Diversidade climática em Portugal

belem

Cumulonimbus
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10 Out 2007
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Sintra/Carcavelos/Óbidos
Moncorvo e Mirandela apresentam, na série 31-60, como valores médios de temperatura máxima para esse trimestre, 29,7ºC e 30,5ºC respectivamente. Mesmo contando com o aquecimento que ocorreu desde essa altura e considerando também que existem locais mais quentes, a diferença ainda é muito grande para 37,5ºC.

Então e já agora podias verificar no mapa onde esses locais ficam e confirmar se ficam nos locais onde se registam os 37,5 ou mais para o trimestre de verão?
 


frederico

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9 Jan 2009
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Esta é a minha divisão climática do sotavento do Algarve:


- Litoral sul e barrocal a sul das elevações da Serra de Monte Figo e do Caldeirão: temperatura média anual em torno dos 18ºC, precipitação média anual entre os 470 mm e os 600 mm. Forte influência dos ventos de levante. Precipitação concentrada entre Outubro e Fevereiro, muito dependente da circulação atmosférica no Golfo de Cádiz. Número total de noites tropicais por ano mais elevado do Continente. Área protegida dos ventos setentrionais e do Interior da Península pelo Caldeirão. Cinco meses secos. Vegetação natural e culturas tradicionais: pinheiro-manso, sobreiro, azinheira, aroeira, zambujeiro, medronheiro, amendoeira, oliveira, alfarrobeira, laranjeira, limoeiro, palmeira-das-vassouras. Perto de 3000 horas de sol por ano. Alguns locais: Cacela, Tavira, Santo Estevão, Moncarapacho, Olhão, Estoi, Faro, Almancil, Vale do Lobo.

- Serra de Santa Maria (concelho de Tavira) e Serra do Mu (concelho de Loulé): temperatura média anual inferior ao litoral. Precipitação média anual superior a 800 mm em muitos pontos. Vertentes setentrionais como barreira de condensação para as frentes vindas de noroeste; vertentes meridionais como barreira para as frentes vindas do Atlântico. Fenómenos convectivos frequentes na transição Primavera-Verão e Verão-Outono. Episódios de geada no Inverno em vales mais abrigados. Menor número de horas de sol por ano que no litoral. Com frequência, Maio (e por vezes Setembro) não são meses secos. Vegetação natural e culturas: sobreiro, medronheiro, freixeiro (nos vales), possivelmente Quercus Canariensis, Cystus. Alguns locais: Cachopo, Ameixial, Barranco do Velho.

- Vale do Guadiana e área oriental dos vales das ribeiras do Beliche, Foupana, Odeleite e Vascão: precipitação média anual em torno dos 500 mm ou inferior. Amplitudes térmicas anuais e diárias mais acentuadas que no litoral. Paisagem semi-árida e vegetação rarefeita. Castro Marim, Guerreiros do Rio, Odeleite, Alcoutim.

- Planaltos de baixa altitude do Noroeste: clima idêntico às peneplanícies do Baixo Alentejo interior. Martilongo, Giões, Pereiro.
 

joseoliveira

Cumulonimbus
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18 Abr 2009
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Loures (Moninhos) 128m
frederico, do que conheço de toda essa região, tendo em conta que apenas de passagem em certos períodos do ano principalmente no Verão, embora também algumas vezes no Inverno e fazendo o percurso por vezes com estadias entre Beja e V.R.S. António, corresponde em traços gerais à noção climática que tenho da região.
 

frederico

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9 Jan 2009
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Alinhamento (quase) perfeito da neblusidade a norte do eixo Sintra-Montejunto-Estrela-Malcata.

A imagem estaria óptima se não fosse aquela mancha no Alentejo Litoral.
 

belem

Cumulonimbus
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10 Out 2007
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Sintra/Carcavelos/Óbidos
"Condições climáticas quase insulares (não representada em Portugal continenta).l
ÅM X SM Ambiente subtropical de feição macaronésica, com influências submediterrânicas.
Sobreiro, Myrica faia, Quercus canariensis. Zona costeira entre Melides e perto do
Cabo de São Vicente; Serra de Monchique, abaixo de 400m.
Q2<100"
que giro....tal como eu suspeitava....dai eu ter feito aquela divisao no inicio...que até é parecida com a do senhor rivas martinez:p

Tenho feito ultimamente trabalho de campo em Sintra e após alguma pesquisa reparei no interessante número de espécies ditas macaronésicas encontradas nesta região, sobretudo, nos muito poucos vales isolados, que conservam uma temperatura amena e valores de humidade elevados.
No Algarve chamam à Serra de Monchique, a Sintra do Algarve e agora mais que nunca acho-as, em certos aspectos e regiões, algo semelhantes.

