses, o presidente do IM não foi capaz de explicar o que se estava a passar. À pergunta "podemos estar descansados?" não foi capaz de ar uma resposta cabal, estevesempre a gaguejar. O presidente da república não fala do orçamento, quem o apresenta é o governo que é quem o faz, se bem que o PR está acima do governo na hierarquia. Se o probelma for o orçamento do IM, admissão de pessoal ou parcerias com outros institutos fala o presidente. Assuntos técnicos fala alguém que saiba.

Seria muito melhor do que andarem a dizer que o IM é arrogante. Vocês são cidadãos e isso devia servir para vocês, fazem algo pelo país e não culpabilizar o IM pela tragédia que ocorreu na Madeira.

A culpa, por muito politicamente incorrecta que neste momento pareça dizer-se isto, é em primeiro lugar do mau ordenamento do território na Madeira. (Não vou atribuir a culpa à chuva, porque isso é óbvio. É a mesma coisa que dizer que a culpa de um homicídio a tiro é da pistola). Claro que não se podem evitr as enxurradas numa ilha muito declivosa e com precipitações muito concentradas. Mas podem-se mitigar os danos. Não se pode meter uma ribeira torrencial, como a de São João que se vê num vídeo a passar debaixo de via rápida com uma energia impressionante, numa pequena secção debaixo de uma rotunda ao pé do Marina Shopping. Não é só na Madeira que tal acontece, mas isso não invalida que se faça a crítica.

Na ciclogénese explosiva no Alentejo em Novembro de 1997, na vossa opinião, foi o IM o culpado?
Claro que não, o IM nesse dia lançou avisos a toda a população para o Algarve e Alentejo, alertou as tv's para isso, rádios e etc, eu sei que estava em estágio na altura no IM, lembro-me bem que o IM avisou a Proteccção Civil na tarde desse dia, para alertar ou mesmo evacuar alguma população no Barlavento Algarvio e no Baixo Alentejo, a protecção civil não fez nada, e depois morreram 11 pessoas no Alentejo, porque a protecção civil não fez nada do que o IM tinha recomendando para fazerem. Agora pensem de quem é a culpa afinal?

Na altura tinha 12 anos, não vi os modelos meteorológicos, mas via televisão. Para a véspera lançou-se um aviso. Não aconteceu nada. No dia a seguir voltaram a lançar. As pessoas pensaram que era apenas os chuviscos como no dia anterior. De qualquer modo, não fariam nada, mesmo sem o falhanço da véspera.
 

Vince

Furacão
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23 Jan 2007
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Braga
De longe o melhor é o ECMWF, e diria que até o UKMO é melhor que o GFS. Está comprovado pela verificação da NOAA (agora não consigo encontrar o link).


É este link:
http://www.emc.ncep.noaa.gov/gmb/STATS/STATS.html

Mas claro, são verificações gerais, apenas dos 500hPa a 5 ou 6 dias por hemisfério. Mas penso que o ECM também tem melhor performance na precipitação. E é verdade, ambos os modelos europeus, o ECMWF e o UKMO do MetOffice tem melhores perfomances deste tipo que o americano GFS.

Agora claro, isto é verificação muito genérica, em determinado momento e determinado local, qualquer um dos modelos pode prever melhor determinado parâmetro. Por isso é que é importante termos vários modelos e fazermos o "blend" deles quando fazemos previsões.





Últimos 5 anos (GFS/ECM/UKMO/NGP/CMC)

5anos.jpg








Últimos 30 dias (GFS/ECM/CMC/NGP/UKMO)

diass.jpg




Para interpretar os gráficos, não me recordo muito bem, mas penso que algo que se fique abaixo dos 60% (0.6) não tem grande valor como previsão, pois 50% correspondem a um modelo de previsão sem física apenas baseado em climatologia. Se não é isto, é algo parecido.
 

nimboestrato

Nimbostratus
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Cecílio Gomes da Silva*

Eu tive um sonho.

Traumatizado pelo estado de desertificação das serras do interior da Ilha da Madeira, muito especialmente da região a Norte do Funchal e que constitui as bacias hidrográficas das três ribeiras que confluem para o Funchal, dando-lhe aquela fisiografia de perfeito anfiteatro, aliado a recordações da infância passada junto à margem de uma das mais torrenciais dessas ribeiras – a de Santa Luzia – o mundo dos meus sonhos é frequentemente tomado por pesadelos sempre ligados às enxurradas invernais e infernais dessa ribeira. Tive um sonho.