Fiz um pequeno apanhado de uma parte da realidade da flora sintrense, que embora em parte já conhecesse, me deixou bastante surpreendido, não só pela complexidade dos números, como pela existência de espécies relíquia supostamente extintas a estas latitudes ou pela beleza e singularidade de alguns exemplares:


Das mais de mil espécies de plantas encontradas em Sintra, cerca de 900 espécies são flora autóctone, metade das quais mediterrânicas ou oeste-mediterrânicas, cerca de 10 % são endemismos (plantas que a nível mundial só se encontram em determinada área), algumas são espécies macaronésicas subtropicais ameaçadas ou espécies-relíquia da vegetação que aqui existia antes da última glaciação e que continuam a encontrar na Serra de Sintra condições para sobreviver. Sintra reúne solos com alcalinidades totalmente opostas e diversas, desde solos acículas como calcículas e geralmente com boa densidade orgânica permitindo uma grande diversidade florística.


O feto-de-folha-de-hera (Asplenium hemionitis), o trovisco-nortenho (Daphne laureola) e o miosótis-das-praias (Omphalodes kuzinskyanae) espécies em Perigo de Extinção ou em Perigo Crítico de Extinção em território continental, correspondem nas áreas onde ocorrem populações destas espécies, a Áreas de Valor Florístico Excepcional.


Apresenta também zonas com endemismos nacionais, em que plantas como o tojo-gatunho (Ulex densus), a Raíz-divina (Armeria welwitschii) e a Lonopsidum acaule ainda prosperam e até plantas que apenas são encontradas nesta região como o cravo-romano ( Armeria pseudarmeria).


Assim em Sintra ocorrem espécies de flora típica de 3 grandes regiões Biogeográficas de forma espontânea:Atlântica, Mediterrânica e Macaronésica. A ocorrência de velhos indivíduos de samouco (Myrica faya), do trovisco nortenho (Daphne laureola) e dos fetos Davallia canariensis, Asplenium hemionitis, Dryopteris guanchica e Woodwardia radicans, de plantas cada vez mais raras como o azevinho (Ilex aquifolium), o azereiro (Prunus lusitanica), ou aromáticas como o loureiro (Laurus nobilis), o medronheiro (Arbutus unedo), a visível expansão do vinhático (Persea indica) e do til (Ocotea foetens), constituem exemplos vivos que tornam impossível dissociar a Serra de Sintra de um carácter macaronésico. Vales abrigados, sombrios e com bons níveis de humidade são as zonas de influência macaronésica, que graças a condições particularmente amenas permitiram a sobrevivência de espécies relíquia da laurissilva que existiam na zona mesmo antes da última glaciação.
Será o local mais setentrional de toda a Península Ibérica Continental, onde crescem variados e inegáveis exemplos de uma expressão macaronésica?


As espécies encontradas de carvalho em Sintra são variadas, indo desde o atlântico carvalho-alvarinho ( Quercus robur), passando pelo carvalho-negral ( Quercus pyrenaica) que marca a zona de transição e que tolera condições mais áridas, ao carvalho-cerquinho ( Quercus faginea) com características Oeste Mediterrânicas típicas das regiões calcáreas da Estremadura, o sobreiro ( Quercus suber) que prefere as zonas baixas de Sintra ( formando no entanto florestas densas em zonas relativamente altas, não atingindo nestes casos, contudo, um grande porte), o mediterrânico carrasco ( Quercus coccifera ) que gosta de solos secos e com boa exposição solar e o carvalho anão ou carvalhiça ( Quercus lusitanica) que não atinge grande porte e cresce em bermas de caminhos.
Nogueiras ( Juglans regia) ,freixos ( Fraxinus angustifolia), alecrineiros (Rosmarinus officinalis, castanheiros (Castanea sativa), o bordo (Acer pseudoplatanus), a aveleira (Corylus avellana), pilriteiro (Crataegus monogyna), o sanguinho das sebes (Rhamnus alaternus), o ademo (Phillyrea latifolia), o folhado (Viburnum tinus), a murta (Myrtus communis) e a gilbardeira (Ruscus aculeatus), madressilvas ( Lonicera implexa) entre tantas outras, formam bosquetes cada vez mais raros de se encontrar, tendo sido observados alguns com apenas cerca de 300 metros de comprimento por 40 metros de largura, rodeados de pinhais não nativos.

Muitas florestas em Sintra são uma mistura interessante de árvores nativas com exóticas, embora por vezes algumas espécies introduzidas atinjam níveis de praga.
Faias, sequóias-gigantes, fetos-arbóreos, tamareiras, palmeiras-das Canárias, bananeiras, árvores do incenso, figos da terra ( ou chorões), eucaliptos e acácias de várias espécies, são algumas das exóticas encontradas, com origens de variadas partes do mundo, sendo que as espécies consideradas problemáticas são sobretudo as acácias, os eucaliptos, as árvores do incenso e os chorões que sobretudo nas zonas litorais sintrenses ocupam vastas áreas e pôem em causa a sobrevivência de plantas de enorme valor botânico. O excesso de pinheiro-bravo ( nativo mas plantado em larga escala) também é prejudicial.

Actualmente verifiquei que algumas plantas «climácicas», conseguem no entanto crescer à sombra de árvores exóticas, tal como o medronheiro, o azevinho, o carvalho- cerquinho e o carvalho- anão.

Dentro do parque natural de Sintra-Cascais, as precipitações variam desde os Semiáridos menos de 400 mm do Cabo Raso aos subhúmidos mais de 950 mm do alto da Pena ( actuando a Serra como barreira de condensação), factor que associado a variações de temperatura que desce conforme se sobe a serra ( cerca de 14,5 de média anual) e sobe conforme se desce ( a mais de de 16ºc de média anual) explica a enorme paleta paisagística que se vê nesta zona da Estremadura portuguesa.

Algumas fontes usadas:

http://portal.icnb.pt/NR/rdonlyres/79EAD4B4-4526-45F9-96B3-09CCF8B667A0/0/ATLASDOPNSC60P.pdf


http://mwmservices.net/adps/ADPS_Comunicado_03.html


Alguns aspectos de diferentes regiões:



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Floresta natural húmida de montanha ( Zona Atlântica).


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Jardins exóticos em zonas húmidas altas de « nevoeiro».



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Associação de sobreiro com o raro feto Davallia canariensis.



Conforme se caminha para locais mais secos:

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Aspecto do Cabo Raso ( com Sintra ao fundo a actuar como barreira de condensação).


GuinchoEG275.jpg



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Dunas do Guincho ( com a Serra de Sintra visível ao fundo).
 

frederico

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O Quercus Robur em Sintra é espontâneo ou foi introduzido?

E em Monchique, há Quercus Pyrenaica?

O Parque de los Alcornocales na província de Cádiz tem Q. Pyrenaica e tem condições climáticas semelhantes a Monchique.
 

belem

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10 Out 2007
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O Quercus Robur em Sintra é espontâneo ou foi introduzido?

E em Monchique, há Quercus Pyrenaica?

O Parque de los Alcornocales na província de Cádiz tem Q. Pyrenaica e tem condições climáticas semelhantes a Monchique.

O Quercus robur em Sintra é espontâneo.

Em Monchique não sei se há Q. pyrenaica. Se houver, deve ser raro, porque quando lá fui não o vi.
 

frederico

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9 Jan 2009
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Óptimas imagens.

Até pode ter havido Q. pyrenaica e ter-se extinto... não sei se será uma hipótese plausível, mas já que existe noutra serra à mesma latitude...

Quanto ao Quercus Robur em Sintra e àquela referência da sua presença no distrito de Leiria, e a outra na Beira Baixa, será então de prever que num passado não distante não seria assim tão raro a sul do Mondego...
 

belem

Cumulonimbus
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10 Out 2007
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Óptimas imagens.

Até pode ter havido Q. pyrenaica e ter-se extinto... não sei se será uma hipótese plausível, mas já que existe noutra serra à mesma latitude...

Quanto ao Quercus Robur em Sintra e àquela referência da sua presença no distrito de Leiria, e a outra na Beira Baixa, será então de prever que num passado não distante não seria assim tão raro a sul do Mondego...