Adormecendo ao som do vento e da chuva fustigando o arvoredo do exemplar Bairro dos Olivais Sul onde resido, subia a escadaria do Pico das Pedras, sobranceiro ao Funchal. Nuvens negras apareceram a Sudoeste da cidade, fazendo desaparecer o largo e profundo horizonte, ligando o mar ao céu. Acompanhavam-me dois dos meus irmãos – memórias do tempo da Juventude – em que nós, depois do almoço, íamos a pé, subindo a Ribeira de Santa Luzia e trepando até à Alegria por alturas da Fundoa, até ao Pico das Pedras, Esteias e Pico Escalvado. Mas no sonho, a meio da escadaria de lascas de pedra, o vento fez-nos parar, obrigando-nos a agarrarmo-nos a uns pinheiros que ladeavam a pequena levada que corria ao lado da escadaria. Lembro-me que corria água em supetões, devido ao grande declive, como nesses velhos tempos. De repente, tudo escureceu. Cordas de água desabaram sobre toda a paisagem que desaparecia rapidamente à nossa volta. O tempo passava e um ruído ensurdecedor, semelhante a uma trovoada, enchia todo o espaço. Quanto durou, é difícil calcular em sonhos. Repentinamente, como começou, tudo parou; as nuvens dissiparam-se, o vento amainou e a luz voltou. Só o ruído continuava cada vez mais cavo e assustador. Olhei para o Sul e qualquer coisa de terrível, dantesco e caótico se me deparou. A Ribeira de Santa Luzia, a Ribeira de S. João e a Ribeira de João Gomes eram três grandes rios, monstruosamente caudalosos e arrasadores. De onde me encontrava via-os transformarem-se numa só torrente de lama, pedras e detritos de toda a ordem. A Ribeira de Santa Luzia, bloqueada por alturas da Ponte Nova – um elevado monturo de pedras, plantas, arames e toda a ordem de entulho fez de tampão ao reduzido canal formado pelas muralhas da Rua 31 de Janeiro e da Rua 5 de Outubro – galgou para um e outro lado em ondas alterosas vermelho acastanhadas, arrasando todos os quarteirões entre a Rua dos Ferreiros na margem direita e a Rua das Hortas na margem esquerda. As águas efervescentes, engrossando cada vez mais em montanhas de vagas espessas, tudo cobriram até à Sé – único edifício de pé. Toda a velha baixa tinha desaparecido debaixo de um fervedouro de água e lama. A Ribeira de João Gomes quase não saiu do seu leito até alturas do Campo da Barca; aí, porém, chocando com as águas vindas da Ribeira de Santa Luzia, soltou pela margem esquerda formando um vasto leito que ia desaguar no Campo Almirante Reis junto ao Forte de S. Tiago. A Ribeira de S. João, interrompida por alturas da Cabouqueira fez da Rua da Carreira o seu novo leito que, transbordando, tudo arrasou até à Avenida Arriaga. Um tumultuoso lençol espumante de lama ia dos pés do Infante D. Henrique à muralha do Forte de S. Tiago. O mar em fúria disputava a terra com as ribeiras. Recordo-me de ver três ilhas no meio daquele turbilhão imenso: o Palácio de S. Lourenço, A torre da Sé e a fortaleza de S. Tiago. Tudo o mais tinha desaparecido – só água lamacenta em turbilhões devastadores.


Acordei encharcado. Não era água, mas suor. Não consegui voltar a adormecer. Acordado o resto da noite por tremenda insónia, resolvi arborizar toda a serra que forma as bacias dessas ribeiras. Continuei a sonhar, desta vez acordado. Quase materializei a imaginação; via-me por aquelas chapas nuas e erosionadas, com batalhões de homens, mulheres e máquinas, semeando urze e louro, plantando castanheiros, nogueiras, pau-branco e vinháticos; corrigindo as barrocas com pequenas barragens de correcção torrencial, canalizando talvegues, desobstruindo canais. E vi a serra verdejante; a água cristalina deslizar lentamente pelos relvados, saltitando pelos córregos enchendo levadas. Voltei a ouvir os cantares dolentes dos regantes pelos socalcos ubérrimos das vertentes. Foram dois sonhos. Nenhum deles era real; felizmente para o primeiro; infelizmente para o segundo.


Oxalá que nunca se diga que sou profeta. Mas as condições para a concretização do pesadelo existem em grau mais do que suficiente.


Os grandes aluviões são cíclicos na Madeira. Basta lembrar o da Ribeira da Madalena e mais recentemente o da Ribeira de Machico. Aqui, porém, já não é uma ribeira, mas três, qualquer delas com bacias hidrográficas mais amplas e totalmente desarborizadas. Os canais de dejecção praticamente não existem nestas ribeiras e os cones de dejecção etão a níveis mais elevados do que a baixa da cidade. As margens estão obstruídas por vegetação e nalguns troços estão cobertas por arames e trepadeiras. Agradável à vista mas preocupante se as águas as atingirem. Estão criadas todas as condições, a montante e a jusante para uma tragédia de dimensões imprevisíveis (só em sonhos).


Não sei como me classificaria Freud se ouvisse este sonho. Apenas posso afirmar sem necessidade de demonstrações matemáticas que 1 mais 1 são 2, com ou sem computador. O que me deprime, porém, é pensar que o segundo sonho é menos provável de acontecer do que o primeiro.
Dei o alarme – pensem nele

Lisboa, 11 de Dezembro de 1984

*Engenheiro Silvicultor

(Publicado no dia 13 de Janeiro de 1985 no jornal “Diário de Notícias” do Funchal)
 

actioman

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Elvas (~300m)
Cecílio Gomes da Silva*

Eu tive um sonho.


(...)


Oxalá que nunca se diga que sou profeta. Mas as condições para a concretização do pesadelo existem em grau mais do que suficiente.


Os grandes aluviões são cíclicos na Madeira. Basta lembrar o da Ribeira da Madalena e mais recentemente o da Ribeira de Machico. Aqui, porém, já não é uma ribeira, mas três, qualquer delas com bacias hidrográficas mais amplas e totalmente desarborizadas. Os canais de dejecção praticamente não existem nestas ribeiras e os cones de dejecção etão a níveis mais elevados do que a baixa da cidade. As margens estão obstruídas por vegetação e nalguns troços estão cobertas por arames e trepadeiras. Agradável à vista mas preocupante se as águas as atingirem. Estão criadas todas as condições, a montante e a jusante para uma tragédia de dimensões imprevisíveis (só em sonhos).


Não sei como me classificaria Freud se ouvisse este sonho. Apenas posso afirmar sem necessidade de demonstrações matemáticas que 1 mais 1 são 2, com ou sem computador. O que me deprime, porém, é pensar que o segundo sonho é menos provável de acontecer do que o primeiro.
Dei o alarme – pensem nele

Lisboa, 11 de Dezembro de 1984

*Engenheiro Silvicultor

(Publicado no dia 13 de Janeiro de 1985 no jornal “Diário de Notícias” do Funchal)

Arrepiante e assustador relato, que me deixou realmente a pensar em muita coisa... :shocking:

Mas há algo que se retira desta grande reflexão: "Ordenamento e Planeamento do Território". Tudo o resto, são palavras de apoio ou de condena às Instituições e à ciência, algo certamente que é importante debater e melhorar. Mas, antes de tudo isso está a organização territorial dessa ilha ou melhor a falta dela:

Já aqui foi colocado noutro post, no entanto ficam vídeos novamente, de mais técnicos que avisaram dos perigos:

Versão de 5 minutos




Versão completa, dividia em 2 partes:

.


O mais surpreendente é que os responsáveis já afirmaram que voltam a reconstruir novamente nos mesmos locais :surprise::disgust:
 
Editado por um moderador:

Minho

Cumulonimbus
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6 Set 2005
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Melgaço
Retomando a questão da previsão, para quem ainda não está convencido da imprevisibilidade de determinadas situações meteorológicas não há nada como ler casos semelhantes que acontecem aqui ao lado.

Esta foto foi tirada na Galiza este ano após um temporal...

20100115img201001150044.jpg


Não, não foi consequência da Xynthia. Passou-se no passado dia 15 de Janeiro. Uma ciclogenese explosiva que não foi detectada a tempo, resultado: 230.000 casas sem electricidade, dezenas de barcos destruídos, marinas/portos afectados, etc.

http://www.farodevigo.es/galicia/20...siembra-destrozos-litoral-gallego/402989.html

http://www.farodevigo.es/galicia/20...-danados-o-hundidos-bateas-deriva/402990.html

http://www.farodevigo.es/galicia/2010/01/15/continua-retirada-destrozos-temporal/403096.html

http://www.farodevigo.es/galicia/2010/01/15/ciclon-fantasma-burlo-controles/402992.html
 

Jota 21

Cumulus
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20 Set 2007
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Sintra
Um pouco off-topic: vi aqui que quase todos concordam que os modelos do ECM são os mais fiáveis. Pergunto se não será possível aos membros do Meteo.PT que aqui puseram, e muito bem, os meteogramas do GFS por localidade, fazerem o mesmo com os do ECM, ou não estamos a falar de coisas semelhantes? Espero que a pergunta não seja descabida...
Não me levem a mal querer dar-vos trabalho, mas já agora...:)