Sim, é possível.
Eu devo visitar Monchique ainda este ano e vou ver se encontro algum Q. pyrenaica.
Quase certo será encontrar o Quercus canariensis! :)
 

stormy

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7 Ago 2008
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na minha opiniao sintra e monchique para alem das serras do litoral alentejano teem um clima bastante humido ( 500-1000mm/ano e elevada HR) e muito ameno embora tenha tendencia a periodos de calor maiores que os periodos de frio...um clima quente/ ameno e humido.
as areas costeiras sao claramente mais secas mas a HR mantem-se elevada. toda esta zona é grosso modo de um clima mediterraneo de fronteira entre o CSA e CSB e com particularidades das quais se destacam os invernos mais quentes da europa como mes mais frio a variar entre os 10 e 13º de media.
o verao é ameno ou mesmo quente com medias do mes mais quente entre os 20 e os 23º.
o que referi acima ja nao se aplica a areas acima de 300-500mts que apresentam um clima ja com bastante influencia da altitude e tendendo para o maritimo/oceanico com veroes frescos invernos frescos/amenos com amplitudes baixas ( 5 a 10º/ano) e muita precipitaçao tendo em conta as areas circundantes.
alguns vales mais isolados e virados a norte ou leste teem por vezes grandes amplitudes ( como aljezur ) nomeadamente noites frescas ( medias minimas de agosto em torno de 14-15º e de janeiro em torno de 5º) seguidas de dias muito quentes.
 

Aurélio

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Por estranho que possa parecer a serra de Monchique tem uma precipitação média entre 1000 a 2000 mm, dependendo da altitude a que estejamos na serra, enquanto que a serra do Caldeirão tem uma precipitação entre 700 a 1000 mm anuais de média, e o litoral algarvio tem entre cerca de 450 a 700 mm, e quanto mais enconstados a espanha, mais seco se torna !!!

Vive-se tb muito de extremos aqui no Algarve !!

O menor valor registado foi em 1944 com cerca de 239 mm, o que quer dizer que nesse no litoral algarvio não deve ter passados dos 150 mm ou ainda menos !!
 

belem

Cumulonimbus
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na minha opiniao sintra e monchique para alem das serras do litoral alentejano teem um clima bastante humido ( 500-1000mm/ano e elevada HR) e muito ameno embora tenha tendencia a periodos de calor maiores que os periodos de frio...um clima quente/ ameno e humido.
as areas costeiras sao claramente mais secas mas a HR mantem-se elevada. toda esta zona é grosso modo de um clima mediterraneo de fronteira entre o CSA e CSB e com particularidades das quais se destacam os invernos mais quentes da europa como mes mais frio a variar entre os 10 e 13º de media.
o verao é ameno ou mesmo quente com medias do mes mais quente entre os 20 e os 23º.
o que referi acima ja nao se aplica a areas acima de 300-500mts que apresentam um clima ja com bastante influencia da altitude e tendendo para o maritimo/oceanico com veroes frescos invernos frescos/amenos com amplitudes baixas ( 5 a 10º/ano) e muita precipitaçao tendo em conta as areas circundantes.
alguns vales mais isolados e virados a norte ou leste teem por vezes grandes amplitudes ( como aljezur ) nomeadamente noites frescas ( medias minimas de agosto em torno de 14-15º e de janeiro em torno de 5º) seguidas de dias muito quentes.

Existem de facto algumas semelhanças climáticas entre Sintra/Monchique e serras do litoral alentejano, mas estas últimas não têem tantas características macaronésicas como as primeiras. Não atingem também os mesmos níveis de precipitação e altitude, embora algumas também actuem como barreiras de condensação.

Por estranho que possa parecer a serra de Monchique tem uma precipitação média entre 1000 a 2000 mm, dependendo da altitude a que estejamos na serra, enquanto que a serra do Caldeirão tem uma precipitação entre 700 a 1000 mm anuais de média, e o litoral algarvio tem entre cerca de 450 a 700 mm, e quanto mais enconstados a espanha, mais seco se torna !!!

Vive-se tb muito de extremos aqui no Algarve !!

O menor valor registado foi em 1944 com cerca de 239 mm, o que quer dizer que nesse ano o litoral algarvio não deve ter passados dos 150 mm ou ainda menos !!

Pensava que o litoral algarvio tinha sítios mais secos do que 450 mm anuais.
Castro Marim tem menos precipitação que Sagres?
Há registos de precipitação anual para o cabo de S. Vicente?
 

frederico

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9 Jan 2009
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Castro Marim não sei, mas os valores serão idênticos aos de VRSA. Na norma 1971-2000 VRSA tem cerca de 470 mm, na anterior tinha 490 mm.

Tavira na norma 1961-1990 tem 576 mm, e Faro 524 mm.